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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Estamos acostumados a ver toca-discos de entrada ou intermediários, Plug & Play. Até para mim é uma novidade um toca-discos Estado da Arte utilizando esse conceito, e de maneira tão magistral!

Se me dissessem um ano antes do lançamento do Synergy pela SME (um dos mais tradicionais fabricantes de toca-discos) que seus engenheiros estavam imbuídos em ‘presentear’ o mercado com um toca-discos pronto para uso, eu duvidaria de que fosse verdade. Para o leitor não familiarizado com essa reputada marca Inglesa, basta dizer que seus produtos depois de lançados, permanecem por décadas em fabricação, sem sofrer nenhuma mudança drástica.
Seu braço SME V está no mercado desde meados dos anos 80, assim como seus renomados toca-discos SME 10 e SME 20.

O Synergy segue essa mesma filosofia, de ser feito para durar por uma eternidade, porém seu conceito além de ‘moderno’ visa atender ao audiófilo que deseja o toca-discos definitivo, em que ele não tenha mais que se preocupar com upgrades futuros, na cápsula, braço, cabos e no pré de phono! Se você está nessa categoria de audiófilos, que deseja a solução definitiva analógica, se ajeite em sua cadeira, pois esse teste tem muito a lhe dizer.

A SME é justamente conhecida, e ganhou a fama merecida de ter uma qualidade de engenharia a ser copiada (ou pelo menos invejada), de precisão e durabilidade. A obsessão aos mínimos detalhes de construção e de soluções práticas, é elevada à enésima potência.

O Synergy por ser uma opção completa, teve que contar com a colaboração de parceiros experientes e com os mesmos objetivos da SME: oferecer a melhor resolução possível, tanto em termos de praticidade e compatibilidade como de performance.

Então a SME se juntou a Crystal Cable para solicitar o desenvolvimento do cabo de braço para o SME IV, solicitou várias opções de cápsulas a Ortofon até, depois de inúmeras audições, escolher o modelo MC Windfeld Ti. E, para o desenvolvimento de um pré de phono que fica internamente instalado na base do Synergy, o parceiro escolhido foi a Nagra, que também dispensa apresentações, sendo justamente conhecida pelo seu alto grau de confiabilidade, durabilidade e performance!

Se você nunca viu ou instalou um toca-discos Estado da Arte, irá se assustar com seus mais de 25 Kg, então o primeiro cuidado que indico é que peça ajuda para retirá-lo da embalagem. Segunda dica essencial: veja se seu rack sustenta um toca-discos ‘peso pesado’.

Como a cápsula já vem instalada no braço, e os pés de ajuste de altura, contra peso e anti-skating ajustados, o trabalho será apenas ler o manual e ver se no transporte nada foi danificado. Para esse trabalho de revisão e ajuste final, mais uma vez nosso fiel escudeiro André Maltese realizou o trabalho pesado e prazeroso de, depois de tudo revisado, sentar e fazer a primeira impressão conosco.

Acho que os menos experientes podem ter um pouco de dificuldade apenas na hora de ligar as fontes, pois são duas: a do motor do SME e a do pré de phono Nagra, que está instalado na base do Synergy.

E pode-se ter alguma dúvida em relação aos dois parafusos de aterramento dourados existentes na base do toca-discos, mas tudo está bem explicado no manual.

Os cuidados essenciais são: destravar o toca-discos, retirando as tiras que travam o chassi, colocar o lubrificante que vem em uma seringa já na medida certa para ser utilizada no rolamento (o manual explica detalhadamente o procedimento a ser feito para colocar o lubrificante), aí é colocar o prato, a correia, fazer uma reavaliação de peso, altura e anti skating, ligar o cabo de braço a entrada do pré de phono, ligar o cabo da Crystal Cable RCA de 1m no seu pré de linha ou amplificador integrado, plugar o cabo da fonte no chassi do Synergy para alimentar o motor do SME, o plug da fonte do pré da Nagra também no chassi do toca-discos, ligar os fios de aterramento, sentar e ouvir seu primeiro disco.

Eu não tinha, à disposição no teste de um segundo cabo de braço, para desplugar o pré de phono da Nagra internos e ouvir o Synergy no nosso PH-1000 para comparar os prés de phono. Então toda a avaliação feita foi do pacote – e que pacote, meu amigo!

Gosto de observar atentamente os três primeiros discos que ouço no primeiro contato com o toca-discos em teste, pois raramente essa primeira impressão será drasticamente alterada após o amaciamento. E posso garantir que a primeira impressão foi das melhores.

Pois o ‘pacote’ se mostrou coerente, coeso e cativante (quando em minhas anotações pessoais coloco esses três C, sei que será um teste imensamente prazeroso).

A sensação mais relevante ao ouvir o Synergy – o tempo todo em nosso Sistema de Referência e com as caixas Harbeth SHL5plus XD (leia Teste 2 nesta edição), JBL L100 Classic e Estelon X Diamond MkII, é que buscar limitações no Synergy é procurar ‘pelo em ovo’.

Pois fica evidente que os engenheiros da SME fizeram esse trabalho ‘sujo’ de lapidar arestas e oferecer um sistema extremamente correto. Passando a evidente impressão que o todo foi maior que a soma das partes.

Pois ainda que eu entenda que o novo cabo de braço do SME IV tenha sido um consistente upgrade, o casamento dele com essa nova fiação e a cápsula Ortofon, e com o pré da Nagra, colocam esse Plug & Play em um patamar que complica para muitos setups analógicos em que o audiófilo se ‘esmerou’ para extrair o máximo. Às vezes custando muito mais que esse pacote completo.

O cuidado na construção desse setup fechado foi tão impressionante, que nem o Clamp consegui achar solução melhor que a da própria SME.

A maior mudança auditiva ocorreu após 50 horas de uso, com a apresentação de melhor corpo na região grave e uma extensão ainda mais correta nas altas frequências. Como eu não conheço essa cápsula da Ortofon, não sei dizer se foi ela que estabilizou ou foi todo o conjunto (cápsula, pré de phono e cabo Crystal).

O que percebi é que depois de 50 horas, não ocorreu mais nenhuma mudança.

Seu equilíbrio tonal é excelente, tanto em termos de precisão como de refinamento. Graves com enorme precisão, energia, deslocamento de ar e corpo. A região média possui o equilíbrio exato entre transparência e conforto auditivo, e os agudos soam abertos, com excelente extensão e decaimento.

O soundstage tem a maior qualidade que um setup de alto nível pode oferecer: uma imagem nos três planos soberba! Ouvir música clássica em um setup deste nível é simplesmente justificar cada centavo investido! Os planos, com seu foco e recorte, são impecáveis, possibilitando o acompanhamento de cada solista com aquele silêncio circundante sem borramento ou perda de informação.

As texturas são ricas, e o grau de intencionalidade perfeito para quem deseja ‘compreender’ a ideia por detrás do discurso musical.

A macrodinâmica é capaz em obras como a Sinfonia Fantástica de Berlioz, a Sagração da Primavera de Stravinsky, ou Quadros em Exposição de Mussorgsky, pregarem bom sustos e um largo sorriso no rosto! E a micro é impecável em termos de transparência não excessiva (quando esse acontecimento o distrai ou o faz perder o todo).

Os transientes nunca foram problema para um bom setup analógico, mas quando ouvimos em um sistema com esse grau de comprometimento e acerto, é que entendemos o nível de precisão no tempo e ritmo que podemos alcançar.

Ouvi algumas gravações de caixa de bateria com a esteira fechada, que involuntariamente nos volumes corretos me fez piscar. O prazer em acompanhar transientes precisos é indescritível em sistemas desse nível!

O corpo harmônico, que é uma das mais belas qualidades do analógico desde os anos 50 com a evolução dos microfones e prés de microfones, e continua sendo a maior pedra no sapato do digital, o Synergy o coloca na fronteira entre os setups analógicos corretos e os perfeitos! É possível ver o tamanho exato captado em uma boa gravação de um contrabaixo acústico, uma harpa, ou um piano solo. Tão bem feito que nosso cérebro se rende instantaneamente!

E com todo esse arsenal de qualidades, como não enganar nosso cérebro com a materialização física dos músicos a nossa frente? Impossível não acreditar que fomos transportados para a sala de gravação!

CONCLUSÃO

Eu sempre sou muito reticente com o leitor que me escreve dizendo que irá se aventurar em um sistema hi-end analógico, começando do zero! Eu tento demovê-lo sempre falando das desvantagens o alto custo no setup, e na compra da mídia física, que está altamente inflacionada.

Mas para toda regra existem exceções, e depois de conhecer o SME Synergy, se algum leitor com melhores posses insistir na odisseia, não terei como demovê-lo.

Pois se ele tiver bala para um Synergy, e estiver disposto a comprar coleções vendidas por ‘viúvas’ desejando se desfazer dos LPs dos ex-maridos, eis uma possibilidade muito tentadora e viável para se iniciar no universo analógico.
Esse último mês de novembro fui solicitado para avaliar duas coleções de analógicos excelentes, em que o comprador levaria quase 4000 LPs em excelente estado por apenas 25 reais os discos

importados e 12 reais os nacionais! Mas era preciso comprar em ambos os casos toda coleção!

Nessas condições, meu amigo, e esse Plug & Play de alto nível, é entrar no analógico com o pé direito seguramente.
Seu grau de prazer auditivo é pleno, e você jamais sentirá a menor necessidade de realizar nenhum upgrade nesse pacote!

Altamente recomendado, e certamente será Produto do Ano, com méritos!


PONTOS POSITIVOS

Um Plug & Play Estado da Arte.

PONTOS NEGATIVOS

Tirando o preço, nenhum.


ESPECIFICAÇÕES

TipoToca-discos Belt-Drive (tração por correia) com pré de phono embutido
Controle de velocidadeExterno, microprocessado, com ajuste fino
BraçoSynergy baseado no SME Series IV, com tubo de magnésio, com fiação interna Crystal Cable
Cabo de sinalPrata pura mono-cristal da Crystal Cable
CápsulaMoving Coil de saída baixa Ortofon MC Windfeld Ti com agulha perfil especial Replicant 100
Pré de PhonoInterno na base do toca-discos, desenvolvido pela empresa suíça Nagra, alimentado por 12v
Dimensões (L x A x P)370 x 178 x 350 mm
Peso24.5 kg (29.5 kg embalado)
TOCA-DISCOS SME SYNERGY
Equilíbrio Tonal 13,0
Soundstage 13,0
Textura 13,0
Transientes 13,0
Dinâmica 12,0
Corpo Harmônico 12,0
Organicidade 13,0
Musicalidade 13,0
Total 103,0
VOCAL
ROCK, POP
JAZZ, BLUES
MÚSICA DE CÂMARA
SINFÔNICA
ESTADO DA ARTE SUPERLATIVO



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