Christian Pruks
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Equipamentos Vintage que fazem parte da história do Áudio
O termo Vintage tem a ver com ‘qualidade’, mais do que ‘ser antigo’. Vem do francês ‘vendange’, safra, sobre uma safra de um vinho que resultou excepcional. ‘Vintage’ quer dizer algo de qualidade excepcional – apesar de ser muito usado para designar apenas algo antigo.
Nesta série de artigos abordamos equipamentos vintage importantes, e que influenciam audiófilos até hoje!
MADE IN BELGIUM / HOLLAND
Em uma época – décadas de 70, 80 e 90 – onde o áudio japonês deitava e rolava no mundo, várias empresas europeias faziam contra os japoneses uma pequena competição, no mundo todo. Mesmo no Brasil, vários equipamentos da gigante holandesa Philips fizeram um certo sucesso – e TVs e lâmpadas Philips, por exemplo, fizeram muito sucesso.
Na Europa, nessa época, a Philips tinha um alcance muito maior – e além do fato de serem gigantes em uma variedade de áreas, eles tinham uma parcela muito grande do mercado de áudio lá, fazendo frente a muitas empresas japonesas, e superando várias. Isso além de fazer componentes e até placas para uma longa série de marcas europeias menores de áudio.
Tanto pela Philips quanto pelas marcas japonesas, era um cenário bastante rico em marcas e equipamentos, e em qualidade sonora. Tinha, porém, muita coisa a ser esquecida, simples, de plástico, pois todo mundo tentava competir em todos os nichos – mas tem também um bocado de pérolas, principalmente quando as marcas se aventuravam no áudio mais sofisticado, quase hi-end.
Esse par de caixas, deste artigo, é um dos produtos mais sofisticados que a Philips fabricou no nesse período, no final da década de 80.
AS CAIXAS ACÚSTICAS PHILIPS FB1000 (MARANTZ LS-95)
Em 1989, a Philips resolveu fazer o que é, provavelmente, a melhor caixa que já fizeram. Parte disso, eu acredito, é porque tinham a marca Marantz – com mais cacife no meio audiófilo – para explorar, em matéria de marketing.
A FB1000 é a caixa topo – de uma linha com quatro modelos que usavam tweeter ribbon – uma torre de 4 vias com 1.36m de altura, montando dois midwoofers (com o mais baixo cortado em 120Hz), um tweeter ribbon de bom tamanho (que responde de 1.800 até 12.000Hz), e um super-tweeter ribbon (cortado de 12.000Hz para cima), em um gabinete muito bem construído e acabado, bom o suficiente para qualquer boa marca de caixas hi-end.
Uma curiosidade é que a Philips fez uma versão visualmente idêntica com a marca Marantz – e o modelo LS-95. A Philips FB1000 era preferencialmente vendida no Japão, apesar de ser fabricada na Europa, e a Marantz LS-95 era vendida preferencialmente nos países Europeus. Me parece que a Philips achou que a marca Marantz era mais apropriada para esse nível de produto no mercado local.
Algumas documentações dizem que as FB1000 têm uma resposta de 40Hz até 40kHz, e outras de 30Hz até 60kHz – assim como aparecem duas diferenças de informação quanto aos cortes, e ambos dados diferem entre o modelo da Philips e o modelo da Marantz. Ou seja, havia diferenças de acerto de divisor entre uma caixa e outra – apesar de todo mundo cansar de dizer que ambas caixas eram virtualmente idênticas. Pelo jeito não são.
Nunca vi um par desses ao vivo – acho que nem existem exemplares no Brasil, por ser uma caixa muito cara que não foi lançada por aqui e nem oficialmente importada.
Todos seus falantes foram desenvolvidos pela própria Philips na Holanda, sendo os woofers de 8 polegadas com magnetos de alnico e cones feitos com uma mistura de polipropileno com fibra de carbono prensada, resultando em um cone leve e com alta rigidez. Os tweeters tipo ribbon de alta dispersão receberam da empresa a denominação Isophase, e respondem acima de 30kHz (e um pouco além o super-tweeter, menor).
Completa o cenário uma base com spikes, e bornes de conexão que permitem bicablar ou biamplificar. Em linha de 1989 até 1993, elas tinham um preço final que, atualizado para valores de hoje, chega a aproximadamente US$10.000 o par!
Claramente tudo nela mostra que foi feita, 35 anos atrás, pensando no mercado audiófilo: gabinete bem acabado e rígido, falantes de alta tecnologia como ribbon e cones leves e rígidos, bicablagem, e por aí vai – várias coisas que ainda estão em voga hoje em dia na audiofilia.
Um modelo menor, da mesma linha, uma bookshelf chamada FB880 (Marantz LS-85) usava o mesmo tweeter, mas o woofer tinha um magneto de cerâmica chamado de Ferroxdur, em vez do alnico, e vinha com um adesivo atrás dizendo que o cabeamento interno era Monster Cable!
MODELOS SEMELHANTES
Até onde eu sei, a ‘idêntica’ Marantz LS-95 foi lançada concomitantemente com a FB1000. E, logo na sequência, a bookshelf FB880, com o mesmo tipo de acabamento top, com o mesmo tweeter ribbon da irmã mais velha, e um woofer que parece igual mas tem modificações cujos motivos não foram explicados (documentação sobre esses produtos é um bocado escassa).
Poucos anos depois, a Philips lançou duas torres menores – FB825 e FB821 – com o mesmo tipo de tweeter Isophase, mas um modelo simplificado, e com o acabamento e os woofers e médios mais simples também.
COMO TOCAM AS FB 1000
A FB1000 foi desenvolvida para grande dinâmica, tanto macro por seu tamanho físico, quanto micro por causa dos tweeters ribbon e da qualidade de seus componentes.
Depoimentos dão conta que as FB1000 tocavam com naturalidade, limpeza, timbre e detalhamento superiores à maioria do que havia competindo na época – e eu acredito, pois com tweeters ribbon atuando tanto na área média (o corte começando em 1.8kHz) os médios devem ser mesmo muito limpos, corretos e bonitos.
SOBRE A PHILIPS
O nome Philips é tão tradicional que quase dispensa apresentações. O conglomerado holandês chegou a ser uma das maiores empresas de tecnologia do mundo – desde semicondutores, até barbeadores, eletrônicos para a cozinha e o lar, equipamentos de som e vídeo, televisores de tubo, televisores de tela plana, monitores para computador, selo de gravação de discos, a invenção da fita cassete, lâmpadas incandescentes, as primeiras lâmpadas LED, tecnologia para a área médica, a invenção do CD em associação com a Sony, a invenção do DVD em associação com a Toshiba e a mesma Sony, etc e tal – em quase tudo a Philips já esteve envolvida.
Mas, com a atual reestruturação, estratégias equivocadas e a concorrência, a Philips tem passado a focar apenas em produtos para o bem-estar pessoal e afins, e tecnologia para área médica – tendo vendido sua operação de fabricação de TVs e monitores, de produtos de áudio e vídeo, de pilhas, multimídia e de iluminação. Seus produtos em outras áreas deixarão saudades!
Um setembro bem musical a todos nós!