Playlists: MÚSICA PARA APRECIAR E AVALIAR SEU SISTEMA II

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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Pautar as escolhas dessa seção também pelo lado técnico, além do artístico, visando dar ao nosso leitor gravações para apreciar musicalmente e também ajudá-lo no ajuste de seus sistemas, parece ter sido um gol de placa! Pois fazia tempo que uma decisão editorial não recebia tantos elogios assim.

Eu gosto dessa possibilidade, pois nos ‘desamarra’ de apenas apresentar os lançamentos do mês, ampliando seu leque para gravações que podem por inúmeros motivos não ter sido ainda publicado.

Como escrevi no mês passado, a única coisa que não abrirei mão é da qualidade artística – sempre em primeiro lugar, ok?

A primeira gravação desse mês foi uma grande surpresa até para mim, pois geralmente quando passamos por grandes sustos ‘médicos’ na vida, geralmente nos recolhemos para nos recuperarmos física e emocionalmente.

Mas isso não é uma regra que se aplica aos artistas. Pois muitos deles veem nessas situações um significado para exprimir suas angústias criando, escrevendo e compondo.

Esse foi o caso do violonista Al Di Meola, que parece ter saído de uma grave cardiopatia disposto a não perder tempo, e agradecer o fato de ainda está por aqui.

OUÇA TWENTYFOUR – AL DI MEOLA, NO QOBUZ.
OUÇA TWENTYFOUR – AL DI MEOLA, NO TIDAL.

1 – AL DI MEOLA – TWENTYFOUR (EAR MUSIC, 2024)

Esse seu novo trabalho é surpreendente tanto pela qualidade artística, como pela qualidade da execução de suas ideias, e que teve a sorte de ser extremamente bem executado e gravado.

Não me lembro de nos últimos dois anos ter ouvido um lançamento e ter que me debruçar por dias para ouvir todos os detalhes de arranjo, e apreciando os temas com tanto gosto.

Para os que não conhecem esse virtuose do violão, suas composições costumam ter intrincados arranjos e sobreposição de solos executados por ele tanto no violão como na guitarra, exigindo do ouvinte atento que se concentre para escutar todas as linhas melódicas e solísticas de cada tema.

Um exemplo: comece ouvindo a faixa dois – Tears of Hope, em que ele grava de dois a três violões no início e meio do tema, finalizando com dois belos solos de guitarra.

Essa foi sempre uma característica presente em todos os seus trabalhos, fazendo com que o ouvinte precise de tempo para assimilar todos os detalhes de cada uma de suas composições.

Outra bela surpresa nesse seu novo trabalho, é a diversidade nos arranjos, como na intrincada Capriccio Suite para violão e percussão com tablas e pratos, que nos permite apreciar toda sua vertente flamenca misturada com a música hindu.

Já a faixa Ava’s Dance in the Moonlight possui a capacidade de nos fazer revisitar toda a obra desse brilhante músico desde seus primeiros trabalhos solos, e perceber o quanto ainda existe de frescor e beleza em suas novas composições.

E tecnicamente, meu amigo, esse trabalho irá permiti-lo avaliar inúmeros quesitos de seus sistemas como: Equilíbrio Tonal, Texturas e Transientes.

Ou seja, um trabalho que pode ajudá-lo a tirar conclusões precisas sobre o patamar em que seu setup se encontra.
Não se engane ao achar que tudo será ‘pêra doce’, pois nos detalhes se escondem os perigos.

Acho que depois de usá-lo avaliando o Equilíbrio Tonal, principalmente nos agudos, com o trabalho primoroso nos pratos de condução, eu me concentraria nas faixas com tablas e percussões mais proeminentes do disco, para ver como o corpo nos instrumentos de percussão se comportam no seu peso e deslocamento de ar.

Se o sistema passar com louvor, se concentre nas texturas, começando pelos vários violões apresentados em todas as faixas, haverá diferenças importantes nos violões usados para fazer a base e nos dos solos.

Assim como dos naipes de cordas ou de coros de vozes femininas, por exemplo, na faixa 6 – Immeasurable pt 2.
Somente um sistema muito bem ajustado lhe mostrará toda a paleta de cores dos violões utilizados, assim como de todos os instrumentos utilizados nas 15 faixas desse disco.

Como lhe disse, serão muitas audições para se degustar completamente esse trabalho.

É uma viagem sonora e tanto, meu amigo!

E, por fim, se o sistema transmitiu com fidelidade tudo isso, é hora da prova final: os Transientes.

A virtuosidade de Al Di Meola permitirá um seguro teste de avaliação de Transientes de qualquer sistema hi-end.
Aqui não existirá reféns, pois além de seus exuberantes solos, em que velocidade e precisão predominam, tem mais um ingrediente para complicar a vida de sistemas pobres na reprodução desse quesito: percussões de todos os tipos, e uma que muitos sistemas abominam, que são tablas!

Está pronto?

Então se delicie com um dos melhores discos desse ano e mostre que você foi competente na montagem do seu sistema hi-end.

Te encontro do outro lado do rio, caso você passe por esse desafio.

OUÇA BRAHMS: THE SONATAS FOR PIANO AND VIOLIN, NO QOBUZ.
OUÇA BRAHMS: THE SONATAS FOR PIANO AND VIOLIN, NO TIDAL.

2- AKIKO SUWANAI & EVGENI BOZHANOV – BRAHMS: THE SONATAS FOR PIANO & VIOLIN (UNIVERSAL, 2024)

Aos 52 anos, arrisco dizer que Akiko Suwanai está no auge de sua exuberante carreira, que se iniciou em 1990, quando venceu a Competição Internacional Tchaikovsky, tornando-se uma das mais requisitadas artistas de música de câmara e para apresentações à frente de grandes orquestras, com os mais importantes maestros dos últimos trinta anos.

Sua versatilidade e amplitude de repertório, a fazem uma das violinistas mais requisitadas tanto no ocidente quanto no oriente.

Já o pianista Evgeni Bozhanov é atualmente um dos mais aclamados solistas de seu instrumento, com críticas como a da revista Diapason, que escreveu: “Ele consegue produzir mais nuances de tonalidade em cada nota ou acorde, do que a maioria dos pianistas em uma vida inteira, fazendo parecer tudo orgânico”. Nascido na Bulgária em 1984, Evgeni estudou com consagrados professores como Evgeny Zhelyazkov e, posteriormente, Vesselin Stoyanov, ambos na Escola Nacional de Artes em Rousse.

Sua técnica, assim como a da violinista Akiko, são perfeitas para as sonatas para Piano e Violino de Brahms.

Essas três sonatas foram gravadas por diversos virtuoses nos últimos 60 anos. Então se destacar não é tarefa fácil para nenhum que se arrisque a essa empreitada.

Para muitos violinistas, a Primeira Sonata em Sol Maior é uma das mais belas já escritas para esse instrumento, onde Brahms quis retratar musicalmente uma tarde de chuva em que emocionalmente vagamos pela nossa mente com memórias e sofrimentos intensos.

Enquanto o violino descreve e evoca essas emoções, o piano em suas notas de semicolcheia descreve as gotas de chuva lá fora.

Inspirado, Brahms nos oferece nas três sonatas linhas melódicas complexas, harmonias suntuosas e transmite em cada uma das peças paixão, melancolia e intimismo.

Por mais que você leitor tenha aversão ou resistência a música clássica, faça essa audição por um propósito maior: ajustar seu sistema, ao qual você dedica grande parte do seu tempo e quer vê-lo soando o melhor possível.
Essa gravação é primorosa artisticamente e tecnicamente.

Tenho umas oito versões dessa obra, com excelentes músicos. No entanto, essa tem algo especial, pois consegue passar a ideia e o lirismo que a obra tanto exige, com a assinatura sônica de dois virtuoses que assimilaram na integridade o que o compositor sentiu e intencionalmente colocou na partitura.

Ou seja, a interpretação possui os componentes exatos de precisão, virtuosidade e intencionalidade, tão imprescindíveis para nos tocar.

Eu uso essa gravação para avaliar Equilíbrio Tonal e Textura. Ter agudos tão estendidos e sem dureza ou brilho excessivo, é tarefa que poucos sistemas e principalmente caixas acústicas gostam de enfrentar.

E aqui eles não poderão se esconder, pois ficará explícito se são ou não capazes de reproduzir fielmente o que a exuberante captação conseguiu.

Fora que a região média alta também será bastante exigida pois ambos os instrumentos utilizam demais essa faixa do espectro.

Agora, se o seu sistema passar por esse desafio, certamente você poderá ouvir sem nenhum desconforto trompete com surdina, piccolo, violino na última oitava, piano na última oitava da mão direita, sax soprano, triângulo, etc.
E o outro quesito em que essa gravação é soberba, como escrevi, é na reprodução de Texturas.

Meu amigo, se você quer entender definitivamente a questão de intencionalidade, eis um exemplo repleto delas.
Em diversas passagens, o piano e o violino têm notas em uníssono, e se você não conseguir ouvir claramente ambas sem esforço, pode ‘voltar 10 casas’ e iniciar tudo novamente, pois as Texturas do seu sistema serão pobres!

Espero que você aceite o desafio, escute esses dois discos, e você e seu sistema passem no teste deste mês.

Até setembro, com uma nova lista de discos!

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