Vinil do Mês: BRAHMS – PIANO CONCERTO NO.2 – SVIATOSLAV RICHTER (RCA VICTOR / LIVING STEREO, 1960)

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Todo mês um LP com boa música & gravação

Gênero: Clássico

Formatos Interessantes: Vinil Importado

Sim, existe o fetiche audiófilo pelas gravações da Living Stereo – e um grande número delas são realmente excelentes e dignas de apreciação e de qualquer coleção.

Mas, neste caso aqui, o destaque é para a fenomenal e absolutamente brilhante execução dessa obra por um dos melhores pianistas de todos os tempos, Sviatoslav Richter, assim como a competência da Sinfônica de Chicago pelas mãos de Erich Leinsdorf, fica latente. É, a meu ver, a melhor gravação desta obra emblemática não só do repertório pianístico, mas também do período do Romantismo – onde houve a consolidação do Grand Piano, e o ápice da orquestração sinfônica. E, amigos, aqui todos estavam em um dia iluminado, com um sorriso na alma.

É uma execução energética, vivaz, bastante emocional e tecnicamente impecável, com Leinsdorf extraindo uma sonoridade cheia e rica da orquestra, complementando o brilhantismo de Richter ao piano – afinal é um concerto para piano onde a orquestra não está só acompanhando, ela tem um papel em igual medida, como também é o segundo concerto de Tchaikovsky, outro dos principais concertos para piano do Romantismo. Sobre esse Tchaikovsky, inclusive já foi dito que parece que o compositor não se decidia se as partes mais importantes iriam para a orquestra ou para o piano! Esta gravação de Brahms, dá a mesma impressão. Aliás, vale dizer que, para mim, a melhor gravação do Concerto para Piano no.1 de Tchaikovsky é, também, com Sviatoslav Richter, rs…

Capa francesa (1961)

Obviamente existem críticas que procuram todo e qualquer erro que um solista ou uma orquestra possam ou consigam fazer – e tirando uma questão onde especula-se que Brahms ‘consideraria’ certos trechos ou movimentos como sendo muito rápidos, as únicas críticas que eu lembro de ter lido são sobre ‘imprecisões’ de Richter em alguns trechos. Considero isso procurar ‘pêlo em ovo’, e me lembra o quanto eu nunca gostei de crítica musical. Ouçam a gravação, e tirem suas próprias conclusões.

A história dá conta que Richter deixou a Cortina de Ferro, a União Soviética, para a primeira de suas grandes visitas ao ocidente. Nos EUA, ele tinha sua estreia americana contratada para tocar o Concerto de Brahms com Sinfônica de Chicago sob a regência de seu líder, Fritz Reiner. Ocorreu que Reiner sentiu-se mal, e Leinsdorf, que regia a Metropolitan Opera de Nova York, veio correndo reger o concerto. A estreia foi tão brilhante, que dois dias depois, acabaram por gravar a mesma obra – nesta que é, também, a primeira gravação americana de Sviatoslav Richter. Diz um jornal de Chicago que, no concerto ao vivo, Richter entrou no palco hesitante, tímido e parecendo vulnerável – mas ao começar o concerto, deu a “performance de sua vida”!

Essa é, também, uma das gravações bem do início do Estéreo (tanto que chegou a ser lançada também em mono!) – e, vejam, é uma gravação de 1960, ou seja, tem 63 anos de idade e é excelente em sua qualidade sonora!

Capa RCA Victrola inglesa (1971)

Para quem quiser entrar de cabeça no piano sinfônico do Romantismo, pode começar com os dois pés cravados nos seguintes Concertos para Piano e Orquestra: esse no.2 de Brahms, o no.1 de Tchaikovsky, o de Grieg, e o de Schumann.
O compositor Johannes Brahms é o segundo maior nome do Romantismo alemão (atrás somente de Beethoven).

Nasceu em Hamburgo, na Alemanha em 1833, mas passou a maior parte de sua vida adulta em Viena, na Áustria – a cidade musical. Filho de um contrabaixista de orquestra e uma costureira, Brahms foi primeiramente educado por seu pai no piano, violino e cello, e apresentou-se pela primeira vez aos 10 anos de idade, tocando obras de Beethoven e Mozart. Na juventude foi protegido de Schumann, e teve uma relação platônica com sua esposa, Clara Schumann, até o fim de sua vida. A obra e a relevância de Brahms é tão extensa – com destaque para suas sinfonias, concertos e o Requiem Alemão – que ele é frequentemente citado com um dos “Três ‘B’” mais importantes da música clássica, junto com Bach e Beethoven. Este último, uma de suas maiores influências.

Capa RCA Victrola europeia (1971)

O pianista Sviatoslav Teofilovich Richter nasceu em 1915, no Império Russo, no território que é, hoje, a Ucrânia. Seu pai era um pianista e organista, de origem alemã, e sua mãe de uma família nobre russa. Com menos de 10 anos de idade, seu interesse em música levou-o a ser principalmente um autodidata no piano, complementado pela educação musical dada por seu pai. Com 19 anos deu seu primeiro recital, em Odessa, e foi estudar piano com Heinrich Neuhaus no Conservatório de Moscou – e diz a lenda que Neuhaus se referia a ele como ‘um gênio’, mesmo tendo sido mestre de outros grandes pianistas, como Radu Lupu e Emil Gilels. Durante a Segunda Guerra, Richter e seu pai tentaram fugir da União Soviética, sem sucesso, e logo seu pai, por sua origem alemã, foi considerado espião e sentenciado à morte, em 1941. Após a Guerra, a ascensão de Richter na União Soviética, e em suas poucas aparições na Europa e na China, foi meteórica. E, em 1960, veio sua primeira turnê aos EUA, mas o sentimento anti-soviético no país fez com que ele não se sentisse bem-vindo, e ele não mais tocou na América – mas suas aparições públicas na Europa e na Ásia foram numerosas, até seu falecimento em 1997, em Moscou.

A Sinfônica de Chicago é, desde as mãos de Fritz Reiner e, depois, de grandes nomes como Georg Solti, Daniel Barenboim e Riccardo Muti, uma das grandes orquestras americanas, e chegando a ganhar fama internacional.

Inclusive, o célebre regente austríaco Herbert von Karajan, aficionado em tirar a melhor sonoridade das várias orquestras que dirigiu, chegou a dizer que a Sinfônica de Chicago tinha os melhores metais do mundo (e a Filarmônica de Berlim as melhores cordas, e a Sinfônica de Viena as melhores madeiras).

Capa RCA Gold Seal americana (1975)

Por fim, temos o ‘regente certo na hora certa’ – em uma de suas melhores atuações, nesta gravação. Erich Leinsdorf nasceu em Viena em 1912, e já estudava música aos 5 anos de idade, depois cello e composição. E, por fim, estudou regência em Viena e em Salzburg, trabalhando com regentes renomados como Toscanini e Bruno Walter. Antes da anexação da Áustria pelos nazistas, Leinsdorf mudou-se para Nova York, como regente assistente da Metropolitan Orchestra – com quem esteve associado até o fim de sua vida – e depois liderou as orquestras de Cleveland e Boston.

Para quem é esse disco? Para todos os fãs de música clássica sinfônica, do período do Romantismo – especialmente o alemão – e para os fãs de piano!

É preciso ficar muito atento para não comprar uma edição Mono. As melhores sugestões de prensagens Estéreo são as americanas, inglesas e alemãs – todas bem satisfatórias em matéria de qualidade sonora, se estiverem em bom estado. Só encontrei prensagem japonesa em Mono, então essa ideia está fora da lista. Não encontrei nenhuma reprensagem da era do 180g, infelizmente.

Boa música e bom Ano Novo a todos!

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