Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br
Gosto muito de engenharia – desmontava coisas quando era criança, demonstrava afinidades com ciências e facilidade em entender como tudo funcionava (ou quase tudo rs…). Ou seja, todos os clichês que os pais babões olhavam e pensavam “Oba! Meu filho vai ser engenheiro!”. Acontece que eu tenho a mesma afinidade com física e matemática que uma cobra tem com o jogo de basquete… E esse sonho (deles, não meu) foi para o vinagre rapidinho.
Mas, paradoxalmente, trabalhei minha vida inteira com engenheiros, dos mais diversos, e em empresas de tecnologia sempre – e sempre fui classificado como nerd por vários grupos de pessoas…rs…
Sem engenheiros, não teríamos equipamentos de som, e nem música gravada – seja em qual mídia for. Não teríamos cinema, ficção científica, e tecnologias modernas que facilitam a vida, e as que atrapalham a vida também.
Mas ainda teríamos café, bacon e queijo…Então nem tudo estaria perdido.
Ou seja, todo o nosso hobby com sistemas de áudio não existiria. E toda nossa paixão por música seria limitada ao pequeno repertório de música ao vivo encontrável em nossas pequenas cidades.
Então, agradeçam aos engenheiros!
Dito isso, tive na vida de profissional da área de áudio, algumas decepções com engenheiros – algumas dificuldades de comunicação, de compreensão.
O mais comum entrevero sempre foi a questão dos cabos para sistemas de áudio – principalmente o cabo de força.
Claro que, várias vezes demonstrei na frente de engenheiros as diferenças audíveis entre cabos, e a maioria deles percebeu que a realidade não batia com a teoria pessoal profissional dele. Ouviu e percebeu, mudou – nada de teoria, apenas prática, apenas resultado final.
E foram fazer exatamente o que todo bom cientista faz: rever suas teorias e doutrinas, e expandir seus conhecimentos de maneira multidisciplinar. Afinal, o certo é quando a ciência explica o mundo real – e não quando a realidade tem que se adaptar ao que a ciência acredita.
Felizmente, a maioria dos engenheiros – e dos céticos – que eu encontrei na vida, e tive a oportunidade de mostrar os efetivos resultados sonoros finais, que há diferenças sonoras com diferentes cabos, melhoraram muito a qualidade sonora de seus sistemas, e o aproveitamento de seu hobby e de sua música mais querida.
Mas ainda assim é um fardo à paciência ouvir gente dizer que sou ‘vítima de placebo’ (me bestifica a facilidade e a virulência com que as pessoas gostam de ofender outras). E isso é um pensamento pequeno pacas por parte dessas pessoas.
Não é uma questão de eu ‘acreditar’ em cabos – porque ‘crenças’ são aquilo que entra no lugar de ‘conhecimento’ quando não o temos. Minha experiência de vida e trabalho de mais de 20 anos na área, demonstrou os resultados de uma maneira coerente e repetível, e satisfatória para mim. É ofensivo – e ridículo – ouvir alguém dizer que sou ‘vítima de placebo’. E ofende também muita gente que segue o hobby.
Outro ‘entrevero’ foi quanto ao amaciamento de componentes eletrônicos – muitas pessoas já entenderam que amaciamento de algo mecânico é uma ocorrência real, por motivos bem óbvios, mas muitos ainda acham que soldas, contatos, componentes (capacitores, resistências etc) e fios, não ‘amaciam’.
Aqui fica uma dica: se a sonoridade final resultante da adição de um cabo ou um novo amplificador a seu sistema, for diferente entre quando você instalou-os, novos, e quando se passaram 50 ou 100 horas de audição dos mesmos, acredite: não é você que ‘se acostumou’ com o som – não se subestime, o som realmente mudou.
Quer tirar a ‘prova dos nove’? Se você conseguir dois cabos iguais – ou dois amplificadores iguais – ambos zero km e recém retirados da caixa (sim, é uma situação pouco provável), use um por algum tempo, e deixe o outro guardado. Se, quando você trocar um pelo outro – o amaciado por um zero km – o som mudar, é porque o amaciamento existe, e não é você ‘vítima de placebo’.
Se o amaciamento existe, procurem achar o que na ciência que o explica (e tem um bocado gente procurando essa explicação) – em vez de olhar uma ciência monodisciplinar, não achar a explicação, e definir que a ‘realidade’ não existe. E antes que alguns comecem a espernear por eu não ter estudado engenharia, eu ouvi isso de um engenheiro – que também era físico de formação.
E, o mais recente ‘entrevero’, que me deixou muito entristecido com a situação do mundo audiófilo, foi ter que ver uma pessoa em um fórum de áudio na Internet, dizer que ele não tinha estudado Engenharia Elétrica por anos para ver pessoas falarem de ‘bruxaria’. E o que ele chamou de ‘bruxaria’? Psicoacústica… É um engenheiro que acha que a disciplina dele explica tudo, e que outras disciplinas não existem. Me deixou de cabelos em pé, essa.
O que é Psicoacústica? É um ramo da ciência que estuda as respostas psicológicas associadas ao som, incluindo ruído, fala e música. É interdisciplinar, incluindo psicologia, acústica, engenharia eletrônica, física, biologia, fisiologia e ciência da computação.
Vejam bem: interdisciplinar.
Prefiro conviver e trocar ideias com os numerosos Engenheiros Eletrônicos que fizeram o mundo da audiofilia e da audição de música ser o que é, e continuar evoluindo!
Bom fim de inverno – e que a primavera traga, a todos nós, mais iluminação e sabedoria!