Teste 3: CABO DE CAIXA OYAIDE OR-800 ADVANCE

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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Gosto dos fabricantes de cabos que conseguem manter produtos em linha por muitos e muitos anos.

Em um mundo tão freneticamente obcecado por novidades tecnológicas, é bom saber que alguns ainda possuem a lucidez de confiarem em seus produtos, e não caírem nessa armadilha de marketing barato e traiçoeiro.

Aprecio os que possuem a certeza que seus produtos, quando foram lançados, tinham inovações suficientes para atravessar décadas, e não se importam com os movimentos e tendências de mercado, sempre mantendo o olho no horizonte com os pés muito bem calçados no aqui e agora.

Quando audiófilos me dizem que essa ‘política’ só existe no oriente, lembro a todos que alguns excelentes fabricantes de cabos na Europa e América do Norte, também aplicam essa mesma filosofia. E dou o exemplo da Kimber Kable, que só realiza upgrades em suas séries quando realmente algo substancialmente melhor precisa ser apresentado.

Cabos bem feitos realmente podem durar uma vida! Tenho ainda em uma caixa no meu depósito inúmeros cabos dos anos 90 e virada de século, e tirando os de cobre não OFC que visivelmente mostram a deterioração com seus fios externos completamente esverdeados, os bem construídos e os que possuem prata ou ouro em sua composição e cobre OFC, tirando sua capa externa, não denunciam a passagem do tempo!

Os esverdeados eu guardo para mostrar aos participantes dos Cursos de Percepção o que a oxidação faz com eles. Tem cabos de caixa, de força, digitais e interconexão. Eles literalmente esfarelam ao contato físico. E fazem o mesmo no som, se forem teimosamente usados após o início de sua oxidação.

O problema é que nessa leva de cabos de cobre sem OFC, tem alguns cabos bem caros como os da MIT da década de 90, e outros em que o preço variava de 20 dólares o metro a 900 dólares!

Gosto de ouvir todos os meus cabos à medida que o Sistema de Referência recebe algum upgrade, para observar os que ficaram obsoletos, ou os que só ficaram realmente para trás em termos de avanços tecnológicos e de construção. O que até um leigo pode avaliar visualmente é o quanto capas, geometria e plugs melhoraram nessa última década, e uma das empresas que investiu pesado nessa área foi a empresa japonesa Oyaide – aqui muito mais conhecida pelas suas tomadas e plugs do que pelos seus cabos de interconexão, força e caixa.

Já testei alguns cabos da linha Oyaide, e sempre me surpreendo com a qualidade de construção, seu incrível acabamento, sua performance e seu preço final.

É um pacote realmente sedutor e bastante consistente, que na minha opinião deveria ser mais valorizado por quem deseja upgrades em cabos e tomadas para uma instalação elétrica dedicada.

Passei seis meses com o cabo de caixa OR-800 Advance, e este foi ligado em 18 caixas nesse período. E a surpresa maior foi o quanto esse modelo é compatível com caixas tão diferentes em termos de preço e de assinatura.

Independentemente de você acreditar que cabo faça ou não diferença, certamente a questão valor, acabamento do produto, e longevidade de tempo de fabricação (a primeira versão é de 2004), são argumentos racionais inteligentes no momento da escolha.

E para os que acreditam que cabos fazem diferença na assinatura final do sistema, saber que existe um cabo com esse nível de compatibilidade com inúmeras caixas e amplificadores, é um argumento e tanto também na hora da escolha.

Eu cheguei a um ponto da minha vida de revisor, que se não consigo convencê-lo pelas observações que fiz ouvindo o produto, uso do arsenal de racionalização para fazê-lo compreender quando recebemos um produto que é acima da média em custo/benefício.

E o Oyaide OR-800 Advance está nessa lista mais recente.

Como disse, a primeira versão foi lançada apenas para o mercado japonês em 2004, utilizando alta pureza de cobre e uma geometria de estrutura em estrela, e se tornou um dos cabos preferidos pelo seu custo/performance dos audiófilos japoneses.

A última versão foi em 2008, com a introdução do plug banana ,e foi produzida para atender a demanda daqueles clientes que acham mais seguro e fácil de manusear o plug banana que o plug spade. Existe a crença no mercado que o plug banana é inferior ao spade – eu particularmente não tenho esse preconceito, e quando tenho pela frente conectores de caixas e amplificadores apertados e com pouco espaço para instalar e fazer o aperto manualmente, clamo por plugs banana nos cabos de caixa.

O enviado para teste foi com plug spade, no padrão de construção, polimento e acabamento Oyaide. Firme, seguro, hiper bem soldado, e feito para durar por décadas se o usuário for cuidadoso e não viver tropeçando no cabo e indo de cara ao chão.

O cabo e a geometria deste são os mesmos desde 2004. Fios muito finos de cobre OFC (Oxygen Free Copper), trançados em estrutura em estrela, evitando deformações entre os fios devido ao revestimento de esmalte UEW na superfície, com o objetivo de evitar perda de alta frequência no famoso efeito pele.

A capa, em vez de PVC tão utilizado por inúmeros fabricantes de ponta, é substituída pela poliolefina para manter sua durabilidade, e não interferir na performance da assinatura sônica (como os engenheiros da Oyaide acreditam que ocorra com o uso do PVC).

A geometria estrela, na montagem da fiação com essa capa, bloqueia o ruído externo e as ondas eletromagnéticas sem alterar a capacitância elétrica.

Também, na minha idade, aprendi que existem inúmeras maneiras de se chegar a um objetivo satisfatório, então não questiono se o fabricante A conseguiu ir mais longe que o fabricante B, lendo suas escolhas na busca do melhor resultado. Eu apenas ouço, comparo e fico muitos meses com os cabos para usá-los no maior número possível de sistemas antes de escrever minhas observações e aplicar nossa Metodologia.

Se o cabo não tiver nenhum defeito audível em termos de equilíbrio tonal, ele entrará em teste, e se o seu grau de compatibilidade for alto, ele irá ficar em avaliação até esgotarmos todas as possibilidades de conhecê-lo.

Claro que gostaria que o fabricante de cabos nos mandasse um set completo para entendermos sua ‘personalidade’ e seu nível de performance, mas aí entramos na famosa ‘condição ideal’, e essa possibilidade em nosso mercado não existe.

Foram raros os testes nos nossos 27 anos, em que recebemos o pacote completo, e quando tivemos essa chance os períodos foram muito menores (no máximo dois a três meses), então aprendi a conviver com cabos únicos e vou tateando no escuro até ver a compatibilidade dele com os nossos sets de cabos, antes de iniciar qualquer avaliação.
E se depois de tentar essa composição, não chegar a uma situação segura para avaliar, aborto o teste.

Às vezes ficamos dois meses com um cabo que simplesmente não ‘deu liga’ com o setup que tínhamos no momento. E entre cometer uma injustiça e chegar a conclusões erradas sobre o cabo, prefiro não correr esse risco.

Sei que isso é demasiadamente frustrante para o importador, mas é a única opção honesta a se tomar.

Com o Oyaide isso não ocorreu, pois ele casou com inúmeros cabos de outros fabricantes, alguns cabos bem mais caros, outros mais baratos, várias caixas e amplificadores e ele se mostrou muito versátil.

Vou começar pelo ponto mais negativo: sua capa é mais rígida que PVC, e mais pesada. Então aconselho em caixas book, em que o cabo irá ficar sem apoio no alto, que o contato seja firme e de tempos em tempos seja refeita essa operação. Pois o risco do cabo cair ou até ocorrer curto-circuito, existe. Agora se ele ficar em caixas colunas apoiadas no chão, não haverá problema algum.

A outra questão é de flexibilidade do cabo em espaços apertados: pois ele não é tão maleável assim. Se você tiver book e um amplificador que fica em um rack distante do chão, acima de 20 cm, a solução para esses casos se chama: Plug Banana!

Para não dar a lista completa de caixas e amplificadores usados, destaco as caixas e amplificadores que mais se beneficiaram do Oyaide. Powers Nagra HD, Elipson e Gold Note PA-10, e integrados Gold Note IS-1000, Sunrise Lab V8 Aniversário, Arcam SA30, Line Magnetic LM-805iA (leia Teste 1 nesta edição) e Audiolab 6000. Caixas: Wharfedale Denton e Linton, Harbeth 30.2 XD, Boenicke W5, Mo-Fi SourcePoint 10, JBL L82 e L 100 Classic, Estelon YB e X Diamond Mk2.

Tonalmente é um cabo que, antes de 200 horas, tende a soar com mais ênfase nos agudos e que, ao término do amaciamento, se estabiliza integralmente. Graves corretos, precisos, com excelente deslocamento de ar e corpo.

Região média com alta resolução de micro-detalhes, transparência e boa naturalidade na apresentação de vozes e instrumentos acústicos. E agudos com ótima extensão, arejamento e decaimento bastante suave.

Diria que são nos agudos que o Oyaide se destaca na sua faixa de preço. Pois não é comum termos cabos com tão boa apresentação de ambiência e corpo nas altas nesse patamar de preço. Em todas as caixas em que ouvimos o cabo (principalmente as mais simples), esse foi um dos destaques que imediatamente chamaram nossa atenção.

Com ele no sistema, condução de pratos por exemplo se tornaram muito mais fáceis de acompanhar, assim como observar a ambiência das gravações.

Agora, se a caixa tiver um leve ‘desvio’ de tonalidade nos agudos, tendendo para o brilhante, esqueça esse cabo, pois ele irá realçar esse defeito.

Seu soundstage é muito bom em foco, recorte e na apresentação de planos. Para se ter maior profundidade no palco, ele precisará de uma ajuda da caixa, mas um set bem posicionado em que a regra do triângulo equilátero foi colocada em prática, e se a caixa possui essa habilidade, o soundstage será impressionante.

As texturas possuem uma paleta de cores ricas, permitindo acompanhar a linha de cada instrumento sem esforço adicional, e com um grau de intencionalidade muito evidente.

O Oyaide, segundo um amigo músico, ‘flui’ com desenvoltura como um exímio dançarino que domina sua arte. Cabos de caixas precisam realmente dessa leveza e fluidez para se destacarem da concorrência. Pois muitos gêneros musicais pedem essa graciosidade para mostrarem sua complexidade, como a música Barroca por exemplo. Com seu grave de marcação contínuo funcionando quase que como uma cama harmônica para os solistas com suas múltiplas linhas, se o cabo tiver dificuldade em ‘fluir’ nesse movimento de variações dinâmicas mais para o sutil, fica uma apresentação inteiramente burocrática e sem apelo emocional (olha de novo a intencionalidade).

Quando nossos leitores nos perguntam exemplos para detectar se o sistema está correto tonalmente e com uma apresentação de texturas envolvente, a primeira escolha que me vem à mente são gravações de música barroca. Pois esse gênero exige demais do equilíbrio tonal, das texturas e dos transientes (principalmente se a obra tiver o uso do instrumento Cravo).

E o que percebo é que muitos audiófilos fogem desse estilo, pois sabem que os agudos em sistemas desajustados tendem a soar duros, gritantes. Os médios quando o tema está em uníssono, pulam para frente, e os graves costumam fazer o ‘nado dos golfinhos’ (emergir e submergir).

Raramente ouvi em nossos Hi-End Shows, expositores tocando música barroca em seus sistemas, pois é um perigo constante para o equilíbrio tonal de qualquer setup.

Os transientes do Oyaide são excelentes, permitindo acompanhar com gosto o tempo e o ritmo, sem esforço ou perda de interesse no que estamos ouvindo.

A dinâmica, para ser um cabo top, falta aquele último degrau de apresentação das escalas entre o pianíssimo e o fortíssimo, tendendo a fazer ‘atalhos’. Como podemos saber que isso ocorre? Ouvindo saltos dinâmicos: o cabo que consegue ser fidedigno, não irá embolar ou deixar essa passagem difusa. Pelo contrário, irá nos mostrar como se conseguiu aquele efeito de impacto grandioso.

A música clássica tem exemplos magníficos para ouvir e compreender como os sistemas com limitações dinâmicas resolvem essas passagens. Os melhores resolvem essas passagens com tamanha folga que, se estamos acostumados apenas a ouvir que a passagem saiu do ponto A e chegou no ponto F – como se fosse algo parecido com um salto – só pode aceitar isso se não tiver vivência de música ao vivo. Pois se tiver, sabe o esforço que é executar esses saltos dinâmicos escritos na partitura.

Digamos que o Oyaide se esforça para fazê-lo sem ficar exaurido.

Auditivamente, nos cabos superlativos em equipamentos do mesmo nível, essas passagens entre o ponto A e F são perfeitamente audíveis, mostrando o quanto foi bem executado ou não pela orquestra.

Nos cabos com maior dificuldade, não temos sequer tempo para saber o que realmente aconteceu!

Percebe a diferença amigo leitor?

Quanto à micro-dinâmica ele volta a ser um exemplo em sua categoria!

O corpo harmônico é excelente, permitindo termos uma ideia clara do tamanho real dos instrumentos, e poder ouvir a diferença entre uma gravação analógica e digital da mesma obra.

O digital ainda vai chegar lá e o streamer, como diz o querido amigo e colaborador Christian, ainda “precisa comer muito feijão” para encostar na mídia física digital!

A organicidade também foi uma bela surpresa, pois muitas gravações de bom nível técnico nos permitiram apreciar a música como se eles estivessem à nossa frente.

Musicalmente, diria que ainda que o Oyaide não seja um cabo neutro, ele também não insere sua assinatura de maneira contundente. Pois quando um cabo tem esse comportamento, seu grau de compatibilidade com a eletrônica e as caixas é evidentemente menor.

Mas ele tem sim uma assinatura tendendo sutilmente para ser mais aberto nas altas frequências. Portanto, será preciso saber o quanto a sala, o setup e as caixas já não têm essa característica. Pois se tiverem, pode haver problemas.

Por outro lado, em salas mais secas com tapetes grossos, cortinas e muitos móveis absorventes, e caixas em que os agudos poderiam soar com mais ar e um melhor decaimento, esse cabo deveria ser ouvido.

Como disse logo no começo do teste, gosto de fabricantes que acreditam em seus produtos e os mantém por longos períodos sem modificações, mostrando o alto grau qualidade e o quanto eles ainda são competitivos.

Se você busca um cabo muito bem construído, acabado e feito por mais de uma década sem alterações, esse Oyaide OR-800 Advance merece uma chance em seu sistema.


PONTOS POSITIVOS

Excelente construção, alta compatibilidade e ótimo custo/
performance.

PONTOS NEGATIVOS

Capa mais pesada que PVC e menos maleável.


ESPECIFICAÇÕES

CondutorCobre OFC Class1 litz
EstruturaEstrela quádrupla
Insolação (interna)Algodão com camadas de poliestireno
Insolação (externa)Polímero de poliolefina
Diâmetro15mm
TerminaisSPYT (Banho de Paládio e Prata) 6mm / 8mm
Comprimentos• 1.5m /par
• 2.0m /par
• 2.5m /par
• 3.0m /par
AMPLIFICADOR DE POTÊNCIA MARK LEVINSON Nº5302
Equilíbrio Tonal 12,0
Soundstage 12,0
Textura 13,0
Transientes 12,0
Dinâmica 10,0
Corpo Harmônico 13,0
Organicidade 12,0
Musicalidade 13,0
Total 97,0
VOCAL                    
ROCK, POP                    
JAZZ, BLUES                    
MÚSICA DE CÂMARA                    
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