Fernando Andrette
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Realizar testes com acessórios de isolamento e amortecimento, de redução de ruído, não é uma das tarefas que como revisor crítico de áudio gostaria de fazer com frequência.
Pois demanda tempo, disponibilidade de vários produtos onde se usar os dispositivos, uma metodologia criteriosa, e paciência para mapear os resultados que nem sempre serão idênticos entre vários equipamentos.
E quando são enviados simultaneamente três dispositivos para teste, os desafios também são multiplicados por três.
Então, ao receber todos os acessórios, montei uma estratégia de primeiro conhecer cada dispositivo anti-ruído separadamente, no maior número possível de equipamentos, para depois começar a usá-los em conjunto, até as conclusões finais.
Para esse longo teste, de mais de três meses, utilizei os seguintes equipamentos para a avaliação da base M3 (o modelo top de linha da HRS): toca-discos SME Synergy, Origin Live (o nosso de referência) e o Bergman Modi (leia Teste 1 nesta edição). E também nos transportes digitais: dCS Rossini Apex e Roksan Atessa (leia teste na edição de março 2023). Já os pés Vortex foram utilizados no pré de phono Gold Note PH-1000, no integrado Sunrise Lab V8 Edição de Aniversário, digital dCS Rossini Apex, e integrado Willsenton R8. E a placa de amortecimento DPII utilizamos no V8 Edição de Aniversário, transportes dCS e Roksan Atessa, nos powers Nagra HD e no Gold Note PH-1000.
Sempre tive enorme curiosidade em conhecer tanto os acessórios como os elogiadíssimos racks da HRS (Harmonic Resolution Systems), uma empresa americana fundada em 1999 pelo engenheiro Michael Latvis, um profissional com mais de 40 anos especialista em controle de vibração e ruídos em sistemas, com diversas patentes relacionadas a choque e isolamento de vibração na área aeroespacial e sistemas de defesa antimísseis.
O Sr Latvis, quando fundou a HRS, tinha em mente produzir acessórios de áudio que pudessem realmente fornecer soluções para os ruídos externos provenientes do próprio ambiente de escuta, assim como os ruídos gerados pelos próprios equipamentos de áudio.
E para atingir tão alto objetivo, procurou abordar o problema aplicando uma vasta gama de tecnologias e conhecimento científico. Isso levou-o a ter que produzir seus próprios laminados proprietários, desenvolvidos por químicos e engenheiros especialistas em materiais, com propriedades únicas. Essa equipe possui um conhecimento amplo de como alcançar os resultados, e todo novo projeto desenvolvido passa por uma dezena de testes de laboratório e auditivos.
Segundo o fabricante, a placa de amortecimento DPII da HRS, uma placa de vários tamanhos e espessuras (para atender a maior quantidade possível de equipamentos), tem como objetivo central eliminar o ruído gerado pelo próprio equipamento, e que fica armazenado no gabinete do mesmo.
São fabricados com alumínio aeronáutico, usinados de uma peça inteiriça, e polímeros proprietários da HRS. O objetivo desse acessório é transformar a energia residual do chassi em calor, e com isso melhorar audivelmente a inteligibilidade do acontecimento musical.
Já os Vortex são spikes, também feitos de alumínio aeronáutico, que desacoplam os equipamentos da prateleira com o objetivo também de eliminar tanto o ruído externo produzido na sala de audição, como as vibrações mecânicas dos equipamentos (principalmente nos transportes de CD).
E a base de isolamento M3 me pareceu ser o grande produto da HRS, tanto que podem também ser utilizadas em seus racks. E, ainda que caras, pelo resultado que proporcionam em sistemas Estado da Arte Superlativo, merecem ser avaliadas.
Com os três dispositivos à mão, avaliei cuidadosamente os objetivos de cada um dos acessórios, e decidi pelo grau de facilidade iniciar minhas audições fazendo uso da placa DPII, já que estava em teste o transporte da dCS, o V8 Edição de Aniversário, os powers Nagra HD e o Gold Note PH-1000. Todos devidamente acomodados no rack Pagode da Finite Element (meu rack há mais de uma década), e as bases também Pagode para os powers.
A placa DPII, como todo dispositivo anti-vibração, não terá o mesmo desempenho em todos os produtos que tínhamos em mãos. Então começarei pelos produtos em que ela não fez nenhum efeito: Nagra Power HD. Aqui, não sei dizer se pela própria construção do gabinete ou por estar alojado em sua base da Finite Element, tirar e colocar o dispositivo foi absolutamente nulo. No transporte da dCS, idem. Não ouvi diferença alguma.
No entanto, nos outros equipamentos: Transporte Roksan Atessa, V8 Aniversário e no Gold Note PH-1000, a sensação mais audível foi o fato de passagens complexas serem completamente organizadas de maneira a poder presenciar os planos, foco e recorte com uma precisão cirúrgica! Isso sem o corpo perder tamanho e peso, e sem nenhuma alteração no equilíbrio tonal! Enfatizo essas duas questões, pois muitas vezes ao utilizarmos dispositivos anti-ruído, ganhamos de um lado e perdemos de outro. Isso é muito mais comum do que se imagina, e a consequência desse trocar seis por meia dúzia é que não existe nenhum audiófilo no mundo que não tenha uma gaveta repleta desses dispositivos que, ao longo do tempo, foram retirados do sistema.
Então, minha conclusão a respeito da DPII será descobrir se no seu sistema você necessita ou não desse dispositivo, e em qual produto ele irá ser mais essencial. O que posso dizer, amigo leitor, é que o DPII é um dispositivo que pode, no produto que necessita a eliminação de ruído gerado pelo próprio gabinete, fazer uma enorme diferença.
No Transporte da Roksan eu centralizei o dispositivo para ficar bem em cima da gaveta do transporte, e cheguei a brincar com o dispositivo deixando-o mais para as bordas do gabinete, e as diferenças no grau de inteligibilidade eram muito evidentes. Principalmente em passagens com muita informação e variação dinâmica muito intensa. Posicionado corretamente, era notória a facilidade em acompanhar aquela ‘massa’ de informação, mais organizada e sem borramento de imagem no foco e recorte.
No V8 Aniversário, procurei deixar o dispositivo mais em cima do transformador, e aqui de novo, foi audível o quanto de limpeza a placa DPII proporcionou nas passagens mais complexas, e com um detalhe a mais: maior conforto auditivo junto com a inteligibilidade.
E por fim, no Gold Note PH-1000, houve uma diferença, pois só atingimos uma total melhoria quando aqui também utilizamos os spikes Vortex em conjunto com a placa DPII.
Qual a razão dessa diferença? Construção do gabinete – o Gold Note possui gabinete com recortes em sua tampa superior – será isso?
A segunda etapa foi usar os Vortex em todos os equipamentos, e também no integrado valvulado R8. Novamente aqui tivemos de diferenças muito pouco expressivas até grandes diferenças. No Transporte dCS foi muito sutil, talvez alguma melhora na apresentação dos planos de orquestra, mas sem melhora no foco e recorte. Nenhuma diferença no DAC Rossini Apex. Houve uma melhora interessante no Roksan Atessa, e melhorias importantes novamente no V8 Aniversário, e grandes no R8 valvulado, e enormes no Gold Note PH-1000.
Isso sem o uso da placa DPII, para não confundir as conclusões. Para o leitor entender o teste, preciso explicar que primeiro: os pés Vortex fizeram mais diferença nos produtos que necessitam de isolamento, do que a placa DPII. OK?
Então, se eu tivesse que escolher qual upgrade realizar primeiro, eu escolheria os pés Vortex. Pois todos os benefícios que a placa DPII proporciona, o Vortex também o faz, e com um novo elemento muito interessante, que é a melhora na resposta de transientes.
Tudo parece estar mais preciso, mais contundente e incisivo em termos de tempo e ritmo. E essa qualidade a mais é seu grande diferencial em relação ao outro dispositivo.
E quando colocados ambos, vale a pena? Nos casos específicos do Roksan, do V8 e do Gold Note, sim! Vale muito a pena. Já no R8 não foi possível utilizar a placa DPII, por motivos óbvios: não posso apoiar em cima das válvulas esse dispositivo.
Pois nesses três equipamentos, o uso em conjunto melhorou a inteligibilidade da imagem sonora, e aumentou a precisão de resposta dos transientes. Ou seja: matador!
E, finalmente, fomos ouvir a famosa base M3 nos toca-discos em teste. Aqui a coisa é muito séria, pois podemos classificar como ‘antes de conhecer’ essa fantástica base, e ‘depois de ouvir’ esse dispositivo. E afirmo categoricamente: não existe retorno!
Então nem pense, se estiver fora de seus planos turbinar seu toca-discos Estado da Arte, ouvir essa base. Pois você irá chorar no momento que for devolver.
Os três toca-discos utilizados no teste estavam dentro do peso específico para uso da base (até 30 Kg), o que facilitou muito a realização do mesmo. E, para ver seu grau de compatibilidade com diversos racks e prateleiras, utilizamos ela tanto no rack Finite Element, como no Audio Concept (onde mantenho meu toca-discos da Origin Live).
A primeira conclusão é o alto grau de isolamento da base em relação ao rack que esteja assentado: não houve diferenciação alguma estar no Audio Concept ou no rack Pagode da Finite Element.
Segundo ponto: é simplesmente como fazer um upgrade na cápsula ou então no conjunto braço e cápsula. Foram tão contundentes as melhoras nos três toca-discos, que é possível descrever com segurança as melhoras audíveis.
A primeira, como nos outros dois dispositivos, é o grau de organização e precisão do acontecimento musical. É possível ouvir as intencionalidades com erros e acertos de todas as gravações, assim como observar detalhes de ambiência (natural no caso de gravações feitas em salas de espetáculo, ou a reverberação digital das salas de estúdio).
O silêncio de fundo das gravações, assim como o hiss de gravações analógicas, se torna mais presentes.
E, por fim, o corpo harmônico das gravações é o presente mais agradável do uso desse dispositivo. Ouvir a Quarta Sinfonia do compositor russo Tchaikovsky (Telarc) é um acontecimento inesquecível, com o naipe de metais cobrindo todo o fundo do palco, como ouvimos em uma audição ao vivo! Esse ‘presente’ foi reproduzido corretamente pelos três toca-discos, mostrando o quanto este quesito (tão crucial para enganar nosso cérebro), é um dos maiores benefícios que essa base pode nos proporcionar.
E, por último, um benefício que pode parecer sutil a muitos audiófilos, mas que é de suma importância para quem deseja extrair o máximo de seu setup analógico: o conforto auditivo. Os três toca-discos ganharam maior folga e controle nas variações dinâmicas, possibilitando esquecermos de monitorar o volume nas passagens fortíssimas.
Quando estava acabando esse teste, chegou o Thorens TD 403 DD, que custa um terço da base M3, mas por curiosidade também quis ouvir o quanto esse toca-disco de entrada se beneficiaria de ser isolado do ambiente. Pois bem, se ele fosse testado nessas condições, ele ganharia pelo menos um ponto no soundstage e no corpo harmônico.
Claro que ninguém em sã consciência utilizaria essa base em um toca-disco de entrada, mas foi importante ouvi-lo nessa condição, para confirmar o grau de eficiência da HRS.
CONCLUSÃO
Sei do grau de resistência que inúmeros audiófilos têm em relação a todo acessório antivibração (talvez seja até maior que a cabos), pois todos nós já fomos tentados a ouvir e muitas vezes ficar com diversos desses dispositivos. E entendo perfeitamente o grau de frustração quando ouvimos algo que, no nosso sistema, não traz os benefícios esperados.
Por isso sou tão cuidadoso na avaliação desses acessórios, exigindo do fabricante ou importador que os produtos fiquem para teste por um longo período, para utilizarmos em todas as variações possíveis, antes de publicar nossas conclusões.
Os HRS não são dispositivos baratos e, como todo acessório, não possui um grau de compatibilidade absoluto (isso não existe). Mas em sistemas que necessitem desses dispositivos, eles podem ser um upgrade pontual seguro e muito consistente no resultado.
Pois, acredite, serão audíveis e possíveis de serem revistos quantas vezes for necessário, para entender que não se trata de placebo ou da sua mente querendo que eles funcionem.
Agora, será preciso ter um método coerente de escuta, e paciência para posicionar por exemplo o DPII, e avaliar com critérios os benefícios. E, o mais importante, você ouvirá rapidamente se o produto que você instalou se beneficiará ou não. Pois, como disse, se o equipamento necessitar de melhorias para baixar o ruído, você perceberá assim que instalado.
Minha dica, para quem quiser conhecer os dispositivos HRS: comece por instalar nas fontes antes de colocar na amplificação. Pois assim você poderá (caso haja benefícios) desfrutar do efeito cascata (de cima para baixo, como nos cabos melhores para os piores). E, lembre-se: em alguns casos será preciso experimentar o conjunto Vortex com o DPII, para se extrair o sumo do sumo (como no caso do Gold Note, Roksan e do V8).
Quanto à base M3 para toca-discos, como escrevi acima, só ouça se houver capital para investir, pois ela custa mais que muitas cápsulas de primeira linha Estado da Arte.
Parece uma loucura? Sim, mas se você julga que já extraiu o máximo de seu toca-discos, cápsula e braço, não custa nada descobrir que ainda havia mais uma camada a ser lapidada. E que essa camada irá fazer uma diferença brutal no que se pode extrair ainda de seus discos!
PONTOS POSITIVOS
Dispositivos antirruídos que têm um alto grau de eficiência quando o equipamento necessita desses ajustes.
PONTOS NEGATIVOS
Não são dispositivos baratos.
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