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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Essa pergunta, me faço constantemente. E ainda que conheça alguns raros exemplos, acho que o número de vezes que isso ocorre é, ainda, infinitamente menor do que deveria.

Mas afinal o que é Metanoia? É a ação de mudar de ideia ou pensamento, ou seja, deixar de seguir ou acreditar em determinadas coisas para vivenciar um novo modo de enxergar o que acreditamos e defendemos.

A metanoia pode ser mudanças de vida no intelecto, no emocional e até mesmo no espiritual.

Vista pelo ponto de vista da psicologia, a metanoia é a mudança que o indivíduo sofre no seu modelo mental de interpretar o mundo, em um processo que muitas vezes pode ser tão profundo, que altera a psique da pessoa.
O problema é que a metanoia pode tanto expandir a consciência, como limitá-la.

A palavra tem origem no grego – metanoiein, que é formada a partir da união de ‘metá’ (depois) e ‘νοῦς’ que seria algo como pensamento ou intelecto. Conotando literalmente a capacidade de mudarmos o próprio pensamento.

Dizem os mais otimistas que o processo de metanoia bem-sucedido, pode algumas vezes levar a um estado de epifania, que do ponto de vista filosófico significa uma sensação profunda de realização, no sentido de compreender a essência das coisas. Dando a quem viveu uma epifania, a sensação de que algo essencial foi respondido ou resolvido.
Eu não diria que um audiófilo que passe pela metanoia, mergulhe tão profundamente. Mas… como todas as regras existem exceções, quem sabe, isso até possa ocorrer.

Para mim já me dou por satisfeito quando um objetivista ortodoxo, daqueles por anos a fio defendem suas ideias, tenha a oportunidade através da metanoia de rever a fundo suas crenças e mitos.

E esse foi o caso de uma metanoia bem-sucedida, que levou o famoso articulista Gordon Brockhouse a rever inúmeras de suas opiniões, principalmente as em relação a cabos.

Esse deve ser sem dúvida alguma o tema mais recorrente que escuto, desde o final dos anos 80, quando audiófilos do mundo todo substituíram seus fios brancos de campainha por cabos de caixa manufaturados especificamente para essa finalidade.

Mas deixarei o próprio Gordon contar sua trajetória:

“O debate de cabos sempre foi muito intenso. E não existe uma maneira mais segura de iniciar uma guerra de chamas em um fórum de áudio e vídeo, do que levantar essa questão”.

“Para mim, a maioria das explicações sobre como os cabos de áudio fazem sua mágica, sempre beirou a bizarrice. Pois os fabricantes de cabos usam uma tonelada de palavras em sua literatura, confundindo nossos cérebros, e com termos absolutamente sem nenhuma precisão”.

“Depois, há os preços. No extremo alto, um par de interconexões ou cabos de alto-falantes que podem custar tanto quanto um carro de nível básico, ou até mesmo de luxo. Igualmente controverso é o benefício de cabos de energia caros, que quando conectados à parede na tomada, ficam em série com todos os fios do outro lado da parede, em todo o caminho de volta para o poste. O pequeno comprimento do cabo de energia da parede até o amplificador é insignificante comparado aos quilômetros de fio aos quais ele está conectado”.

“Sou cético há muitos anos, mas ultimamente tenho vacilado”.

Antes de continuar seu testemunho, é importante dizer que essas frases aqui colocadas, é uma colagem de suas críticas defendidas em vários de seus artigos, por anos.

Até que ele se deu o direito de fazer suas próprias experiências em seu sistema, e solicitou o envio a dois fabricantes de cabos americanos conceituados, sets que ele pudesse ficar por meses, e também a um outro fabricante seus condicionadores de energia.

Continuemos…

“Durante a maior parte de minha vida audiófila, utilizei basicamente cabos feitos por mim 14 ou 16 AWG, para conectar alto-falantes, e cabos RCA genéricos para conectar componentes e fontes”.

“Embora eu aceite que os condicionadores me pareçam menos exóticos que cabos hi-end, também sou cético em relação a eles. Pois uma fonte bem projetada em um amplificador não deveria ser capaz de fornecer toda energia especificada pelo fabricante?”.

“E essa mesma fonte não deveria filtrar qualquer ruído espúrio antes que ele atinja os trilhos de tensão do amplificador?”

“Com tantas perguntas, eu comecei a desejar experimentar em meu sistema cabos premium, com minha própria música de referência”.

“O que me agradou é que todos os fabricantes me deixaram à vontade para fazer todos os testes que tinha em mente”.

“Hora de ouvir”…

“Originalmente eu tinha planejado ouvir produtos de apenas um fabricante de cabos e um de condicionadores. Mas ambos os sets de cabos chegaram simultaneamente”.

Ouvindo o fabricante de cabos A:

“Houve uma transformação no meu som de imediato. Tocando uma variedade de álbuns de jazz e clássicos que conheço bem, notei maior velocidade e clareza, maior refinamento e delicadeza. A dinâmica foi melhorada, o fundo ficou mais preto, e o som ficou mais puro, com menos granulação. Um ouvinte casual pode não notar ou se importar com essas melhorias, mas acho que qualquer audiófilo ou amante de música notará”.

“Os condicionadores chegaram alguns dias depois, houve uma melhora ainda maior na escuridão, velocidade e especialmente na dinâmica. Não apenas os transientes eram mais rápidos, como a sustentação e o decaimento eram mais naturais”.

“A combinação de novos cabos e condicionador de energia, tornou mais fácil separar diferentes partes da música. Um caso em questão é o MGV, do Michael Nyman, composto para o lançamento de Train à Grande Vitesse, da França – esta maravilhosa trilha sonora recria os ritmos e sons de uma viagem de trem, e com os cabos ainda do fabricante A e o condicionador, meu sistema abriu essas camadas de uma forma que eu nunca tinha ouvido”.

“Houve uma melhora marcante nos graves, os graves eram mais impactantes e articulados, e também melhorou a integração com as caixas”.

“Além de melhorar a inteligibilidade e a resolução, esses complementos tornaram a música mais orgânica, mais completa. E soou maior. Lembro-me de ouvir Sir Colin Davis regendo a Segunda Sinfonia de Elgar, no Barbican Hall de Londres, e pensar comigo mesmo que a grandeza é o que separa o som reproduzido de grandes eventos ao vivo. Embora meu sistema não soasse como o Barbican – grande – com esses aprimoramentos, o som assumiu uma escala diferente”.

“A imagem estéreo também melhorou, especialmente em precisão, com os músicos sendo mais firmemente delineados no espaço entre e atrás das caixas.”

“Esses cabos estavam me fazendo enganar a mim mesmo, para ouvir o que eu ‘via’? Eu tinha engolido um placebo de cabos? Descobri uma semana depois, quando restaurei meu sistema ao seu estado original: Voltando os cabos, primeiro o de alto-falantes, o som ficou um pouco mais velado e um pouco menos dinâmico. Voltando ao cabo USB, o som ficou mais manchado e menos envolvente, e menos dinâmico também”.

“Depois voltei os cabos de força originais, e notei que os transientes nos ataques ficaram lentos e a dinâmica ficou menos emocionante. E tirando o condicionador, o som ficou mais velado e granulado. Os transientes ficaram ainda mais opacos, e a apresentação geral ficou menor.”

“Dez minutos depois, eu queria todos de volta. Reconectando tudo novamente, a experiência auditiva se tornou mais um evento musical, em oposição a uma sucessão de sons. Os detalhes foram renderizados de forma mais convincente, com maior expressão. Agora eu estava mais ciente da técnica musical e da intenção do artista”.

Ouvindo os cabos do fabricante B:

Com a troca do set de cabos do fabricante A para o B, eis o relato: “Achei que os produtos do fabricante B soaram um pouco mais neutros e precisos, enquanto o set A, mais dramático, um pouco maior e mais arredondado”.

“Então, depois de beber todo esse Kool-Aid de cabos, o que eu acho disso?”

“Eu gosto! Esses produtos transformaram o som do meu sistema, a ponto de eu querer que eles sejam uma parte permanente da minha configuração. Em vez de mudar o caráter geral dos meus componentes, eles pareciam desbloquear seu verdadeiro potencial”.

“Vou colocar meu dinheiro onde estão minhas palavras! Depois de ouvir o que ouvi, não posso voltar ao status quo de antes. Se isso me faz ser um convertido, que assim seja”.

Observação: Este artigo foi originalmente publicado na edição impressa de abril de 2015 da WiFi HiFi Magazine – e o debate, no entanto, continua até hoje.

Esse articulista certamente sofreu uma metanoia completa, e nos leva a interessantes questões a serem levantadas.
O que impede outros objetivistas ortodoxos de se submeterem ao mesmo processo? Ao seu tempo, em sua sala, com seu sistema e suas músicas de referências.

Claro que, para muitos ortodoxos que acreditam que as medições falam tudo que precisam saber a respeito de todo equipamento, passar por esse escrutínio seria perda de tempo.

Porém, sempre é da natureza humana ter dúvidas, e a melhor maneira de buscar respostas e saber se é apenas placebo ou não, é fazendo como esse articulista fez.

Quando ouço objetivistas ortodoxos repetindo pela milésima vez que rasgariam seus diplomas caso se prove que cabos soam diferentes, costumo lembrá-los que alguns já se arriscaram a fazê-lo, e voltaram atrás quando escutaram que existem diferenças, e que elas são perfeitamente audíveis.

O que precisa são apenas exemplos bem definidos, e um sistema bem ajustado.

É indolor e libertador – acreditem!

Pois ter a oportunidade de rever conceitos, é uma das mais profundas realizações pessoais possíveis.

Se quiser fazer parte dessa legião de audiófilos dispostos a ampliar seu grau de Percepção Auditiva, em abril de 2025 haverá uma excelente oportunidade!

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