Vinil do Mês: RAUL DE SOUZA – SWEET LUCY (CAPITOL / EMI, 1977)

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outubro 7, 2024
Eventos: WORKSHOP HI-END SHOW 2025
outubro 7, 2024

Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Todo mês um LP com boa música & gravação

Gênero: Jazz-Funk / Jazz-Fusion

Formatos Interessantes: Vinil Importado

A carreira do trombonista brasileiro Raul de Souza é um daqueles casos claros onde o músico brasileiro é mais valorizado no exterior do que aqui no Brasil.

Não me entendam de maneira errada: seu merecimento de uma carreira rica internacional é pleno. E ele sempre demonstrou seu amor pelo Brasil em sua música. O caso é que ele teve melhores oportunidades no exterior, trabalhando muito com grandes instrumentistas de jazz que tinham a nossa música, também, muito
valorizada – como é o caso do pianista, tecladista e produtor musical americano George Duke, que produziu dois dos discos de maior sucesso de Raul de Souza nos EUA (e Europa, e Japão), na década de 70.

Duke e Souza tiveram uma grande amizade, de vida toda, e tiveram várias cooperações e participações – porque Raul de Souza era considerado, no meio do jazz americano (e do chamado Jazz Latino, samba-jazz e Jazz Brasileiro) como um músico top em seu instrumento, e que até hoje é estudado por sua técnica ao trombone. Esse período, inclusive, trouxe a inserção de seu nome no livro The Encyclopedia of Jazz in the Seventies, dos críticos americanos Leonard Feather e Ira Gitler.

Selo do Disco

Raul também foi o inventor do Souzabone, um trombone com 4 válvulas, em vez de 3, o que lhe dava uma sonoridade diferenciada – e Duke definiu sua sonoridade como “uma mistura de trombone tenor com trompa”. O fato é que a quarta válvula também estava ligada com um captador, o que permitia conectar o Souzabone em pedais de efeito, como delay, wah-wah e oitavador.

Os destaques na carreira de Souza no Brasil começaram no final da década de 50, quando trabalhou com Baden Powell e Sivuca na Turma da Gafieira, no Rio de Janeiro – assim como gravou e participou de turnê com Sérgio Mendes no grupo Bossa Rio, e tocou no A Turma da Pilantragem, em São Paulo, no final da década de 60.

Os anos 70 – já em Los Angeles – foram seu período mais rico musicalmente, e de maior sucesso, quando trabalhou para o percussionista Airto Moreira e sua esposa, a cantora Flora Purim, e tocou no grupo de jazz latino Caldera. Airto já havia trabalhado com Miles Davis e outros luminares do jazz americano da época, e através dele Souza conheceu George Duke, em 1974, e iniciou-se a parceria.

O primeiro disco de Souza nos EUA foi Colors, de 1975, produzido por Airto Moreira, e com um time muito invejável composto de: Cannonball Adderley no sax alto, Jack DeJohnette na bateria, Richard Davis no contrabaixo, e com arranjos escritos pelo trombonista J.J. Johnson!

Sua amizade e respeito (mútuo) com muitos músicos de jazz americanos de primeiro time, foi inegável. Inclusive, quando tocava no Bourbon Street Festival em Paraty, foi procurado por Stanley Clarke só “porque George Duke havia lhe mandado um abraço” caso o encontrasse. E nos anos 70, segundo a lenda, Souza se recuperava de um acidente quando Sonny Rollins apareceu no hospital, incognito, trazendo-lhe frutas.

Outro ‘causo’ dá conta de que George Duke era tão fã da música brasileira, que toda a vez que Raul tentava lhe apresentar um novo disco, Duke já tinha o vinil em sua prateleira! Souza chegou a dizer que George Duke conhecia muito mais música brasileira que ele mesmo!

O disco Sweet Lucy (Capitol, 1977) é o primeiro dos dois discos produzidos por George Duke (o segundo foi Don’t Ask My Neighbors de 1978) e foi o grande sucesso mundial de Raul de Souza, vendendo mais de 300.000 cópias em todo o mundo, fazendo sucesso em todos os continentes.

Sweet Lucy é altamente influenciado pelo funk americano da década de 70, mas traz um bocado de jazz e um bocado de Brasil na mistura.

Contracapa

O disco é conciso, bem coerente – tipo de disco que dá para curtir inteiro. Exceto por uma faixa, literalmente um ‘abacaxi’ chamado New Love (Canção do Nosso Amor), onde Raul ‘se aventura’ a ‘cantar’. A crítica diz que, na faixa, “Raul de Souza tenta cantar”, e afirma que ele “já canta através de seu trombone” – meio que passando a ideia de “melhor ele nem tentar cantar de novo”. Eu mesmo já arremedo que o inglês dele, nessa faixa (sim, ele tenta cantar em inglês, ainda por cima) é absolutamente terrível! Então, você pode curtir, e muito, musicalmente todas as outras sete faixas, e rir um bocado com New Love (Canção do Nosso Amor)… rs…

A equipe de músicos que acompanha Souza e Duke neste disco é bastante boa. Além das faixas de autoria de Souza, o próprio George Duke assina a composição de algumas e o arranjo de outras – assim como há uma faixa de João Donato e uma de Lonnie Liston Smith. Entre os músicos: Raul de Souza no trombone e vários tipos de percussão, Freddy Hubbard no trompete e flugelhorn, Ian Underwood ao sintetizador, Dawilli Gonga e Patrice Rushen no piano elétrico, sintetizador e piano Rhodes. Além de Al McKay na guitarra, Byron Miller e Embamba nos baixos, Leon ‘Ndugu’ Chancler na bateria, Airto na percussão, e Deborah Thomas, Lynn Davis, Sybil Thomas e Victoria Miles nos vocais de apoio.
João José Pereira de Souza nasceu no Rio de Janeiro em 1934, em uma família bastante pobre. Sua escolha pelo trombone de válvula – também chamado de trombone de pisto – foi por necessidade econômica, pois a família não conseguiu meios para comprar o saxofone, seu sonho. E foi com o trombone que ele galgou o sucesso e o reconhecimento musical.

Raul de Souza e seu Souzabone

Inclusive, seu nome “Raul” (homenagem ao trombonista brasileiro Raul de Barros) foi um apelido dado por Ary Barroso, famoso compositor de Aquarela do Brasil. Barroso dizia que João não era ‘nome de trombonista’, então Souza passou a ser chamado de Raulzinho do Trombone e, depois, simplesmente Raul de Souza.

Sua trajetória musical levou Raul do Rio de Janeiro à São Paulo, à Los Angeles, às turnês e ao reconhecimento pelo mundo, à Boston e à Nova York. Em seus últimos anos de vida, Raul de Souza vivia entre Brasil e Paris, onde morava há mais de 20 anos, e onde faleceu em 2021.

Para quem é esse disco? Para todos os fãs de trombone na música brasileira, no jazz e no funk americano da década de 70. E para todos os fãs do trabalho de Raul de Souza, e da extensa obra e produções de George Duke.

Raul de Souza & George Duke

Prensagens boas? Este não é um disco muito fácil de achar, pois só foi prensado em vinil na década de 70 e começo de 80. Vi algumas cópias em prensagem nacional para vender por preços extorsivos (o mundo dos preços de LPs usados está viajando tanto na maionese que logo serão patrocinados pela Hellmann’s) – e como não sei como toca uma prensagem nacional (podem até ser boas!), não tenho como recomendá-las. Claro que, prensagens americanas, uma alemã de 1977 ou 78 (EMI), ou uma japonesa de 1978 (Capitol), são as melhores opções – junto com a rara remasterização audiófila da ATR Mastercut Recording, feita e prensada na Alemanha em algum ano entre o fim da década de 70 e a década de 80 (esqueceram de por o ano na capa desta edição), que tem qualidade superior graças à uma nova transcrição feita da fita master original direto para a máquina de corte, em equipamentos de alta performance, sem alterações como filtros ou limitadores, trazendo maior clareza, dinâmica e resposta de frequência.

Bom outubro a todos – com muita música!

Ouça um trecho da faixa Sweet Lucy, no YouTube.

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