Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
O audiófilo segue determinadas linhas de raciocínio que certamente o diferem do aficionado por outros hobbys tecnológicos, pois ele não age em termos de escalas ascendentes ao pensar em upgrades, ele leva em consideração muitos fatores tão pouco racionais que, aos olhos de quem está apenas acompanhando um audiófilo em sua jornada rumo ao nirvana sonoro, devem parecer estranhos e, às vezes, completamente sem sentido.
Demorei décadas para entender esse comportamento oscilante, que às vezes é direcionado por ideias fixas que, em algum momento, ele acreditou serem o caminho mais seguro. Outras vezes, procura seguir sua ‘razão’ a qual, na verdade, tem uma memória totalmente emotiva para lhe dar um norte de onde ir.
E por muitas vezes, até estritamente por impulso, levando-o nesse caso a profundos arrependimentos e até rompimentos com o hobby, dependendo do estrago que esse ‘impulso’ possa ter causado nas suas expectativas e no seu bolso.
Meu pai sempre descreveu o audiófilo como um ser que precisa ser lembrado constantemente que o único sentido para se embrenhar nessa jornada, é o desejo inato de conseguir dar sentido pleno à música que ama. E que, se esse desejo não for tão verdadeiro assim, ele rapidamente se tornará uma ‘aparelhófilo’, que utiliza algumas poucas músicas para definir seu próximo setup!
Com meio século de estrada, já consigo identificar instantaneamente o Audiófilo do Aparelhófilo. E as diferenças são muito explícitas. Todo audiófilo é na verdade um melômano, apaixonado verdadeiramente por música. Basta conversar meia hora com ele, ou ter a possibilidade de conhecer sua coleção de discos, e você verá que sua paixão tem coerência e consistência nos gêneros musicais que ele aprecia. Você não verá na discoteca de um melômano, apenas gravações de Best Off, ou discos de promoção de R$9,90. Ou de orquestras e regentes inexpressivos, ou de coleções de artistas de jazz de começo de carreira mal gravados, e muitas vezes até gravações piratas.
Converse com um melômano amante de rock progressivo, e ele te dará uma aula completa e te apresentará bandas que você jamais ouviu falar. Esse melômano sonha em poder ter um sistema que amplie sua percepção dos gêneros que ele tanto ama, e quando (se puder), ter um sistema hi- end, será feliz por muitos e muitos anos. E seu sistema, depois de ajustado, ficará por anos sem ser alterado.
O Aparelhófilo não. Desde o começo, está apenas interessado em realizar upgrades, para ouvir algumas faixas (agora com as plataformas de streaming essa questão ficou ainda mais evidente), e as usa apenas para garantir que cada peça colocada em seu setup trouxe algum detalhe novo às suas faixas de referência. E como ele usa a música apenas para abalizar seus upgrades, quando um amigo o visita e pede para ouvir alguns discos, e esses não soam adequadamente no sistema, o drama existencial infinito do aparelhófilo volta à tona como um tsunami. E o rescaldo é: começar novamente do zero.
Quem nunca viu essa descrição acima, levante a mão!
Você pode ser o que desejar, amigo leitor, mas os que estão começando essa jornada, precisam saber das escolhas possíveis, antes de decidir que estrada tomar.
O que posso afirmar categoricamente é que a busca do aparelhófilo não tem fim – é como um saco sem fundo. A do melômano/audiófilo, acaba assim que o sistema que amplia sua percepção dos discos que ama, foi encontrado.
Essa longa introdução foi para lembrar a todos vocês que, a indústria de áudio há muito percebeu essas duas tendências cada vez mais bem definidas, e produz equipamentos para ambas. E as caixas da série QR da Audiovector tem como objetivo atender justamente os que amam a música acima de seus equipamentos.
Isso para mim ficou evidente no teste da QR 7 (leia o teste na edição 294), e essa percepção só se reforçou ao testar o modelo logo abaixo, a QR 5.
Para facilitar os leitores que gostam que se vá direto ao ponto, o que difere ambas é apenas em relação ao tamanho da sala em que cada uma se sente adequada, e pode mostrar todos os seus atributos sonoros! Pois em termos de assinatura sônica, são exatamente da mesma linhagem sem nenhum desvio de características e performance.
Depois de dois meses com a QR 5, arrisco dizer que essa é ‘a caixa’ dessa série! Pois ela tem uma capacidade de se adaptar a diversos tamanhos de sala que a QR 7 não consegue ter. Ambas precisam de um mínimo de arejamento à sua volta em relação às paredes. No entanto, pelo tamanho, a QR 7 precisa obviamente de mais espaço.
A QR 7 será subutilizada em salas menores de 20 metros. A QR 5, com salas de no mínimo 12 metros (como nossa sala de home), conseguem se adaptar. A QR 5 pode perfeitamente trabalhar em salas de 12 a 30 metros quadrados. Já a QR 7, de 20 a 50 metros quadrados.
Então, se você pensa em investir em uma das duas, saber exatamente o tamanho da sua sala irá definir qual será a melhor escolha.
O modelo enviado para teste foi, agora, a versão laca de piano, com excelente acabamento, e a mesma impressão de bom gosto e detalhes que, no primeiro momento, enchem os olhos. E que, ao escutá-las, nos deixa confiante pela sua performance.
Perto da QR 7, ela parece menor do que na verdade é. Pois se trata de uma coluna de 110 cm de altura. São esguias e fáceis de posicionar em salas menores, mas que pelo seu tamanho e acabamento serão certamente a atração da sala.
Quando Mads Klifoth, filho do fundador da empresa, lançou a linha QR, ele tinha como estratégia mostrar ao mercado a book QR 1 e a coluna menor de duas vias e meia, a QR 3, e ver como o mercado reagiria, já que era a primeira empreitada nessa direção da Audiovector (buscar o público mais ‘de entrada’ do hi-end). Com o sucesso desde o lançamento em 2016, Mads voltou à bancada por mais dois anos até definir o próximo passo, com os modelos QR 5 e 7.
No lançamento, em 2019, em uma coletiva de imprensa, explicou as mudanças sofridas nos novos modelos, e explicou que ambas possuem novos falantes, novo crossover e um novo tweeter, para um desenho em três vias.
O novo falante de médio trabalha na faixa de 300 a 3500 Hz, e os dois woofers de 6 polegadas respondem de 30 a 300 Hz, justamente para atender ao mercado de entrada que desejava maior extensão nos graves que os das QR 3, e maior refinamento nos agudos.
Mads também deixou claro que a QR 5 são mais tolerantes com amplificadores de baixa potência valvulados (sensibilidade de 90 dB). Todos os falantes são produzidos pela Audiovector, o que facilitou o ajuste fino, e no desenvolvimento do crossover e até mesmo na escolha do material de amortecimento do gabinete.
Não vou repetir os detalhes que escrevi no teste da QR 7, já que volto a afirmar que as diferenças entre ela e a QR 5, são apenas de peso, extensão e deslocamento nos graves. O resto são tão similares, que ouso arriscar que em uma sala de 25 metros, dependendo do gosto musical do ouvinte, e pela diferença de 20 mil reais entre ambas, esse ouvinte provavelmente irá escolher a QR 5!
O único detalhe que acho importante lembrar é que a versão produzida pela Audiovector do seu tweeter AMT, difere dos seus concorrentes como a Elac, Adam Audio, Emotiva, Martin Logan, Monitor Audio e Precide (empresa Suíça), por utilizar um filtro acústico que neutraliza (segundo o fabricante) a nitidez das sibilantes. Esse filtro lembra aquela ‘meia’ usada em frente aos microfones para tirar ruídos e estalos de boca dos cantores. O princípio é o mesmo: com uma malha ultra fina colocada na frente da membrana, e que por ser dourada foi batizada pelo fabricante de ‘Folha de Ouro’.
Para o teste utilizamos o pré e power da Elipson (leia Teste 1 nesta edição), o power Gold Note PA-10 (estéreo), o pré Elipson ligado com o Gold Note, e o integrado SA20 da Arcam. Para a definição de nota, o pré Classic Nagra e os powers Nagra HD. Cabos de caixa: Trançado Virtual Reality, e Apex da Dynamique Audio. Fontes: Innuos ZENmini Mk3, dCS Bartok Apex e Transporte Nagra com TUBE DAC Nagra.
Como a QR 7, a boa notícia é que dá para ir ouvindo enquanto amacia. Se o leitor soubesse o quanto isso ‘soa como música’ para o ouvido do revisor crítico de áudio! Pois tirar e colocar na Sala de Testes caixas tipo coluna, é um trabalho complicado.
Claro que o som nas primeiras 100 horas é engessado, como se o tweeter estivesse constipado e os graves embotados, mas ao menos não soa brilhante, estridente ou com médios frontalizados. Poder ouvir enquanto se amacia, tem uma função didática maravilhosa, pois muitas vezes podemos estar escutando com uma música que gostamos, exatamente no momento em que o grave começa a encaixar ou os agudos ganham extensão. Eu já presenciei essa alterações dezenas de vezes, e quando leio testes em que o revisor descreve determinada característica sônica de uma caixa, sei exatamente afirmar se o revisor teve ou não paciência para amaciar completamente a caixa, ou se já foi avaliando o produto assim que saiu da embalagem (acreditem, muitos fazem isso, infelizmente!).
O tempo de queima da QR 5 foi 20 horas menor que a QR 7. Então ganhei praticamente um dia em relação ao modelo maior, e usei esse tempo para ouvir alguns LPs que comprei recentemente em sebo.
Por ser ainda mais slim, a QR 5 pode tranquilamente ficar e um mínimo de até 2.50 m distante entre elas – mas o ideal foi 3.20 m em nossa Sala de Testes. Assim como a QR 7, não necessita de acentuar o toe-in, podendo ficar quase que paralelas às paredes laterais.
Seu palco com maior arejamento é magnífico, tanto em largura, como altura e profundidade. Seu foco e recorte é exemplar, e depois de totalmente amaciada é possível perceber com requinte de caixas muito mais caras, o tamanho exato de salas de espetáculo em gravações de música clássica. Esse mérito é todo do impressionante tweeter AMT, com absoluta certeza.
Seu equilíbrio tonal é excelente, e desde que ela esteja em ambientes para o seu tamanho, não vejo como alguém achar falta de graves. Eles são corretos, rápidos, precisos, e com excelente deslocamento de ar e peso.
Não senti falta de nada com nenhum gênero musical.
A região média é sedutora e equilibrada como a da QR 7, e na nossa sala de home de 12 metros, a distância de audição de apenas 2.70 m, permitiu ouvir detalhes na região média que passaram despercebidos na sala de 50 metros (mesmo colocando nosso ponto de audição a 3.70 m das caixas). E o agudo, não há a menor diferença em relação à QR 7. Para ter absoluta certeza, ouvimos os mesmos discos.
Para salas entre 12 e 20 metros, em que o ouvinte irá ficar no máximo a 3.80m das caixas, ter um tweeter tão correto e com uma timbragem tão rica, extensa e natural, é um verdadeiro bálsamo a quem deseja fidelidade e preservar sua audição!
As texturas são ricas, paletas uniformes naturais, refinadas e com um grau de intencionalidade – como escrevi no teste da QR 7 – de caixas custando até o triplo de seu preço. É um assombro a apresentação de texturas nas caixas QR 5 e 7!
Os transientes são também exemplares, assim como as texturas!
E a dinâmica é, talvez, a maior diferença entre as duas QR. A escala de degraus na QR 7 é mais detalhada e com maior impacto e deslocamento de energia e ar. Mas isso na sala de 50 metros. Pois com os mesmos discos tocados na sala de 12 m, a QR 5 resolveu melhor esses degraus de crescendos, pois nem a sala e muito menos o ouvinte ficariam confortáveis em uma sala menor, com essas passagens de fortíssimos com longo decaimento.
Na microdinâmica, nenhuma diferença!
O corpo harmônico é evidente que na QR 7 é mais fidedigno à captação da gravação, mas novamente é preciso lembrar que a QR 7 irá ser para distâncias entre as caixas e o ponto de audição, maiores. Para salas menores, o corpo harmônico da QR 5 é bastante convincente, acredite!
Materializar o acontecimento à nossa frente é ‘pêra doce’ para ambas. Não vi a menor diferença em nenhum ambiente, para esse quesito, entre ambas. O ouvinte nem precisa fechar os olhos para sentir e ouvir os músicos à sua frente.
CONCLUSÃO
Se você leu atentamente minha introdução a este teste, e se identificou como melômano/audiófilo, e seu desejo verdadeiro é possuir uma caixa final para reproduzir seus discos com enorme fidelidade e prazer emocional, ouça a Audiovector QR 5.
Se sua sala está nas dimensões especificadas para ela, e seu sistema está condizente com suas exigências, não vejo como se frustrar com um projeto tão bem elaborado e executado por um dos mais reconhecidos fabricantes de caixas hi-end da atualidade (basta ver o número de revisores no mundo que utilizam um modelo Audiovector, e seus prêmios conquistados nessa última década).
A linha QR da Audiovector irá causar inúmeros estragos na concorrência. Disso não tenha dúvida!
PONTOS POSITIVOS
As mesmas qualidades exuberantes da QR 7, e 20 mil reais mais barata!
PONTOS NEGATIVOS
A sala precisa permitir que a caixa respire. Se você só tem espaço para a colocar grudada na parede, esqueça.
ESPECIFICAÇÕES
Resposta de frequência | 25 Hz a 45 kHz |
Limite de frequência da folha de ouro | 102 kHz |
Agudos | AMT 2 Folha de Ouro |
Médios | 6” Pure Piston |
Graves | 2 x 6” tecnologia Pure Piston |
Sistema de graves | Bass-reflex Q-port |
Princípio | 3 vias |
Frequências de crossover | 400/3000 Hz |
Sensibilidade | 91 dB/W/m |
Potência de pico | 280 W |
Impedância | 4 Ohms |
Dimensões (L x A x P) | 21 x 105,7 x 27 cm |
CAIXAS ACÚSTICAS AUDIOVECTOR QR 5 | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 12,0 | |||
Soundstage | 12,0 | |||
Textura | 12,0 | |||
Transientes | 12,0 | |||
Dinâmica | 10,0 | |||
Corpo Harmônico | 11,0 | |||
Organicidade | 12,0 | |||
Musicalidade | 12,0 | |||
Total | 93,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
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