Vinil do Mês: PACO DE LUCÍA INTERPRETA A MANUEL DE FALLA (PHILIPS, 1978)

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Todo mês um LP com boa música & gravação

Gênero: Flamenco / Neo-Flamenco / Clássico

Formatos Interessantes: Vinil Duplo Importado / Nacional

O espanhol Paco de Lucía, e seu violão acústico flamenco, por vezes modernizado por influências jazzísticas fusion e rock, na década de 70 (ele foi influenciado e influenciador), é amplamente conhecido dos fã do violão e do flamenco, e pelos fãs de seu belíssimo trabalho com o americano Al Di Meola e o inglês John McLaughlin, registrado ao vivo no magistral Friday Night in San Francisco (1981) – conhecido pelos audiófilos por sua qualidade sonora e artística, e especialmente pela faixa Mediterranean Sundance, um duo de Paco com Di Meola. Seguiram-se a esse disco, aliás, os álbuns de estúdio Passion, Grace & Fire (1983) e The Guitar Trio (1996). Essa é a parceria mais famosa da carreira de Paco, que inclui outros nomes conhecidos como Larry Coryell, Chick Corea, Eric Clapton e Carlos Santana.

Antes de ingressar profissionalmente no mundo da audiofilia, eu já ouvia bastante um disco ao vivo chamado Live…One Summer Night (1984), com o Paco de Lucía Sextet – a mais interessante, na minha opinião, de todas as formações que Paco montou em sua carreira.

De Lucía também fez parte de sua carreira em cima do violão clássico – tocando e gravando obras de compositores espanhóis mundialmente famosos, como Joaquín Rodrigo (Concierto de Aranjuez), Isaac Albéniz (Iberia) e, finalmente, Manuel de Falla.

Contracapa

Interessante que as obras de Rodrigo e Albéniz, Paco gravou com outros violões e orquestra. Já as obras de Manuel de Falla – neste belo disco – ele gravou com seu Paco de Lucía Sextet, porém acionado de um percussionista (um Septeto, portanto), o que tornou sua versão de De Falla ainda mais interessante.

A obra de De Falla não foi escrita para o violão, apesar de haver ao longo dos anos algumas adaptações. São conhecidas por serem para orquestra, portanto esta adaptação, o re-arranjo, é duplo, pois além de ter como instrumento solista o violão, Paco é acompanhado em várias faixas por um septeto: dois violões flamencos (Paco de Lucía e seu irmão Ramón de Algeciras), vocais (Pepe de Lucía, também irmão de Paco), Alvaro Yebenes (baixo), Rubem Dantas (percussão), Jorge Pardo (flauta), e Pedro Ruy-Blas (bateria).

O disco Interpreta a Manuel de Falla inclui peças das obras El Sombrero de Tres Picos, El Amor Brujo, Siete Canciones Populares, e La Vida Breve, em um total de 10 faixas.

Selo do Disco

Paco de Lucía foi inegavelmente um virtuoso, com uma carreira que inclui 15 discos de estúdio, 7 discos ao vivo e mais de uma dezena de álbuns colaborativos. Nascido Francisco Gustavo Sánchez Gómez em 1947 na província da Andaluzia, na Espanha, filho do violonista flamenco Antonio Sánchez Pecino e da portuguesa Lúcia Gomes, Paco de Lucía faleceu em fevereiro de 2014, em sua residência, no México.

Nascido Manuel de Falla y Matheu, em 1876 em Cádiz, o compositor espanhol é um dos maiores nomes da música orquestral do país, estudando piano, harmonia e contraponto na adolescência, em Cádiz, e depois dando continuidade em Madrid, além de perseguir interesses literários e jornalísticos. Sua carreira percorreu mais de 40 anos, praticamente toda a primeira metade do século 20, com um portfólio de mais de 50 obras compostas para orquestra, coral, ópera, piano, música de câmara e canto. De Falla morou em Madrid, Paris, Granada e, finalmente, Argentina, onde faleceu em 1946, poucos dias antes de completar 70 anos de idade, não deixando herdeiros.

Capa da Edição Japonesa

Uma curiosidade é que o nome Paco é diminutivo de Francisco (seu nome de batismo), e o sufixo “de Lucía” era porque tinham vários Pacos entre as crianças do bairro, e esse específico Paco era “de Lucía”, sua mãe – para poder distinguir-se dos outros. No Brasil ele seria o ‘Chico da Lúcia’? rs…

Outra curiosidade é que o disco tem um nome bastante genérico, que significa “Paco de Lucía Interpreta Manuel de Falla”. E assim – “Interpreta a Manuel de Falla” na grafia em espanhol – saiu em muitos países, inclusive no Brasil. Mas, na Alemanha é “Spielt Manuel de Falla”, e em muitos países pelo mundo afora, inclusive países europeus, a capa está como “Plays Manuel de Falla”.

Ilustração interna

Para quem é esse disco? Para todos os fãs de violão acústico em geral, violão clássico, violão flamenco, e da música flamenca temperada com jazz fusion e rock na forma de um septeto. É um tremendo disco, de música acessível e, ao mesmo tempo, rica, melódica, emotiva, e de altíssima qualidade.

Paco de Lucía

Prensagens boas? A prensagem nacional do selo Philips, de 1978 é bastante decente, com boa capa dupla e em vinil normalmente silencioso, mas existe uma reprensagem nacional de 1985, pela qual eu não ponho a mão no fogo. Claro que existem prensagens alemãs e holandesas (era comum a Philips prensar em sua terra natal, nessa época), de 1978 também – que são ótimos objetivos de compra, além da prensagem japonesa de 1979! E, para que ninguém fique de fora, o disco foi reprensado em 2016 pela Universal Music Group (dona do catálogo da Philips), este é para colecionadores e fanáticos de discos ‘novos’ – porém eu não sei afirmar sua qualidade sonora, já que muitas vezes as prensagens modernas são lotéricas nesse quesito.

Boas agosto a todos – com muita música!

Ouça um trecho da faixa Danza de Los Vecinos, no YouTube.

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