Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
Queria muito testar o novo integrado I/50 da Audio Research, pois depois de avaliar o pré Reference 6, ouvir o 6SE, e testar os Reference 160M – que considerei o melhor power valvulado por nós testado – sabia que se o integrado tivesse herdado a mesma linha de projeto e ‘DNA sonoro’, certamente seria bastante promissor.
Para mim, ao ouvir e testar seus modelos top de linha, ficou claro que a Audio Research havia dado um passo consistente à modernidade, buscando novos nichos de mercado sem perder a ‘mística’ criada desde sua fundação.
Esse ponto de guinada é sempre difícil para empresas de áudio estabelecidas, e com um forte pé no tradicional.
Algumas hesitam, outras nem arriscam, e muitas das que se lançam, sofrem e não conseguem chegar íntegras à outra margem.
Ninguém possui uma bola de cristal para dizer o que funciona ou não nessas mudanças de rumo, e eu costumo dizer que existe um ponto ‘cego’ nessa transição, quando os engenheiros e o departamento de marketing estão queimando as pestanas para fazer essa trajetória sem grandes sustos.
Serão inevitáveis embates calorosos internos, defesas de fazer o ‘arroz com feijão’ que está dando certo com apenas uma nova roupagem, e até os que defendem mudanças radicais e definitivas.
Na minha humilde opinião a Audio Research foi muito feliz, tanto em termos de design, pois fez corretamente a ‘lição de casa’ sem perder sua identidade visual, quanto em relação ao principal: performance, pois o salto foi absolutamente significativo!
Por todas essas razões, ouvir seu mais novo integrado era obrigatório.
Confesso que fiquei um pouco frustrado ao ler os primeiros reviews, e ver que os engenheiros não optaram pelas excelentes KT150 usadas em todos seus novos powers. Uma válvula que tem se mostrado ultra segura e com um grau de refinamento surpreendente.
Todos amplificadores integrados e powers que ouvi com as KT150, me convenceram ser essa uma válvula de excelente performance, com melhor silêncio de fundo, maior macro dinâmica e, o mais importante, maior potência com apenas 4 válvulas que qualquer outra similar.
Passada a frustração inicial, os testes que saíram internacionalmente mostraram que o I/50 possui muito da performance dos modelos acima lançados pela Audio Research nesses últimos 5 anos.
Pelo design e seis opções de cores (preto, prata, branco, vermelho, amarelo e azul), fica claro que o departamento de marketing almejou dois novos nichos: público jovem e feminino.
Achei ousado e, ao mesmo tempo, muito criativo, e as fotos não fazem jus a sua beleza e acabamento.
O enviado para teste foi na cor prata! Utilizando 4 válvulas 6550 WEs, o I/50 é capaz de debitar 50 Watts. As válvulas vêm numeradas para que o usuário não arranque os cabelos (se ainda tiverem), e os triodos são 6922.
Todos os comandos estão no controle remoto, completo.
Então no gabinete temos apenas dois botões giratórios: o da esquerda que seleciona entradas e o da direita que liga/desliga, e o volume.
O I/50 possui uma boa saída para fones de ouvido e, no meio e na frente, estão dois Lexie Tubes, que fornecem o display para mostrar a entrada comutada, mute e volume do amplificador.
Assim que você liga o I/50, o Lexie Tube faz uma contagem regressiva de 50 segundos para estabilização de temperatura. Após estabilizada, é só definir a entrada que será usada (S1, S2, S3 e BL). Caso o usuário tenha adquirido a versão com phono, a entrada S1 será dedicada ao analógico.
O fabricante sugere que nunca, ao desligar o amplificador, volte a fazê-lo imediatamente – sendo o tempo de espera nesses casos de pelo menos 3 minutos.
Aos apressadinhos, essa informação é vital!
Atrás, além da entrada IEC de força, temos os terminais de caixas para 4 e 8 ohms, e as quatro entradas de linha.
Vários artigos a respeito do I/50, falam que o ajuste final foi feito em uma Sasha DAW da Wilson Audio, já que são parceiros e amigos de longa data.
Claro que esse ‘detalhe’ chama, de cara, a atenção, já que estamos falando de um integrado de 6 mil dólares, ligado em uma caixa de 40 mil dólares! O que parece um casamento no mínimo desproporcional e que, na prática, não creio que seria levado a cabo.
Como fui usuário por dois anos e meio de uma Sasha DAW, sei bem do quanto ela ‘escancara’ limitações de powers que não estejam no seu nível de performance, portanto é no mínimo ousado imaginar que os engenheiros da Audio Research tenham feito os ajustes finais em uma caixa tão refinada.
Mas se o fizeram, e colocaram o I/50 no mercado, certamente ficaram satisfeitos com a performance de seu novo integrado.
Infelizmente, para o teste, não consegui nenhuma caixa da Wilson Audio para fazer companhia – porém estou com um arsenal de caixas que utilizarei no Workshop Hi-end Audio Show, em final de abril, em São Paulo – então pude escolher as que mais se adequaram em termos de sensibilidade com os 50 Watts do I/50.
As caixas utilizadas foram: Wharfedale Linton, MoFi SourcePoint 10 e 8 (leia teste na edição de junho de 2024), Estelon Aura, e Dynaudio Contour 30i (leia Teste 2 nesta edição).
As duas caixas que melhor casaram a nossa sala de 50 metros foram: Linton e as duas Mo-Fi. Sendo que, para o fechamento da nota do I/50, utilizei a SourcePoint 10, que se mostrou um casamento impressionante!
Eu indicaria a todos que venham a comprar esse excelente integrado para salas de até 20 metros, que ouçam-no com a Mo-Fi SourcePoint 10. Ou com a Audiovector QR 5, pois ambas são caixas de boa sensibilidade, capazes de extraírem todo o potencial do I/50.
O que mais me impressiona nessa nova ‘safra’ da Audio Research, é que não existe nenhum resquício do som dos amplificadores valvulados vintage, que andam tão em moda atualmente.
Se você busca por um som valvulado anos 50/60, letárgico, com graves retumbantes, médios pulando e raspando sua sobrancelha, e agudos opacos, esqueça o I/50.
Pois ele é o oposto do descrito acima.
Sua sonoridade é pulsante, precisa, transparente e, acima de tudo, contagiante!
Não importa o estilo, ele não faz escolhas ou limita sua performance a determinados gêneros musicais. Ele tem aquela vital capacidade de fazer a música pulsar, e nos prender ao acontecimento musical de maneira direta e sedutora.
Agora para extrair todo seu ‘encanto’, cuidados dobrados precisarão ser seguidos à risca: Sensibilidade das caixas precisa ser acima de 90 dB (melhor ainda entre 92 e 94 dB), a sala não pode ter mais que 20 metros quadrados, e a fonte precisa também ser de excelente nível.
Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos: CD/SACD Arcam CDS50, Transporte Primare DD35 (teste na edição de junho 2024), DAC Merason DAC 1 Mk2, e Nagra TUBE DAC. Fonte analógica: pré de phono Lehmann Audio Silver Cube Phono Stage (leia teste na Edição de Aniversário em maio de 2024), toca-discos Origin Live Sovereign Mk4, braço Enterprise Mk3, cápsula ZYX Ultimate Gold. Os cabos de força utilizados no I/50 foi o que o fabricante envia, o Sunrise Labs Quintessence Aniversário, e também o Transparent Reference XL G6.
O I/50 nos foi enviado pelo seu novo representante no Brasil, a Ferrari Technologies, com aproximadamente 70 horas de amaciamento.
Aí, instalá-lo e fazer a primeira audição com as nossas gravações como sempre faço, ficou claro que, se houvesse maior necessidade de amaciamento, dificilmente a performance seria alterada. Pois já saiu depois de uma hora de aquecimento soando impressionantemente ‘orgânico’!
É sempre difícil exprimir em palavras uma sensação tão íntima, como ‘sentir’ a intencionalidade de cada nota, de todos os instrumentos ao mesmo tempo.
No I/50 as texturas são simplesmente seu ponto mais fora da curva. Arriscaria dizer que nesse quesito sua ‘órbita’ em torno do todo é perfeita! Por mais que estejamos atentos ao acontecimento musical, detalhes de intencionalidade saltam à nossa frente como vagalumes em uma noite sem luminosidade natural.
Esses momentos nos marcam, pois despertam em nós sempre aquela pergunta que sempre nos atormenta: por que todos não soam assim?
É preciso ter paciência, pois como nenhum equipamento de áudio é perfeito, sempre haverá lacunas a serem preenchidas ou até mesmo corrigidas.
O que podemos fazer quando descobrimos essa dura realidade, é fazer com que o setup escolhido tenha o maior nível possível de coerência e correção, e que as limitações não sejam predominantes.
Não pense, meu amigo, que é uma questão de valor final do produto. Pois todos terão restrições, então sejamos inteligentes e tenhamos claro que o que buscamos é o melhor ponto de equilíbrio entre virtudes e limitações.
O I/50 consegue mesclar bem suas virtudes e limitações.
Falta, por exemplo, maior extensão nas duas pontas, com mais ar nas altas e mais peso e energia na primeira oitava de sustentação do grave.
Mas isso não impede que sua apresentação de texturas seja tão sedutora.
Percebe aonde quero chegar?
Isso são escolhas feitas pelo projetista. Ele sabe o prato que ele consegue fazer de melhor, com os ingredientes que tem em mãos. E nos presenteia com uma sonoridade ‘saborosa’, repleta de sutis detalhes, que nos fazem saborear cada momento daquela audição como única!
O importante é que o projetista soube dosar o ponto de equilíbrio tonal, para que nada sobressaísse ou o que falta estragasse o resultado final.
Esses são os projetos dignos de serem estudados e sobretudo apreciados, pois nos mostram a capacidade do engenheiro de contornar os desfiladeiros sinuosos com uma bela sonoridade.
Meu pai usava o termo: “a capacidade de criar belas paisagens sonoras” – e é exatamente disso que se tratam as qualidades do I/50.
Se eu for criteriosamente crítico, serei injusto, pois ainda que todas as limitações do I/50 sejam audíveis (como as que mencionei), suas qualidades sobressaem.
Sua apresentação do palco sonoro é ampla em largura, boa em profundidade e razoável em altura. E, no entanto, em gravações com vozes, que nos escancara a limitação na altura da imagem sonora, o I/50 nos brinda com vozes tão eloquentemente sedutoras, que se eu perguntar a qualquer um de vocês se a altura dos cantores estava correta, provavelmente a maioria responderá que não percebeu.
Dizem que o excelente mágico não é aquele que faz a melhor apresentação, e sim o que convence mais a plateia de que aquela mágica ocorreu. O I/50 me parece ter um excelente ’mágico’ por trás de sua bela performance.
Já falei o suficiente da impressionante capacidade de nos mostrar as intencionalidades, mas o I/50 vai além ao recriar com tanta graça e sutileza a paleta de cores dos instrumentos. É de ouvir em profundo silêncio e reverência tantos detalhes!
Os transientes são rápidos, incisivos e com uma marcação de tempo corretíssima. Digno da geração atual de valvulados modernos e bem projetados. Nenhum músico soará displicente e não transformará a música em uma sinfonia letárgica.
A dinâmica seria melhor em um power com maior potência? Certamente que sim. E com KT150, soaria ainda melhor? Se os engenheiros conseguissem manter todas as virtudes que alcançaram com a 6550, certamente que sim! Então, meu amigo, não espere uma macro-dinâmica de suspender sua respiração ou acelerar seus batimentos cardíacos, OK?
Mas com as caixas corretas, também não será decepcionante, acredite.
A micro-dinâmica é simplesmente excelente e permite um grau de inteligibilidade incrível para sua faixa de preço.
É mais fácil um power transistorizado sofrer de ‘anorexia sonora’ que um bom valvulado. O corpo dos instrumentos no I/50 é de alto nível, permitindo sem esforço ouvir a diferença de tamanho entre um contrabaixo e um cello.
E a materialização física, ainda que não seja um primor, é bem resolvida e apresentada com ‘convicção’ em gravações excelentes tecnicamente. O ouvinte não será transportado para a sala de gravação, mas os músicos lhe farão uma visita em seu espaço, seja ele limitado ou mediano.
CONCLUSÃO
Quando eu testei, na virada do século, o Pathos Twin Towers de apenas 25 Watts, e apresentei ao meu pai, que buscou e defendeu a sua vida toda que o melhor dos mundos era a topologia híbrida (pré valvulado e power transistor), ele – como eu – ficou antes de tudo impressionado o quanto aquele integrado era musical.
O quanto suas virtudes conseguiam nos fazer olhar para elas e esquecer suas limitações.
Esse é o truque que todo bom projetista tem em mãos, e quando faz bom uso, consegue nos fazer olhar apenas para o que ele quer que percebamos.
Entende como funciona, amigo leitor?
É o ‘truque’ bem feito!
O I/50 se enquadra perfeitamente nesse grupo. Ele não ‘blefa’, não promete o que não pode cumprir, mas o que ele tem de virtudes, o faz ser merecedor de um lugar ao sol.
Se não for para você que clama por maior potência e energia, será para aquele com os ‘pés cansados’ de tanto buscar, e que só deseja sentar e ouvir a música de forma que o faça se desligar do mundo e viver suas horas pessoais com seus discos e lembranças.
Existem muitos de vocês buscando essa experiência sonora.
Aqui eu até posso perfeitamente fazer concessões, pois o I/50 não tem nenhum desvio grave de equilíbrio tonal, letargia, ou dinâmica ‘capada’.
E suas virtudes são tão consistentes e sedutoras, que ele não pode ser acusado de blefe!
Como o Pathos, no qual eu e meu pai suspiramos e passamos horas e mais horas ouvindo nossos discos de cabeceira, o I/50 certamente tem o mesmo poder de sedução, graça e beleza.
Se meu pai estivesse vivo, certamente ao final de uma longa audição, me diria: “esse é um excelente mágico sonoro”!
PONTOS POSITIVOS
Uma musicalidade arrebatadora.
PONTOS NEGATIVOS
Potência e necessidade de caixas com alta sensibilidade.
ESPECIFICAÇÕES
Banda | 10Hz a 22kHz (-3dB) |
Resposta de frequência | 7Hz a 30kHz (-3dB a 1 Watt) |
Sensibilidade de entrada | 1.25V RMS |
Impedância de entrada | 100K ohms Balanceada, 48K ohms RCA |
Saídas | 8 ohms, 4 ohms |
Alimentação | 105 – 130VAC em 60Hz (210 – 250VAC em 50Hz) |
Válvulas | 2 pares de 6550WE / 3x 6922 (1 de entrada, 2 de driver) |
Dimensões (L x A x P) | 42 x 18 x 34 cm |
Peso | 18.1 kg (23.1kg embalado) |
AMPLIFICADOR INTEGRADO AUDIO RESEARCH I/50 | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 11,0 | |||
Soundstage | 11,0 | |||
Textura | 14,0 | |||
Transientes | 11,0 | |||
Dinâmica | 10,0 | |||
Corpo Harmônico | 13,0 | |||
Organicidade | 11,0 | |||
Musicalidade | 14,0 | |||
Total | 95,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
Ferrari Technologies
info@ferraritechnologies.com.br
(11) 98369-3001 / 99471-1477
US$ 8.990 (sem DAC e sem pré de phono)
US$ 10.190 (com pré de phono)
US$ 10.590 (com DAC)