Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
Peço encarecidamente a você, que iniciou a leitura desta edição por aqui, adie e volte algumas páginas até meu Opinião, pois a resposta a essa questão tem muitos elementos levantados em um interessante estudo, concluído e publicado em livro em 2021.
E serão esclarecedores para uma resposta a todos que insistem em afirmar que não existem diferenças audíveis em um arquivo MP3.
Na verdade, essa questão foi levantada em 2014, quando uma pesquisa com 380 ouvintes, foi publicada em diversos meios de comunicação em que os participantes, em sua maioria (56%), não conseguiram detectar diferenças entre um arquivo WAV e um MP3.
Temos duas maneiras de avaliar essa pesquisa: apenas pelo resultado Quantitativo e aceitar que dentro do universo pesquisado, a maioria não detectou diferenças, ou colocá-la pela perspectiva do Qualitativo e buscar o perfil dos participantes, por faixa etária, estilos de música que apreciam, etc.
Outra questão relevante, que não me lembro de ter sido apresentada nas conclusões, foi a metodologia utilizada. Todos ouviram as mesmas faixas, nos mesmos fones (ou mesmas caixas acústicas) e na mesma fonte?
Isso pode parecer procurar ‘pêlo em ovo’, mas é absolutamente relevante até mesmo para os resultados obtidos.
O que nos leva a outras importantes questões: suponhamos que a metodologia usada deixou que o participante utilizasse no teste seus próprios fones pessoais, para deixá-lo mais à vontade, e seu próprio celular. Caso os organizadores tivessem optado por dar a todos o mesmo fone e a mesma fonte sonora (DAC ou Smartphone), haveria a possibilidade de resultados diferentes?
Muito diferente, ou pouco relevante?
Outra questão, a seleção musical escolhida, era restrita a poucos gêneros musicais ou a um amplo público com distintas faixas etárias?
São perguntas para as quais não consegui obter respostas, portanto tenho sérias dúvidas sobre a eficácia desse tipo de pesquisa.
O grave é que, dez anos depois, os que defendem que não há diferença entre arquivos sem compressão e com alta taxa de compressão como o MP3, pensam que esse pequeno universo de menos de 400 pessoas possa ser a prova definitiva de que os que escutam ‘enormes’ diferenças estão se enganando, ou criando efeito placebo auditivo.
Pois bem, a todos que não escutam diferenças, gostaria de colocar algumas questões que acredito serem bastante pertinentes, e que podem fazer alguns de vocês repensarem seu ponto de vista.
No meu artigo Opinião deste mês, escrevo sobre o trabalho recente de um renomado neurocientista e uma vasta equipe multidisciplinar, que fizeram importantes revelações sobre a relação entre Percepção Auditiva e consciência.
É um processo de simbiose em que um alimenta e interfere no grau de refinamento e aprendizado do outro.
E certamente as conclusões a que chegaram, terão profundas mudanças na maneira como percebemos, sentimos e conseguimos ampliar tanto nossa Percepção Auditiva quanto visual, e nosso grau de consciência de si mesmos, e do mundo ao nosso redor.
Então a pergunta correta que todos deveríamos fazer é: em outras condições distintas da utilizada para o teste dos arquivos, o número dos que não escutaram diferenças se manteria igual?
Se a resposta for ao menos talvez (pelos que defendem que não há diferenças audíveis), a pergunta seguinte será: é possível ampliar a Percepção Auditiva de todos os 380 participantes, para ver se haverá resultado distinto?
Se a resposta também for um talvez, tenho esperança que uma parte dos que fincaram sua trincheira, possam perceber finalmente que podemos ‘reeducar’ e refinar nossa Percepção Auditiva, fazendo-a detectar não só diferenças claras entre os dois arquivos, como memorizar onde as diferenças são mais evidentes e fáceis de observar!
E é exatamente o que fazemos desde 1999 – em nossos Cursos de Percepção Auditiva.
Damos aos participantes ferramentas através de exemplos distintos, para avaliar cada quesito da Metodologia, e aplicá-los no seu dia a dia, para conhecer qualquer componente de áudio que ele tenha interesse em ‘destrinchar’.
E é isso que faremos no Workshop Hi-End Show, agora em abril, em São Paulo – porém como são centenas de visitantes, tivemos que adaptar o curso para atender em cada sessão, a pelo menos 40 participantes.
Cada faixa escolhida avaliará um Quesito da Metodologia, em todos os sistemas apresentados, e você com essas informações poderá utilizar os mesmos exemplos com seu setup, e tirar suas conclusões.
Quando você, que não ouve diferenças entre arquivos, não acredita em cabos, nem tão pouco em assinaturas distintas entre dois amplificadores com topologia idêntica, e insiste em afirmar que, os que escutam diferenças estão se ‘enganando’, ou acreditam em efeito placebo, estude por favor as últimas evidências compartilhadas sobre a Percepção Auditiva através da neurociência, e não descarte que talvez seja você que não desenvolveu adequadamente sua Percepção Auditiva ao ponto de ouvir as diferenças existentes.
Termos a chance de reavaliar nossos conceitos, à medida que novas descobertas são realizadas em distintas áreas do conhecimento humano, é uma virtude, jamais um defeito!