Opinião: JÁ EXISTE UMA NEUROCIÊNCIA DO ÁUDIO?

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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Se você acompanha meus artigos aqui nessa seção, achará essa pergunta sem sentido.

Mas, suponhamos que você seja um leitor que acaba de cair de paraquedas nesse hobby, e se interessou pela audiofilia e começa a devorar tudo que diga respeito ao tema.

Então sente-se, e seja bem-vindo, pois não só existe como vem ganhando corpo e cada vez mais verbas, para se estudar como a música funciona em nosso cérebro e seus inúmeros benefícios para a nossa saúde física, mental e emocional.

Esses estudos estão ajudando neurocientistas a entenderem essas vias neurais complexas, em como a música é retida em nossa memória e como nosso cérebro processa essa informação.

E quanto mais se avança nas descobertas, mais esse conhecimento está sendo usado em diversas doenças como: Parkinson, esquizofrenia, Alzheimer, distonia, discinesia, Síndrome de Tourette, afasia, gagueira, amnésia e, por último, em depressões agudas sem respostas aos medicamentos existentes.

Paralelamente, também se avançou consistentemente na compreensão da Percepção Auditiva, com estudos sobre localização precisa dos sons em nosso cérebro, percepção de tonalidade, ritmo, harmonia, e seus impactos correlacionados com a psicoacústica.

Mas nada desses estudos teria avançado se as técnicas de imagem cerebral, com as novas técnicas de neuroimagem através de estímulos de frequência por ressonância magnética e eletroencefalografia, não nos permitisse ver em tempo real como nosso cérebro reage aos estímulos sonoros.

Agora, juntemos os significativos avanços também no estudo cognitivo da audição, e as descobertas das interfaces neurais, e podemos dizer que sim, hoje temos uma neurociência para o estudo do áudio, que avança a passos largos para desvendar informações preciosas para o bem-estar do ser humano de maneira integral, ainda nessa década.

Um exemplo?

Neurocientistas chineses revelaram que a música clássica desempenha papel fundamental no tratamento de depressão em pessoas que não reagem ao tratamento medicamentoso.

O estudo foi publicado na revista Cell Reports, que analisou o efeito neurológico da música clássica por meio de medições de ondas cerebrais e técnica de neuroimagem, provando que esse estilo musical tem efeitos positivos no cérebro das pessoas com depressão.

Segundo o autor dos estudos, Bomim Sun, diretor e professor do Centro de Neurocirurgia Funcional da Universidade Jiao Tond de Xangai, participaram dos estudos uma equipe de professores de neurociência, psiquiatria e neurocirurgia, buscando entender a interação entre música e emoção.

O estudo foi feito com 13 pacientes com depressão sem melhoras com os tratamentos convencionais, e que já tinham eletrodos implantados em seus cérebros para estimulação profunda, como último recurso para amenizar o quadro depressivo agudo.

Usando esses implantes, a equipe multidisciplinar descobriu que a música clássica gera efeitos antidepressivos ao sincronizar as oscilações neurais entre o córtex auditivo (responsável pelo processamento de informações sensoriais) e o circuito de recompensa (que processa as informações emocionais).

O estudo tocou para os 13 pacientes uma seleção de música clássica ocidental, procurando apresentar obras que os pacientes não conheciam ou não estavam muito familiarizados, para evitar estímulos ‘subjetivos’ da memória.

O resultado foi tão surpreendente, que os estudos não só terão continuidade, como será criada uma equipe permanente, também agregando a equipe multidisciplinar, cientistas de computação e musicoterapeutas, na tentativa de desenvolver uma série de produtos digitais de saúde mental baseados em musicoterapia.

Esses programas vão integrar recomendações musicais personalizadas, monitoramento e feedback emocional em tempo real, e experiências multissensoriais de realidade virtual, para fornecer ferramentas de autoajuda convenientes e eficazes para gerenciar as emoções de pacientes depressivos, melhorando sintomas e permitindo sua reintegração social plena.

Eu não sou um visionário, mas defendo a musicoterapia e seus benefícios desde que essa publicação foi lançada.

E sempre deixei claro que a maneira que se vendem equipamentos de áudio hi-end está, no mínimo, equivocada.

E fabricantes e mídias de áudio, com avanços tão significativos da neurociência na importância da música em nossas vidas, podem ainda fazer uma correção de rota, na forma de apresentar o hi-end para as novas gerações.

Pois como respondi a um amigo, que elogiou minha persistência em escrever artigos como esse mensalmente, me disse: “Louvável sua visão holística da música e audiofilia, muito além de um punhado de equipamentos”.

Agradeci sua generosidade, lembrando-o que o equipamento é apenas o ‘transporte’ e não a estrada.

Se a música clássica é capaz de tantas melhorias, até em quadros depressivos agudos, o que ela pode trazer de benefício a todos nós diariamente?

Pense nisso, se você ainda se mantém resistente a esse gênero musical!

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