Opinião: AUDIÓFILO DIZ CADA UMA…“PARTE 3”

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

A primeira pergunta será: “E cadê as partes 1 e 2?”.

Esta série foi iniciada com outros nomes – mas eu juro que não vou mudar mais!

A primeira parte saiu na edição 286, com o título: “‘Verdades’ Errôneas Sobre Audiofilia”. E a segunda parte como: “Ideias ‘Errôneas’ Sobre Audiofilia II – O Poço Que Nunca Seca”, na edição 289.

A segunda pergunta, seria: “O que é um Audiófilo?”. Resposta: aquele que tem forte interesse ou entusiasmo pela reprodução de som em alta fidelidade, e equipamentos de som de alta fidelidade. Isso visto em dicionários – porque, claro, alguns sites chamam audiófilos de “obsessivos”, mas não chamam chefs de cozinha que querem os melhores ingredientes e fazer os melhores pratos de “obsessivos”. Engraçado, né?

Ou seja: pessoa que ouve música e tem equipamentos de som de alta fidelidade ou tem interesse nesses equipamentos? Sim. Que escreve sobre isso na Internet ou faz vídeos? Sim, audiófilo. Lê fóruns e grupos de discussão, ou participa deles? Sim, também. Todos audiófilos, não importa a quantidade de tempo que se perca tentando justificar seu hobby, ou dizer-se ou considerar-se ‘não-audiófilo’. Não estamos falando de uma questão metafísica ou que é – na maior parte do tempo – algo filosófico ou ideológico, mas sim apenas de uma definição de dicionário.
“Audiófilo Diz Cada Uma…” é uma frase inspirada em uma coluna da antiga revista Manchete, de autoria do jornalista Pedro Bloch, que relatava as assertivas e grandes tiradas ou ‘insights’ que crianças são capazes de soltar, em sua maioria hilariantes! E algumas até bizarras, ou pelos menos simplistas.

Cabos de força

Comecemos com uma citação do produtor, engenheiro de gravação e músico inglês Alan Parsons: “Audiófilos não usam seu equipamento para ouvir música. Audiófilos usam música para ouvir seu equipamento”. Esse é um exemplo de como perder a oportunidade de ficar quieto, e ainda conseguir ser deselegante ao mesmo tempo. Gosto do Alan Parsons, vi ele ao vivo tanto tocando quanto em pé frente à mesa de som de um show, assim como vou lembrar dele pelo belo trabalho de engenharia de gravação do The Dark Side of the Moon, do grupo de rock progressivo inglês Pink Floyd.

Assim como recomendo muito o primeiro disco de seu Alan Parsons Project: Tales of Mystery and Imagination – Edgar Allan Poe. O engraçado foi, uns anos depois dele dizer essa abobrinha generalizadora, ele ser o ‘embaixador’ da feira High-End de Munique 2022…

Nota do autor: Nenhum participante da feitura desta revista acha que aparelhos são mais importantes que música.

Só para constar.

Vinil vs CD

Continuemos: um sujeito gente boa tem um canal no YouTube, e é especializado em falar de equipamentos mais baratos. Claro que ele atrai bastante um público que sofre de Síndrome de Vira-Lata: não acreditam em nada, acham que equipamentos baratos e caros são a mesma coisa, que a diferença de preço é safadeza, que a diferença entre aparelhos antigos e novos é apenas o acabamento, e que os projetos são todos os mesmos. Enfim, o sujeito do canal fez um vídeo onde ele compara cabos de força emborrachados originais dos aparelhos, com um cabo de força de marca conhecida de 300 dólares, usando dois amplificadores idênticos, e chega à conclusão de que “dá para ouvir diferenças!”. Resultado: muitos dos assinantes do canal disseram que estavam indo embora e não iam mais ver os vídeos daquele canal, e a maioria dos que ficaram afirmam que as condições do teste estavam erradas ou que não é possível que os amplificadores fossem iguais. Não existe possibilidade de se mudar a opinião dessas pessoas. Elas aderiram à uma ideia, e perderam completamente a capacidade de aprender. Triste.

Não entendo porque esses se interessam pelo hobby. Mais ou menos como não ter o paladar aguçado, e não querer educá-lo nunca de jeito algum, e ainda ir em restaurantes especiais ‘curtir’ e ‘avaliar’ pratos, comidas e temperos. Aí só falta ser um objetivista que acha que medições resolvem tudo, e levar equipamentos de laboratório para o restaurante, para ‘medir o valor nutricional, vitamínico e calórico’ de um hambúrguer de vitela com queijo brie francês em cima…

Mídias Antigas de Áudio

Um articulista de áudio, de mídia escrita, de anos atrás, chegou à conclusão de que não conseguiria deixar de ser audiófilo porque “A audiofilia é dona da minha alma!”, a audiofilia faz parte da alma dele, após uma série de reflexões sobre qual seria o motivo de ser audiófilo. Eu mesmo fiz a reflexão, e digo: não consigo desvencilhar música de áudio, separar música do hobby ‘áudio’ e do trabalho ‘áudio’. Não separo música de audiofilia, pois a primeira veio antes da segunda – o amor por comida veio antes de me meter a criticar ou avaliar um restaurante ou um prato, ou mesmo de querer cozinhar pratos elaborados.

Mais uma de um canal do YouTube, onde o protagonista faz projetos de aparelhos e de caixas, e de upgrades para ambos. Ele, claro, usa música em seus projetos e upgrades, assim como ele tem clara ênfase na qualidade de som desses. E ele ainda assim se declara “não ser audiófilo”, e diz que é porque ele é “racional” – o que é muito ofensivo a todos os outros audiófilos – isso porque existiria ‘muito misticismo na audiofilia’. Sem comentários…

Outro audiófilo, profissional da área, diz que não pode ser considerado um audiófilo porque não ouve vinil, e acredita que vinil é apenas uma mídia antiga que nem deveria ser usada mais, como fita K7. Acha que, no vinil, não é pura música que você está ouvindo, e sim o som do processo e dos equipamentos envolvidos no vinil, além de que o vinil é ‘equalizado‘ – coisa que o audiófilo detesta (sentindo a contradição?). Então o som do vinil não pode ser preciso e nem correto. Ele deve achar que todas as gravações digitais que ele ouve, nenhuma passou por equalização, nem durante o processo de gravação e nem durante o de masterização.

Avaliação de Fone de Ouvido

E ouvi também, recentemente, de audiófilos que querem se tornar ‘formadores de opinião’ na Internet, que o que amplificadores fazem é aumentar o volume do sinal que entra neles, e se vários amplificadores de várias categorias e preços, não estiverem alterando o sinal que amplificam – através de distorção ou controle tonal – então esses todos soam iguais. Insano.

Uma que não é nova, que eu já ouço há anos – e que é um dos pensamentos mais simplistas do qual eu já tive conhecimento – dá conta de que a melhora da performance dos equipamentos ao longo dos anos é um golpe manipulativo do marketing e da mídia especializada, que é melhor fazer seus próprios equipamentos, porque é tudo igual (e, acreditem, em muita gente ainda com players de CD da década de 90, que soam péssimos, e que tomam um nabo de um DVD-Player de prateleira, ou mesmo de um DAC acessível moderno). Esse que pensa que os equipamentos não evoluem ou melhoram de qualidade, deve achar que uma TV de tubo da década de 80 tem imagem igual a uma TV de OLED atual, ou que um VW Passat de 35 anos atrás, tem a mesma performance, conforto, economia e segurança de que um Honda Civic atual. Só tem doido mesmo…

Mais uma de cabos: se você ouve diferenças entre cabos, é porque esses cabos estão degradando o sinal, é porque essa diferença sonora é degradação de sinal. OK… A primeira pergunta é: qual cabo é o correto então, o que está ‘igual’ ou o que está ‘diferente’? E qual é o ‘igual’ e qual é o ‘diferente’? O que é ser ‘igual’ e o que é ser ‘diferente’?
Sinto um pouco, às vezes, de alta incidência de ‘raciocínio circular’, bem limitado, tipo: “Tostines vende mais porque está sempre fresquinho, ou está sempre fresquinho porque vende mais?”.

Amplificador

Tem um desses ‘luminares’ da informal imprensa audiófila da Internet, que diz que é preciso ter sistemas específicos e/ou equipamentos específicos para cada tipo de música que se for ouvir. Bom, isso custaria uma enormidade de dinheiro, e ocuparia um tremendo espaço, e me parece preciosismo ter um garfo só para camarão “porque ele finca mais gostoso”, e outro mais rígido para carnes “porque precisa de mais força”. Um garfo de boa qualidade é bom para tudo. Um sistema ou componente de um sistema de áudio, que fizer seu trabalho direito, com equilíbrio tonal e com ‘folga’, com a coisa mais próxima de neutralidade que conseguirem, vão tocar qualquer estilo musical. Simples assim.

Uma ‘estória’ dá conta de que o vinil é inferior e de baixa qualidade, como mídia, porque os ruídos subsônicos – que fazem o woofer mexer mais quando se ouve vinil – causam a desafinação da música, perdendo portanto para o digital em qualidade. Sem querer dizer que o vinil do sujeito está ‘desafinado’ porque a velocidade deve estar alterada (correia velha e folgada, por exemplo), basta lembrar a todos os envolvidos, que o woofer mexer não causa desafinação em nenhum aparelho de som.

E, o último de hoje: um sujeito que avalia a qualidade sonora de fones de ouvido – que, como todo equipamento de som, depende de ter algum equilíbrio tonal para soar semelhante à música (se é que a pessoa ouve música) – admite que foi piloto de caças, e que não ouve mais agudos sem o auxílio de um equalizador… E durma-se com um barulho desses – ou sem esse barulho, se não usar um equalizador!

Boas audições a todos! E boas festas!

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