Influência Vintage: EQUALIZADOR CELLO AUDIO PALETTE

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Equipamentos Vintage que fazem parte da história do Áudio

O termo Vintage tem a ver com ‘qualidade’, mais do que ‘ser antigo’. Vem do francês ‘vendange’, safra, sobre uma safra de um vinho que resultou excepcional. ‘Vintage’ quer dizer algo de qualidade excepcional – apesar de ser muito usado para designar algo antigo.

Nesta série de artigos abordamos equipamentos vintage importantes, e que influenciam audiófilos até hoje!

MADE BY MARK LEVINSON

Sim, a Cello Ltd é uma das empresas fundadas e geridas pelo conhecido nome Mark Levinson – americano que foi baixista de jazz, criou empresas de áudio como a Mark Levinson, a Cello Ltd e a Red Rose Music. Sua empresa atual é a Daniel Hertz, sediada na Suíça e presente em várias feiras de áudio e na mídia especializada.

Os produtos dessas marcas ou tiveram sua mão, ou carregam seu nome – e todos carregam sua fama, inclusive os muitos da marca que leva seu nome com os quais ele não tem envolvimento algum desde 1984.

O EQUALIZADOR CELLO AUDIO PALETTE

Dos aparelhos feitos em todos os anos da existência da Cello, o que mais ficou famoso no meio audiófilo, o que mais é lembrado, é o equalizador Audio Palette – que foi lançado primeiramente em 1985, e ficou em linha durante muito, muito tempo. É um equalizador de 6 bandas, o qual só não é ‘gráfico’ porque não é operado por potenciômetros deslizantes retos, e sim por potenciômetros giratórios. Sempre me perguntei se isso não foi proposital, para que os usuários parassem de ver o equalizador como uma ‘curva’, e passassem a usar cada frequência individualmente, com o intuito de adequar e corrigir seu sistema de som – ou seja, uma visão mais Qualitativa e menos Quantitativa.

Cello Audio Palette

Com a cara parecida, existe o posterior Palette Preamplifier, de botões grandes e com acabamento mais simples, lançado em 1992 – que combinava as funções de pré-amplificador de linha com um equalizador também de seis frequências, mas menos recursos de equalização, porém com seleção de entradas mais o circuito de ganho de pré-amplificação.

O original Audio Palette, o equalizador, que tinha um acabamento mais bonito e bem feito, com os botões menores e com grafismo muito mais bonito, tinha uma entrada só, e funções mais avançadas de equalização, como nível de entrada por canal e opções de alteração da fase absoluta, além de nível de saída e frequências de atuação mais extensa e abrangente: 15Hz / 120Hz / 500Hz / 2kHz / 5kHz / 25kHz. Este Audio Palette acabei achando, na Internet, uma versão onde havia seleção de 4 entradas e, portanto, acredito que funcionasse – ou atuasse, pelo menos – também como pré de linha.

Traseira do Audio Palette

Portanto, trocando em miúdos, são três opções – sendo o equalizador puro original Audio Palette, e o mesmo com seleção de entradas, ambos superiores em qualidade ao Palette Preamplifier. Este último, além de combinar circuitos mais simplificados, também trazia menos recursos de equalização, e frequências menos abrangentes: 20Hz / 120Hz / 500Hz / 2kHz / 5kHz / 20kHz. Ambos, Audio Palette e Palette Preamplifier, vinham com fonte de alimentação externa.

A equipe de desenvolvimento dos equipamentos da Cello – enquanto Levinson fazia as vezes de porta-voz e relações públicas da empresa – eram os engenheiros Tony DiSalvo e Tom Colangelo, além da experiente consultoria dada pelo engenheiro Richard S. Burwen especialmente no desenvolvimento do equalizador Audio Palette. Burwen, vale notar, parece ter mais patentes na área de eletrônica aeroespacial, industrial, médica e de áudio & vídeo, do que parecem existir patentes no escritório de registro… rs…

Por dentro

A justificativa, segundo Levinson, para o uso do equalizador Audio Palette, é que ele é necessário para o ajuste de gravação para gravação, de sistema para sistema – como já o foi feito mais de uma vez, durante o processo de gravação/mixagem e o de masterização, feitos em dois sistemas diferentes. E que o caso, para Levinson, é apenas que ele precisa ser bem implementado, com circuitos discretos, procurando precisão tonal e alta resolução sonora. Claro que o Cello Audio Palette foi concebido, principal e inicialmente, para ser usado no ambiente de estúdio, e depois ‘popularizou-se’ nos meios audiófilos, adquirindo um certo status mitológico.

Potenciômetro do Audio Palette

Aqui na revista seguimos a filosofia de que usar equalizador em sistemas de áudio hi-end não vai ‘resolver’ realmente deficiências que esses sistemas tenham – assim como pode criar novos problemas. E, quando forem, em casos muito especiais, usados equalizadores (e controles tonais), os mesmos necessitam não só de critério em seu uso (que poucas pessoas têm), mas muita parcimônia e a filosofia de que você usa esses recursos apenas uma vez: na correção da interação entre os componentes do sistema e da interação do sistema com a sala. Isso em um uso mínimo, informado, calculado, e que acontece uma vez só – e nunca mais as regulagens são mexidas. Não se deve mexer em ‘música por música’ de jeito nenhum (até porque a maioria das pessoas não sabe como soam os instrumentos musicais de verdade, e muito menos como aquela música foi gravada).

Ou seja, nossa filosofia sobre o uso de equalizador – e da maioria do meio audiófilo – difere completamente da filosofia usada por Mark Levinson e pela Cello, à época.

Cello Palette Preamplifier

Quanto à alteração do sinal – que causa perdas e até distorções tímbricas e harmônicas – que é notória por parte de equalizadores e controles tonais, a Cello diz que não é o caso em seu aparelho, por causa da especialidade do projeto, de sua construção e de seus componentes.

Mas há um fato que é parte integral dos projetos mais modernos de equipamentos de som, incorporado nas últimas décadas do áudio hi-end: caminho de sinal o mais curto possível dentro da placa de circuito, exatamente para minimizar essas perdas, interferências e distorções. E, quando pensamos em equalizadores – principalmente os como o Cello, de várias décadas atrás – que têm muitas placas grandes dentro, interligadas, o caminho de sinal é obviamente gigantesco.

MODELOS SEMELHANTES

Equalizadores em estúdio, e no pro-audio em geral, sempre existiram e sempre irão existir – tanto por hardware quanto por software.

E, em sistemas atuais que são centrados em fontes de programa digitais (só streaming), muitos usam equalizadores, com efeitos duvidosos em sua maioria. Assim como, também, em sistemas só para fones de ouvido (a tal ideia da ‘correção’ de seus fones, que também tem critérios e efeitos duvidosos).

Os sistemas de ‘correção de sala’, usados em home-theater principalmente, usam, entre outros recursos, curvas de equalização (adicionado de várias outras alterações no sinal para ‘adequá-lo’ à acústica errada de uma sala). Esses são, para mim, um dos piores exemplos de como não usar um equalizador.

E, por fim, existem hoje alguns equalizadores, dentre eles vários modelos chineses duvidosos, e existe o equalizador Loki Max, da empresa americana Schiit Audio. Agora, se o Loki Max é superior ao Cello Audio Palette em qualidade sonora e menor alteração tímbrica, isso eu não sei dizer. Mas me parece ter um caminho de sinal e uma complexidade de circuito bem menores.

Equalizador Schiit Loki Max

COMO TOCA O CELLO AUDIO PALETTE

Os depoimentos que achei sobre o Cello Audio Palette dão conta que ele tinha uma transparência e uma fidelidade tonal mais ou menos compatível com o cenário do áudio de 30 e poucos anos atrás – e que hoje é mais uma curiosidade e um ‘brinquedo’ para alguns que se mantêm apegados à audiofilia de outras eras.

Sempre preciso lembrar aos aficionados de música e de sistemas de som de hoje em dia, que até coisas muito baratas hoje são imensamente superiores em resolução e qualidade sonora do que equipamentos de 30 ou mesmo de 20 anos atrás. É a velha máxima: um carro médio da década de 80 perde feio em performance, economia, segurança e dirigibilidade para um carro médio atual – dentro do mesmo poder aquisitivo. O mundo gira, a tecnologia evolui, e muita coisa melhora.

SOBRE A CELLO LTD

O americano Mark Levinson, no final da década de 60 e começo de 70, foi um baixista de jazz, tocando no Paul Bley trio, em shows ao vivo e em cinco discos gravados.

Em 1972, fundou a Mark Levinson Audio Systems, com lançamento de prés e powers que até hoje são lembrados no mercado. No começo da década de 80, com problemas financeiros, associou-se à Sanford Berlin, cuja Madrigal Audio Laboratories englobou a Mark Levinson em 1984 – conseguindo na justiça o direito de usar o nome Mark Levinson (e impedindo o próprio Levinson de usar seu nome em uma empresa). Berlin e a Madrigal então venderam a Mark Levinson Audio Systems para o Grupo Harman (que inclui a célebre Harman-Kardon), em 1995. Por sua vez, o Grupo Harman, em 2017, foi adquirido pela gigante sul-coreana Samsung.

Em 1984, sem a empresa que leva seu nome, Levinson fundou a Cello Ltd, que até 1998 produziu equipamentos para uso profissional em estúdios de gravação, masterização e mixagem – incluindo o já nosso conhecido equalizador Audio Palette.

Em 1999, Levinson fundou a Red Rose Music, que produzia equipamentos e fazia gravações de discos, os quais foram lançados também na, então, nova tecnologia e formato digital SACD.

E, em 2007, Mark Levinson mudou-se para a Suíça, onde fundou sua atual empresa: a Daniel Hertz Audio – que produz uma linha de equipamentos que inclui amplificações e caixas acústicas (mas acho que nenhum equalizador…). O nome da empresa vem seu pai, Daniel Levinson, professor da Universidade de Yale, e da sua mãe, Maria, cujo tio-avô foi o físico alemão Heinrich Hertz – quem deu o nome ao sistema de ‘ciclos’ usado na resposta de frequência, os tais Hertz (Hz).

Como curiosidade, vale dizer que Levinson e sua esposa à época – a atriz de Hollywood Kim Cattrall – escreveram em 2002 um livro sobre a arte do orgasmo feminino. E eu sempre me perguntei se o equalizador Cello Audio Palette ajudava em algum aspecto…

Um março muito musical à todos nós!

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