Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
A vantagem de se avaliar, na sequência, um novo modelo do mesmo fabricante, é que podemos rapidamente compreender as diferenças e semelhanças existentes entre os produtos.
E a desvantagem é que, se o primeiro produto testado for muito melhor, temos que ser muito criteriosos para não cometermos injustiça com o modelo inferior.
Agora, quando temos a ‘sorte’ grande de avaliar produtos de um fabricante que possui uma longa história de bons serviços prestados ao mercado de áudio, certamente que as incertezas serão rapidamente dissipadas.
Na edição de dezembro, tive a oportunidade de avaliar a SHL5plus XD, e acho que não deixei dúvidas do quanto apreciei esse monitor hi-end. E poder ouvir na sequência a 7ES-3 XD (o modelo logo abaixo da SHL5plus XD), foi um misto de curiosidade e muitas dúvidas.
Não em relação a assinatura sônica, conceito e filosofia, mas sim no sentido de saber o quanto a 7ES-3XD poderia ser uma excelente aquisição para os que possuem um orçamento menor, salas mais modestas, e não querem abrir mão das qualidades inerentes a todo projeto Harbeth.
E a curiosidade só aumentou quando li que a Compact 7ES-3 XD é a ‘menina dos olhos’ do projetista Alan Shaw, já que se trata de um projeto que saiu de sua imaginação e desejo de construir um novo monitor compacto, e que fugisse um pouco do padrão de monitoramento BBC, que sempre norteou todos os produtos da Harbeth. Aguçou minha curiosidade o quanto Alan abriria mão de projetos seguramente vitoriosos, para realizar algo que tivesse um toque mais pessoal.
Posso adiantar que, ainda que a 7ES-3 XD tenha audivelmente uma assinatura sônica ‘peculiar’, o conceito filosófico e de design estão presentes o suficiente para nos dizer, em segundos, ser uma genuína Harbeth como todos os outros modelos.
A todos que mostrei as duas Harbeths que vieram para teste, se espantaram como o tamanho do gabinete não condiz com o peso das caixas. E isso tem a ver com o conceito da Harbeth de controlar as ressonâncias do gabinete com dispositivos de amortecimento internos em vez de aumentar a massa dos painéis. Para o leitor ter ideia, a maioria dos fabricantes de caixas hi-end usa aglomerado de MDF de 19mm, e a Harbeth, ao contrário, utiliza um painel frontal de 18mm e os laterais e traseiros de apenas 12 mm.
Segundo o fabricante, a placa usada nos gabinetes é de fibra de alta densidade folheada de ambos os lados, essa técnica de revestimento interno e externo do gabinete permite melhor controle climático e garante estabilidade das ressonâncias internas.
Além do material ressonante em pontos críticos dentro dos gabinetes, a Harbeth utiliza fixações com 12 parafusos, que prendem o painel traseiro aos dois painéis laterais e aos painéis superior e inferior.
As grades de todas as Harbeths são feitas de tecido com uma armação de aço macio, que se encaixa perfeitamente no painel frontal de maneira firme e profunda. De maneira tão precisa, que é um claro sinal do fabricante que você não precisa remover a tela para ter a melhor imagem de suas caixas.
Tanto que eu não aconselho você a fazê-lo se não tiver paciência e uma espátula de plástico, para não danificar o gabinete.
Eu ouvi ambas caixas com e sem tela, e garanto a você que se elas forem corretamente posicionadas, estar com a grade não irá alterar nem seu equilíbrio tonal e muito menos o foco e recorte. Agora, se você gosta de ficar olhando para o seu falante de médio-grave enquanto escuta, aí faça a retirada da tela com a maior paciência e cuidado!
A primeira pergunta que todo fã da Harbeth fez a Alan Shaw foi: quais as diferenças entre a linha de aniversário de 40 anos para a nova linha XD?
A resposta de Shaw foi que, ao adquirir recentemente alguns novos equipamentos de teste, ele conseguiu detectar algumas limitações que o incomodavam tanto em termos de ressonância de gabinete, como na construção dos falantes e no crossover. E com essas medições mais minuciosas e precisas, ele pode atacar os problemas de forma eficaz. Por isso a denominação XD (eXtended Definition).
No crossover agora são utilizados capacitores poliácidos, um novo cabo de puro cobre OFC, novos terminais de caixa que se conectam diretamente à placa de circuito interno, onde está o crossover, encurtando drasticamente o sinal.
O falante de médio-grave de 200 mm (8 polegadas) é agora moldado por injeção, e usa a segunda geração de um cone de polipropileno desenvolvido em parceria com a Universidade de Sussex. O tweeter é resfriado por ferrofluido com uma cúpula de 25 mm (1 polegada) protegida por uma malha de metal preto.
Segundo o fabricante a, C7ES-3 XD responde de 45Hz a 20kHz, com impedância de 6 ohms e sensibilidade de 86 dB.
Para o teste utilizamos os integrados: Sunrise Lab V8 Anniversary e Krell S300i. Powers: Gold Note PA-10 (leia Teste 2 nesta edição) e Nagra HD. Pré de linha: Gold Note DS-10 (como pré ligado ao PA-10, e como DAC quando ligado ao Transporte Roksan Atessa). Cabos de caixa: Virtual Reality Trançado, Oyaide OR-800 Advance, e Dynamique Audio Apex. Fonte analógica: toca-disco Bergman Modi com braço Thor, com cápsula ZYX Ultimate Astro G. Pré de phono: Gold Note P-1000. Fonte digital: Transporte Roksan Atessa (leia Teste 3 nesta edição), DAC Gold Note PS-10 e Nagra Tube DAC.
A caixa veio com 50 horas de queima. Pela experiência com a caixa anterior, muito abaixo do ideal de 200 horas. Então fiz apenas uma rápida audição para as anotações iniciais, e a deixamos em amaciamento por mais 150 horas.
A Harbeth C7-ES-3 XD irá precisar dessas horas a mais, ainda que com esse tempo de amaciamento já seja possível ouvir as caixas enquanto amaciam, sem ranger de dentes ou com dúvidas pairando pela mente. Com 220 horas a caixa estabilizou completamente, e pudemos finalmente iniciar o teste.
Antes que você me pergunte se ela se parece ao menos com a SHL5plus XD? Sim, e muito. Diria que as diferenças maiores estão no maior arejamento e refinamento das altas da SHL5plus, e com um pouco mais de peso na sustentação dos graves.
Mas em termos de timbre e maneira de apresentar a música, com aquele realismo inerente aos melhores monitores hi-end, esse está todo presente. E por um preço mais convidativo e perfeito para salas de até 20 metros quadrados.
O posicionamento precisa, como em toda Harbeth, ser milimetricamente pensado, com respiro em relação às paredes laterais, mais do que à parede às costas da caixa. O tweeter não pode estar à altura da orelha do ouvinte em sua posição de escuta, ficando muito mais plano e arejado se tiver alguns centímetros acima da orelha.
Quanto ao ângulo de audição, dependerá muito da distância entre as caixas e o ponto de escuta, e o gosto do ouvinte quanto a uma apresentação mais perto ou mais para trás das caixas.
Eu sempre desejo que a imagem toda esteja formada para trás das caixas, então eu busquei manter as caixas com pouco toe-in (apenas 15 graus para o ponto de escuta, com uma distância entre as caixas de 2,80 m). Nessa posição, com qualquer setup consegui uma imagem tridimensional consistente e com todos os planos muito bem definidos, assim como o foco e recorte.
Como escrevi no teste da Harbeth SHL5plus XD em dezembro, o que mais impressiona nas caixas desse fabricante é a capacidade de recriar a sala de gravação com detalhes e um grau de refinamento genuinamente hi-end!
É uma apresentação realista, detalhada, orgânica e sedutora. Parece fácil descrever esses atributos, porém difícil é conseguir esse resultado na prática de maneira tão coesa e harmoniosa. Harbeth não é para todo tipo de audiófilo, pois certamente muitos desejam apresentações com maior peso, maior deslocamento de ar e aquela sensação de coice no peito nas notas graves. Para esses audiófilos com um pé no hi-end e outro no pró-áudio, nenhum monitor book irá atender suas expectativas.
Então para quem esse belo monitor hi-end irá ser perfeito? Para todos aqueles que querem sentir a sensação de ter estado lá, de maneira quase que cúmplice do acontecimento musical. E poder sentir aquela magia de ouvir os mais sutis detalhes de interpretação e execução. É o estar lá da perspectiva do engenheiro de som, sentado na mesa e moldando sua primeira mixagem, para ver como os instrumentos vão se costurando até fazer aquela colcha sonora.
Ou então participar da mixagem finalizada, fazendo a primeira passagem da master, avaliando se as alturas de cada instrumento estão corretas, se as entradas e saídas estão como o planejado, se o panpot – posição de cada instrumento no palco imaginário – corresponde ao planejado. A avaliação que toda boa master necessita, e que só um excelente monitor de duas vias pode proporcionar.
Existem monitores que nasceram para essa função, e que por isso mesmo não se adequam às expectativas da esmagadora maioria dos audiófilos.
Mas e se for um monitor hi-end?
Esse é o caso justamente dessa Harbeth, feita sem ter no seu DNA inicial o peso de ter sido construída para as necessidades da BBC, mas que carrega em seu projeto todas as benesses que um excelente monitor de estúdio possui, aliado às necessidades de um setup puramente hi-end. Isso a diferencia de todos os outros produtos deste fabricante e, por isso, ele carrega o ‘emblema’ de ‘menina dos olhos do CEO da Harbeth. Bastante compreensível que assim seja, e mais justificável ainda quando ouvimos e a comparamos com outros modelos da própria Harbeth.
Ela tem uma graciosidade, uma agilidade em construir as sonoridades que reproduz, que passados poucos segundos, ninguém mais estará avaliando absolutamente nada. Pois a música se fará muito mais presente que qualquer tentativa de avaliação.
Já escrevi que, quando me deparo com produtos com essas características, não gasto meu tempo e energia tentando remar contra a correnteza que emerge à minha frente. Busco fazer minha avaliação de maneira reversa, procurando entender o que aquele produto não consegue entregar, mesmo que essa entrega seja essencial para fazermos nossas escolhas racionalmente.
Não espere desse monitor hi-end graves com deslocamento de ar e peso, não espere o último detalhe em termos de tamanho da sala de gravação. Mas quanto ao resto desse quesito tão primordial, espere: naturalidade, refinamento e acima de tudo timbres realistas, seja de instrumentos acústicos, eletrônicos ou vozes!
Quanto às texturas, o grau de intencionalidade, assim como da paleta de cores, serão sempre evidentes e precisos.
O seu soundstage só não será cirúrgico se a sala (com seu tamanho e deficiência acústica), não permitir.
Na nossa sala, os planos, assim como foco, recorte, altura e profundidade foram exemplares. Tirando o quesito ambiência, que não foi tão perfeito assim, mas em nenhum momento diminuiu o prazer de ouvi-lo em todos os exemplos que utilizamos para fechar as notas.
Os transientes são uma das maiores virtudes desses monitores hi-end. Preciso tanto em tempo, como em ritmo!
A dinâmica, obviamente, será melhor a micro que a macro, no entanto a Harbeth não se curva aos crescendos no fortíssimo, desde que em volumes adequados ao seu tamanho. Na nossa sala de home-theater de apenas 12 metros quadrados, ouvimos com satisfação obras como: Quadros em Exposição de Mussorgsky, Sagração da Primavera de Stravinsky, Sinfonia Fantástica de Berlioz, e Os Planetas de Holst.
Tenho escrito faz um bom tempo que as melhores books da atualidade surpreendem cada dia mais pela sua capacidade de recriar o corpo harmônico dos instrumentos, e a Harbeth merece um pedestal para o seu feito nesse quesito. Pois conseguiu reproduzir alguns pianos solo, contrabaixos e cellos como poucas books conseguiriam até esse momento.
E em relação a materialização física do acontecimento musical, a organicidade, junto com a reprodução de texturas ambas são realmente o ‘clímax’ dessa caixa! Você não precisará fazer nenhum esforço para ‘ver’ o que você está ouvindo à sua frente. Mostrando o que um monitor hi end é capaz de nos proporcionar, sem esforço ou o pagamento de um caminhão de dólares!
CONCLUSÃO
Durante três meses escutei por semanas essa caixa, e a cada nova audição, com dezenas de gravações diferentes e de qualidade técnica distinta, foi possível perceber o quanto um monitor hi-end pode nos emocionar e nos questionar se realmente precisamos de algo a mais para sermos realmente felizes ao ouvir nossa música.
Se você é um audiófilo que sempre objetivou estar no meio do acontecimento musical , co- participando de todas as etapas do processo de gravação, eu sugiro que você escute essa caixa com muita atenção! Pois ela pode o levar a descobrir que, em algum momento, teremos que fazer uma última escolha: se queremos seguir a procura do sistema mais realista que a própria realidade (já que esse sistema sempre terá a perspectiva dos microfones e não do ouvinte na plateia) ou se queremos o oposto, que é estar sempre na plateia apreciando nossas gravações como se estivéssemos lá!
Não existe uma terceira via, amigo leitor. No final desse apaixonante hobby, teremos que escolher uma dessas duas estradas finais.
Se a sua escolha já foi definida, e o que você deseja é estar presente em cada gravação que você ama, uma ponte segura para essa estrada passa inevitavelmente por essa caixa!
PONTOS POSITIVOS
Um monitor hi-end de altíssimo nível
PONTOS NEGATIVOS
Preço, e exigência de posicionamento e setup à altura de sua performance.
ESPECIFICAÇÕES
Drivers | • 200mm – médio-grave RADIAL2 • 25mm – tweeter domo com ferrofluido |
Resposta de frequência | 45 Hz – 20 kHz (±3 dB) |
Impedância | 6 ohms |
Sensibilidade | 86 dB/2.83V/1m |
Sugestão e amplificação | A partir de 25 W/canal |
Potência admissível | 150 W |
Dimensões | 520 x 272 x 305 mm |
Bornes | Um par de 4mm da Harbeth |
Peso | 13.2 kg cada (sem embalagens) |
Cor da tela | Preta |
CAIXAS ACÚSTICAS HARBETH COMPACT 7ES-3 XD | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 11,0 | |||
Soundstage | 11,0 | |||
Textura | 12,0 | |||
Transientes | 12,0 | |||
Dinâmica | 10,0 | |||
Corpo Harmônico | 10,0 | |||
Organicidade | 12,0 | |||
Musicalidade | 12,0 | |||
Total | 90,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
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