Teste 1: AMPLIFICADOR INTEGRADO SOULNOTE A-2

Teste 2: CAIXAS ACÚSTICAS AUDIO SOLUTIONS FIGARO S2
setembro 5, 2024
TOP 5 – AVMAG
setembro 5, 2024

Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Vou dar um breve apanhado da história da Soulnote, para os que não leram o teste do pré de phono E-2, que publicamos na edição 308.

Lá eu descrevi em detalhes a filosofia do projetista e diretor técnico, sr Kato, e sugiro a todos que gostam de saber detalhes das pessoas por trás de excelentes projetos, que leiam na íntegra o teste.

Fundada em 2004 pelo ex-engenheiro/diretor da Marantz Norinaga Nakasawa, a Soulnote é uma marca japonesa que vem se estabelecendo na linha de frente de produtos de áudio hi-end. Desde sua fundação, ela sempre visou oferecer ao mercado três séries distintas com níveis de performance bem estabelecidos, mantendo o mesmo ‘DNA Sonoro’ para todos os seus produtos.

A série 1 é considerada a linha de entrada, a série 2 é a linha intermediária – mas com inúmeras características de conceito e performance herdadas da série 3, a top de linha.

O que é inegável é o primor de construção e de qualidade final das três séries.

O integrado A-2 é uma topologia duplo mono totalmente balanceada, e oferece seis entradas de linha, sendo três balanceadas e três RCA. São 100 Watts em 8 ohms e 200 Watts em 4 ohms. O estágio de saída é classe AB com um revés em classe A (sem, no entanto, o fabricante especificar o quanto o A-2 opera em classe A).

O fabricante enaltece o uso de um transformador de 600 VA com um consumo de 125 Watts ocioso – e 355 Watts em potência máxima.

Alerto que, pelo grau de aquecimento do A-2, em volumes razoáveis, ele seja colocado em local bem ventilado.
Seguindo o fabricante, o Feedback Negativo é zero, e como expliquei detalhadamente no teste do E-2, Hideki Kato acredita que Feedback Negativo não traz nenhum benefício em termos de performance. E a qualidade de som que ele busca para os seus produtos é uma reprodução precisa da forma de onda original no domínio do tempo, e esse conceito é impossível de ser medido.

Então o sr Kato insiste, com sua equipe de engenheiros, que o ajuste fino seja feito estritamente com testes de escuta. Pois só assim se chegará ao objetivo final.

O irônico desse conceito – que deve causar ‘urticária’ nos objetivistas ortodoxos – é que as medições do A-2 são excelentes. Com uma distorção muito baixa de apenas 0.03% e uma largura de banda de 3 Hz a 240 kHz.

E esse resultado sem o uso de circuitos servo DC de corrente, pois para o sr Kato o uso desses circuitos estraga a qualidade final do som. Outro conceito do qual ele não abre mão é do uso de resistores fixos em vez de potenciômetro para o volume, pois para ele os resistores mantêm uma precisão muito maior entre o canal esquerdo e direito, principalmente em volumes mais baixos.

E, por fim, mas não menos interessante, é o cuidado que a Soulnote tem com a questão de vibração mecânica, fazendo uso de spikes para um melhor desempenho sonoro, o que exige, na hora de colocar o integrado na prateleira, uma enorme paciência para não danificar a base com spikes tão afiados, e a ajuda de uma segunda pessoa para fixar as moedas protetoras para os spikes.

E o estranhamento que certamente todos terão, em um primeiro contato com os produtos deste fabricante, é a tampa superior solta e desacoplada do gabinete. Você, como eu, deve supor que em volumes altos, essa tampa irá vibrar e gerar ruído. Mas não se preocupe, pois isso não ocorrerá.

Falando em gabinete, todo ele é feito de alumínio de 1.5 cm de espessura com listas, que segundo o fabricante são necessárias para o resultado sonoro final.

Já ‘escaldado’ pela performance impressionante do pré de phono E-2, não criei nenhuma expectativa do que iria ouvir. Segui o ritual de ligá-lo no nosso Sistema de Referência, e extrair as primeiras impressões apenas com as gravações da Cavi Records, e as que lançamos pela gravadora Movieplay.

Minha única dúvida foi se ele daria conta de empurrar as Estelon X Diamond MkII, já que é uma caixa exigente e devoradora de Watts. E ao ouvir as primeiras faixas do Genuinamente Brasileiro Vol. 2, esse receio se dissipou completamente, pois a autoridade com que o A-2 conduziu a Estelon foi impressionante.

O fabricante fala em queima, mas não estabelece quanto. Então segui a regra utilizada no E-2, e deixei em repeat em companhia das caixas Yamaha por 100 horas, ouvi novamente os mesmos discos e achei que mais 100 horas não lhe fariam mal.

O que posso adiantar é que, mesmo zerado, será um prazer acompanhar sua evolução no processo de amaciamento. Pois não haverá nenhum desconforto sonoro. Ainda que fique nítido que as pontas têm pequenos ajustes a serem feitos na extensão de ambos os lados.

Mas absolutamente nada que impeça de sentar-se e ouvir com admiração o desenrolar desse processo.

Trata-se de um grau de refinamento exemplar, com muita transparência, vivacidade, autoridade e finesse. A música flui com tamanha desenvoltura que o ouvinte de imediato é seduzido a parar o que esteja fazendo para ouvir como a música se desenrola à sua frente.

Não há esforço a mais do que esteja exigido na partitura, o domínio de tempo é assustador, permitindo que os transientes sejam detalhadamente ouvidos e entendidos.

A dinâmica é admirável para um integrado em sua faixa de preço, com uma macro exemplar em termos de energia, resolução e impacto.

Essa é a radiografia conclusiva que compartilho com todos vocês. Porém, obter esse grau de performance não é tarefa das mais fáceis, e o Soulnote a obteve graças a capacidade de seu projetista pensar ‘fora da caixinha’, o que contraria a todos os objetivistas que afirmam que não há nada de novo nas topologias de amplificadores classe A ou classe AB, e que se dois amplificadores com especificações idênticas soarem diferentes um deles está com defeito.

Acho essa última afirmação de uma petulância sem igual!

Pois esquecem e não admitem, os que pensam assim, que a capacidade humana de criar, recriar, ousar e arriscar é infinita. Possibilitando resultados que vão do sutil ao mais explícito.

E o A-2, assim como o Norma IPA-140 testado recentemente, ou o Sunrise Lab V8 Aniversário, serem integrados que romperam a barreira dos 100 pontos em nossa Metodologia, terem pontuações muito semelhantes nos oito quesito, e possuírem assinaturas sônicas tão distintas.

Esse é o encanto desse hobby: os melhores produtos terem a ‘personalidade’ de seus criadores. E ouvirmos essas diferenças é o que nos permite saber o grau de percepção auditiva que temos.

Assim como o musicista, ao ouvir dois virtuoses tocarem a mesma obra, consegue reconhecer as sutis diferenças interpretativas, o audiófilo com seu ouvido treinado por longos anos ouvindo música não-amplificada, consegue perceber as nuances existentes entre setups bem ajustados e corretos.

O A-2 não soa igual os dois integrados citados, porém suas semelhanças com ambos são bastante evidentes – mas no que difere, o faz ser único. Assim como é o projetista de cada um desses três integrados.

Antes que achem que fumei algo ilícito, vamos aos exemplos práticos.

Ouvindo Passarim, faixa 7 do nosso Genuinamente vol. 2, em uma gravação primorosa do Mehmari em piano solo, os três integrados em termos de corpo harmônico são muito semelhantes, assim como o foco do instrumento entre as caixas. Em nossa sala, além do piano ser reproduzido muito próximo do seu tamanho real, você ‘vê’ as mãos direita e esquerda, podendo até apontar onde a mão se encontra no teclado.

Quando eu mostro essa faixa para explicar os quesitos corpo harmônico e organicidade, os que não tiveram essa experiência de ‘ver’ o que se ouve, entendem imediatamente esse efeito psicoacústico.

Se avaliarmos os três excelentes integrados por essa gravação, nesses dois quesitos, será impossível apontar diferenças audíveis.

Mas, e se quisermos avaliar diferenças de equilíbrio tonal, já que o Mehmari explorou magistralmente o instrumento e todas as oitavas?

Também você só irá observar diferenças muito pontuais, tipo: o V8 parece ter uma sustentação mais evidente da mão esquerda nas primeiras duas oitavas (as mais graves), porém o Norma, na região média do piano, parece ter maior transparência, e o A-2 nas duas últimas oitavas da mão direita, parece ter mais decaimento.

Mas em termos de equilíbrio tonal os três passam com louvor absoluto!

E as texturas, Andrette?

Sim, aqui as assinaturas sônicas de cada um tomam direções sutilmente distintas.

E no caso específico do integrado em teste, elas são apresentadas como se a paleta de cores dos instrumentos fosse com um pouco mais de luz.

Não a ponto de extrapolar o real, mas com uma vivacidade luminosa que, em determinadas gravações, faz do A-2 um integrado imbatível. E isso ocorreu no Genuinamente vol. 1 – faixa 4 – Uma Valsa e dois Amores, um duo de violão e violino, em que a última oitava do violino foi impecavelmente explorada e, para passar do ponto, basta um vacilo.

E mesmo que o integrado tenha uma boa nota de equilíbrio tonal, para executar essa faixa ele precisa muito mais do que o correto, pois essas notas agudas precisam soar com enorme respiro, decaimento suave, e não podem perder o brilho característico do instrumento.

Essa faixa, ao longo dos anos, gerou reclamações virulentas até. Pois realmente quis explorar o limite da capacidade de captação fidedigna (foram mais de duas horas até eu achar a altura ideal do microfone acima do violino para captar a exuberante sonoridade daquele lindo instrumento).

Resultado: em um sistema com excelente equilíbrio tonal, os agudos não irão endurecer ou ficar excessivamente brilhantes e desconfortáveis.

O A-2 levou ao limite do correto essa apresentação, e a qualidade da textura do violão e do violino foi exemplar!
Diria que nesse exemplo o A-2 foi um passo à frente dos outros dois.

O que importa com esses dois exemplos que dei, é que em produtos acima de 100 pontos o ouvinte terá a possibilidade de escolher com total segurança a assinatura sônica que mais lhe ‘toca’, sem riscos de estar fazendo uma escolha errada.

É isso que tentamos há muitos anos escrever mensalmente a respeito das vantagens de se buscar produtos Estado da Arte, e ter a capacidade de juntar as peças na formação de um sistema digno de todo nosso empenho financeiro e expectativas na busca do sistema dos sonhos.

E a boa notícia é que os integrados têm feito esse papel com enorme maestria e competência. Permitindo se pular muitas etapas em upgrades e custos excessivos.

Quem me lê há muitos anos, sabe da minha frase recorrente: ‘menos é mais’. E não vejo peça que se encaixe mais literalmente nesse conceito que um excelente integrado Estado da Arte.

Muitos me perguntaram no Workshop se escolher um integrado, simplifica a busca e diminui os riscos de erro?
Evidente que sim!

Pois definindo a assinatura sônica que você mais deseja no integrado e na caixa acústica, você simplesmente resolveu 80% da equação.

Então, meu amigo, se você ainda tem um pé atrás com integrados, está na hora de você rever essa convicção! Pois esses componentes evoluíram tanto, que não olhar atentamente para eles é um erro grosseiro.

O Soulnote A-2 tem todos os requisitos que um setup Estado da Arte necessita: Equilíbrio tonal excepcional, um soundstage capaz de lhe dar uma imagem sonora 3D com planos, foco, recorte e ambiência de nível superlativo! Texturas imensamente detalhistas e com um grau de intencionalidade absurdo! Transientes que facilitarão o acompanhamento sem nenhum esforço de tempo e ritmo! Dinâmica, tanto macro quanto micro, que colocam dezenas de prés e powers em apuros! Corpo harmônico referencial!

E materialização física do acontecimento musical, mesmo de gravações medianas (como uma coletânea da Sade que minha filha adora). Em gravações tecnicamente bem-feitas, prepare-se meu amigo, pois os músicos estarão mesmo na sua sala (como no CD Anhelo do tenor José Cura).

CONCLUSÃO

Nesses últimos dois anos desfilaram nas páginas da revista excelentes amplificadores integrados – e mostramos 5 no nosso Workshop, e certamente mostraremos de cinco a seis na próxima edição do evento em abril do próximo ano (leia seção Eventos nesta edição).

Pois me tornei um defensor e admirador nato dessa opção para a realidade dos audiófilos no mundo. Pois os espaços são cada vez menores, os custos dos ultras-hi-end cada vez mais proibitivos para nós ‘mortais’ e, felizmente, os fabricantes ‘sensatos’ entenderam que existe uma legião de amantes da música que também merecem ser atendidos.

A concorrência é sempre salutar, e termos integrados do nível do Soulnote agora no Brasil, é uma excelente notícia, pois ele irá se juntar a outros já estabelecidos aqui.

Quem ganha somos todos nós, ao termos opções tão significativas que nos permitem continuar sonhando na busca do sistema definitivo para ouvir nossa música diariamente.

O A-2 consegue um grau de inteligibilidade com um conforto auditivo impressionante.

Se isso é tudo que você deseja para o seu sistema, venha escutá-lo no nosso próximo Workshop – ou se você não consegue esperar até abril, peça uma demonstração para o distribuidor.

As chances de você se convencer é extremamente alta, acredite!


PONTOS POSITIVOS

Uma coerência em todo o conjunto impressionante.

PONTOS NEGATIVOS

Nada.


ESPECIFICAÇÕES

Potência de saída• 100W ×2 (8 ohms)
• 200W ×2 (4 ohms)
• 400W (BTL MONO 8 ohms)
Distorção harmônica total0.03% (50W, 8 ohms)
Resposta de frequência3Hz a 240kHz (±1.0dB) (8 ohms, 1W)
Sensibilidade / impedância das entradas• LINE 1, 2, 3 (Balanceada): 700mV / 16kohm
• LINE 4, 5, 6 (RCA): 700mV / 8kohm
Relação sinal/ruído110dB
Consumo355W (125W ocioso)
Dimensões (L x A x P)430 × 160 × 423 mm
Peso20kg
Acessórios inclusosControle remoto, Spikes
AMPLIFICADOR INTEGRADO SOULNOTE A-2
Equilíbrio Tonal 14,0
Soundstage 14,0
Textura 14,0
Transientes 14,0
Dinâmica 13,0
Corpo Harmônico 14,0
Organicidade 14,0
Musicalidade 14,0
Total 111,0
VOCAL                    
ROCK, POP                    
JAZZ, BLUES                    
MÚSICA DE CÂMARA                    
SINFÔNICA                    
ESTADO DA ARTE SUPERLATIVO



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