Música de Graça: AS PRIMEIRAS 3 SINFONIAS DE GUSTAV MAHLER!

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Música de graça mensalmente na Internet ao alcance dos nossos dedos!

O YouTube tem muito conteúdo interessante para o melômano. São vídeos de música ao vivo, com qualidade pelo menos decente de imagem e som, de apresentações feitas para TV ou para canais do próprio YouTube.

Só ao vivo você percebe o verdadeiro entrosamento entre os músicos, sua linguagem corporal e suas verdadeiras capacidades!

COMO E ONDE OUVIR

Através de um computador ou smartphone, com bons fones de ouvido – ou mesmo conectando eles ao DAC de nosso sistema de som, fisicamente, por wi-fi, por Chromecast ou por Bluetooth. Uma segunda opção é assistir esse conteúdo em uma TV tipo smart, no aplicativo do YouTube, e conectar a saída ótica de áudio digital dela ao sistema de som, de home-theater ou mesmo à uma soundbar.

Para quem são os vídeos deste mês? Para todos os fãs de música clássica, principalmente orquestral e sinfônica, para os fãs das orquestras e salas de concerto europeias, com participações de solistas de canto e grande coro.

Gustav Mahler, nascido 1860 em Kalischt, então Império Austríaco (hoje parte da República Checa), foi um dos maiores e mais complexos orquestradores do repertório sinfônico, e eu gosto de acreditar que ele estava meio que no lugar certo na hora certa, em um cenário que tinha absorvido quase um século do período do Romantismo, com nomes que vão desde Beethoven e Brahms até Liszt e Wagner (deixando de citar dezenas de nomes importantes), um período que eu considero o mais rico de todos da música. E a música de Mahler é rica, densa, e complexa. E com muitos elementos Modernistas, ligando o Romantismo ao século 20 na música orquestral.

Filho de um hoteleiro com a filha de um pequeno fabricante de sabão, Mahler aprendeu na infância a música de rua, as melodias folclóricas e as marchas militares, que começou sozinho a tocar no piano da família. Aos 15 anos entrou no Conservatório de Viena, estudando piano, música, composição e harmonia. Terminando os estudos, passou a dar aulas de piano e fazer pequenas composições. Além de compositor, foi um dos mais conceituados regentes de orquestra do final do século XIX e início do XX, trabalhando na Ópera de Leipzig, no Teatro Húngaro de Ópera em Budapeste, em Hamburgo, e na Ópera da Corte de Viena. Em 1898 passou a reger a Filarmônica de Viena, e logo começaram a ser apresentadas suas próprias obras na Europa. Entre 1908 e 1911, Mahler foi muito bem sucedido nos EUA, regendo a Metropolitan Opera, e tanto a Sinfônica quanto a Filarmônica de Nova York. Voltando à Viena, veio a falecer aos 50 anos de idade.

Mahler: Sinfonie Nr. 1 D-Dur “Titan” mit Manfred Honeck | NDR Elbphilharmonie Orchester (2021, 63 min)

Mahler compôs a Primeira Sinfonia entre 1887 e 1888, incorporando ideias musicais anteriores a esse período, e sendo inicialmente chamada por ele de um “poema sinfônico” – e recebendo o título de “Titã”, o qual é usado até hoje pela maioria da gravações e apresentações ao vivo, porém utilizado por Mahler apenas no início. O fato é que a obra foi extensamente revisada e modificada, durante anos, recebendo mais movimentos e sendo eventualmente rebatizada de Primeira Sinfonia. Sua estreia foi em novembro de 1889, com Filarmônica de Budapeste, sob a batuta do próprio compositor.

Seu terceiro movimento traz, curiosamente, a melodia da canção de ninar francesa Frère Jacques, mas com uma característica sonora de uma marcha fúnebre, tocada por um um contrabaixo.

Neste vídeo, o maestro austríaco Manfred Honeck (1958), faz uma boa leitura da obra, energética e muito fluente, com a Orquestra Filarmônica do Elba muito competente, à vontade, e preparada – gravados ao vivo na Sala de Concertos Elbphilharmonie em novembro de 2021, e ovacionados pela plateia!

Honeck foi violista na Filarmônica de Viena, e depois foi regente assistente do célebre maestro italiano Claudio Abbado, na Orquestra Jovem Gustav Mahler, de Viena. Atualmente, Manfred Honeck segue como diretor da Orquestra Sinfônica de Pittsburgh, nos EUA, e tem uma longa discografia, com várias orquestras.

A Filarmônica do Elba, da cidade de Hamburgo, na Alemanha, foi fundada em 1945, e tem como sede a Elbphilharmonie na mesma cidade, à beira do Rio Elba, desde sua construção em 2017. A Sala de Concertos Elbphilharmonie – que passou de um custo inicial de 241 milhões de euros, para um valor final de 866 milhões – é uma das mais modernas do mundo, tanto arquitetonicamente quanto na qualidade técnica de sua acústica – e uma beleza a ser observada no vídeo, durante a belíssima, lírica, e estrondosa Sinfonia Titã de Mahler – e que tem um dos meus finais preferidos dentre todas as sinfonias.

Mahler Sinfonie nr 2 in c-Moll “Auferstehungssinfonie” Esa Pekka Salonen Sveriges Radios Symfoniorkester (2022, 96 min)

A Segunda Sinfonia de Mahler recebe o título de Ressurreição – e é, como me disse uma vez o amigo Irineu Franco Perpétuo: “Dos Mahleres, o Maior!”. Não há definição melhor que essa!

Foi, acho, a obra de maior sucesso do compositor, e eu entendo perfeitamente, já que é uma das minhas obras favoritas de todos os tempos – e foi eleita, em uma enquete entre maestros feita pela revista BBC Magazine, como a “Quinta Melhor Sinfonia de Todos os Tempos”.

A Sinfonia Ressurreição, composta entre 1888 e 1894, traz cinco movimentos, sendo o último, longo, com um coro completo além de vozes solistas: uma soprano e uma contralto – ou seja, de maneira semelhante à célebre Nona Sinfonia de Beethoven, que também traz coral em seu último movimento. Quando o célebre maestro alemão Hans von Bülow, muito amigo de Mahler, faleceu em 1894, em seu enterro foi lido o poema A Ressurreição, do poeta Friedrich Gottlieb Klopstock, cujas palavras tocaram profundamente o compositor, levando-o a usar seus dois primeiros versos (além de usar a inspiração), para compor parte da letra de sua Segunda Sinfonia.

A obra estreou em março de 1895, com o próprio compositor regendo a Filarmônica de Berlim. Em 1920, a partitura original da Sinfonia Ressurreição foi presenteada pela viúva do compositor ao célebre maestro Willem Mengelberg. A mesma partitura foi comprada em 1984 pelo empreendedor Gilbert Kaplan e, em 2016, após sua morte, foi adquirida anonimamente em leilão por 4.5 milhões de libras esterlinas – acabando por ser doada à Orquestra de Cleveland, nos EUA, onde permanece até hoje.

A história do citado Gilbert Kaplan é curiosa, e vale a menção aqui, servindo para demonstrar a paixão causada pela Sinfonia Ressurreição. Kaplan, formado economista e advogado, tornou-se publisher de uma revista de finanças, ficando rico. Sua obsessão pela obra era tão grande que, como regente amador, começou estudos de regência com Charles Zachary Bornstein em 1981 e, em 1982 alugou o Avery Fisher Hall, parte do Lincoln Center, em Nova York, contratando a orquestra American Symphony com o Coro Sinfônico Westminster, do próprio bolso, regendo uma performance ao vivo que chegou até a ser elogiada por alguns – o que levou Kaplan a gravar a obra (uma vez com a London Symphony Orchestra e outra com a Filarmônica de Viena), e a se apresentar regendo-a mais de 100 vezes, até o fim de sua vida. Foi a única obra que regeu ao vivo, e a única obra que gravou – excetuando-se uma gravação de estúdio do Adagietto da Quinta Sinfonia do próprio Gustav Mahler.

A apresentação neste vídeo foi filmada em agosto de 2022, como parte do Festival do Mar Báltico (fundado em 2003 por Salonen e o maestro russo Valery Gergiev) e traz Esa-Pekka Salonen à frente da Orquestra da Rádio Sueca – onde ele foi titular de 1984 a 1995, e foi nomeado Regente Honorário de forma vitalícia. Salonen é um dos regentes mais sólidos hoje em atividade, e esse concerto não fica atrás, onde a orquestra, coro e solistas sob sua batuta fazem a execução de uma obra complexa e densa com uma correção e familiaridade poucas vezes vista. Merecia ter saído em CD – quem sabe, um dia…

Esa-Pekka Salonen (1958) é um maestro finlandês, que estudou composição e regência na Academia Sibelius, em Helsinque, cuja estreia como regente se deu aos 21 anos, à frente da Orquestra da Rádio Finlandesa – atividade que, apesar de ter começado a carreira se dedicando à composição, tornou-se sua principal. Salonen é um regente internacional de alto calibre, dirigindo orquestras como a Filarmônica de Los Angeles, a Philharmonia Orchestra de Londres e a Sinfônica de San Francisco, entre outras, assim como vários festivais de música, nas Américas e na Europa.

Como compositor, tem vários discos e vídeos gravados, além de numerosas apresentações ao vivo – como a estreia de seu Concerto para Cello e Orquestra com ninguém menos que Yo-yo Ma como solista!

A Sveriges Radios Symfoniorkester – Orquestra Sinfônica da Rádio Sueca – foi fundada em 1965 em Estocolmo, dando continuidade ao trabalho da Radioorkestern, de 1927. Por sua direção já passaram grandes nomes da regência mundial, como Sergiu Celibidache, Herbert Blomstedt, Yevgeny Svetlanov e Manfred Honeck, sendo o atual titular o inglês Daniel Harding. Desde sua construção em 1979, a orquestra tem como sede o Berwald Hall, com capacidade para 1302 pessoas – onde o vídeo foi filmado.

Mahler 3: Watch Party #StayHome #WithMe (2017 / 2020, 103 min)

A Terceira Sinfonia de Mahler foi composta entre 1893 e finalizada em 1896. Dividida em seis movimentos, é a mais longa sinfonia do repertório sinfônico tradicional, e foi eleita a décima melhor sinfonia de todos os tempos, na enquete da revista BBC Music.

Foi composta para uma orquestra grande, adicionada de um coro feminino, um coro de meninos, e uma solista contralto – para o quarto e quinto movimentos. A grandiosidade da obra, sua longa duração, e a quantidade de músicos necessários, acabaram contribuindo para uma menor popularidade dela, dentre as sinfonias de Mahler.

A estreia da partitura completa foi em junho de 1902, em Krefeld, na Alemanha, com a orquestra da Allgemeine Deutscher Musikverein (Associação Musical Geral Alemã) sob a regência do compositor. Apresentações de movimentos isolados da sinfonia, foram feitas em Berlim em 1896 e 1897, por Arthur Nikisch e Felix Weingartner, respectivamente.

De novo aqui, para este vídeo, temos o grande regente finlandês Esa-Pekka Salonen, desta vez em outubro de 2017, frente à orquestra da qual era o maestro principal à época, a Philharmonia Orchestra, de Londres. A gravação ocorreu no Royal Festival Hall, tradicional sede da orquestra, transmitida ao vivo pela Internet, na época. Aqui, em pleno começo de pandemia e quarentena, em maio de 2020, o concerto de 2017 é novamente transmitido (do acervo da orquestra) com comentários – entre os movimentos – de músicos que lá estiveram em 2017.

Especial para a relação entre a orquestra e seu regente principal, a Terceira Sinfonia de Mahler foi, também, a primeira obra que essa orquestra tocou, em 1983, então com um jovem maestro iniciante como convidado: Esa-Pekka Salonen!

A Philharmonia Orchestra é uma das mais tradicionais orquestras britânicas. Fundada em 1945 por um produtor de discos de música clássica da EMI, a orquestra teve ampla associação com alguns dos grandes maestros de sua época, como o maestro e compositor alemão Richard Strauss, e os maestros Wilhelm Furtwängler, Arturo Toscanini, Herbert von Karajan (que regeu e gravou com a orquestra por mais de duas décadas), Otto Klemperer, Riccardo Muti, e Christoph von Dohnányi, entre outros. Esa-Pekka Salonen foi seu diretor artístico de 2008 até 2021.

A sede atual da Philharmonia, o Royal Festival Hall, de 2700 lugares, faz parte de um dos maiores complexos de artes da Europa, o Southbank Center, às margens do Rio Tâmisa, inaugurado em maio de 1951.

Um bom março, com muita música!

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