Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br
Todo mês um LP com boa música & gravação
Gênero: Flamenco / Neo-Flamenco / Clássico
Formatos Interessantes: Vinil Duplo Importado / Nacional
O espanhol Paco de Lucía, e seu violão acústico flamenco, por vezes modernizado por influências jazzísticas fusion e rock, na década de 70 (ele foi influenciado e influenciador), é amplamente conhecido dos fã do violão e do flamenco, e pelos fãs de seu belíssimo trabalho com o americano Al Di Meola e o inglês John McLaughlin, registrado ao vivo no magistral Friday Night in San Francisco (1981) – conhecido pelos audiófilos por sua qualidade sonora e artística, e especialmente pela faixa Mediterranean Sundance, um duo de Paco com Di Meola. Seguiram-se a esse disco, aliás, os álbuns de estúdio Passion, Grace & Fire (1983) e The Guitar Trio (1996). Essa é a parceria mais famosa da carreira de Paco, que inclui outros nomes conhecidos como Larry Coryell, Chick Corea, Eric Clapton e Carlos Santana.
Antes de ingressar profissionalmente no mundo da audiofilia, eu já ouvia bastante um disco ao vivo chamado Live…One Summer Night (1984), com o Paco de Lucía Sextet – a mais interessante, na minha opinião, de todas as formações que Paco montou em sua carreira.
De Lucía também fez parte de sua carreira em cima do violão clássico – tocando e gravando obras de compositores espanhóis mundialmente famosos, como Joaquín Rodrigo (Concierto de Aranjuez), Isaac Albéniz (Iberia) e, finalmente, Manuel de Falla.
Interessante que as obras de Rodrigo e Albéniz, Paco gravou com outros violões e orquestra. Já as obras de Manuel de Falla – neste belo disco – ele gravou com seu Paco de Lucía Sextet, porém acionado de um percussionista (um Septeto, portanto), o que tornou sua versão de De Falla ainda mais interessante.
A obra de De Falla não foi escrita para o violão, apesar de haver ao longo dos anos algumas adaptações. São conhecidas por serem para orquestra, portanto esta adaptação, o re-arranjo, é duplo, pois além de ter como instrumento solista o violão, Paco é acompanhado em várias faixas por um septeto: dois violões flamencos (Paco de Lucía e seu irmão Ramón de Algeciras), vocais (Pepe de Lucía, também irmão de Paco), Alvaro Yebenes (baixo), Rubem Dantas (percussão), Jorge Pardo (flauta), e Pedro Ruy-Blas (bateria).
O disco Interpreta a Manuel de Falla inclui peças das obras El Sombrero de Tres Picos, El Amor Brujo, Siete Canciones Populares, e La Vida Breve, em um total de 10 faixas.
Paco de Lucía foi inegavelmente um virtuoso, com uma carreira que inclui 15 discos de estúdio, 7 discos ao vivo e mais de uma dezena de álbuns colaborativos. Nascido Francisco Gustavo Sánchez Gómez em 1947 na província da Andaluzia, na Espanha, filho do violonista flamenco Antonio Sánchez Pecino e da portuguesa Lúcia Gomes, Paco de Lucía faleceu em fevereiro de 2014, em sua residência, no México.
Nascido Manuel de Falla y Matheu, em 1876 em Cádiz, o compositor espanhol é um dos maiores nomes da música orquestral do país, estudando piano, harmonia e contraponto na adolescência, em Cádiz, e depois dando continuidade em Madrid, além de perseguir interesses literários e jornalísticos. Sua carreira percorreu mais de 40 anos, praticamente toda a primeira metade do século 20, com um portfólio de mais de 50 obras compostas para orquestra, coral, ópera, piano, música de câmara e canto. De Falla morou em Madrid, Paris, Granada e, finalmente, Argentina, onde faleceu em 1946, poucos dias antes de completar 70 anos de idade, não deixando herdeiros.
Uma curiosidade é que o nome Paco é diminutivo de Francisco (seu nome de batismo), e o sufixo “de Lucía” era porque tinham vários Pacos entre as crianças do bairro, e esse específico Paco era “de Lucía”, sua mãe – para poder distinguir-se dos outros. No Brasil ele seria o ‘Chico da Lúcia’? rs…
Outra curiosidade é que o disco tem um nome bastante genérico, que significa “Paco de Lucía Interpreta Manuel de Falla”. E assim – “Interpreta a Manuel de Falla” na grafia em espanhol – saiu em muitos países, inclusive no Brasil. Mas, na Alemanha é “Spielt Manuel de Falla”, e em muitos países pelo mundo afora, inclusive países europeus, a capa está como “Plays Manuel de Falla”.
Para quem é esse disco? Para todos os fãs de violão acústico em geral, violão clássico, violão flamenco, e da música flamenca temperada com jazz fusion e rock na forma de um septeto. É um tremendo disco, de música acessível e, ao mesmo tempo, rica, melódica, emotiva, e de altíssima qualidade.
Prensagens boas? A prensagem nacional do selo Philips, de 1978 é bastante decente, com boa capa dupla e em vinil normalmente silencioso, mas existe uma reprensagem nacional de 1985, pela qual eu não ponho a mão no fogo. Claro que existem prensagens alemãs e holandesas (era comum a Philips prensar em sua terra natal, nessa época), de 1978 também – que são ótimos objetivos de compra, além da prensagem japonesa de 1979! E, para que ninguém fique de fora, o disco foi reprensado em 2016 pela Universal Music Group (dona do catálogo da Philips), este é para colecionadores e fanáticos de discos ‘novos’ – porém eu não sei afirmar sua qualidade sonora, já que muitas vezes as prensagens modernas são lotéricas nesse quesito.
Boas agosto a todos – com muita música!