Playlists: MÚSICA PARA APRECIAR E AVALIAR SEU SISTEMA III

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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Vou pedir para, antes de você ler este Playlist, leia meu Opinião desta edição. Pois mais uma vez embasado em estudos neurocientíficos, pesquisadores descobriram que a música clássica é um excelente meio de combater a depressão profunda em pacientes que não respondem a medicamentos.

Me desculpe se estou sendo chato ou demasiadamente persistente, com nossos leitores que resistem a ampliar seu leque de escolhas auditivas, mas a pergunta que faço a todos vocês avessos a ouvir música clássica é: se os benefícios são tantos e sem nenhum efeito colateral, o que o impede de ao menos tentar?

Foi pensando nesses leitores que baseei minha escolha para o Playlist desse mês.

Tive um irmão, já falecido, que era um apaixonado por trilhas sonoras. Era um especialista com mais de duzentas gravações em seu impecável acervo musical.

Tudo catalogado, em ordem alfabética e por data de lançamento do filme.

Admirava seu conhecimento e paixão por cada um de seus discos, mas achava estranho ele não ter um único disco de música clássica em sua coleção.

E como ele era mais velho que eu, demorei a tomar coragem e lhe perguntar a razão de não ter um único disco do gênero. Lembro de seu espanto com a minha pergunta e colocou para eu ouvir obras de John Williams, colaborador de dois dos grandes cineastas do século 20: Steven Spielberg e George Lucas.

E finalmente entendi que ele já se achava suficientemente abastecido com sua ‘cota’ de música clássica em suas inúmeras trilhas de filmes.

Resgato essa passagem de minha vida, e relanço o desafio para você leitor, que resiste a escutar em seu sistema um estilo que irá mostrar todos os avanços e limitações de qualquer sistema que deseje receber o certificado de hi-end.

E então, escolhi duas gravações que podem ajudar a todos a avaliar os quesitos de nossa Metodologia. Isso mesmo os oitos quesitos com apenas duas gravações de alto nível artístico e técnico.

OUÇA JOHN WILLIAMS: REIMAGINED, NO QOBUZ.
OUÇA JOHN WILLIAMS: REIMAGINED, NO TIDAL.

1- JOHN WILLIAMS – REIMAGINED (ERATO, 2024)

Se você for no Tidal ou QoBuz, achará diversas gravações desse compositor, arranjador e regente, à frente das grandes orquestras, além de vídeos e excelentes documentários.

Mas essa gravação tem algo de especial, pois foi um projeto solicitado pelo produtor de trilhas sonoras de filmes Robert Townson, que levou quase uma década para convencer o amigo a reescrever seus mais famosos temas para um trio composto de piano (Simone Pedrini), flauta (Sara Andon) e violoncelo (Cécilia Tsan).

Você encontrará temas de Star Wars, claro, Febelmans, ET e muito mais…

São trinta e quatro faixas de uma beleza singular, e aos resistentes à música clássica eu garanto que servirá como uma ampla porta de entrada a esse universo musical tão rico e tão expressivo.

A humildade de John Williams é tão admirável quanto o seu talento para escrever trilhas sonoras. Spielberg, seu amigo e parceiro há 50 anos, nos conta que logo após assistirem a prévia do filme A Lista de Schindler, sem música ainda, John se sentiu inseguro e externou: “Você precisa de alguém melhor que eu para fazer a trilha desse filme” e o cineasta respondeu: “Eu sei, mas estão todos mortos”.

E Spielberg, alguns anos depois desse fato, disse: “John reescreve meus filmes musicalmente. Se eu tenho seis rascunhos de um roteirista, e John é o sétimo e último rascunho, e este é o qual eu trabalho”.

Esse lindo disco pode fazer com que finalmente sua resistência a música clássica de solte como uma folha seca ao vento.

Os benefícios serão inúmeros: para sua saúde, para sua ampliação de referências de instrumentos acústicos, e para o ajuste preciso de seu sistema.

Aproveite, pois além de indolor é prazeroso!

Vamos às dicas de como usar esse disco para o ajuste de seu sistema.

Sabia que existem leitores que não escutam flauta transversal ou piccolo pois os agudos incomodam?

É verdade! Não foi apenas um ou dois que manifestaram ao longo dos anos esse desconforto, mas sim alguns leitores.

Um deles eu tive a oportunidade de escutar seu sistema, e constatei que não era só com esse instrumento de sopro que o sistema se comportava de maneira agressiva. Com violino e piano nos agudos, também.

Conclusão? Equilíbrio tonal errado!

Foi resolver o problema e esse leitor resgatou gravações desses instrumentos.

Então, a primeira dica: se em qualquer das faixas a flauta se mostrar agressiva, tenha absoluta certeza de que seu sistema está desequilibrado tonalmente.

Pois ouvi o disco inteiro com vários fones, e em vários setups, tanto no Innuos ZENmini Mk3, com o DAC Ferrum Wandla (leia Teste 3 nesta edição) e o Nagra TUBE DAC, e não há nenhum resquício de dureza ou brilho na reprodução da oitava mais alta da flauta.

Dica dois: no corpo dos instrumentos, se seu sistema é bom, nesse quesito será fácil de ouvir a diferença do corpo do piano, cello e flauta. Se soar tudo do mesmo tamanho, ou seu streamer ou todo o sistema está com problema neste quesito.

Dica três: planos, foco, recorte e ambiência. Cada um dos instrumentos precisa respirar, e soar com bom foco e recorte, e a gravação tem bons planos em termos de largura, profundidade e altura.

Se soar bidimensional, novamente o problema ou estará no streamer ou em todo o sistema.

Refaça todos os passos ouvindo outras gravações que você usa de referência para soundstage, e se todas estiverem soando apenas com largura e altura, sem profundidade, comece reposicionando suas caixas e o ponto ideal de audição.

Às vezes, após ajustar as caixas ocorrem verdadeiros milagres.

E a última dica: organicidade. Ocorre a materialização do evento em sua sala? Ou tudo apenas soa etéreo, mais como música ambiente?

Se estiver soando mais como música ambiente, sem a materialização física a sua frente, não culpe a gravação, meu amigo. Pois ela foi realizada por um dos selos mais competentes tecnicamente para gravação de música clássica que eu conheço.

Boa sorte e que tenha enorme sucesso no uso dessa linda gravação!

OUÇA DANNY ELFMAN – PERCUSSION CONCERTO & WUNDERKAMMER, NO QOBUZ.
OUÇA DANNY ELFMAN – PERCUSSION CONCERTO & WUNDERKAMMER, NO TIDAL.

2- DANNY ELFMAN – PERCUSSION CONCERTO & WUNDERKAMMER (SONY, 2024)

Esse concerto foi escrito para a National Youth Orchestra. Danny Elfman teve como ideia estimular os jovens a descobrir a magia e possibilidades de uma orquestra em criar incríveis imagens sonoras.

A obra foi toda escrita como se fosse uma espécie de ‘cubo mágico’, com janelas de todos os lados que vão se abrindo a mundos diferentes e inusitados.

Toda baseada em uma marcação de tempo fortemente percussiva, com seu primeiro movimento sincopado, em que vozes infantis se misturam à orquestração.

O segundo movimento coloca o ouvinte em um labirinto de emoções e cores em que todos os naipes da orquestra vão se sucedendo. No terceiro movimento somos convidados a subir em um imenso carrossel sonoro, com suas variações e saltos no tempo e andamento, criando incríveis variações dinâmicas.

Meu amigo, essa gravação irá fazer uma radiografia precisa de seu sistema nos oito quesitos de nossa Metodologia.

Equilíbrio tonal com avaliação de todo o espectro audível, soundstage principalmente para avaliação 3D do sistema na apresentação dos planos dos naipes da orquestra. Texturas, com uma ampla apresentação de todas as paletas de cores existentes em uma orquestra, transientes com a precisão rítmica das percussões, micro e macro-dinâmica para avaliar o silêncio de fundo de seu sistema, de sua sala acusticamente e de sua elétrica.

Macro-dinâmica para avaliação se seu sistema tem ou não folga para reproduzir os fortíssimos sem dobrar os joelhos e perder o fôlego.

Tamanho da orquestra, apresentando os instrumentos solo e os naipes próximos ao tamanho real, ou tudo parecendo ‘pizza brotinho’ suspensos entre as caixas.

Materialização física da orquestra à sua frente.

Colin (right) recording at the Liverpool Philharmonic Hall with conductor JoAnn Falletta and composer Danny Elfman

E aquele relaxamento essencial para o seu cérebro ouvir essa interessante obra com prazer e sem perder o foco (a única maneira de se alcançar a verdadeira musicalidade, literalmente).

Se seu sistema passou por todos esses desafios, parabéns meu amigo, pois ele realmente está apto a grandes voos!
Mas se não passou, por favor, só não cometa o erro de colocar a culpa na gravação. Pois eu lhe garanto que ela não é a culpada. Ao contrário, ela é sua aliada para você saber em que patamar seu sistema está e o que precisa ser melhorado ou corrigido.

Estarei aqui caso você precise de ajuda, ou mais alguma dica ou explicação.

Caso esteja tudo certo, nos veremos novamente em abril de 2025, no nosso segundo Workshop Hi-End Show.

Até lá, se cuidem e excelentes audições!

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