Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
Tive por mais de 20 anos toca-discos da Thorens, e o interessante que foram apenas três modelos: o TD 160, o TD 124 e o TD 125 MkII – esse último comprado na Raul Duarte ainda na Rua Sete de Abril com o Cassiano, o pai das ‘meninas’ da Raul Duarte como as três são conhecidas.
E o mais impressionante é que ambos ainda estão em uso com seus novos donos! Thorens, assim como Garrard e SME, foram feitos para durar por um século se bem cuidados!
Fundada em 1883 na Suíça, ela sempre esteve ligada ao áudio (com a produção de gaitas, caixas de música e tocadores de cilindro do tipo Edison), ainda que no início também fabricasse pêndulos para relógios de parede e isqueiros.
Com o advento do CD-Player a Thorens (como todos os fabricantes de toca-discos), teve seu momento de estagnação – e quase falência na virada do século – mas entrou novamente em evidência em 2018, quando Gunter Kurten comprou a empresa e impôs uma nova diretriz à marca.
O currículo de Kurten é bem consistente: foi CEO da ELAC, e antes foi gerente da Denon, e passou por grandes empresas do setor como LG, Sharp e Sony. O objetivo de Kurten é ‘rejuvenescer’ a marca para atender a esse novo mercado analógico.
Visitei o site da empresa e vi que atualmente existem 17 produtos sendo comercializados sob a marca Thorens!
Esse novo modelo tem duas opções: 1600 (manual) e o 1610 (semiautomático). São idênticos no design, com a diferença que no 1610 o braço levanta ao término do disco.
Ao desembalar o 1610, imediatamente veio à memória o TD 160 que, no entanto, era mais pesado e um pouco maior que a nova versão. Meu TD 160 veio com o braço da Thorens, com headshell destacável, mas em termos de braço e tapete de borracha denso, são bastante semelhantes.
Mas a nova suspensão e amortecimento de três pontos é totalmente distinta do TD 160. Pois em vez das três molas helicoidais, agora a base é apoiada no rodapé, fazendo com que o sub-chassi não fique pendurado, estando livre das oscilações laterais existentes em todos os antigos Thorens. A grande sacada foi a colocação de um cabo de aço ligando os três pontos, que interrompe a oscilação lateral. E foi introduzida uma placa lateral de reforço para garantir a rigidez do sub chassis.
Os dois modelos são fornecidos com o novo braço de 9 polegadas, o TP92. Como o modelo 1610 é semiautomático, existe um motor para o levantamento do braço ao término do disco. Felizmente esse motor é bastante silencioso. Mas os audiófilos acostumados com alavancas na lateral dos braços para baixar e subir, estranharão momentaneamente ter que apertar um botão à frente do braço para fazer esse movimento. Na luz verde o braço está erguido, na luz vermelha, em contato com o disco.
A esquerda se encontra os três botões: de velocidade e stop. O TD 1610 tem saída RCA e balanceada, entrada para fonte para alimentação do motor, e ajuste fino de velocidade para 33 e 45 RPM. Ele não veio com cápsula, então utilizamos a ZYX Ultimate Bloom 3 (leia teste na edição 274).
Mais uma vez contamos com a ajuda inestimável do colaborador André Maltese, para a instalação da cápsula e ajuste fino do toca-discos.
Aqui faço uma pausa para dar uma informação ‘essencial’ aos futuros compradores deste toca-discos: só desça o braço sobre o disco quando o motor estiver com a velocidade plenamente estabilizada, pois ao acionar o motor, a base do braço – que é independente do restante do toca disco – vibra enquanto a rotação se estabiliza, e se você descer o braço no disco antes da estabilização, essa vibração pode danificar a agulha e o disco. Então, nada de pressa – se você quer imediatismo esse não é o TD indicado. Aqui será preciso fazer todo ritual de ligar o toca-discos, e ir selecionar os discos que serão apreciados. Quando o prato estiver com a rotação estabilizada e não houver nenhum movimento na base do braço, você poderá colocar o disco finalmente. Escolha a faixa, aperte o botão do elevador (que deve estar verde), e o braço descerá suavemente sobre o LP (e o botão do elevador ficará vermelho).
Sua assinatura sônica me lembrou muito o Thorens top de linha, o 550 (agora infelizmente descontinuado – leia edição 260), que adoramos pelo seu grau de relaxamento e musicalidade.
E foi uma surpresa gratificante ver que o braço TP92 é muito eficiente e correto em sua leitura. Visualmente parece um tubo muito ‘simplista e frágil’, mas, ao contrário, é bem construído, em alumínio multicamadas para melhor amortecimento interno. Externamente ele possui um anel fixo adicionado estrategicamente no meio do braço para diminuir qualquer tipo de vibração externa. O tubo possui uma extensão para a montagem da cápsula com um contato mecânico bem seguro.
O Maltese não teve dificuldade nenhuma em instalar a cápsula, ajustar o peso, anti-skating e o VTA. Mas não se iludam em achar que pode se fazer este ajuste sem as ferramentas adequadas e corretas. Pois como todo bom toca-discos, a performance dependerá do ajuste correto do braço e a instalação do toca-discos sobre um rack adequado.
A fonte externa é de excelente qualidade em termos de acabamento e funcionalidade. E a Thorens envia junto com o toca-discos um ajuste estrobo de velocidade, tanto para 33 quanto para 45RPM, extremamente essencial.
Para o teste utilizamos os prés de phono PH-1000 da Gold Note, e Sunrise Lab Mk2. Os integrados foram: Krell K-300i (leia teste na edição de julho de 2022) e o Sunrise Lab V8 Anniversary (leia Teste 1 nesta edição). Caixas: Wharfedale Denton 85th Anniversary (leia Teste 3 nesta edição), JBL L100 Classic (leia teste na edição 285), Monitor Audio Gold 300 (leia teste na edição novembro) e Estelon X Diamond Mk2. Cabos de interconexão Sunrise Lab Quintessence Anniversary (XLR e RCA).
Como a cápsula ZYX já estava completamente amaciada, deixamos apenas 20 horas ouvindo diversos LPs, para amaciar o cabo do braço. Muitos leitores esquecem que o cabo do braço de toca-discos também necessita de amaciamento.
Como escrevi, o conforto auditivo já nos primeiros discos foi muito semelhante ao que ouvimos no TD 550, mas com o braço SME Series V – o que é um enorme elogio ao TD 1610. Pois o que separa os toca-discos de entrada dos intermediários e dos de referência, é o grau de descongestionamento e inteligibilidade que cada um oferece. E muitos ainda acreditam que essa responsabilidade (de maior inteligibilidade), seja apenas da cápsula e do pré de phono. Grande erro, meu amigo, se você também pensa assim – pois no analógico tudo está ainda mais interligado do que em um setup digital.
Por isso que é uma arte seu ajuste e descobrir como extrair o máximo de potencial de cada toca-discos.
O Thorens TD 1601 se encontra na fronteira entre os bons toca-discos e os de referência, e se o ajuste fino do braço e a escolha da cápsula for correta, ele poderá ser um toca-discos ainda mais próximo dos de referência. Ou seja, ele tem sim ‘garrafas para vender’, desde que tudo seja criteriosamente bem escolhido.
Por isso escolhi a ZYX de entrada, pois é uma cápsula que conheço bem e sei que poderia dar um equilíbrio interessante entre o conforto auditivo inerente aos novos TDs da Thorens e uma ‘energia e vitalidade’ tão inerente à ZYX Bloom 3. Esse casamento permitiu extrair de gravações mais complexas, todas nuances existentes, sem comprometer a inteligibilidade do todo. E em gravações tecnicamente mais pobres, ouvir esses LPs sem perder o interesse ou tornar as audições ‘burocráticas’.
Essa é a ‘arte na escolha’ de cápsulas e braços: entender o que irá somar e o que irá subtrair. Mas não pensem que essa escolha se dá de forma tão racional ou objetiva, pois é preciso conhecer a assinatura sônica do que temos em mão para definir escolhas. O que estou tentando dizer é que valerá a pena, com todo toca-discos de melhor qualidade, que se pesquise antes de sair definindo a cápsula ideal para aquele analógico.
E o braço do TD 1610, com a ZYX Bloom 3 foi um casamento perfeito, para quem deseja uma sonoridade rica, precisa, natural e confortável! São produtos mais que compatíveis, pois se completam, e essa soma faz com que não fiquem arestas ou pontas (ao qual chamamos de elos fracos).
Com esse setup pudemos ouvir obras sinfônicas, big bands, rock, pop, blues, MPB, sem perda de interesse ou encanto. E se não é esse o maior objetivo de se ter um setup analógico, não sei qual seria.
Agora, não esperem deste toca-discos impetuosidade ou precisão cirúrgica, pois essa não é e nunca foi a proposta de nenhum Thorens. O que eles sempre reivindicaram para a marca, foi audições confortáveis e que o ouvinte possa degustar dessas audições relaxadamente, sem pressa e com aquela vontade de reviver esses momentos.
Para audições mais críticas, impetuosas, sugiro o leitor ouvir outros toca discos mais modernos, sem o uso de molas. Opções não faltam, acredite!
Mas não pensem que o TD 1610 com a cápsula ZYX soou letárgico ou displicente. Pelo contrário, soou sempre com vivacidade, mas aquela vivacidade de pessoas que estão passeando, descansando, e não a trabalho, com hora e agenda lotada. Entendem aonde estou querendo chegar? Óbvio que um Rega Planar terá maior marcação de tempo e andamento, como se estivéssemos assistindo a um desfile militar – mas o Rega não terá nenhuma condescendência que o TD 1610 tem, por exemplo, com uma gravação tecnicamente ruim.
Sempre as escolhas meu caro – elas determinarão o rumo da prosa!
CONCLUSÃO
A quem se destina o TD 1610? Fiz essa pergunta a cada novo LP que escutei, e me admirava com a sua sonoridade sedutora e descompromissada, com detalhes e mais detalhes.
Acho que é para todos com uma longa bagagem em analógico (independentemente da idade, por favor), e que estão cansados de levantar e sentar na busca do LP que soe decentemente em seu toca-discos. Todos já passamos por isso, de ter um setup analógico que só dá prazer em tocar os discos muito bem gravados de 180 gramas e, de preferência, japoneses.
Se você quer reconquistar toda sua coleção de LPs, o TD 1610, é a ponte para esse recomeço. Ele irá restituir lembranças daquelas audições em grupo, que fazíamos quando éramos mais jovens e tudo que queríamos era reunir os amigos e ouvir nossos LPs em silêncio, sem ponto ideal de audição, ou o que quer que fosse deste ritual audiófilo que nos tirou do coletivo e nos submeteu ao isolamento.
No Thorens TD 1610 uma coisa é certa, a garantia de que a música soará convidativa sempre!
Se o seu desejo é trazer esses dias de volta a sua vida, não perca tempo e ouça o TD 1610 com a ZYX Bloom 3.
PONTOS POSITIVOS
Bem ajustado e com a cápsula certa, musicalidade a toda prova.
PONTOS NEGATIVOS
Esperar a rotação do prato estabilizar para não correr risco de danificar a agulha.
ESPECIFICAÇÕES
Tipo | Toca-discos manual sub-chassi, desligamento automático, lift elétrico |
Tração | Correia no sub-prato de alumínio |
Motor | Controlado e estabilizado eletronicamente / AC Síncrono |
Síncrono | 33-1/3, 45 RPM – selecionadas eletronicamente |
Saídas | RCA / balanceadas XLR |
Prato | 12“ / 4.2 kg de alumínio |
Braço | Thorens TP92 |
Cápsula | Não inclusa |
Anti-Skating | Magnético (braço TP92) |
Flutter | <= 0.06% |
Fonte de alimentação | Externa (115 ou 230V configurado de fábrica) |
Dimensões (L x A x P) | 454 x 180 x 369 mm |
Peso | 11.0 kg |
TOCA-DISCOS THORENS TD 1610 (cápsula ZYX Bloom 3 / pré Sunrise Lab) | ||||
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Equilíbrio Tonal | 11,0 | |||
Soundstage | 11,0 | |||
Textura | 12,0 | |||
Transientes | 11,0 | |||
Dinâmica | 11,0 | |||
Corpo Harmônico | 11,0 | |||
Organicidade | 11,0 | |||
Musicalidade | 12,0 | |||
Total | 90,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
KW Hi-Fi
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(48) 98418.2801
R$ 27.400