Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
Quando leio em fóruns internacionais os objetivistas proclamarem que válvulas e analógico sequer deveriam ser lembrados como tecnologias de ponta por serem topologias do século passado, me pergunto sempre o que impede essas pessoas de deixarem os números de lado e apenas ouvirem, para saberem se o que as medições indicam bate com o que ouvimos.
Já contei algumas vezes minha primeira experiência com o CD-Player e, como eu, meu pai, e o dono do CD-Player da Sony, e meia dúzia de audiófilos, se sentiram após esse primeiro contato. Eu era o mais novo dos participantes daquela audição, e talvez o menos indignado com o que ouvimos, que de tão decepcionante, levou-nos à conclusão que deveria ter algo errado com o equipamento ou com os dois discos que vieram com ele.
O problema é que essa decepção inicial se estendeu por mais duas décadas, antes de finalmente eu reconhecer que o digital finalmente foi evoluindo e corrigindo suas inúmeras limitações.
Já li e participei de longas discussões a respeito do formato digital, e minha opinião continua sendo que houve uma precipitação no lançamento do formato e, como sempre, o marketing ‘dourou a pílula’ demasiadamente. O que me pergunto sempre é: se a indústria tivesse apenas a referência e opinião dos objetivistas, teríamos corrigido os erros tão audíveis do formato?
Claro que não!
Pois por eles os números já eram magníficos, e nada precisaria ser ajustado ou corrigido. Estaríamos apenas vendo, de geração em geração, números cada vez menores de distorção e ‘upsamplings’ cada vez maiores. Sem jamais se questionar o que significava aquela dureza, som esquelético, timbres artificiais, e enorme fadiga auditiva!
Então, meu amigo leitor, se você dá mais peso para especificações técnicas do que para sua audição, dificilmente você irá se interessar tanto por aparelhos valvulados e por vinil.
E certamente nem a mídia física CD faz parte dos seus planos.
Afinal o streamer é a bola da vez! Felizmente, a vida nos prega inúmeras surpresas, e o imponderável pode perfeitamente estar a segui-lo como uma sombra silenciosa, e pode levá-lo a descobrir que o mundo do áudio é um leque de possibilidades incríveis. Já vi isso ocorrer centenas de vezes, e só posso lhe dizer que quando ocorrer contigo, esteja preparado. Pois esses contatos costumam ser profundos, e nos fazer repensar tudo aquilo que acreditávamos ser irrevogável!
Objetivistas também costumam dizer que os que ainda defendem o uso de válvulas e analógico, na verdade são saudosistas e todos com mais de 50 anos. E que provavelmente estão com sua audição já debilitada, e por isso não percebem o quanto essas opções são obsoletas. Nos fóruns eles têm verdadeiros ‘orgasmos’ ao compartilhar as medições de um DAC ou um amplificador Classe D moderno, e se enchem de orgulho de serem os Guardiões da Modernidade Tecnológica.
Não pensem vocês mais novos, que essa mesma discussão não se deu quando o transistor começou a ser utilizado nos amplificadores dos anos 60. Cada vez que há uma ruptura com o padrão tecnológico vigente, as discussões serão intensas até haver um vencedor.
Até aí, nada de novo.
O que os defensores da ‘modernidade’ no áudio hi-end precisam entender de uma vez por todas, é que não estamos falando de produtos que se tornaram integralmente obsoletos, como máquinas de escrever ou fax. E se essas topologias continuam a ter apreço e procura, algo nelas deve ser muito ‘atraente’, e não podem ser justificadas por mero saudosismo.
Eu jamais avaliei o mercado hi-end por essa perspectiva tão superficial. E também não gosto das explicações que os canais de comunicação tentam dar para descrever o ressurgimento dessas topologias (que na verdade nem poderia ser tratado dessa forma, pois no mercado audiófilo, ambas nunca morreram). Quando leio que as pessoas colecionam LP pelas capas, o manuseio dos discos, o encarte, tenho vontade de implorar para deixarem de usar esses argumentos tão chulos!
Essas características são consequências, jamais o motivo de alguém ainda sentar e apreciar um LP.
O mesmo ocorre com a válvula. As justificativas vão desde a memória de ouvir o rádio valvulado dos avós, até a explicação rasa de ser um som mais quente e ‘sensual’ (não riam, tenho visto ser usado o termo sensual cada vez mais, pelos revisores mais novos).
O que quero dizer para você que me acompanhou até aqui é: esqueça todas as justificativas e argumentos contra e a favor a respeito da sonoridade de um amplificador valvulado, e apenas ouça! E tire suas próprias conclusões. Pois o mundo não tem uma argumentação racional e eficaz o suficiente nem para explicar a sonoridade do vinil e nem tão pouco do valvulado!
E quando tentam lhe explicar de uma forma didática sobre os harmônicos pares, isso também irá ser muito pouco eficiente, se você não souber que diabos são harmônicos pares e como nosso cérebro os codifica.
E o último toque (prometo), não é pelo fato de ser válvula ou analógico, virá com um certificado de satisfação garantida. Isso não funciona assim no hi-end!
Então, mãos a obras, se você deseja descobrir por si se a topologia serve ou não para suas expectativas sonoras.
E se você deseja se embrenhar por essa estrada, eu sugiro que na sua lista esse Line Magnetic seja uma de suas primeiras audições.
Como escrevi nos testes de outros produtos deste fabricante, essa é uma marca que veio para ficar e ser um referencial consistente tanto em termos de preço como de performance. Pois os irmãos Zheng e Zhuhai, os projetistas e fundadores da Line Magnetic Audio, sabem exatamente o que precisam fazer para conquistar corações e mentes de audiófilos em todos os continentes.
O 805iA é um integrado de 48 Watts usando uma única válvula 805 por canal, que trabalha em classe A. No estágio de entrada utiliza duas 6SL7 e duas válvulas 6SN7 no estágio do driver, e um par de 300B. Os transformadores EI possuem uma banda ultra larga para cargas de alto-falantes de 4,8 e 16 ohms.
O acabamento externo é primoroso, e percebe-se que os componentes usados são de alta qualidade, como potenciômetro ALPS, capacitores MIT e Mundorf N-Cap.
O 805iA pesa 42 Kg, o que requer a ajuda de uma pessoa para desembalar ou um Robério à disposição, como foi o meu caso.
As válvulas usadas são fornecidas pela PSvane e Shugang, e todas saem de fábrica impressas como Line Magnetic. Segundo o fabricante, as válvulas têm uma vida útil mínima de 1000 horas, e as válvulas do estágio de entrada, 5000 horas.
Para proteção de crianças e animais, o LM-805iA vem com uma gaiola removível, e o ajuste para polarização das válvulas e feedback precisa que a gaiola seja removida para ser operado. Nas quatro semanas em que o LM-805iA esteve em teste, depois de ajustada a polarização, não tivemos mais que fazer nenhum ajuste fino.
Gostei bastante do recurso de Feedback Negativo de quatro etapas, utilizado para atenuar a distorção potencial do estágio de saída, e você escolhe qual casa melhor com a caixa que estiver usando. Nas três caixas que usamos no teste, as melhores escolhas foram as opções 1 e 2.
As mudanças foram audíveis, porém se percebe mais como uma alteração estética (nas três caixas utilizadas) alternando o foco e recorte da imagem, e mudando algo em relação a dinâmica de maneira sutil.
Também achei muito interessante o sistema de proteção – ao ligar o amplificador – com seu retardo de 30 segundos antes de estar liberado para uso. Certamente isso ajudará a manter a sobrevida de todas as válvulas.
O painel frontal é limpo, com o botão do lado esquerdo de liga/desliga, seguido dos VUs, duas pequenas chaves para iluminação dos VUs e ajuste de bias, botão de entradas e o botão maior de volume.
Para o teste utilizamos as seguintes caixas: Harbeth 30.2 DX, Audiovector QR 5 e Boenicke W5. O resto do sistema (fonte analógica e digital), foi o sistema de referência da revista. Cabos de força: Transparent PowerLink MM2, e Sunrise Lab Quintessence Aniversário. Cabos de caixa: Virtual Reality Trançado, e Oyaide OR-800 Advance (leia Teste 3 nesta edição).
Minha primeira dúvida era se o LM-805iA, com seus 48 Watts, teria fôlego e autoridade para empurrar caixas tão distintas em termos de sensibilidade, e essa dúvida se dissipou assim que apertei o Play. Claro que, sempre estaremos falando de casamento, e aqui a caixa que melhor casou foi a Audiovector QR 5 – com sua sensibilidade maior que a da Harbeth e da Boenicke – o 805iA se sentiu à vontade para atuar ao seu lado.
E o casamento não foi apenas de controle, mas também de assinatura sônica. E aqui entramos em um tema que o objetivista jamais irá entender ou apreciar, a ‘personalidade’ de um sistema e como suas qualidades podem ser realçadas ou empobrecidas no setup correto.
Amplificadores valvulados geralmente possuem uma ‘personalidade’ forte e incisiva, não deixando muita margem de manobra para o resto do sistema. Eles costumam impor suas vontades (ou melhor de quem o projetou), e o Line Magnetic deixa isso bem claro assim que sua temperatura estabiliza, após os 45 minutos depois de ligado.
Esqueça a sensação de neutralidade ou imparcialidade. Aqui ele dará as fichas e qualquer gravação de qualquer estilo irá sempre tender para uma reprodução mais quente, sedosa e cativante. Isso ocorreu com as três caixas, por mais que tenham características tão distintas.
A QR 5, com sua neutralidade mais evidente, ganhou um grau de calor na apresentação de texturas, que não observamos quando publicamos sua avaliação. Com essa característica, as gravações tecnicamente limitadas se tornaram muito mais ‘palatáveis’.
A Harbeth também teve que sair de sua zona de conforto de um monitor hi-end, para ganhar uma sonoridade mais quente e com agudos com uma ligeira menor extensão sem, no entanto, perder seu excelente equilíbrio tonal.
Como o 805iA é mais quente do que neutro, precisa ser muito bem dosado para não passar do ponto e se tornar enfadonho. Então, minha primeira dica é uma caixa que seja o mais neutra possível, aí o resultado será muito cativante!
Os graves não possuem aquele ímpeto de amplificadores de estado sólido, mas são corretos e com ótima energia e corpo para apresentar a fundação musical com critério e propriedade. E os agudos, ainda que não tenham uma grande extensão, compensam com um decaimento muito natural e suave.
Resultado: longas audições sem o menor resquício de fadiga auditiva!
As texturas são deslumbrantes, tanto em riqueza, como em precisão.
Teimo em dizer – e lembrar aos objetivistas – que não existe medição para traduzir com eficácia as diferenças de apresentação de texturas entre amplificadores da mesma topologia. E este quesito, em amplificadores valvulados bem projetados e cuidadosamente ajustados por ouvidos com referência de instrumentos e vozes não amplificados, atingem um grau de beleza difícil de ser superado por amplificadores de estado sólido.
Isso é um fato, não uma suposição!
O soundstage possui excelente foco, recorte e planos bem apresentados, desde que o ajuste do Feedback Variável do aparelho tenha sido bem casado com a caixa.
Os transientes são corretos, com boa marcação de tempo e ritmo, mas não esperem aquela precisão dos amplificadores de estado sólido ultra hi-end.
O leitor, atento à medida que se familiariza com nossa Metodologia, consegue construir um mapeamento dos produtos testados e rapidamente percebe que tudo é uma questão de escolhas do fabricante, que busca dar ao seu produto a assinatura do que ele deseja ou acredita ser o mais importante na reprodução eletrônica.
A dinâmica do LM-805iA, como todo valvulado, terá uma micro melhor que a macro. Então, o que os melhores projetistas dessa topologia buscam é um ponto de equilíbrio entre a micro e a macro, que soe coerente e sem rupturas que comprometam a reprodução do acontecimento musical.
Para fechar a nota dos valvulados, posso até usar os exemplos que utilizo no teste dos amplificadores de estado sólido. Mas sabendo das limitações, prefiro muito mais usar a faixa Bolero de Ravel, estabelecer o volume correto da gravação e ouvir a obra inteira. Se conseguir, no volume correto, escutar em detalhes o início no pianíssimo da obra, até o fortíssimo final, sem ter que ir baixando o volume para não distorcer a gravação, me dou por satisfeito com o quesito dinâmica do valvulado em teste.
O LM-805iA passou com mérito, na caixa Audiovector QR 5, nesse quesito.
O corpo harmônico é excelente, deixando alguns amplificadores muito mais caros em dificuldades.
E a materialização física com gravações impecáveis tecnicamente, trouxe os músicos à nossa frente.
CONCLUSÃO
Acho que os projetistas do LM-805iA têm o maior orgulho desse projeto, e como o resultado soou coeso, coerente e encantador!
Quando testamos amplificadores acima de 20 mil dólares, tenho sempre para mim que o fabricante precisa justificar integralmente esse valor com resultados altíssimos de performance.
O famoso ‘não fez mais que a obrigação’!
Agora, quando pegamos amplificadores de 4 a 19 mil dólares que conseguem se sair tão bem, o mérito tem que ser dado ao projetista, pois ele mostrou ter total domínio e concretização de suas ideias e desejos.
O LM-805iA pertence a essa safra, e quando pensamos que para chegar a esse nível de performance ele não usou de maior potência para tornar tudo mais fácil, o mérito se torna ainda maior!
Seus 48 Watts são suficientes para uma enorme quantidade de caixas atuais, e suas inúmeras qualidades eclipsam essa potência menor, essa é a verdade.
Se você consegue ouvir a proposta e beleza de um amplificador valvulado bem projetado, e cuidadosamente ajustado para nos fazer esquecer das desventuras e tensões diárias, e deseja ardentemente poder ter algumas horas de prazer na companhia de sua música, o LM-805iA é um convite sedutor e perspicaz para que esse seu desejo se realize!
PONTOS POSITIVOS
Extremamente bem construído e com uma performance cativante.
PONTOS NEGATIVOS
Cuidados adicionais com o casamento das caixas.
ESPECIFICAÇÕES
Single-ended | 2 x 48W RMS |
Distorção harmônica total | 1% (1kHz) |
Relação sinal/ruído | 87dB (Weighted A) |
Resposta de frequência (-1.5dB) | 10 a 50.000 Hz |
Sensibilidade | 300 mV Input |
Impedância de entrada | 100kΩ |
Impedância de saída | 4 / 8 / 16Ω |
Dimensões (L x A x P) | 430 x 275 x 415 mm |
Peso | 42 Kg |
Acabamento | Black |
AMPLIFICADOR INTEGRADO LINE MAGNETIC AUDIO LM-805IA | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 12,0 | |||
Soundstage | 12,0 | |||
Textura | 13,0 | |||
Transientes | 12,0 | |||
Dinâmica | 10,0 | |||
Corpo Harmônico | 13,0 | |||
Organicidade | 12,0 | |||
Musicalidade | 13,0 | |||
Total | 97,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
Elite Sound
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