Vinil do Mês: RICHARD WAGNER – SYMPHONIE C-DUR – BAMBERGER SYMPHONIKER – OTTO GERDES (DGG, 1972)

Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Gênero: Clássico / Orquestral

Formatos Interessantes: Vinil Importado / Nacional

É sempre interessante descobrir obras boas e pouco tocadas – especialmente quando os discos têm gravações muito bem feitas, de alta qualidade sonora. E, especialmente, do repertório do período do Romantismo, século 19.

Este prolífico e muito bem quisto período nos trouxe, entre outros, Beethoven, Brahms, Tchaikovsky, Rossini, Schubert, Berlioz, Schumann, Chopin, Liszt, Verdi, Bruckner.

E Richard Wagner – e suas longas óperas.

O ciclo completo de óperas do Anel (Der Ring des Nibelungen) de Wagner é composto de quatro longas óperas épicas baseadas em mitos e folclore germânico e escandinavo – com semelhanças heroicas às Lendas Arturianas britânicas (Rei Artur e os Cavaleiros da Távola Redonda). O ciclo completo pode chegar a um total de 15 horas, e os wagnerianos ferrenhos sentariam e assistiriam isso em êxtase, sem nem pestanejar. Aliás, o mundo é dividido entre os que são adoradores incontíveis das óperas de Wagner, e os que não são…

Apesar de Wagner ser conhecido praticamente só pelo ciclo, ele realmente tem várias outras obras em seu currículo, que têm duração ‘normal’ (rs…), e são bastante interessantes, já que ele foi um dos grandes orquestradores do Romantismo. E uma dessas obras é esta Sinfonia em Dó Maior.

Wagner compôs apenas ‘uma sinfonia e meia’ – que são a em Dó Maior, e uma em Mi Maior que nunca foi completada, existindo apenas o primeiro movimento e parte do segundo. Frequentemente, são gravadas juntas, por causa da curta duração da segunda.

Composta em 1832, quando Wagner tinha apenas 19 anos de idade, a Sinfonia em Dó Maior mostra grande influência de Beethoven, tanto no formato e estrutura, quanto no tipo de orquestração. Foi logo após o período em que o compositor estava estudando harmonia e composição em Leipzig, quando ouviu pela primeira vez a Sétima Sinfonia de Beethoven, seu ídolo de juventude, cujo estilo foi, naquele momento, sua maior inspiração (junto com a Terceira e a Quinta Sinfonias, também de Beethoven).

Críticos parecem fazer questão de lembrar que essa sinfonia foi um “trabalho estudantil” (na verdade uma composição feita na época que ele era estudante de composição), falando de sua inexperiência, e acham ser um trabalho menor. Eu, como fã das aberturas e trechos instrumentais das óperas de Wagner, gostaria que ele tivesse composto mais sinfonias ou mesmo poemas sinfônicos – como fez Liszt – apesar de sua grande quantidade de aberturas.

Aliás, vale notar que este disco traz também duas dessas suas famosas aberturas. Faust, composta em 1840, que era para ser o primeiro movimento de uma sinfonia sobre a Lenda de Fausto, de Goethe. E a abertura de sua ópera Rienzi, de 1842, baseada no livro do escritor inglês Edward Bulwer-Lytton.

A Sinfonia em Dó Maior foi ensaiada (e tocada na íntegra) por uma orquestra de estudantes no Conservatório de Praga em 1832, e a seguir teve sua primeira apresentação pública em Leipzig, sob a regência de um dos primeiros professores de Wagner, Christian Gottlieb Müller.

Diz a lenda que Wagner presenteou a partitura da Sinfonia à Felix Mendelssohn em 1833, pensando que ele iria apresentá-la ao vivo ou mesmo promovê-la, o que não aconteceu. Wagner então passou a achar que Mendelssohn propositalmente sumiu com a partitura, por algum desentendimento com ele. A partitura nunca foi encontrada, e foi dada como perdida, até que apareceu a única cópia remanescente: a usada pelo Conservatório de Praga.

Esta gravação traz a Orquestra Sinfônica de Bamberg, formada em 1946, na Alemanha, por músicos vindos da Tchecoslováquia. Neste disco eles são regidos pelo alemão Otto Gerdes, formado em música e regência em sua cidade natal, Colônia, e especializado em reger óperas em Berlim, Dresden, Leipzig e Munique. Na década de 50 tornou-se produtor de discos para a célebre gravadora alemã Deutsche Grammophon e, em 1963, foi promovido a Diretor Artístico da gravadora – com a qual uma série de gravações foram feitas com sua regência.

Diz a lenda – exagerada ou não – que depois de um concerto, Gerdes chamou Herbert von Karajan de “meu caro colega”, como um regente falando com outro colega regente, e que esse ‘incidente’ teria levado à sua demissão da gravadora. Vai saber o que realmente aconteceu.

Wilhelm Richard Wagner nasceu em 1813, em Leipzig, na Alemanha, filho de um funcionário da polícia e da filha de um padeiro. Wagner manifestou desde cedo interesse em ópera e teatro, chegando a cogitar tornar-se dramaturgo, mas logo quis musicar peças de teatro e obras de Shakespeare e de Goethe – passando a estudar harmonia e composição, com Christian Gottlieb Müller, em Leipzig, e depois composição com Theodor Weinlig.

Com uma longa carreira, e fama por causa de suas óperas, Wagner mudou-se para Bayreuth, onde construiu sua própria Casa de Ópera, com uma acústica especial, e onde – até hoje – acontece o Festival de Bayreuth, no qual os maiores regentes de cada geração, apresentam as óperas do compositor, especialmente o Ciclo do Anel dos Nibelungos.

Para quem é esse disco? Para todos os fãs de música clássica, especialmente a sinfônica e o rico repertório do período do Romantismo. E para todos os fãs de Wagner que conheçam – ou não – seu interesse em música sinfônica.

Prensagens boas? O interessante aqui é que mesmo a prensagem brasileira é bastante boa em qualidade sonora – por uma série de circunstâncias sobre a qual apenas poderíamos especular, e que eu acho que incluem o fato de ter sido uma tiragem muito pequena de um disco não muito popular. Claro que uma prensagem alemã, ou mesmo inglesa – todas da década de 70 – seriam uma melhor pedida. Não há prensagens modernas desse disco, assim como não consegui descobrir se existem prensagens japonesas.

Infelizmente não há trecho dessa gravação específica disponível – nem no YouTube, nem no Tidal.

Um fim de outono com muita música a todos!