Teste 2: CAIXAS ACÚSTICAS BLUEKEY ACOUSTICS MODEL 1

Teste 3: AMPLIFICADOR INTEGRADO REGA ELEX MK4
outubro 7, 2024
Teste 1: PRÉ-AMPLIFICADOR AUDIOPAX REFERENCE
outubro 7, 2024

Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

O Francisco, CEO da Bluekey Acoustics, foi um assíduo frequentador de nossas turmas do Curso de Percepção Auditiva, chegando a fazer o ciclo completo, antes de se mudar para o Canadá e lá fazer uma sólida carreira no mercado financeiro.

Mas como todo audiófilo ’picado pelo hobby’, nunca deixou de desejar produzir suas próprias caixas acústicas, e ao se aposentar do mercado financeiro, iniciou essa nova jornada primeiro no Canadá e, agora que retornou definitivamente ao Brasil, resolveu estabelecer a Bluekey aqui e exportar para o Canadá essa sua nova geração de caixas (que espero que não fique apenas na Model 1).

Ouvi ainda um dos primeiros protótipos da Model 1, e fiquei muito surpreso com seu potencial, detalhes técnicos e o seu cuidado com pormenores, como um acabamento de primeiro mundo.

Nessa rápida audição, ele me lembrou o quanto os Cursos de Percepção Auditiva o ajudaram a estabelecer um ‘norte’ para suas ideias, e buscou aplicar todos os quesitos da Metodologia no desenvolvimento da caixa.

É reconfortante saber que muitos de nossos leitores acreditam e utilizam a Metodologia tanto no ajuste de seus sistemas, como em alguns casos também no desenvolvimento de produtos.

Do protótipo que escutei, pontuei o que achava que poderia ainda ser aprimorado, mas reiterei que ele precisaria ajustar sem perder o que havia alcançado, pois já estava em um alto nível!

Ele, além de muito disciplinado, mostra ter muita determinação em buscar o que julga ser importante para o aprimoramento do produto final.

E só ouvi o produto acabado horas antes da abertura do nosso Workshop deste ano, e gostei do que ouvi, principalmente por ser em uma sala muito distinta da nossa Sala de Referência.

Mas o Francisco, mesmo com a excelente repercussão que teve no evento, não se deu por convencido, e ainda realizou mais uma mudança, escolhendo por um tweeter de neodímio na caixa enviada para teste.

Posso assegurar que sua escolha não poderia ter sido mais assertiva, e com resultados audíveis muito superiores aos que ouvi no Workshop.

Eu apelidei a Model 1 de ‘big book’, pois realmente suas dimensões são ‘significativas’. Lembra esteticamente as caixas dos anos 70, que eram colocadas nos cantos da sala. Mas a comparação acaba aí, pois a Model 1 não tem nada do som vintage das caixas dos anos setenta, em que os graves eram letárgicos, com baixa resolução e ultra coloridos.

A Model 1 da Bluekey utiliza um potente woofer de 15 polegadas com resposta a partir de 35 Hz, que responde até 1.9 kHz, quando o tweeter de compressão com um diafragma de 1.7 polegadas passa a responder até 21 kHz.

O tweeter com imã de neodímio é uma corneta Estado da Arte, que produz uma resposta plana dos médios aos agudos.

A Model 1 possui dois crossovers montados em placas separadas e afixados em paredes opostas do gabinete, com o objetivo de obter a máxima separação entre os sinais. Ambos os crossovers são montados a mão e soldados ponto a ponto, e todos os componentes são adquiridos na América do Norte e Europa.

Montados com dois pórticos frontais, o usuário pode até deixar as caixas mais perto da parede atrás delas.

O gabinete inteiramente feito no Brasil, é produzido com placas de MDF de 18 mm com juntas de 45 graus para dar máxima rigidez e vedação total. O painel frontal tem espessura de 36 mm para suportar o peso dos drives e controlar integralmente as vibrações do gabinete.

O acabamento pode ser escolhido pelo cliente, com um valor adicional. E a Model 1 possui um acabamento padrão nogueira canadense.

Segundo o fabricante, essas são as especificações técnicas: modelo Bass-Reflex com dois pórticos frontais, caixa de duas vias, woofer de cone de papelão de 15 polegadas e bobina de 100mm. Driver de compressão com diafragma de 1.7 polegadas (44 mm), com polímero de Ketone e bobina de neodímio, em uma corneta de diretividade constante com assimetria horizontal. O fabricante indica amplificadores com mínimo de 10 a um máximo de 300 Watts RMS (porém tenho algumas observações a fazer mais adiante, em minhas avaliações). A resposta de frequência é de 40 Hz a 21 kHz (em +-3 dB) e de 35 Hz a 21 kHz (em +-6 dB). Impedância nominal de 8 ohms (mínimo de 7 ohms a 140 Hz), sensibilidade de 94 dB (2,83V@1m), frequência de crossover: 1.9 kHz. Terminal de caixa único banhado a ouro para plugue banana e spade. Dimensões: 88(A) (1.10m com pedestal e spike) x 50(L) x 34(P) em cm. Peso: 40 Kg cada sem pedestal.

Para o teste utilizamos os seguintes integrados: Fezz Audio Titania (leia teste na edição 308), Soulnote A-3 (leia teste na edição de dezembro de 2024), e Norma IPA-140 (leia teste edição 306). Pré de linha Audiopax Reference (leia Teste 1 nesta edição), powers Nagra HD, DAC Wandla da Ferrum Audio (leia teste na edição 309), e Nagra TUBE DAC. Streamer: Innuos ZENmini Mk3, e Nagra Streamer (leia teste edição Melhores do Ano em Janeiro/Fevereiro de 2025). Setup Analógico: toca-discos Origin Live Sovereign Mk4, braço Enterprise Mk3, pré de phono Soulnote E-2. Cabos de caixa: Virtual Reality Trançado, e Dynamique Audio modelo Apex.

O Francisco nos fez a gentileza de enviar as caixas integralmente amaciadas, o que possibilitou fazermos juntos uma breve audição, ligadas ao integrado Soulnote A-3, com o streamer da Nagra ligado ao TUBE DAC, e acalmá-lo pois o homem estava ansioso para ver como o projeto finalizado iria soar na nossa Sala de Referência.

Saiu tranquilo e feliz com o que ouviu, e certo de que fez a lição de casa com louvor!

É uma bela caixa, amigo leitor, e portanto exigente com seus pares, caso o comprador queira extrair todo seu potencial.

Antes de descrever minha avaliação, farei dois adendos que julgo serem importantes.

Esqueça powers de 10 Watts, para mover adequadamente esses drives com competência e refinamento será preciso bem mais que 10 Watts! Para uma sala padrão acima de 16m (o mínimo que essa caixa exige), diria que pelo menos 50 Watts em 8 ohms serão necessários.

Para que a caixa tenha folga nas passagens macro-dinâmicas e o equilíbrio tonal não seja prejudicado nas audições na madrugada ao pé do ouvido.

Entenderam o recado?

Elas tocam divinamente em pianíssimo, com um equilíbrio tonal correto, e você ouvirá os graves presentes, uma região média e agudos com excelente inteligibilidade, mas precisam de Watts de reserva para essa beleza acontecer.

Aqui os melhores resultados foram com o integrado Norma, com seus 140 Watts em 8 ohms, e os Nagras com seus 250 Watts em 8 ohms. Aí, meu amigo, consegui tanto na macro quanto na micro extrair o sumo do sumo!

Seus graves são muito interessantes, pois possuem definição, corpo, peso, energia, deslocamento de ar e o mais importante: velocidade.

Se você gosta de grave batendo no peito, ou escorrendo pelo chão até você sentir no encosto da poltrona o deslocamento de ar, você veio ao lugar certo!

Mas, como disse, nenhuma semelhança com os ‘armários’ encostados nos cantos nas salas dos anos setenta, em que o bumbo batia, você ia ao banheiro, voltava e ele ainda estava soando, rs.

Aqui os graves terão autoridade e controle. Se você entende que caixas hi-end atuais proporcionam esse grau de ‘fidelidade’, ótimo!

Me surpreendi como o Francisco conseguiu ajustar esse woofer para responder até 1.9 kHz com esse grau de inteligibilidade, e equilíbrio, sem colorir a alta ou perder velocidade. Um mérito e tanto, pois costumo ouvir esse grau de ‘encaixe’ na passagem para o tweeter, em 1.9 kHz, em woofers de 8 polegadas e não de 15 polegadas.

E aí vem a melhor surpresa, a corneta não soa como a esmagadora maioria das cornetas, que são anasaladas. Vozes, instrumentos de sopro (madeiras) soam muito naturais e com seus timbres absolutamente preservados.

Você não nota a passagem de um falante para o outro, pois é feita de maneira muito correta (outro grande mérito do projetista).

A região média soa com enorme inteligibilidade e excelente equilíbrio tonal. Zero de fadiga auditiva, mesmo em volumes de gravações corretos e por longos períodos de audição.

E os agudos também não soam como a maioria das cornetas, com excesso de brilho ou dureza.

Ouvi exemplos críticos, como: piccolo na última oitava, órgão de tubo, pianos solo, trompete com surdina, sax soprano, e inúmeros pratos de condução. E não escutei nada passando do ponto ou incomodando nas altas frequências.
Aí você deve imaginar o seguinte: talvez o projetista tenha feito um corte acentuado, nas altas, para dar esse conforto auditivo. E minha resposta: se ele tivesse optado por essa escolha, sua caixa não teria esse decaimento tão suave, que nos permite ouvir em detalhes as ambiências de qualquer gravação.

Outra característica, quando o projetista faz essa escolha de atenuar o brilho nas altas, é o escurecimento da última oitava de todos esses instrumentos citados. E isso também não ocorre nas Model 1.

Acho que o mérito dessa correção passa pelas escolhas feitas nos componentes do crossover de alta, cabos e, claro, da própria corneta com imã de neodímio.

Pois essas trocas pontuais feitas no protótipo que ouvi é que deram esse salto final, não tenho dúvidas disso!

O soundstage será um ponto crítico no posicionamento dessas caixas. Então, meu amigo, pense que pelo seu tamanho elas precisarão de respiro entre elas e as paredes. Pois aqui, foi uma briga de dois dias para se atingir o ponto de ajuste fino ideal entre foco, recorte e profundidade.

Você não terá 100% desses três quesitos, se sua sala não tiver respiro para as caixas. Então minhas dicas são: pelo menos 1m da parede às costas das caixas, mínimo de 2.80m entre elas, e pelo menos 60 cm das paredes laterais.
Aqui, para extrairmos o sumo integral, elas ficaram a 1.80m da parede às costas e 1m das paredes laterais, voltadas para o ponto ideal de audição, e 4 metros de tweeter à tweeter.

Aí consegui um palco primoroso!

Elas não gostam de toe-in acentuado, então faça essa angulação para o ponto ideal com calma. Use vozes para esse ajuste. Quando a voz estiver focada perfeitamente ao centro entre as caixas, soando para trás delas (sempre), aí você achou o ângulo de toe-in correto.

Aí é ouvir gravações que tenham profundidade para ver o que se consegue extrair, sem perder o foco já alcançado.
Dá trabalho? Muito, mas o resultado é muito gratificante!

As texturas são impecáveis! Tanto em termos de apresentação de paletas de cores dos instrumentos, como da qualidade e da técnica dos músicos e do engenheiro de gravação.

Você ficará surpreso com o grau de informação que a Model 1 extrai em termos de informações para você.
Os transientes são de caixas Estado da Arte, precisos em tempo, andamento e ritmo!

Você irá se entusiasmar em ouvir um Dire Straits, por exemplo, e sentir a pulsação rítmica penetrando em sua pele, nervos e ossos!

A dinâmica, como já cantei a bola, dependerá do amplificador ter ou não fôlego e folga para entregar a encomenda. Se tiver, a Model 1 responderá com folga o que recebeu.

E sua micro-dinâmica é excelente, graças ao seu grau de transparência e silêncio de fundo.

Se queres saber o tamanho de um bumbo, ouça a Model 1. De um contrabaixo acústico, idem!

Como diz nosso querido colaborador Christian Pruks: “Nada como um bom e bem projetado falante de 15 polegadas!”
Realmente, a Model 1 em termos de corpo harmônico tem muito o que ensinar – à muita caixa torre slim com dois ou três woofers de 6 polegadas – o que é um corpo harmônico de um contrabaixo, quando bem gravado.

Foi um deleite ouvir todos os exemplos utilizados para fechar a nota neste quesito, só para se apreciar com a qualidade da reprodução desses instrumentos!

Organicidade, aqui novamente o resultado dependerá mais da qualidade de gravação, do que da caixa em si. Mas se a gravação estiver à altura deste quesito, sim, você terá o acontecimento musical materializado à sua frente!

CONCLUSÃO

É tão gratificante, em uma mesma edição, poder compartilhar nossas impressões de dois produtos nacionais tão expressivos e significativos para a mudança de patamar dos produtos hi-end produzidos no País.

Como escrevi no editorial desta edição, não tenho dúvidas que estamos vivendo o ‘apogeu’ de produtos hi-end Made in Brazil!

E que venham muitos mais no próximo Workshop, e que possamos compartilhar com todos vocês essas descobertas tão importantes para o nosso mercado.

A Model 1 da Bluekey Acoustics é uma caixa admirável, e que pode perfeitamente atender desde o audiófilo iniciante até o mais rodado, que deseja uma caixa que tenha qualidade, requinte e refinamento suficientes para um sistema definitivo.

Espero que todos que lerem esse teste, visitem o espaço da Bluekey no próximo Workshop e descubram o quanto essa caixa é encantadora e surpreendente!


PONTOS POSITIVOS

Uma caixa com uma relação custo/performance excelente.

PONTOS NEGATIVOS

Pelo seu tamanho e refinamento, precisa de redobrados cuidados para se extrair todo seu enorme potencial.


ESPECIFICAÇÕES

TipoCaixa 2 Vias Bass-Reflex com dois pórticos frontais
WooferCone de papelão de 15 polegadas com bobina de 100mm
TweeterDriver de compressão com diafragma de 1.7 polegadas (44 mm), com polímero de Ketone e bobina de neodímio, em uma corneta de diretividade constante com assimetria horizontal
Amplificação sugeridaDe 10W a um máximo de 300 Watts RMS
Resposta de frequência• 40 Hz a 21 kHz (em +-3 dB)
• 35 Hz a 21 kHz (em +-6 dB)
Impedância nominal8 ohms (mínimo de 7 ohms a 140 Hz)
Sensibilidade94 dB (2.83V@1m)
Frequência de crossover1.9 kHz
Terminais de caixaUm par banhado a ouro – para plugues banana e spade
Dimensões (L x A x P)50 x 88 x 34 cm (1.10m de altura com pedestal e spike)
Peso40 Kg cada (sem pedestal)

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