Fernando Andrette
Você lembra quando o CD, nos anos 80, desbancou o LP e as pessoas saiam vendendo seus discos a preço de banana (quando a banana ainda era barata)?
E por trinta anos os amantes do vinil puderam construir uma discoteca robusta, comprando em sebos de discos LPs bem conservados por preços justos?
Eu fiz isso, amigo leitor, comprei mais de 500 discos nesse período, antes que o vinil voltasse a estar debaixo dos holofotes e passar a custar valores exorbitantes.
E a partir do final da primeira década do século 21, esse fenômeno voltou a ocorrer com o CD, ao ser atropelado pelo streamer no mundo.
Ainda estou montando minha coleção de música clássica basicamente só com CDs, e em uma década minha CDteca triplicou de tamanho, ocasionando um grande problema de armazenamento e espaço. Comprei, nesse tempo, coleções e boxes completos que, quando lançados, custavam até inacreditáveis 2000 dólares! E paguei por essa mesma coleção recentemente 500 reais!
Só que, como todo mercado, quando a demanda aumenta e a oferta é limitada, os preços sobem. Ainda assim, você consegue comprar muito bons CDs importados por 25 reais e nacionais por 12 a 15 reais.
E, ao contrário de todas as correntes que defendem o Streamer como no mesmo nível do CD, continuo a ser uma voz solitária e discordante. E mostrei na nossa Sala no Workshop Hi-End Show o motivo de ainda, para mim, a mídia física quando apresentada em alto nível, ser incrivelmente sedutora e realista!
Então, é claro que toda vez que puser as mãos em um bom CD-Player ou transporte a preços mais ‘realistas’, e com uma performance consistente, irei como diz um grande amigo: “bater bumbo” para esse produto!
Não acho que eu seja o personagem Dom Quixote de Cervantes, lutando contra os ‘moinhos de streamer’ que predominam atualmente.
Esperançoso de encontrar leitores que ainda amam suas mídias físicas, e estão lutando para mantê-las em um lar musical, eu descobri esse incrível Primare DD35, um transporte de CD, que é basicamente um leitor de mídias de CD 16/44 kHz, mas que faz seu trabalho com enorme competência e objetividade.
E não pensem se tratar de um transporte de CD com gabinete de plástico, pesando menos de 2kg, com uma gaveta que, se pressionar para colocar o CD, irá quebrar ou entortar.
O DD35 é um transporte de CD que utiliza uma unidade de baixa ressonância de última geração, e saída digital de ultra baixo ruído. Por isso eu o levei para o nosso Workshop e o apresentei conjugado com o impressionante DAC suíço Merason DAC 1 Mk2 (leia teste na edição 300), muito mais caro que o Transporte e, no entanto, ele não foi subjugado ou se tornou o elo fraco do conjunto.
A mecânica é da Teac, de última geração, fornecendo segundo a Primare um sinal sem oscilação para o estágio de saída digital, com sua fonte de alimentação discreta, garantindo uma resposta ultra plana, silenciosa e fidedigna do que está sendo lido no disco.
O transporte da Primare segue o padrão de qualidade de todo produto deste fabricante, com uma aparência extremamente limpa, elegante e extremamente funcional.
Sua gaveta por carregamento parece firme e ainda que não seja ultra silenciosa, não nos passa sensação alguma de fragilidade. A Primare se orgulha da fonte de alimentação utilizada nesse transporte, por ser uma fonte linear combinada com uma fonte de modo de espera comutada, que é desligada durante a reprodução do disco para melhorar ainda mais o silêncio de fundo na leitura. Para os engenheiros da Primare, a fase de alimentação AC pode fazer uma diferença significativa no som.
Seu painel frontal é ultra limpo, com apenas dois pequenos comandos do lado esquerdo para abrir e fechar a gaveta, e para pausar ou acionar o play caso você esteja longe do remoto universal da Primare, que controla toda sua extensa linha de produtos. A gaveta fica no centro, e à direita temos um pequeno visor OLED que nos apresenta faixa, play, stop, pause e eject. O Transporte Primare desliga automaticamente após 15 minutos sem uso.
No painel traseiro, temos a entrada IEC, uma entrada RS232 e uma saída coaxial e uma óptica. Gostaria muito que os engenheiros da Primare também tivessem disponibilizado uma saída digital AES/EBU, pois facilitaria em muito minha vida. Pois no momento em que o Primare veio para teste, eu só tinha o cabo digital disponibilizado pelo representante, um modelo supra. Todos meus outros cabos coaxiais à disposição eram com terminal BNC.
Mas, gentilmente, consegui emprestado um coaxial/RCA com a Virtual Reality e, também, com a Sunrise Lab. E assim consegui extrair toda a beleza desse singelo transporte.
A lista de DACs que utilizamos com o DD35 foi grande: primeiro o ligamos ao DAC interno do integrado Arcam SA30, depois também no integrado I35 da Primare (leia teste na edição de julho), e no Merason DAC 1 Mk2, e no Nagra TUBE DAC.
Ou seja, creio que pudemos ter realmente uma visão geral de seu nível de performance, e o mais importante: seu grau de compatibilidade com DACs e cabos digitais tão distintos em preço e performance.
No final do teste, já no fechamento de nota, o amigo Heber me emprestou o cabo digital Chord Sarum, e pudemos também ter uma quarta assinatura sônica distinta dos cabos digitais utilizados. Para os céticos que afirmam, e batem no peito, que cabos não têm diferenças sonoras e, se tiverem, estão com defeito, sugiro que leiam o teste objetivo publicado na edição 306, justamente entre dois cabos digitais. Que pode abrir a mente principalmente dos que se entrincheiraram na objetividade ortodoxa!
Mas, voltando ao Primare, ele realmente chama a atenção por duas qualidades: seu silêncio de fundo e sua capacidade de organizar o acontecimento musical com excelente arejamento, foco, recorte e planos.
Esses são dois aspectos que separam os transportes de ‘elite’, dos apenas funcionais.
Por anos apresentei exemplos no nosso Curso de Percepção, os degraus entre um CD-Player de entrada e os mais bem construídos, com preocupação com as vibrações mecânicas, fontes de alimentação, leitor, etc. E usava para didaticamente demonstrar essas questões, gravações de música clássica, que demandam muito cuidado com a questão de ambiência, planos, foco e recorte.
E aliado a todos esses problemas, demonstrava o quanto CD-Players mais de entrada, tendiam a soar mais ‘letárgicos’, tirando o interesse em se ouvir obras com grandes alterações de tempo e variação dinâmica.
O Primare não sofre de nenhum desses males, ao contrário! Mostra com autoridade e presteza o quanto os engenheiros fizeram a lição de casa, para torná-lo não apenas a companhia ideal para os produtos deste fabricante, mas também para DACs de outras marcas.
Agora não pense que um transporte produzido com todos esses cuidados, responderá o seu melhor com um cabo de força de computador emborrachado, um cabo RCA analógico no lugar de um genuíno digital, e com DACs mais simples. Ele irá fazer suas reivindicações, e se atendidas, o ouvinte será recompensado integralmente, acredite!
Ele é o tipo de transporte que busca ser o mais fiel possível ao que está nos discos, e seu silêncio de fundo e sua enorme ambiência já citada, entregarão o sinal o mais ‘integral’ possível ao DAC. Se este estiver à altura, o ouvinte se beneficiará de audições prazerosas.
Ficou claro no teste, com a opção de cabos digitais, cabos de força e DACs à disposição, que à medida que fomos entendendo o casamento de cada peça nesse quebra-cabeças chamado Sinergia, que podíamos ‘apreciar’ ângulos distintos de cada setup.
Ou seja, seu grau de compatibilidade mostrou ser alto (o que é essencial para todo bom transporte) e que têm pedigree para ser ligado até com DACs Estado da Arte do nível do Merason e do Nagra.
CONCLUSÃO
Muitos leitores, ainda que já tenham investido em um streamer, não quiseram ou não sentiram firmeza em abrir mão de seus CDs. E não o fizeram na esperança de encontrarem uma solução para ouvir com prazer seus discos prateados novamente.
O que os impedia de darem um passo nessa direção, eram dois obstáculos: os bons e ótimos transportes continuam sendo caros, e muitos já estão fora de linha, o que dificulta mantê-los funcionando caso ocorra algum problema.
E muitos dos transportes hoje em linha, de alto nível, custam muito mais que seus próprios DACs.
Se você se encaixa nesse perfil, eis a solução, leitor: o DD35 da Primare.
Fiz questão de mostrá-lo no nosso Workshop com vários integrados e caixas, e a maior parte do tempo tendo como par o DAC da Merason e, acredite, ele fez bonito, não colocando em nenhum momento o resto do sistema em cheque!
Se você deseja ter um transporte de excelente nível, para poder resgatar toda sua CDTeca, o seu transporte é o Primare DD35!
Nota: 96,0 | |
AVMAG #306 Chiave chiave@chiave.com.br (48) 3025.4790 / (11) 2373.3187 R$ 23.460 |
DAC WANDLA & FONTE DE ALIMENTAÇÃO HYPSOS DA FERRUM AUDIO
Fernando Andrette
Acostume-se, caro leitor, pois será cada vez mais corriqueiro avaliarmos produtos hi-end do antigo leste europeu, pois eles vieram para reivindicar seu espaço nesse concorrido nicho de mercado, com enorme determinação e competência. Tanto é verdade que na edição 310, dois dos três testes são de produtos desta região do planeta.
Mês passado, no caderno Audiofone, avaliamos o competente amplificador de fone de ouvido Oor, desse fabricante, e agora compartilharemos o que considero ser os dois mais expressivos produtos da Ferrum Audio: o DAC Wandla e a incrível fonte de alimentação Hypsos que pode ser um upgrade seguro para centenas de produtos de áudio de inúmeros fabricantes.
Ambos os produtos foram agraciados com o Prêmio Eisa de 2022 e 2023. Marcin Hameria, o fundador e principal projetista da Ferrum, é um estrategista ‘atento‘ às novas tendências de um mercado em que valor agregado, design, versatilidade e desempenho são parte de um mesmo pacote.
Certamente audiófilos com mais de 50 anos devem estranhar essa tendência de gabinetes menores, em que os produtos podem ficar empilhados, ocupando menos espaço em prateleiras – mas eu confesso que gosto muito, pois acho que já paguei minha cota com duas hérnias de disco em transportar de um lado para o outro equipamentos que pesam mais de 40 kg!
Poder retirar e colocar meus Nagras no rack, a todo momento, sem ter uma caixa de ‘Dorflex’ ao lado dos controles remotos, é um verdadeiro alento!
Então, receber os Ferrum Audio, que são ainda menores que os meus Nagras Classic, me fez de cara sentir uma imensa simpatia, antes mesmo de ligá-los.
Como sempre me lembram meus filhos e sobrinhos, o mundo está se adaptando a espaços cada vez menores.
Gosto imensamente do design dos Ferrum, com sua placa de aço envelhecido do lado esquerdo, onde fica seu logotipo retro iluminado, seu botão do lado direito, e no centro uma pequena tela LCD inteligente com todos os comandos à um toque apenas.
Porém, as semelhanças entre o DAC e a Fonte acabam aí, pois no painel traseiro, a Hypsos tem apenas a tomada IEC, a tomada que alimenta os equipamentos, uma gaveta de fusível e uma chave liga/desliga.
Enquanto o Wandla está recheado de entradas e saídas de áudio RCA/XLR, e entradas digitais USB, AES/EBU e Coaxial.
Na verdade, este é o teste do DAC Wandla. Mas ao receber do distribuidor os quatro produtos existentes da Ferrum Audio, a curiosidade falou mais alto e constatei que o uso dessa incrível fonte externa, elevou substancialmente a performance do Wandla. Então resolvi citá-lo no teste e dar os méritos a quem é de direito.
Mas, aguardem que em breve farei um teste da Hypsos, não só com os três produtos da Ferrum, como também com os produtos que aceitarem a Hypsos para uma turbinada em sua performance.
E, no final desse teste, publicarei a nota do Wandla sem o uso da Hypsos, e com sua parceria.
O Wandla é todo baseado em uma placa digital fabricada pela HEM (empresa controladora da Ferrum). Esse módulo digital SERCE com processador ARM foi desenvolvido para uso OEM, como uma solução completa para áudio digital, e utilizada por uma dezena de fabricantes de áudio mundo afora.
Segundo o fabricante, o chip ARM do SERCE executa a função de cinco chips, trabalhando para aprimorar os fluxos de dados PCM e DSD, habilitando o uso de filtros digitais, decodificação e renderização MQA, e habilitando funções de usabilidade ao toque em uma tela LCD.
Dados PCM são convertidos de até 24-bits/192kHz por meio da entrada coaxial e da AES/EBU. E a entrada USB Tipo C e I2S (por meio de uma porta adicional HDMI) aceitam streaming de dados até 32-bits/768kHz PCM e DSD256. Segundo ainda o fabricante, todas as entradas têm capacidade DoP (DSD por PCM).
O Wandla utiliza o chip ESS Sabre ES9038PRO DAC, com a aplicação de um estágio conversor I/V que o fabricante afirma ser o grande diferencial da sonoridade do Wandla.
Para lidar com a corrente de saída do sinal, a Ferrum utiliza dois amplificadores operacionais em cascata com feedback negativo. A Ferrum garante que com todos esses cuidados o Wandla consegue extrair muito mais dados e um desempenho superior aos concorrentes que também utilizam o ES9038PRO.
Meu ceticismo acaba quando coloco o produto em avaliação. Pois rapidamente saberei se toda essa explanação técnica é apenas marketing de ‘vendedor’ ou fato.
O Wandla possui cinco opções de filtros digitais selecionáveis.
Quando escrevo esse teste, a Wandla pediu para os usuários do produto votarem nos seus filtros preferidos, pois o fabricante vai tentar ‘democratizar’, na próxima remessa, os filtros mais votados.
Mas não faço a menor ideia de como está a participação dos usuários, e nem quando será apresentado o resultado.
Outro recurso bastante importante é que o Wandla pode ser usado como pré-amplificador, graças ao seu controle de volume por escada de resistores. Mas atenção, essa função precisa ser desligada caso ele seja apenas usado como DAC.
O fabricante especifica um THD menor que 0.000009%, e uma faixa dinâmica ponderada de 127dB.
Uma das funções que mais apreciei no Wandla, foi ele reconhecer automaticamente a entrada que foi acionada. Assim, ao ligar o streamer Innuos ZENmini Mk3 via cabo USB, ele imediatamente identifica a entrada, sem nenhum ruído. Ou a entrada AES/EBU no momento que eu ligava o transporte Nagra.
Queria que meu DAC, que custa dezenas de vezes mais, tivesse esse recurso. Pois quem já não passou o sufoco de ter duas ou até três entradas usadas no DAC e se perder em qual está sendo utilizada?
Foi um deleite assim que apertei play, e toquei a primeira faixa do Canto das Águas do violonista André Geraissati. O palco, o foco, o recorte, o silêncio de fundo e o espaço em volta de cada instrumento foram de nível superlativo.
E isso com um DAC zerado, sem nenhum amaciamento, e ligado em sua singela fonte.
Ali soube instantaneamente se tratar de um DAC totalmente diferenciado e muito acima do seu preço. Fiz sete páginas de anotações iniciais, apenas com os nossos discos.
Acabada essa primeira sessão, ele foi para 50 horas de amaciamento, mas com aquele ‘gostinho’ de querer ouvir até mesmo nessa fase.
Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos. Amplificadores integrados: Fezz Audio Titania, Norma Audio Revo IPA-140 e Soulnote A-2 (leia Teste 1 na edição 310). Caixas acústicas: Estelon X Diamond Mk2, Yamaha NS-5000 e a Audio Solutions Figaro S2 (leia Teste 2 na edição 310).
Com 50 horas, o Wandla já voltou para ser avaliado, mas primeiramente com sua fonte original.
Seu equilíbrio tonal é impecável! Graves extremamente corretos, com fundação, peso, energia, corpo e velocidade. A região média, utilizando um velho jargão da audiofilia, é uma janela aberta e escancarada para a imagem musical. E os agudos possuem extensão, velocidade e naturalidade.
Pratos são reproduzidos com enorme fidelidade, e instrumentos de sopro, como o piccolo e o sax soprano, não sofrem de dureza ou som vitrificado. Violino e piano, na última oitava da mão direita, idem. São isentos de dureza ou desconforto.
Seu palco, como já descrevi, é amplo em largura e profundidade, foco, recorte e recriação de ambiência. É de DACs muito mais caros. Muitos terão dificuldade em aceitar que o que estão ouvindo está sendo gerado por aquele ‘singelo’ gabinete.
As texturas são coerentes, tanto na apresentação da paleta de cores de cada instrumento, quanto nas nuances proeminentes na qualidade do instrumento e na habilidade do músico.
Apresentar intencionalidades para o Wandla é algo absolutamente inerente ao seu nível de refinamento.
Os transientes se comportam impecavelmente em termos de ritmo, tempo e andamento, passando aquela sensação tão vital, de apresentação firme e precisa.
Porém, quando alimentado pela fonte Hypsos, o que já era de alto nível se transforma em simplesmente impecável!
O mesmo ocorre com a apresentação da micro e da macro-dinâmica. São absolutamente convincentes, mas com a Hypsos se tornam ainda mais impressionantes. A micro se beneficia do maior silêncio de fundo que a fonte externa proporciona, e a macro com a melhor folga, permitindo ouvir com maior precisão os crescendos até o fortíssimo.
O corpo é excelente, mesmo sem a fonte Hypsos. Já a organicidade, também muda de patamar com a fonte Hypsos.
Então, vamos por partes, pois sei o quanto a maioria dos audiófilos é ansioso e propenso a pular etapas.
O que quero dizer é: O Wandla é um senhor DAC por um preço incrível para seu nível de performance. E que 90% dos nossos leitores se darão por satisfeitos em apenas tê-lo em seus sistemas.
Mas saibam que com a fonte Hypsos, o seu grau de refinamento será ainda mais impressionante.
E como é bom quando fazemos um upgrade assertivo, nos damos por satisfeitos e ainda temos uma carta na manga, se quisermos lapidar ainda mais o que já está ótimo.
Eu sempre digo que ter essa ‘possibilidade’ é o melhor dos mundos e, pois, faremos o upgrade mais seguro de todos os possíveis!
Para os nossos leitores que almejam um setup Estado da Arte Superlativo, investir nessa dupla será um gol de placa, acreditem!
Ter um setup digital de mais de 100 pontos, gastando menos de 15 mil dólares, é realmente digno de fogos de artifício. Pois bem, isso agora é possível.
Espero que ambos estejam no nosso próximo Workshop Hi-End Show, no último final de semana de abril de 2025.
Pois esse conjunto merece ser ouvido com enorme atenção!
FERRUM AUDIO WANDLA (COM FONTE ORIGINAL) | Nota: 98,0 |
FERRUM AUDIO WANDLA (COM FONTE HYPSOS) | Nota: 102,0 |
AVMAG #301 Edifier atendimento@lojaedifier.com.br (11) 5033.5100 R$ 450 |
PRÉ-AMPLIFICADOR AUDIOPAX REFERENCE
Fernando Andrette
Às vezes o tempo necessário para o desenvolvimento de um novo produto pode parecer, para quem não está envolvido com o projeto, tempo demais.
Porém essa espera de espectador, some em uma fração de segundo, quando o que ouvimos se encontra muito acima das mais exigentes expectativas.
Foi o que ocorreu, quando no Workshop, em abril, no sábado pela manhã, antes de abrirmos o evento, pude ter o privilégio de uma audição sozinho com a equipe Audiopax.
O silêncio reinante na sala, antes do primeiro play, foi um sinal de que deveria estar atento às mais ínfimas nuances.
E, enfim, a música se apresentou de maneira íntegra, pulsante e vívida!
Foram apenas um pouco mais de 60 minutos, que me fizeram rever toda a minha história com a Audiopax – que também se iniciou no nosso segundo Hi-End show em 1997 – em que o Eduardo de Lima, em um espaço que não deveria jamais ser usado para uma apresentação musical, nos mostrou o que viria a ser a Audiopax no Brasil e no mundo.
Voltando ao presente, só tive tempo de agradecer aquele momento sublime, antes da emoção cortar-me a voz, e levar algum tempo para restabelecer a razão e tentar em palavras dizer o que achei daquela apresentação tão emocionante.
E saí de lá com a certeza de que precisávamos testar cada um daqueles produtos, para poder também compartilhar nossas impressões com quem lá não esteve.
À medida que as semanas se passaram, e fui aguardando a vinda do setup completo apresentado no Workshop, fiz o seguinte exercício mental, que meu pai nos fez praticar desde muito cedo: me colocar no lugar do outro.
Pois ele nos dizia que só assim seríamos capazes de desenvolver algo essencial no convívio coletivo: a empatia.
Imagine você ser convidado para ser sócio de uma empresa já estabelecida, e que existe um reconhecimento total dos produtos, com excelentes reviews mundo afora, e seu CEO e peça central desse sucesso morre prematuramente sem lhe dar condições de absorver todo aquele conhecimento.
Pois quem conheceu o querido Eduardo de Lima, sabe que sua genialidade o levava a desenvolver em sua mente vários projetos paralelamente e, como ele os aplicava, só ele mesmo sabia a razão de ser assim e não ser assado. E, aparentemente, nada daquilo fazia muito sentido, mas de alguma maneira soava divino.
Cansei de ouvir seus protótipos e produtos acabados, e me chocar como ele traduzia de maneira primorosa o ‘menos’ virar ‘mais’.
E aí você assume a empresa tendo que administrar a dor da perda de um amigo e sócio, e uma empresa que estava em franco crescimento internacional, necessitando honrar compromissos e prazos.
A sorte da Audiopax, amigo leitor, é que esse sócio se chama Silvio Pereira e tem um currículo também brilhante. Pois antes de aceitar o desafio Audiopax, trabalhou 34 anos na área de engenharia da TV Globo, inicialmente como especialista em suporte de equipamentos digitais e, posteriormente, como responsável pela área de Pesquisa & Desenvolvimento da empresa, supervisionando uma equipe de mais de 60 profissionais dedicados ao estudo de novas tecnologias e à implementação de soluções tecnológicas.
Como o MIT (Massachusetts Institute of Technology), NHK-STRL (o maior laboratório de pesquisa em Broadcast do mundo) e a Sony.
Para os apaixonados por Fórmula 1, saibam que o primeiro sistema de telemetria nessa modalidade foi desenvolvido pela sua equipe, e também o primeiro sistema integrado de captura, armazenagem e edição baseados no uso de Servidores de Vídeo, pelo qual recebeu o prestigiado prêmio- Broadcast Engineering Excellence Award.
Mas, ainda que com toda essa bagagem considerável, ter que assumir uma empresa em que praticamente todos os produtos consagrados tinham como mentor o Eduardo de Lima, manter a empresa em pé, continuar produzindo e olhar para o futuro, é como trocar as rodas com o carro em movimento.
Sabemos que, como na Fórmula 1, com o grau de desenvolvimento e a concorrência no áudio hi-end ninguém se mantém no pódio se não estiver constantemente atualizando seus produtos.
E não falo de mudanças cosméticas, e sim de avanços efetivos em termos de performance.
Felizmente os anos de TV Globo deram a ele a frieza necessária para não perder o foco e montar uma equipe coesa e de profissionais de alto nível, como o Fábio Timi (que teve sua própria empresa, a Timi Audio) que fez brilhantes prés de phono (que tive a sorte de escutar na casa do meu querido amigo Vicenzo) e o Flávio Mauro, engenheiro também da equipe da TV Globo.
Mas existe o lado artístico também. Silvio foi aluno por uma década do mestre Hans Joachim Koellreutter, e o acompanhou em apresentações de música e estética musical pelo Brasil, Japão e Índia. Além de ser um exímio luthier de instrumentos musicais.
Ou seja, um currículo invejável, que possibilitou estarmos aqui a falar de uma nova linha de produtos Audiopax: a série Reference.
E aí, em meu último ato de me imaginar nessa situação, eu me fiz a seguinte pergunta: quando é o momento propício de virarmos a chave e darmos à empresa sua nova identidade?
Eu já participei da mudança de geração em empresas familiares, e posso garantir que se trata de um momento crítico e extenuante.
Agora, imagine transportarmos essa questão para o mercado de áudio hi-end. Em que cada um dos produtos Audiopax ainda hoje são referências para seus usuários, e que na opinião deles poderiam se manter os mesmos por mais uma década!
Eu, como editor da revista, ouvi algumas vezes essa opinião.
O que posso dizer é que esse momento deve ter tirado o sono do Silvio e sua equipe por muito tempo.
Mas, chega um momento que é preciso fixar a visão na estrada e parar de olhar para o retrovisor, e felizmente esse momento chegou para a Audiopax. E pela repercussão que teve do público no Workshop, o acerto foi preciso!
Ao trazerem até nossa Sala de Referência todo o setup apresentado no evento, a Audiopax me deu a oportunidade de ouvir com calma, e entender o DNA sonoro do sistema, ver o potencial de cada produto, juntos e separados – então propus um calendário para o teste de todos, que claro irá se adequar à entrega dos produtos que foram vendidos no evento e disponibilidade de ficarem conosco por pelo menos três semanas, desde que integralmente amaciados.
Com esse calendário montado, a primeira joia que ficou dessa grata apresentação, foi o Reference Preamplifier Audiopax.
E já está comigo a tempo suficiente para se tornar íntimo com todos os equipamentos que estão chegando para teste.
Então, se prepare amigo leitor, que inúmeros produtos avaliados e apresentados até a edição Melhores do Ano, tiveram a sua companhia.
Eu não ouvi o pré anterior em linha em nossa sala, mas tive o Model 5 original por mais de seis anos como minha referência, e sei de todos os benefícios do genial Timbre Lock para o casamento perfeito com qualquer power, então a primeira coisa que adorei no Reference foi ele continuar existindo, pois se trata de um baita diferencial em relação a qualquer pré de linha, independente do seu preço.
Mas em relação aos prés anteriores da Audiopax, as semelhanças acabam aí.
Pois o Reference é um pré híbrido, pois utiliza um módulo valvulado ligado como “cathode follower”, uma topologia pouco utilizada, mas que na forma implantada, garante um absoluto isolamento entre sua entrada e sua saída. A escolha recaiu nas válvulas ECC82/12AU7, que além de atenderem as premissas técnicas, também foram as com melhor resultado em termos de performance – e o Reference possui ajuste automático de bias.
Segundo o fabricante, outros fatores para seu nível de performance são: ausência de realimentação global negativa, Mosfets utilizados em configuração muito similar à que normalmente seria aplicada à circuitos valvulados, uso minimalista de estágios no caminho do áudio (existem apenas dois componentes ativos entre sua entrada e sua saída de áudio), fontes de alimentação com valores extremamente altos (164VDC) e com regulação em shunt (topologia que permite atingir ao mesmo tempo estabilidade e velocidade nos transientes) e o inovador uso de indutores como carga final do pré-amplificador.
Segundo a Audiopax é essa combinação de características que permitem uma dinâmica visceral, se a música exigir, mas que também possui uma capacidade de exposição das mais sutis nuances musicais.
Deixarei minhas observações pessoais para mais adiante.
Bem, e para o nosso leitor que jamais teve ou ouviu um Audiopax, tenho que dar um resumo ao menos do Timbre Lock, criação de Eduardo de Lima que lhe abriu as portas ao mundo. Em resumo, trata-se de um controle que age diretamente na sinergia entre o pré de linha e qualquer power. Algo tão desejado por qualquer fabricante, pois compatibilidade é escolha decisiva de um audiófilo na hora da compra.
Com o Timbre Lock, o usuário consegue o ajuste fino entre pré e power, sem alterar a resposta de frequência, e sim a otimização das distorções harmônicas residuais de qualquer sistema de áudio. Parece difícil assimilar? Então pule essa etapa e ouça na prática o que ocorre. Pois quando você pacientemente busca o ajuste perfeito para o seu power, as melhorias audíveis são: a percepção dos timbres como se os instrumentos mudassem de qualidade, maior resolução microdinâmica, a sustentação e decaimento dos graves e, quando o ponto certo foi encontrado, aquela maravilhosa sensação de maior naturalidade, conforto e realismo.
Antes de irmos para as observações auditivas, já que essa introdução se tornou muito extensa, vou falar sobre o gabinete do Reference. Foi o melhor gabinete que a Audiopax já fez. Tanto para o pré como o da fonte independente.
Prima pela qualidade na escolha do painel frontal, dos botões, da suavidade no manuseio e da iluminação acima de cada um dos cinco botões. O primeiro da esquerda mantém o pré em stand-by ou ‘on’, o segundo é o ajuste do Timbre Lock do canal esquerdo, o botão do centro é o de volume, seguido do Timbre Lock do canal direito e, por fim, o botão de seleção das cinco entradas (uma XLR e quatro RCA).
No painel traseiro, temos as saídas balanceada e RCA, e as entradas já citadas. E os dois cordões umbilicais que ligam o Reference à sua robusta e silenciosa fonte externa.
Já contei minha experiência com o Timbre Lock pela primeira vez, quando testei o Model 5 original. Na época meu pré era o Jeff Rowland Coherence, que custava seis ou sete vezes mais que o Audiopax. Estava ouvindo o disco da Zizi Possi – Mais Simples, faixa sete. E estava buscando o ajuste perfeito para o meu power da Jeff também, o Model 8 com bateria.
De repente achei o ponto ideal, e imediatamente o violão encorpou, ganhou uma riqueza harmônica, como se fosse outro violão, de um patamar acima do usado na gravação. E a voz da Zizi ganhou um realismo impressionante.
Chamei minha esposa, que não sabia o que eu estava fazendo, e toquei a faixa sete para ela, no pré e power Jeff, que ela gostava muito. Depois passei para o Model 5, e ela assim como eu demorou a entender a quantidade de detalhes, riqueza harmônica, sutis decaimentos das notas sumindo, sem se perder nas novas, e o realismo da voz, que surgiram como em uma outra masterização.
Resultado: vendi meu Jeff Rowland e fiquei com o Audiopax feliz, por seis anos!
Para o teste do pré Reference, ouvimos com os monoblocos Reference Audiopax, com as caixas também Audiopax e, posteriormente, com os Nagra HD. Tudo com TUBE DAC e Streamer também Nagra, e DAC Ferrum Wandla. O pré de phono foi o Soulnote E-2, toca-discos Origin Live Sovereign Mk4, braço Enterprise 4, e cápsula ZYX Ultimate Astro. Cabos Dynamique Audio Apex, e cabo de força Transparent Audio Reference G6.
Minha curiosidade era grande de associar o Reference ao meus powers HD. E a primeira surpresa: o Timbre Lock ficou exatamente no mesmo ajuste usado nos powers da Audiopax.
Qualquer tentativa de ajustar um ponto, e a magia e correção se perdiam.
No final do teste, liguei o power da Gold Note, e aí sim foi necessário ajustar em 10 pontos o Timbre Lock, para se extrair a melhor sinergia desse setup.
O que quis provar com isso? Que o Timbre Lock continua sendo um incrível diferencial para extrairmos o melhor casamento possível entre esse magnífico pré, e qualquer power de nível existente no universo hi-end.
Seu equilíbrio tonal tem características muito interessantes, pois permite não só avaliarmos a qualidade da gravação, como também do DAC, e do cabo que está entre a fonte digital e o pré. Nesse nível de pré de linha, a última coisa que você terá que se preocupar é com o equilíbrio tonal. Nada falta e nada excede, é simples assim! Se tiver algo faltando, pode rever fontes e cabos.
Foi notório ouvir em diferentes caixas com tweeter de diamante, domo de tecido e AMT, como os agudos em qualquer desses tweeters se mostra com uma extensão e um decaimento preciso e natural.
Seu trabalho é apenas escolher qual tipo de caixa lhe agrada mais e está dentro de seu orçamento.
Para o teste dos agudos, ouvi inúmeras gravações das violinistas Hilary Hahn e Vilde Frang, e zero de fadiga auditiva.
Na outra ponta usei o mais recente trabalho do baixista Brian Bromberg – LaFaro (leia Playlist de novembro), em que o sistema será realmente colocado a prova, principalmente para avaliação de extensão do grave, sustentação, corpo e velocidade.
Novamente, não existe problema em o pré Reference reproduzir com maestria baixas frequências com total conforto auditivo e inteligibilidade.
E a região média, aí é covardia meu amigo! Pois todos os Audiopax que ouvi, tive e testei sempre primaram por uma região média divina! No Reference, essa exuberância se manteve intacta!
Quer um exemplo matador para avaliar se seu pré é realmente excelente na região média? Ouça o disco Vivaldi In Furore, Laudate pueri e Concerti Sacri, da soprano francesa Sandrine Piau com a Accademia Bizantina – faixas 1 e 2. Trata-se de um belo exemplo para avaliar o equilíbrio tonal do seu pré de linha.
Mas não pense que é apenas ouvir a voz e as cordas, OK? Tem um cravo que precisa ser escutado o tempo todo, também. E nos fortíssimos da Sandrine Piau, o som não pode endurecer, muito menos frontalizar a voz!
Na faixa 2, tem um órgão de tubo para complicar ainda mais esse equilíbrio tonal. Ouvir esse disco no Reference pré da Audiopax foi um dos momentos mais sublimes desse teste!
O soundstage do Audiopax possui um 3D impressionante. Claro que na reprodução de LPs, o palco é imensamente maior que na reprodução digital – mas seja em que fonte, tanto a largura, quanto a profundidade são de nível referencial.
Foco, recorte, possuem projeção cirúrgica, enganando nosso cérebro desde a primeira nota.
Mas o que mais me deixou feliz, foi a capacidade de recriação das ambiências de cada sala de gravação, e até a qualidade técnica das reverberações digitais – na maioria das gravações são tão excessivas, que chegam a criar sibilação irreal na voz, muito comum nas gravações de MPB, e alguém precisava mostrar a esses engenheiros que além de feio, estraga o equilíbrio tonal da voz nas altas frequências, e nosso cérebro não relaxa.
O Audiopax é primoroso em detalhar tanto os acertos como os erros em qualquer gravação, e não o faz de maneira analítica ou ultra-transparente, e sim pela sua capacidade de não alterar o sinal que recebe, e entrega ao power o mais fidedigno que recebeu.
Falar da apresentação de texturas nesse pré é uma das melhores ferramentas para se explicar esse quesito ao nosso leitor, que ainda não assimilou o que precisa ouvir para avaliar.
Um excelente pré sempre terá a capacidade de mostrar as paletas de cores de cada instrumento, e até mesmo nos deixar observar a qualidade desse instrumento, e quanto à virtuosidade ou não do executante.
Mas somente os superlativos nos permitem ‘enxergar’ mais além, e vermos a intencionalidade no momento da execução.
Uma grande amiga musicista e pianista esteve nos visitando, e ao ouvir no sistema gravações de duos de piano e violonistas, fez uma observação muito pertinente: que alguns virtuoses já em plena capacidade e domínio do instrumento e da obra que estão tocando, conseguem ter em mente tudo que precisam realizar uma fração de nanosegundo antes de executar.
Isso dá a quem está ouvindo uma sensação de precisão e inteligibilidade plena.
E aqueles que ainda estão na busca desse grau de domínio, hesitam – e se conhecemos bem a obra, podemos perfeitamente observar onde ocorreu o vacilo.
O pré Reference tem a capacidade de nos ampliar essa capacidade de observação, não sei se pela soma de suas qualidades ou pela escolha do caminho mínimo de sinal enquanto ele é o responsável por esse sinal.
Mas é audível o quanto as intencionalidades parecem muito mais presentes que em outros prés, também de nível superlativo.
Ainda mais intensa e realista a apresentação de intencionalidade, só escutei no pré Nagra HD, que custa muito mais caro que o Audiopax!
Então, meu amigo, se esse é um quesito essencial na escolha de seu pré definitivo, não esqueça esse detalhe!
Intencionalidade sem transientes precisos, não existe. Então para esse grau que descrevi, imagina como é o nível de precisão e marcação de tempo e ritmo do Audiopax? Primoroso.
Ouvi todos os nossos mais difíceis exemplos para fechar nota deste quesito, CDs e LPs, e o Audiopax passou com louvor!
Esqueça notas comidas, ou mastigadas em solos virtuosos. Se não houve vacilo na captação e nem foi destruída por uma mixagem e masterização mal-feita, você ouvirá sem alterar um músculo do rosto!
Aí chegamos na macro e micro-dinâmica. Meu amigo, o Audiopax irá jogar toda a responsabilidade para seu power, pois da parte dele o que entrou irá sair perfeitamente sem nenhuma compressão da dinâmica ou clipagem.
E a micro é impressionante pela reconstituição e precisão. Inúmeros ‘ruídos’ de gravações de música clássica irão surgir, mas sem tirar sua atenção ou desviar o foco – surgirão apenas.
O que estiver escrito na partitura, mas foram escritos com os famosos três ‘pps’ (pianíssimo), você não terá que se contorcer para ouvir.
Em termos dinâmicos, se seu sistema responde, seu trabalho é achar o volume correto da gravação e se deleitar com o que irá ouvir.
O corpo harmônico nas audições de LPs foram tão belos que passei dois dias apenas escutando para fazer minhas anotações pessoais, de como algumas características de tamanho de bumbo, contrabaixo em solo ou naipe de contrabaixos, soaram em nossa sala.
Mas a gravação de corpo mais impressionante foi uma Fuga de Bach em órgão de tubo. Não tinha ideia da magnitude do corpo dos graves daquela gravação, e aí me animei e fui escutar a Sinfonia no.3 – Órgão, de Saint-Saens. Ficará guardado em minha memória auditiva como um dos pontos altos desse teste.
Com esse grau de coerência em todos os quesitos, o que você imagina que será a organicidade nesse pré? Não imagine meu amigo, vá a sala da Audiopax no próximo Workshop Hi-End Show (leia Eventos na edição 311), e escute!
Não há o que descrever em palavras – é preciso ouvir e vivenciar a música materializada à sua frente, e senti-la não apenas no seu sistema auditivo, mas também no seu corpo.
Não perca essa oportunidade, meu amigo: é em momentos assim que a audiofilia recupera seu real objetivo, de trazer a música de forma plena até nós.
CONCLUSÃO
O Reference Preamplifier Audiopax é, de todos os prés de linha superlativos que escutei e que testei nos últimos três anos, o mais impressionante pelo seu grau de versatilidade graças ao seu Timbre Lock, performance pelo conjunto de acertos nas escolhas feitas pelo projetista, e preço, por ser o mais acessível de todos que estão no Top 5.
Essa tríade de acertos o coloca como um Best Buy a ser batido. Tarefa que julgo ser árdua e que, com uma moeda tão desvalorizada, impossível de se alcançar para qualquer produto importado em termos de valores finais.
Se você está à procura de seu pré de linha Estado da Arte final, não ouvir o Audiopax Reference será motivo de muitas cobranças posteriores, acredite.
Tenho absoluta certeza de que esse pré terá uma carreira internacional magnífica! Podem me cobrar!
E espero que aqui também!
Nota: 106,0 | |
AVMAG #311 Audiopax atendimento@audiopax.com (21) 2255.6347 (21) 99298.8233 R$ 96.000 |
AMPLIFICADOR INTEGRADO LEAK STEREO 230
Fernando Andrette
O novo modelo de integrado da LEAK, o Stereo 230, é um avanço considerável em relação ao 130 lançado em 2020, e coloca esse icônico fabricante inglês de novo na linha de frente das opções de entrada – como os produtos da Cambridge, NAD, Emotiva, etc.
É muito bom saber que o leque de opções para os que desejam um sistema hi-fi honesto, de menos de 20 mil reais, esteja aumentando no Brasil, e permita que o consumidor monte seu sistema moderno e totalmente atualizado. Com um grande número de entradas analógicas e digitais, pré de phono MM, dispositivo Bluetooth para reprodução de música a partir de tablets e smartphones, usando os codecs integrados aptX e AAC.
Seu DAC interno é o ES9018 Sabre 32 bits, da ESS Technology, com um eficiente eliminador de jitter e clock interno. Com conversão de arquivos de áudio digital PCM até 384kHz, e DSD até 256.
A potência é de 75 Watts por canal em 8 ohms, e 115 Watts em 4 ohms.
E, para fechar o pacote: um pré de fone de boa performance.
A proposta da LEAK para atrair o consumidor, foi apostar em um design estilo vintage, que remete literalmente ao fim dos anos 60 e início dos anos 70 – o que está novamente em voga, tanto em caixas acústicas, como em eletrônicos!
Eu pessoalmente gosto de gabinetes com laterais de madeira, remetendo às minhas mais antigas lembranças dos primeiros sintonizadores de FM que tivemos em casa, seguidos por diversos receivers japoneses.
Minha única restrição ao design do Stereo 230 diz respeito aos seus botões, que achei uma escolha ‘radical’ demais, passando uma sensação de fragilidade e não de robustez. Mas, como o controle remoto faz todas as operações de mudança de entrada e volume, acho que o usuário pouco irá ter contato com os comandos do painel.
Como a maioria dos equipamentos dos anos setenta, o Stereo 230 também possui controles de ajuste de grave e agudo, ou opção de by-pass (Direct) – que recomendo que seja usado sempre, evitando o desejo de ‘turbinar ou atenuar’ gravações tecnicamente limitadas.
Para o teste não usei a opção de ligar o smartphone via Bluetooth, preferindo ligar o streamer Innuos ZENmini Mk3 via cabo USB, para poder avaliar com maior precisão o DAC interno do 230. Usamos também a entrada phono MM com o toca-discos StudioDeck +M da MoFi (leia teste na Edição 300), e ficamos muito surpresos com o silêncio do circuito e o resultado bastante correto e equilibrado – o que pela sua faixa de preço é uma de suas maiores qualidades, junto com o amplificador de fone de ouvido.
Para o teste, além do Innuos e do toca-discos da MoFi, também utilizamos o CD-Player Arcam CDS50. Os cabos todos foram da Virtual Reality (caixa, USB, analógico RCA) exceto de força, que usamos o original e o Transparent PowerLink MM2. Caixas: JBL L82 Classic, Boenicke W5, Audiovector QR 5 e Harbeth P3ESR XD.
A primeira dica importante, o LEAK 230, apesar dos seus 75 Watts, irá precisar de uma caixa com boa sensibilidade. As duas caixas que casaram lindamente com ele foram: JBL L82 Classic e a Audiovector QR 5.
Com a Boenicke W5 não deu liga: o 230 tendo enorme dificuldade para direcionar e controlar a caixa e, com menos dificuldade, mas ainda assim sofrendo, foi com a Harbeth PeESR-XD. Minha dica será buscar um casamento como a linha Diamond ou a Linton da Wharfedale, ou talvez algum modelo de entrada da QAcoustics ou da Monitor Audio.
Será preciso um pouco de paciência até o completo amaciamento do amplificador, do seu DAC interno e do pré de phono e amplificador de fone.
Optei por amaciar primeiro o DAC e o amplificador, deixando em repeat no streamer por 120 horas. Foi essencial essa escolha, pois tudo quando você instala o LEAK 230 parece aquele produto ‘comportado’, mas não disse ao que veio e muito menos parece ter ‘credenciais’ para apresentar. O fato de soar ‘comportado’ não chega a ser pejorativo, mas passa aquela impressão que iremos ouvir Led Zeppelin todos trajando smoking, rs!
As 120 horas foram uma lufada de esperança, e sinais de que havia camadas interessantes, mais abaixo da casca.
Os agudos se estenderam, ganharam arejamento e os graves, peso. A região média já era bastante convincente, mas nenhuma eletrônica vive só de médios convincentes, vive? Fiz essa pergunta a você, leitor, pois assisti outro dia a um vídeo de um jovem revisor (por isso lhe dou algum crédito) que o produto que ele estava avaliando tinha um agudo “estranho”, e um grave muito “gordo”, mas os médios eram tão bons, que ele estava dando o selo de “recomendado” ao produto!
Tive que assistir essa parte final duas vezes, para ter certeza do que o jovem aprendiz estava afirmando e assinando embaixo.
Não, o LEAK 230 não tem apenas médios interessantes e corretos. Os graves e os agudos também são bons, depois do devido amaciamento. Passadas 150 horas, lá fui eu amaciar o pré de phono e o amplificador de fone.
Para agilizar o processo, fiquei ouvindo LP no fone e, de 20 em 20 minutos, levantando e trocando o lado do disco. Não creio que os jovens tenham essa paciência de esperar e fazer todo o ritual necessário para extrair todo o potencial de seus sistemas, pois amaciamento é um teste de fogo para qualquer um.
Por isso que lemos e vemos nas mídias especializadas, tantas ‘distorções’ na avaliação de produtos, pois podemos cometer grandes injustiças por não levar a sério o tempo necessário de amaciamento antes de nos sentarmos para avaliar o produto.
Para os que não acreditam em amaciamento, toda essa introdução irá parecer desnecessária e inócua – mas para os que já ouviram as diferenças, façam o dever de casa, pois o LEAK 230 merece.
Seu equilíbrio tonal podemos definir como correto sem, no entanto, ter muita folga para maiores arroubos na apresentação de detalhes do tamanho da sala de gravação, ou a quantidade de reverberação digital utilizada na voz ou nos corais.
Os graves, tem peso, porém carecem de maior energia, tão essencial nos fortíssimos de uma orquestra sinfônica. Mas isso impede que se escute no 230 música clássica ou big bands? Lógico que não! Basta não ter expectativas exageradas, afinal estamos falando de um integrado de menos de 15 mil reais, certo?
E música eletrônica, Andrette? Com a caixa correta, desde que ela esteja preparada para graves turbinados, sim!
Tudo é sempre uma questão de sinergia. Se o leitor estiver atento e com paciência para ouvir e pesquisar, ele irá extrair do LEAK 230 uma performance digna do investimento.
Seu soundstage possui excelente foco e recorte das imagens sonoras, com um 3D bem razoável, desde que o posicionamento das caixas forme o tão famoso triângulo equilátero, e a sala não atrapalhe acusticamente. A imagem possui boa largura, altura e profundidade. E a única limitação será na apresentação da ambiência da sala de gravação, devido à pouca extensão nos agudos.
As texturas surpreendem, menos pela intencionalidade e mais pela paleta de cores e pela facilidade de acompanhar diversas vozes simultâneas sem esforço adicional ou perda de concentração.
Os transientes são muito bons, com uma facilidade de marcação de tempo e ritmo. Ouvi vários exemplos de piano solos e violões com corda de aço, exemplos encardidos para reprodução precisa de velocidade, e o LEAK 230 se saiu muito bem!
A micro-dinâmica é muito boa, e a macro-dinâmica irá depender dos seus pares (fonte e caixas). A macro se saiu muito melhor quando usamos o CD-Player Arcam reproduzindo SACD – tivemos algumas boas surpresas, como no Quarto e Quinto Movimentos da Sinfonia Fantástica de Berlioz, ou no Concerto Para Piano e Orquestra de Bartók.
Mas não tente reproduzir os canhões da Abertura 1812 de Tchaikovsky no LEAK 230, que não irá rolar, nem para ele e muito menos para as caixas!
O corpo dos instrumentos foi impecável com todos os LPs, o esperado nos CDs, e decepcionantes no streamer.
Ou seja, nenhuma novidade.
E a organicidade ocorreu em todas as excelentes gravações, nos colocando frente a frente com os músicos.
CONCLUSÃO
Se você é um rato de vídeos no YouTube, em que se vende gato por lebre à torto e à direito, certamente você acredita que integrados de 1000 dólares soam tão bem ou até melhores que integrados de 5000 dólares.
Desculpe te chamar à realidade, mas isso não existe, meu amigo.
E creia que, no dia que acontecer, os fabricantes de hi-end superlativos e ultra hi-end irão à falência.
O que você pode acreditar, que já é fato consumado, é o quanto produtos hi-fi de entrada melhoraram e estão andando a passos cada vez mais largos. E encontrar pacotes como o LEAK 230 é uma excelente notícia, pois permite que muitos e muitos leitores possam ter seu primeiro contato com produtos que já possuem os elementos essenciais para se ouvir música decentemente.
E quais são esses elementos? Boa inteligibilidade, com baixa fadiga auditiva!
Essa é a chave da porta de entrada, para quem deseja ouvir a música que ama corretamente.
Esse compromisso, diversos fabricantes de produtos hi-fi já dominam, e os resultados são cada vez mais surpreendentes!
Se seu orçamento é curto, mas você sonha em realizar esse primeiro passo, o LEAK 230 precisa estar no topo de sua lista de opções.
Tanto pelo pacote, como pela sua performance!
Com uma boa fonte e um par de caixas que permita o LEAK Studio 230 conduzir com firmeza e folga, não existe espaço para erro.
Uma excelente notícia para o início de 2024, você não acha?
Nota: 79,5 | |
AVMAG #303 KW Hi Fi fernando@kwwifi.com.br (11) 95442.0855 (48) 3236.3385 R$ 16.000 |
AMPLIFICADOR INTEGRADO REGA ELEX MK4
Fernando Andrette
De tão recorrente que é essa pergunta, não sei dizer quantas vezes tive que responder a ela. Seja ao vivo, à queima roupa, no nosso Workshop, como por e-mails: “Andrette, não existe nenhum amplificador decente por menos de 15 mil reais, novo?”.
Minha resposta sempre foi: estamos caçando essa ‘joia rara’.
E acreditem, não foi por falta de empenho de nossa parte. Pois reviramos cada um dos nossos parceiros comerciais, à caça dessa ‘preciosidade’.
A questão, no entanto, sempre esbarrou em vários pontos: primeiro a desvalorização de nossa moeda, o que encarece demais o produto importado, os impostos aviltantes cobrados pelo nosso governo, e uma tendência do mercado em olhar muito mais para o mercado de luxo do que o de entrada.
Também temos culpa no cartório, pelo fato de garimparmos por um integrado que tivesse uma potência ‘decente’ para empurrar caixas com sensibilidade de 85 a 88 dB, tivesse ao menos uma entrada de phono MM de bom nível, e se possível um DAC interno também de bom nível.
E nossa busca finalmente resultou em uma ótima descoberta: esse integrado de menos de 13 mil reais existe, e ainda de ‘bônus’ traz também um bom amplificador de fones de ouvido!
Um pacote tão completo já o torna uma opção segura a todos que desejam montar seu primeiro e definitivo sistema – enxuto, mas com bons atributos sonoros.
E feito por quem está no mercado há quase meio século, e mantendo sua filosofia inicial de oferecer opções seguras e baratas.
Eu sempre tive muito apreço pela marca, e tive ao longo dos anos toca-discos da Rega – começando pelo P3 quando ainda estava na Audio News, depois o modelo P25, culminando com o P9. Além da caixa Rega Ela, por quase uma década no meu segundo sistema.
Acho que testei 90% de todos os produtos lançados pela marca nos últimos 30 anos, e modestamente conheço bem o ‘DNA Sonoro’ da Rega.
Meu testemunho é que são produtos feitos para durar uma vida, se bem cuidados.
A sonoridade de seus eletrônicos está mais para o quente do que o analítico, e bem-casados costumam soar bem musicais.
O que ouço de críticas: que as pontas poderiam ter mais extensão e o soundstage poderia ser mais profundo e largo. Os modelos de eletrônicos mais top da marca, não possuem essa limitação, acreditem.
E esses produtos têm ajudado os engenheiros da Rega a buscar aplicar esse aprimoramento em seus novos eletrônicos de entrada.
Um bom exemplo é o novo amplificador integrado Elex Mk4, que em relação ao Elex-R, mostrou significativo avanço, principalmente nos graves.
Acho que a Rega tem como proposta só avançar em sua topologia quando se sente absolutamente segura.
E não podemos esquecer que se trata de produtos de entrada, com uma forte concorrência Asiática com seus Classe D, baratos e descartáveis (quebrou, compra outro).
A Rega não, continua apostando em sua topologia Classe AB, alterando apenas o tamanho do transformador de cada modelo para gerar maior potência.
E o Elex Mk4, nesse quesito, é bastante generoso com seus 72 Watts em 8 ohms e 90 Watts em 4 ohms. Para salas de até 16m quadrados, com a caixa certa (pelo menos de 88 dB), será potência suficiente para qualquer estilo musical.
Outra mudança significativa foi no acabamento, tornando essa nova versão mais limpa e elegante.
E como já cantei a bola, ele além do amplificador de fone de ouvido, possui um bom pré de phono (MM) e um DAC também de bom nível, com duas entradas digitais: coaxial e óptica.
Para o teste utilizei especificamente duas caixas: Rega Aya (seu parceiro natural, na minha opinião) e a Wharfedale Aura 2.
Mas eu indicaria, nesse hall de caixas, também a Wharfedale Linton 85 e a Denton, como parceiras a serem ouvidas.
O cabo de caixa foi o Trançado da Virtual Reality, com excelente casamento, e os cabos de interconexão foram o coaxial também da Virtual Reality, e da Sunrise Lab, e um velho e surrado van den Hul Digicoupler. O DAC usado foi o Ferrum Wandla, e o streamer foi o Nagra Streamer (leia teste edição de dezembro próximo). Cabo de força, usei o original que vem com o equipamento, e também Virtual Reality Argentum (leia teste na Edição 309).
Para ligar o phono, consegui ouvir por um final de semana emprestado de um amigo o Rega P3 com uma cápsula Ortofon 2M Red.
E como fones, utilizei o Grado SR225x (leia teste na edição de novembro da Audiofone), e o Meze 109 Pro.
O Rega Elex Mk4 veio zerado, o que exigiu uma longa queima de mais de 180 horas. Um lembrete importante: tenha paciência, pois ele parecerá escuro e sem pontas nas primeiras 100 horas. Ouvi-lo nessas condições levará a impressões erradas sobre o amplificador.
Como a caixa Aya veio junto, usei essa queima também para o amaciamento da caixa – ela foi ainda mais demorada: 250 horas!
Se você fizer a lição de casa pacientemente, garanto que irá apreciar o seu investimento. Pois o Rega entrega o que promete. Aliás, para um produto desse nível de preço, diria que a soma do pacote, vale cada centavo investido.
Seu equilíbrio tonal possui agora um grave com melhor extensão na fundação da primeira oitava, permitindo respostas rápidas e com bom corpo e energia. Tanto em instrumentos percussivos, como solos de contrabaixo e órgão de tubo!
A região média mantém aquele calor tão característico de toda eletrônica Rega, desde sempre.
Se você é adepto de maior transparência, esse tipo de eletrônica não o irá satisfazer. Mas para quem quer resgatar toda sua coleção de discos, eis uma oportunidade de ouro.
E os agudos, ainda que não tenham aquele decaimento mais extenso e suave, ele é o suficiente para se reconhecer o tamanho de salas de gravação, e a quantidade de reverberação usada nas vozes.
E nunca irá passar do ponto com estridência ou brilho excessivo.
Se isso é importante para você, o Elex Mk4 é uma ótima opção.
O soundstage realmente tem maior largura que profundidade, mas isso pode ser contornável se as caixas puderem ser ajustadas com um respiro decente entre as paredes laterais e a parede às costas delas.
Que medida é essa? Algo de pelo menos 40 cm das paredes laterais e 60 cm das paredes as costas. E o mais importante: uma distância mínima entre as caixas de pelo menos 2.50m – para que? Para poder ter espaço para a montagem correta do triângulo equilátero, claro.
Isso irá ajudar e muito a contornar a limitação de profundidade.
As texturas são um ponto alto desse integrado. Ouvindo o novo álbum do pianista Tianqi Du, tocando o Concerto para Piano e Cordas de Bach, foi possível ouvir sem esforço as paletas de cores da orquestra de cordas, em contraste com o piano, ainda que em alguns momentos estejam todos em uníssono.
O mesmo ocorreu com a gravação do Quarteto Calidore tocando Beethoven. Gravação primorosa que pode perfeitamente ser uma excelente referência para esse quesito, justamente pela qualidade dos músicos, seus instrumentos e a belíssima captação.
Falta maior arejamento nos violinos? Certamente que sim, mas isso não tira a beleza de observarmos a soma de virtuosidades do quarteto.
Os transientes, desde que conheço as eletrônicas Rega, nunca foram problema. Tempo e ritmo, sempre foi uma busca incessante deste fabricante. E o Elex cumpre com maestria esse quesito.
Os amantes de rock e blues, se sentirão recompensados ao ouvir seus discos nesse integrado.
A macrodinâmica não tem aquela ‘volúpia’ de integrados mais refinados e com maior potência. Mas será possível, com a caixa certa, se conseguir melhores ‘degraus’ entre o piano e o fortíssimo.
Já a microdinâmica, pelo Rega não ser ultra transparente, não terá a recuperação de todos os mais sutis detalhes, somente os mais bem captados e presentes na mixagem serão ouvidos (esse é um preço a se pagar com os produtos mais de entrada, não dá para ter tudo).
O corpo harmônico é excelente para o seu preço, e até nos surpreendeu em muitas gravações que achávamos que não seria tão fiel ao tamanho real do instrumento.
E a materialização física dependerá exclusivamente da qualidade técnica das gravações. Se forem magistrais, o acontecimento físico ocorrerá – do contrário, não.
CONCLUSÃO
Sinceramente acho que o Rega Elex Mk4 é um excelente integrado de entrada.
Pois o consumidor só precisará escolher sua fonte (CD, LP ou Streamer), e ligá-la ao integrado, e este ao par de caixas ideal.
Um sistema minimalista que pode dar muitas horas de prazer auditivo.
Quer melhorar as pontas, invista em um cabo de força melhor, e um par de cabos de caixas com um equilíbrio tonal impecável!
Sua sonoridade, ainda que mais para quente que transparente, é muito correta e livre de fadiga auditiva ou limitação na escolha do que ouvir.
Isso é um alento, meu amigo, para quem tem um orçamento reduzido mas sonha com um setup de maior qualidade e refinamento.
Tudo que esse pacote oferece é honesto, e pode ser a solução que tantos dos nossos leitores desejam!
Se cabe no seu bolso, eu o ouviria com enorme atenção!
Nota: 84,0 | |
AVMAG #311 Alpha Áudio e Vídeo bianca@alphaav.com.br (11) 3255.9353 R$ 12.500 |
AMPLIFICADOR INTEGRADO FEZZ AUDIO TITANIA
Fernando Andrette
Nos últimos vinte anos vimos surgir uma salutar lista de fabricantes do Leste Europeu, a tomar de assalto o mundo audiófilo.
A lista é abrangente, com belos produtos feitos na Lituânia, Estônia, Letônia, Ucrânia, Eslováquia, Hungria, Bulgária e Polônia.
E justamente da Polônia é que surge, em 2015, a Fezz Audio, uma empresa familiar dirigida atualmente por dois irmãos: Maciel e Thomas Lachowski, ambos formados na academia técnica de eletrônica na cidade de Bialystok.
Os irmãos lançaram seu primeiro amplificador integrado, batizado de Silver Luna, na feira de áudio e vídeo de Varsóvia. A repercussão na Polônia foi tão imediata que, em menos de cinco anos, a Fezz já tinha uma equipe de mais de 40 funcionários para conseguir atender a enorme demanda interna.
O grande diferencial da Fezz Audio é o fato deles mesmos produzirem seus próprios transformadores, assim como fornecer esses transformadores para inúmeros outros fabricantes do áudio europeu.
Segundo Maciel, o responsável pela equipe de engenheiros / projetistas, cada novo produto Fezz passa por uma banca de examinadores auditivos – como ele costuma se referir a equipe que se responsabiliza pelas audições de todos os protótipos desenvolvidos na fábrica.
Com um processo inteiramente verticalizado, os transformadores de saída são o elemento mais crucial dos produtos deste fabricante.
Segundo o outro irmão, Thomas, responsável pela área de fabricação dos transformadores, o grande diferencial da Fezz em relação a seus concorrentes de amplificadores valvulados é que, através do uso de uma tecnologia de enrolamento inovadora e patenteada internacionalmente, eles atingiram parâmetros elétricos excepcionais, como largura de banda de frequência plana dentro da faixa audível, e distorção THD muito baixa com um alto fator de performance sonora.
Ainda segundo Thomas, muitos poucos fabricantes de amplificadores valvulados utilizam transformadores toroidais na saída, sendo muito mais comum serem usados na fonte de alimentação, apenas. E, para ele, o grande problema de se utilizar transformadores toroidais na saída, é que estes são complicados de fabricar, pois precisam ser construídos com terminação única, além de ter extremo cuidado no isolamento, o que é muito complexo e necessita de tecnologia proprietária da Fezz.
O modelo Titania, da linha Evolution, segundo a Fezz utiliza um circuito em três estágios: amplificador de tensão acoplado RC (1/2 12AX7), inversor de fase de carga dividida (1/2 12AX7) e amplificador de potência ultralinear (2 x KT88). A polarização catódica é usada principalmente porque são inerentemente auto-balanceadas, portanto quaisquer tubos incompatíveis, inseridos pelo consumidor, não causam a saturação do núcleo do transformador de saída.
A escolha da KT88, segundo o fabricante, é baseada em vários motivos. Pois em testes auditivos internos, continua sendo um dos melhores tubos de áudio já fabricados, tanto pela sua capacidade de potência como pela sua alta linearidade. Além de ser adequado para um amplificador de dezenas de Watts.
O usuário pode até escolher ligar o Titania com outras opções, como: KT120, KT150 ou KT170, porém a potência será a mesma (45 Watts por canal), porque a fonte de alimentação, os transformadores de saída e todo os circuitos foram projetados para 45 Watts por canal.
Desembalar o Titânia é tarefa para duas pessoas, pois o bicho pesa! Desembalado, temos na parte traseira três entradas RCA, tomada IEC e terminais para caixas com opções para 4 e 8 ohms. No painel frontal, dois grandes botões nas extremidades: o da esquerda para seleção de entradas e o da direita para ajuste de volume.
O controle remoto também é bastante simples e minimalista, com apenas o comando de aumentar ou diminuir o volume.
Como se trata de um amplificador auto polarizado, não haverá nunca a necessidade de ajuste de bias.
Para este teste, utilizamos basicamente três caixas acústicas: Audio Solutions Figaro M2 (leia teste na edição de outubro de 2024), Yamaha NS-5000 (leia teste na edição de agosto de 2024), e MoFi SourcePoint 10. Os cabos de caixa foram: Virtual Reality Trançado, e os Dynamique Audio Halo 2 e Apex. Fontes digitais: Transporte Primare DD35 (leia teste na edição de maio de 2024), DAC Merason DAC1 Mk2, Transporte Nagra, e DAC Nagra TUBE DAC. Fonte analógica: toca-discos Origin Live Sovereign Mk4 com braço 12” Enterprise Mk3, cápsula ZYX Ultimate Gold, e prés de phonos Lehmann Silver Cube (leia teste na edição de maio de 2024), Gold Note PH-1000 e Soulnote E-2 (leia Teste 1 na edição 308).
Uma pergunta ainda recorrente, feita por muitos leitores no nosso Workshop, realizado em abril em São Paulo, é: “Qual a razão de tantos audiófilos ainda serem apaixonados por amplificadores valvulados e áudio analógico?”. Eu já ouvi tantas vezes essa pergunta que até já reformulei minha resposta. Agora apenas respondo: ‘Não sei ao certo’.
Pois talvez até mesmo os amantes de válvulas não saibam exatamente o motivo, só sabem que é assim e pronto.
Meu pai abriria um largo sorriso com essa minha conclusão. Pois é o mesmo que perguntar a alguém a razão de ter uma cor preferida, ou um tipo de vestimenta que mais o agrada e lhe cai bem, ou uma afeição especial por determinados lugares, melodias, pratos.
É o lado subjetivista de cada um – e enquanto existir uma legião de apaixonados por essa sonoridade, haverá fabricantes para atender a essa legião de audiófilos e melômanos.
O universo do áudio hi-end só se beneficia dessa diversidade, e todos podemos aprender muito ao trafegar por todas essas topologias. E os valvulados também evoluíram muito, sendo hoje muito mais silenciosos, mais precisos, e capazes de níveis de performance desconcertantes.
Como sempre escrevo, a única coisa que você precisa, se for querer navegar nessas águas, é saber nadar. Pois elas exigirão cuidados redobrados: com a sinergia das caixas, tamanho da sala e qualidade das fontes.
Se você estiver apto a esses desafios, o resultado pode ser absurdamente satisfatório.
Com as três caixas que utilizamos para o teste, o Titania mostrou o seu melhor, fazendo a música fluir com enorme graça e naturalidade. Senti apenas, quando o Fezz chegou para testes, não termos mais em nossa sala a Audiovector QR 7, pois fiquei com a sensação que esse casamento poderia ser muito sedutor e convincente.
Pois como convivi um bom tempo com todas as caixas usadas neste teste (exceto a Audio Solution, que nos chegou faz apenas três semanas), para a montagem do Workshop, e ouvi a Audiovector com o I/50 da Audio Research (leia teste na edição 305), e o resultado foi arrebatador, fiquei com essa sensação que também o seria com o Titânia.
Paciência, não podemos ter sempre tudo à mão.
O Fezz é desses valvulados modernos que pode parecer um cordeiro, mas quando é chamado à prova, se transforma em uma fera astuta.
Então, não se engane amigo amante dos valvulados vintage dos anos sessenta, pois o Fezz nada se parece com esses valvulados antigos.
Esqueça aqueles graves que você podia sair da sala fazer uma pipoca e voltar e o grave de uma nota só ainda estar soando.
Seu grave é firme, com excelente corpo, definição, extensão e velocidade. Todos os exemplos utilizados, de Marcus Miller a Pastorius, o Fezz reproduziu com autoridade. Com qualquer uma das três caixas utilizadas no teste.
A região média é daquele apelo sedutor de todos bons valvulados modernos, com uma predominância difícil de igualar em amplificadores de estado sólido para vozes e instrumentos acústicos.
Incrível como a região média quando o amplificador valvulado é de alto nível, se torna tão proeminente. E os agudos soam naturais, com muito boa extensão, corpo e velocidade. Talvez o decaimento não seja tão extenso, mas são muito corretos.
O soundstage do Titania tem excelente largura, altura e boa profundidade.
Para se extrair mais profundidade, tenha bastante cuidado com a escolha da caixa. O melhor resultado foi com a Audio Solutions Figaro M2, se bem que essa caixa possui uma qualidade 3D excepcional. Os planos são bem retratados, com ótimo foco e recorte.
As texturas são ótimas em termos de apresentação de paleta de cores, com bom grau na apresentação das intencionalidades em gravações técnicas de alto nível.
Os transientes, como em todos os atuais valvulados, são precisos, em nada lembrando inúmeros valvulados vintage em que o tempo, andamento e ritmo se arrastam, tornando a apresentação musical letárgica. Com o Titania, você se sentirá acompanhando instintivamente o tempo com os pés, ou se for tímido, na mente, enquanto desfruta todos os detalhes.
Claro que a macrodinâmica de um valvulado de 45 Watts – não pode ser comparada à de um estado sólido de 200 Watts.
Mas, com uma caixa compatível com essa potência, você não sentirá que o Titania não seja capaz de arroubos dinâmicos convincentes. Então, como escrevi acima, esteja atento a sensibilidade da caixa que você irá colocar como par do Fezz. Minha sugestão: caixas com sensibilidade acima de 92 dB, para quem aprecia uma macrodinâmica convincente.
Já a microdinâmica, será ‘pêra doce’ para o Titania, graças ao seu impressionante silêncio de fundo.
A reprodução do corpo dos instrumentos musicais, foi uma das boas surpresas desse amplificador. A apresentação de quartetos de cordas, retratando o tamanho exato de cada instrumento nas gravações tecnicamente primorosas, faz com que nosso cérebro relaxe e queira se inserir naquele contexto, como se estivéssemos ao vivo.
O que já nos remete ao quanto a materialização física do acontecimento musical: no Titania, com excelentes gravações, é convincente!
CONCLUSÃO
Se você deseja um integrado valvulado com potência suficiente para ouvir diversos gêneros musicais, e já tem a caixa e sala condizente para opções entre 40 e 70 Watts por canal, você deve dar uma chance para o Titania.
Pois seu grau de coerência, construção e performance, o credenciam a ocupar um lugar de destaque nesse disputado segmento de produtos de nível hi-end.
Não creio que haja necessidade de futuros upgrades, se o seu desejo é apenas ‘refinar sonicamente’ suas gravações.
O Titania está apto a fazê-lo de forma segura e sedutora!
Nota: 92,0 | |
AVMAG #308 Aura comercial@aura-av.com.br (51) 982810012 R$ 43.800 |
AMPLIFICADOR INTEGRADO AUDIO RESEARCH I/50
Fernando Andrette
Queria muito testar o novo integrado I/50 da Audio Research, pois depois de avaliar o pré Reference 6, ouvir o 6SE, e testar os Reference 160M – que considerei o melhor power valvulado por nós testado – sabia que se o integrado tivesse herdado a mesma linha de projeto e ‘DNA sonoro’, certamente seria bastante promissor.
Para mim, ao ouvir e testar seus modelos top de linha, ficou claro que a Audio Research havia dado um passo consistente à modernidade, buscando novos nichos de mercado sem perder a ‘mística’ criada desde sua fundação.
Esse ponto de guinada é sempre difícil para empresas de áudio estabelecidas, e com um forte pé no tradicional.
Algumas hesitam, outras nem arriscam, e muitas das que se lançam, sofrem e não conseguem chegar íntegras à outra margem.
Ninguém possui uma bola de cristal para dizer o que funciona ou não nessas mudanças de rumo, e eu costumo dizer que existe um ponto ‘cego’ nessa transição, quando os engenheiros e o departamento de marketing estão queimando as pestanas para fazer essa trajetória sem grandes sustos.
Serão inevitáveis embates calorosos internos, defesas de fazer o ‘arroz com feijão’ que está dando certo com apenas uma nova roupagem, e até os que defendem mudanças radicais e definitivas.
Na minha humilde opinião a Audio Research foi muito feliz, tanto em termos de design, pois fez corretamente a ‘lição de casa’ sem perder sua identidade visual, quanto em relação ao principal: performance, pois o salto foi absolutamente significativo!
Por todas essas razões, ouvir seu mais novo integrado era obrigatório.
Confesso que fiquei um pouco frustrado ao ler os primeiros reviews, e ver que os engenheiros não optaram pelas excelentes KT150 usadas em todos seus novos powers. Uma válvula que tem se mostrado ultra segura e com um grau de refinamento surpreendente.
Todos amplificadores integrados e powers que ouvi com as KT150, me convenceram ser essa uma válvula de excelente performance, com melhor silêncio de fundo, maior macro dinâmica e, o mais importante, maior potência com apenas 4 válvulas que qualquer outra similar.
Passada a frustração inicial, os testes que saíram internacionalmente mostraram que o I/50 possui muito da performance dos modelos acima lançados pela Audio Research nesses últimos 5 anos.
Pelo design e seis opções de cores (preto, prata, branco, vermelho, amarelo e azul), fica claro que o departamento de marketing almejou dois novos nichos: público jovem e feminino.
Achei ousado e, ao mesmo tempo, muito criativo, e as fotos não fazem jus a sua beleza e acabamento.
O enviado para teste foi na cor prata! Utilizando 4 válvulas 6550 WEs, o I/50 é capaz de debitar 50 Watts. As válvulas vêm numeradas para que o usuário não arranque os cabelos (se ainda tiverem), e os triodos são 6922.
Todos os comandos estão no controle remoto, completo.
Então no gabinete temos apenas dois botões giratórios: o da esquerda que seleciona entradas e o da direita que liga/desliga, e o volume.
O I/50 possui uma boa saída para fones de ouvido e, no meio e na frente, estão dois Lexie Tubes, que fornecem o display para mostrar a entrada comutada, mute e volume do amplificador.
Assim que você liga o I/50, o Lexie Tube faz uma contagem regressiva de 50 segundos para estabilização de temperatura. Após estabilizada, é só definir a entrada que será usada (S1, S2, S3 e BL). Caso o usuário tenha adquirido a versão com phono, a entrada S1 será dedicada ao analógico.
O fabricante sugere que nunca, ao desligar o amplificador, volte a fazê-lo imediatamente – sendo o tempo de espera nesses casos de pelo menos 3 minutos.
Aos apressadinhos, essa informação é vital!
Atrás, além da entrada IEC de força, temos os terminais de caixas para 4 e 8 ohms, e as quatro entradas de linha.
Vários artigos a respeito do I/50, falam que o ajuste final foi feito em uma Sasha DAW da Wilson Audio, já que são parceiros e amigos de longa data.
Claro que esse ‘detalhe’ chama, de cara, a atenção, já que estamos falando de um integrado de 6 mil dólares, ligado em uma caixa de 40 mil dólares! O que parece um casamento no mínimo desproporcional e que, na prática, não creio que seria levado a cabo.
Como fui usuário por dois anos e meio de uma Sasha DAW, sei bem do quanto ela ‘escancara’ limitações de powers que não estejam no seu nível de performance, portanto é no mínimo ousado imaginar que os engenheiros da Audio Research tenham feito os ajustes finais em uma caixa tão refinada.
Mas se o fizeram, e colocaram o I/50 no mercado, certamente ficaram satisfeitos com a performance de seu novo integrado.
Infelizmente, para o teste, não consegui nenhuma caixa da Wilson Audio para fazer companhia – porém estou com um arsenal de caixas que utilizarei no Workshop Hi-end Audio Show, em final de abril, em São Paulo – então pude escolher as que mais se adequaram em termos de sensibilidade com os 50 Watts do I/50.
As caixas utilizadas foram: Wharfedale Linton, MoFi SourcePoint 10 e 8 (leia teste na edição de junho de 2024), Estelon Aura, e Dynaudio Contour 30i (leia Teste 2 na edição 305).
As duas caixas que melhor casaram a nossa sala de 50 metros foram: Linton e as duas Mo-Fi. Sendo que, para o fechamento da nota do I/50, utilizei a SourcePoint 10, que se mostrou um casamento impressionante!
Eu indicaria a todos que venham a comprar esse excelente integrado para salas de até 20 metros, que ouçam-no com a Mo-Fi SourcePoint 10. Ou com a Audiovector QR 5, pois ambas são caixas de boa sensibilidade, capazes de extraírem todo o potencial do I/50.
O que mais me impressiona nessa nova ‘safra’ da Audio Research, é que não existe nenhum resquício do som dos amplificadores valvulados vintage, que andam tão em moda atualmente.
Se você busca por um som valvulado anos 50/60, letárgico, com graves retumbantes, médios pulando e raspando sua sobrancelha, e agudos opacos, esqueça o I/50.
Pois ele é o oposto do descrito acima.
Sua sonoridade é pulsante, precisa, transparente e, acima de tudo, contagiante!
Não importa o estilo, ele não faz escolhas ou limita sua performance a determinados gêneros musicais. Ele tem aquela vital capacidade de fazer a música pulsar, e nos prender ao acontecimento musical de maneira direta e sedutora.
Agora para extrair todo seu ‘encanto’, cuidados dobrados precisarão ser seguidos à risca: Sensibilidade das caixas precisa ser acima de 90 dB (melhor ainda entre 92 e 94 dB), a sala não pode ter mais que 20 metros quadrados, e a fonte precisa também ser de excelente nível.
Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos: CD/SACD Arcam CDS50, Transporte Primare DD35 (teste na edição de junho 2024), DAC Merason DAC 1 Mk2, e Nagra TUBE DAC. Fonte analógica: pré de phono Lehmann Audio Silver Cube Phono Stage (leia teste na Edição de Aniversário em maio de 2024), toca-discos Origin Live Sovereign Mk4, braço Enterprise Mk3, cápsula ZYX Ultimate Gold. Os cabos de força utilizados no I/50 foi o que o fabricante envia, o Sunrise Labs Quintessence Aniversário, e também o Transparent Reference XL G6.
O I/50 nos foi enviado pelo seu novo representante no Brasil, a Ferrari Technologies, com aproximadamente 70 horas de amaciamento.
Aí, instalá-lo e fazer a primeira audição com as nossas gravações como sempre faço, ficou claro que, se houvesse maior necessidade de amaciamento, dificilmente a performance seria alterada. Pois já saiu depois de uma hora de aquecimento soando impressionantemente ‘orgânico’!
É sempre difícil exprimir em palavras uma sensação tão íntima, como ‘sentir’ a intencionalidade de cada nota, de todos os instrumentos ao mesmo tempo.
No I/50 as texturas são simplesmente seu ponto mais fora da curva. Arriscaria dizer que nesse quesito sua ‘órbita’ em torno do todo é perfeita! Por mais que estejamos atentos ao acontecimento musical, detalhes de intencionalidade saltam à nossa frente como vagalumes em uma noite sem luminosidade natural.
Esses momentos nos marcam, pois despertam em nós sempre aquela pergunta que sempre nos atormenta: por que todos não soam assim?
É preciso ter paciência, pois como nenhum equipamento de áudio é perfeito, sempre haverá lacunas a serem preenchidas ou até mesmo corrigidas.
O que podemos fazer quando descobrimos essa dura realidade, é fazer com que o setup escolhido tenha o maior nível possível de coerência e correção, e que as limitações não sejam predominantes.
Não pense, meu amigo, que é uma questão de valor final do produto. Pois todos terão restrições, então sejamos inteligentes e tenhamos claro que o que buscamos é o melhor ponto de equilíbrio entre virtudes e limitações.
O I/50 consegue mesclar bem suas virtudes e limitações.
Falta, por exemplo, maior extensão nas duas pontas, com mais ar nas altas e mais peso e energia na primeira oitava de sustentação do grave.
Mas isso não impede que sua apresentação de texturas seja tão sedutora.
Percebe aonde quero chegar?
Isso são escolhas feitas pelo projetista. Ele sabe o prato que ele consegue fazer de melhor, com os ingredientes que tem em mãos. E nos presenteia com uma sonoridade ‘saborosa’, repleta de sutis detalhes, que nos fazem saborear cada momento daquela audição como única!
O importante é que o projetista soube dosar o ponto de equilíbrio tonal, para que nada sobressaísse ou o que falta estragasse o resultado final.
Esses são os projetos dignos de serem estudados e sobretudo apreciados, pois nos mostram a capacidade do engenheiro de contornar os desfiladeiros sinuosos com uma bela sonoridade.
Meu pai usava o termo: “a capacidade de criar belas paisagens sonoras” – e é exatamente disso que se tratam as qualidades do I/50.
Se eu for criteriosamente crítico, serei injusto, pois ainda que todas as limitações do I/50 sejam audíveis (como as que mencionei), suas qualidades sobressaem.
Sua apresentação do palco sonoro é ampla em largura, boa em profundidade e razoável em altura. E, no entanto, em gravações com vozes, que nos escancara a limitação na altura da imagem sonora, o I/50 nos brinda com vozes tão eloquentemente sedutoras, que se eu perguntar a qualquer um de vocês se a altura dos cantores estava correta, provavelmente a maioria responderá que não percebeu.
Dizem que o excelente mágico não é aquele que faz a melhor apresentação, e sim o que convence mais a plateia de que aquela mágica ocorreu. O I/50 me parece ter um excelente ’mágico’ por trás de sua bela performance.
Já falei o suficiente da impressionante capacidade de nos mostrar as intencionalidades, mas o I/50 vai além ao recriar com tanta graça e sutileza a paleta de cores dos instrumentos. É de ouvir em profundo silêncio e reverência tantos detalhes!
Os transientes são rápidos, incisivos e com uma marcação de tempo corretíssima. Digno da geração atual de valvulados modernos e bem projetados. Nenhum músico soará displicente e não transformará a música em uma sinfonia letárgica.
A dinâmica seria melhor em um power com maior potência? Certamente que sim. E com KT150, soaria ainda melhor? Se os engenheiros conseguissem manter todas as virtudes que alcançaram com a 6550, certamente que sim! Então, meu amigo, não espere uma macro-dinâmica de suspender sua respiração ou acelerar seus batimentos cardíacos, OK?
Mas com as caixas corretas, também não será decepcionante, acredite.
A micro-dinâmica é simplesmente excelente e permite um grau de inteligibilidade incrível para sua faixa de preço.
É mais fácil um power transistorizado sofrer de ‘anorexia sonora’ que um bom valvulado. O corpo dos instrumentos no I/50 é de alto nível, permitindo sem esforço ouvir a diferença de tamanho entre um contrabaixo e um cello.
E a materialização física, ainda que não seja um primor, é bem resolvida e apresentada com ‘convicção’ em gravações excelentes tecnicamente. O ouvinte não será transportado para a sala de gravação, mas os músicos lhe farão uma visita em seu espaço, seja ele limitado ou mediano.
CONCLUSÃO
Quando eu testei, na virada do século, o Pathos Twin Towers de apenas 25 Watts, e apresentei ao meu pai, que buscou e defendeu a sua vida toda que o melhor dos mundos era a topologia híbrida (pré valvulado e power transistor), ele – como eu – ficou antes de tudo impressionado o quanto aquele integrado era musical.
O quanto suas virtudes conseguiam nos fazer olhar para elas e esquecer suas limitações.
Esse é o truque que todo bom projetista tem em mãos, e quando faz bom uso, consegue nos fazer olhar apenas para o que ele quer que percebamos.
Entende como funciona, amigo leitor?
É o ‘truque’ bem feito!
O I/50 se enquadra perfeitamente nesse grupo. Ele não ‘blefa’, não promete o que não pode cumprir, mas o que ele tem de virtudes, o faz ser merecedor de um lugar ao sol.
Se não for para você que clama por maior potência e energia, será para aquele com os ‘pés cansados’ de tanto buscar, e que só deseja sentar e ouvir a música de forma que o faça se desligar do mundo e viver suas horas pessoais com seus discos e lembranças.
Existem muitos de vocês buscando essa experiência sonora.
Aqui eu até posso perfeitamente fazer concessões, pois o I/50 não tem nenhum desvio grave de equilíbrio tonal, letargia, ou dinâmica ‘capada’.
E suas virtudes são tão consistentes e sedutoras, que ele não pode ser acusado de blefe!
Como o Pathos, no qual eu e meu pai suspiramos e passamos horas e mais horas ouvindo nossos discos de cabeceira, o I/50 certamente tem o mesmo poder de sedução, graça e beleza.
Se meu pai estivesse vivo, certamente ao final de uma longa audição, me diria: “esse é um excelente mágico sonoro”!
Nota: 95,0 | |
AVMAG #305 Ferrari Technologies info@ferraritechnologies.com.br (11) 98369.3001 / 99471.1477 US$ 8.990 (sem DAC e sem pré de phono) US$ 10.190 (com pré de phono) US$ 10.590 (com DAC) |
AMPLIFICADOR INTEGRADO PRIMARE i35 PRISMA
Fernando Andrette
Eu tive a sorte de testar alguns dos mais significativos equipamentos Primare do começo deste século, até que a marca deixou de ser distribuída no Brasil por um bom tempo.
Então, ao saber que a Chiave havia pego novamente a marca para distribuir no Brasil, eu não tive dúvida, tanto de solicitar o envio de alguns produtos para teste, como – após escutá-los – utilizá-los em nosso Workshop realizado na última semana de abril, em São Paulo.
No evento, utilizei o leitor de CD DD35 (teste na edição 306), em conjunto com o integrado i35 Prisma, tocando com diversas caixas como a MoFi SourcePoint 10 e a Dynaudio Contour 30i.
Minha curiosidade maior, ao solicitar os dois produtos para teste, foi primeiro saber como soavam e para conhecer sua exclusiva topologia Classe D, que tem tido excelentes avaliações nas mídias especializadas.
A Primare utiliza seus próprios módulos amplificadores UFPD 2 (Ultra Fast Power Module) Classe D patenteado, que tem entrega de corrente instantânea e distorção extremamente baixa – mas que nessa nova versão, tem ainda mais amplificação linear em toda a largura de banda audível, possibilitando empacotar, em um gabinete de dimensões modestas, 150 Watts em 8 ohms.
O i35 Prisma é o i35 com um DAC interno e placa de streaming. Seu DAC possibilita entradas digitais USB, Coaxial e S/PDIF Toslink. Além de duas conexões Ethernet e duas antenas para conexão via Bluetooth (Apple e Android), e o controle da seção Prisma através do aplicativo Prisma.
O que me chamou a atenção é que o i35 Prisma é bastante fácil de usar, com tudo à mão, seja para o usuário ‘purista’ que só deseja um integrado com uma performance de alto nível, como para aqueles que desejam internet e sua conveniência de tudo a mão.
Seu controle remoto é completo e de fácil visualização e memorização dos comandos.
Em termos de design, pouca coisa mudou em relação às gerações anteriores. A mesma placa de alumínio escovado grossa se encontra no painel frontal, com um modesto display OLED retangular e quatro pequenos botões que ligam o aparelho, abre o menu e as configurações possíveis. O botão do lado esquerdo seleciona as entradas, e do lado direito o volume.
Se o usuário não estiver com o controle em mãos, os botões existentes no painel possibilitaram você desfrutar de sua música sem problema.
Já o painel traseiro, é uma verdadeira ‘sala de máquinas’, com uma primeira fileira de entradas digitais, uma saída digital coaxial, conexões de rede LAN e um slot USB-A, antena dupla e uma fileira inferior dedicada às entradas analógicas (um par de XLR e três pares de RCA), terminais de alto-falantes, tomada IEC e chave de liga/desliga.
Segundo o fabricante, o i35 Prisma fornece 150W em 8 ohms, 300W em 4 ohms, e que essa nova placa de amplificação possui uma distorção ainda mais baixa que a versão anterior, um tempo de subida instantâneo e amplificação totalmente linear em toda largura de banda.
O DAC usa um chip AKM AK4497EQ de 32 bits, capaz de suportar até 786 kHz PCM e 22.4 MHz DSD. E a entrada USB permite reprodução de arquivos PCM 768 kHz / 32 bits e DSD256 / 11.2 MHz.
Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos. Caixas: Audio Solutions Figaro S2 (teste na edição de outubro), Yamaha NS-5000 (Teste 1 na edição 309), Rega Aya e Dynaudio Contour i30. Digital: transporte Primare DD35 e CD Transport Nagra para avaliação do DAC interno do integrado, com diversos cabos coaxiais (Supra, Virtual Reality e Dynamique Audio).
O i35 Prisma já estava totalmente amaciado quando voltou do Workshop, então nosso trabalho foi apenas ligá-lo em nossa sala de testes e iniciarmos a avaliação auditiva.
Foi um dos integrados que mais chamaram a atenção em nossa sala no evento, pela sua capacidade e autoridade em guiar as caixas com mão de ferro, sem mostrar dificuldade em nenhum tipo de variação dinâmica.
Outra característica citada pelos participantes do Workshop, foi seu grau de apresentação da microdinâmica, com muito mais detalhes que outros integrados concorrentes em termos de preço e performance.
Então tinha mais ou menos uma ideia do que esperar do integrado da Primare, e como ele se comportaria com caixas muito mais caras que ele, como a Yamaha NS-5000 e a Audio Solutions Figaro S2. Os cabos usados nas caixas foram dois modelos da Dynamique: Hallo 2 e Apex, que também utilizei no evento.
O equilíbrio tonal do i35 é alto e muito bem resolvido por ser uma classe D. Antes que os defensores dessa topologia me apedrejem, o que ainda sinto falta nos que ouvi e testei, é um melhor corpo harmônico na região médio-grave e mais energia na apresentação dos graves. O que sempre para mim soa como um equilíbrio tonal que joga mais luz na região média-alta e nos agudos.
Então a primeira coisa que busco ouvir é como cada novo Classe D que avalio, se comporta nesses ‘detalhes’.
O i35 Prisma não tem essa característica. Em nenhuma das caixas utilizadas achei que havia algum desvio de mais brilho nas altas. Seu grave possui velocidade, bom corpo e energia. A região média é de uma transparência impressionante, com uma apresentação precisa de cada instrumento dentro do acontecimento musical. E os agudos possuem muita extensão, velocidade e ótimo decaimento.
O palco sonoro tem muita largura, altura correta e profundidade o suficiente para os naipes das orquestras serem bem delimitados em seus espaços.
E graças ao seu silêncio de fundo, a apresentação das ambiências das gravações são primorosas. É possível ouvir os rebatimentos das grandes salas de concerto, com enorme respiro e decaimentos ultra naturais.
Eu tenho uma gravação de um coral russo somente com vozes masculinas, gravados há muitos anos (acredito que mais de 40 anos), na sala de São Petersburgo, cantando canções folclóricas. É uma gravação bem encardida para reproduzir no fortíssimo, pois tende em sistemas com pouca ambiência soar duro e frontalizado.
O Primare tirou de letra essa gravação, permitindo nessa passagem difícil ainda ouvir o rebatimento das paredes laterais da sala.
O foco e recorte desse integrado também são excelentes, possibilitando ouvirmos os solistas com uma precisão convincente.
As texturas são retratadas com grande detalhamento e impressiona como é possível avaliar a qualidade técnica da gravação, dos instrumentos e da virtuosidade dos músicos.
Os transientes são ‘alucinantes’ em termos de velocidade e precisão.
Ouvir os transientes desse integrado nas caixas Yamaha NS-5000 foi motivo de três páginas em minhas anotações pessoais, sobre os detalhes e sutilezas que esse setup proporcionou na análise desse quesito.
A macro-dinâmica é surpreendente, e confirma o que o fabricante afirma sobre as subidas instantâneas, quando exigido. Ele não teve dificuldade alguma de repetir o feito em todas as caixas utilizadas, sem esforço adicional ou distorção audível nesses fortíssimos!
E a micro-dinâmica, meu amigo, com esse grau de silêncio de fundo, é a mais pura covardia – você ouvirá o mais ínfimo detalhe existente na gravação, acredite!
Em termos de corpo harmônico, direi ser o melhor Classe D que ouvi e testei até esse momento. Falta ainda? Sim, mas apenas se você tiver como comparar com um integrado que possua ainda melhor corpo harmônico, do contrário duvido que você ache algum problema em como o i35 Prisma apresenta esse quesito.
E quanto a materialização física do acontecimento musical, com esse grau de transparência, é impossível você não abrir um sorriso de orelha a orelha, quando seu cantor ou cantora estiver na sua frente lhe fazendo uma apresentação particular.
Achei o DAC do i35 Prisma, assim como seu streaming, de excelente nível, com enorme facilidade e com o mesmo nível de performance do integrado. Algo raro, já que para tornar o produto competitivo e atraente, muitas vezes o fabricante precisa fazer uma média para se manter na briga.
A Primare não fez concessões, e bancou um produto em que tudo se encontra no mesmo patamar. Por isso eu, ao contrário de outros integrados, onde divido as notas por topologia, dessa vez dei apenas uma nota geral e completa para o pacote todo!
CONCLUSÃO
Se você está a procura de um integrado ‘completo’, que só necessite de um par de caixas para ouvir sua música, o Primare i35 Prisma pode perfeitamente ser essa opção.
Méritos, história e performance esse fabricante sueco já mostrou ter de sobra.
Trata-se de um integrado completo para ser o ‘cérebro’ de um setup hi-end!
Nota: 97,0 | |
AVMAG #309 Chiave chiave@chiave.com.br (48) 3025.4790 / (11) 2373.3187 R$ 45.560 |
AMPLIFICADOR INTEGRADO ATOLL IN400SE
Fernando Andrette
Acompanho essa marca francesa faz um bom par de anos, e li alguns excelentes reviews sobre seus integrados, pré e powers.
Agora, com a marca distribuída oficialmente no Brasil pela Aura, de Novo Hamburgo – RS, nossos leitores poderão ter a oportunidade de conhecer melhor esse fabricante francês e apreciar sua interessante e coerente linha de produtos.
Um dado comum em todos os reviews que li é que todos, de maneira unânime, elogiam sua construção, acabamento e assinatura sônica, que prima pela precisão, velocidade e poder dinâmico.
Recebi o integrado IN400SE, top de linha, seis semanas antes do nosso Workshop Hi-End Show, então tive a oportunidade de ouvi-lo enquanto amaciava com todas as caixas que levaria para o evento, e à medida que vi seu grau de autoridade e compatibilidade com todas elas, cheguei à conclusão que o Atoll deveria ser apresentado pelo menos com um sistema.
E os nossos leitores que foram ao evento, e assistiram a apresentação do Sistema 4, com o transporte Primare D35, Merason DAC 1 Mk2, e caixas Audiovector QR 7, tiveram uma ideia bem consistente do poder de fogo desse integrado!
Escrevo faz pelo menos cinco anos sobre a evolução incessante dos integrados, e como eles são a opção mais ‘inteligente’ e viável para quem deseja um setup definitivo de alto nível, minimalista e que ocupe pouco espaço.
Minha decisão de só apresentar integrados neste primeiro Workshop foi minuciosamente pensada, buscando mostrar o que escrevo e defendo há tanto tempo.
No nosso segundo Workshop, no próximo ano, tenham certeza que manterei a mesma estratégia de só montar sistemas minimalistas, e com performances acima de 96 pontos. Para a nossa realidade, não vejo soluções mais inteligentes que montar um sistema em que o integrado seja o ‘cérebro’ do setup.
Para os que ainda resistem, achando que integrados, por melhor que sejam, não chegam ao patamar de um bom pré e power precisam, ao conhecer o Atoll IN400SE, repensar esse preconceito. Pois na verdade, esse integrado é a soma do pré amplificador PR400 e do amplificador AM400. Essa é uma cultura reproduzida pelos irmãos Stéphane e Emmanuel Dubreuil, desde a fundação da Atoll em 1997, que resolveram produzir equipamentos eletrônicos de áudio de excelente nível de qualidade, design e performance, mas a preços compatíveis com a realidade da esmagadora maioria dos audiófilos.
A Atoll projeta e fabrica todos os seus produtos na região da Normandia, no noroeste da França.
Se você tiver a minha idade, não vai querer desembalar esse peso pesado sem ajuda. Seu chassi é construído com uma placa de aço de 2mm, e um painel anodizado de alumínio de 10 mm. Os dissipadores são fabricados em maciços blocos de alumínio a partir de um processo desenvolvido pela própria Atoll. Esse é mais um fabricante que leva muito a sério as vibrações mecânicas, e procurou aliar um criativo processo de dissipação de calor que também ajuda a absorver com precisão as vibrações externas ao gabinete.
O fabricante afirma que 90% dos componentes de todos os seus produtos são de fornecedores localizados na França e na União Europeia.
Seu design pode dividir opiniões, mas não haverá espaço para críticas quando o usuário for utilizá-lo. No painel frontal temos um par de botões de alumínio para seleção de volume e seleção de entradas, e um conector para fone de ouvido. No meio dos dois botões, um display em cor azul com as informações referentes a entrada e volume.
Esse display, caso o usuário deseje, pode ser totalmente escurecido.
No painel traseiro, o IN400SE oferece cinco entradas RCA, um bypass dedicado para home theater e uma entrada XLR. Além de duas saídas de pré amplificador para potencial bi-amplificação ou para acionar subwoofer – ou usar o aparelho como pré de linha.
O fabricante disponibiliza uma opção do IN400SE com placa DAC com uma entrada USB-B, para decodificação de arquivos de até 24-bits/96kHz.
O controle remoto é completo, mas pessoalmente usei apenas o controle de volume, para operá-lo no Workshop.
Segundo o fabricante, o Atoll produz 160 Watts em 8 ohms, e 300 Watts em 4. Toda sua topologia é duplo mono, e os transistores de saída são MOSFET (oito por canal) com 93.400uF de capacitância de reserva na fonte, e com capacitores de entrada de áudio Mundorf. O fabricante também afirma que utiliza uma quantidade de feedback global muito baixa, e que emprega alta corrente nos estágios de driver para limitar a distorção.
O IN400SE trabalha os primeiros 10 Watts em classe A, antes de entrar em operação classe AB.
A lista de caixas utilizadas no teste foi: Estelon Aura, Estelon X Diamond Mk2, Audiovector QR 7, MoFi SourcePoint 10 e 8 (leia teste na edição de julho), Boenicke W5, Wharfedale Linton 85 anos, e Dynaudio Contour 30i. Fontes digitais: CD-Player Arcam CDS50, Transporte Primare D35, DAC Merason DAC1 Mk2, Transporte Nagra, TUBE DAC Nagra, e dCS LINA. Cabos de força: Transparent Reference G6 e Sunrise Lab Aniversário. Cabos de caixa: Virtual Reality Trançado, e Dynamique Audio Halo 2 e Apex. Cabos de interconexão: QED XLR Reference, Sunrise Lab Aniversário XLR e RCA, Dynamique Audio Zenith 2 RCA e Apex XLR. Cabo USB: Dynamique Audio Apex (leia Teste 3 na edição 307) e Kubala Sosna Realization.
O Atoll IN400SE chegou para teste com 50 horas de queima. Saiu já mostrando todo o seu incrível potencial. Casou como uma luva com a Dynaudio Contour 30i, e nas 100 horas a mais de queima, ambos fizeram um belo par.
Quem já teve Dynaudio, sabe o quanto essa caixa gosta de um amplificador que a coloque ‘nos trilhos’. Se você der a ela os Watts que necessita, ela simplesmente devolverá ao ouvinte cada centavo do investimento.
Como mostrei a todos que participaram do nosso Workshop Hi-End Show, é tudo uma questão de sinergia e pares com as mesmas características sônicas.
Se eu tivesse apenas no momento do teste a Dynaudio 30i, ficaria muito satisfeito com a performance do conjunto, mas estaria sub utilizando o Atoll, pois ele tem ainda mais garrafas para vender.
Esse foi o ponto central abordado no nosso Workshop. Aprender a entender o limite individual de cada componente, e como montar esse quebra cabeça, para que o elo fraco não limite todo o sistema.
E com todo esse arsenal de caixas e equipamentos disponíveis no momento da chegada do Atoll, foi delicioso descobrir qual seria o teto deste integrado. E foram seis semanas, repetindo os oito exemplos de cada um dos quesitos, ouvindo em todas as caixas e fontes.
A assinatura sônica deste integrado está mais para o lado quente que frio, porém não quer parecer um transistorizado com som de válvula. Diria que, de forma muito correta, seus projetistas se preocuparam muito mais com questões elementares como piso de ruído de fundo, dinâmica, transientes, palco e equilíbrio tonal, que dar um toque de calor ‘adicional’ para agradar aos que buscam um som eufônico para seus sistemas.
Seus graves são enérgicos, velozes e com excelente corpo. A região média possui o equilíbrio perfeito entre transparência e naturalidade. E seus agudos possuem boa extensão e bom decaimento.
Não há nenhuma restrição ao seu equilíbrio tonal. Pelo contrário, é bastante consistente e correto.
Gostei muito de seu foco, recorte e apresentação de ambiências. Com planos em gravações de música clássica muito bem apresentados tanto em termos de largura, como altura e profundidade. Ele realmente permitiu ouvir com precisão as qualidades e limitações de cada uma das caixas em relação ao soundstage.
As texturas são muito bem retratadas, tanto em termos de paleta de cores, como em intencionalidade. O ouvinte pode perfeitamente acompanhar e observar em detalhe qualidade dos instrumentos e virtuosidade dos músicos.
Se você deseja saber o ponto mais alto deste integrado, chegamos lá: transientes e dinâmica. Meu amigo, esses dois quesitos são pontos bem altos. Transientes são reproduzidos com enorme realismo e precisão, os tempos andamentos e ritmos são simplesmente inebriantes no Atoll. E a macro-dinâmica deste integrado é exemplar! E deveria ser estudada pela concorrência com afinco.
Os leitores que ouviram esse integrado reproduzindo Copland com os tímpanos soando no fortíssimo na Audiovector QR 7, são testemunhas do que estou tentando passar a vocês!
O Atoll IN400SE não perde o fôlego, além de manter a folga e total conforto auditivo!
A apresentação do corpo dos instrumentos é muito correta, fazendo com que nosso cérebro goste do que está ouvindo (novamente é só lembrar dos tímpanos do Copland). Tamanho muito próximo do real!
Com todos esses atributos, claro que materializar o acontecimento musical à nossa frente, não será nenhum esforço adicional a esse integrado.
Novamente recorro aos participantes que ouviram Maria Bethânia cantando Melodia Sentimental, ou Joe Cocker – You Are So Beautiful, ali na frente de todos os presentes no Workshop e nas Jam Sessions noturnas.
CONCLUSÃO
Dizem que as pessoas a partir de uma certa idade se tornam repetitivas – no meu caso eu preciso insistir com cada um de vocês para prestarem mais atenção na nova safra de espetaculares integrados que já estão no mercado.
Eles merecem essa atenção, pois eles fazem exatamente tudo que sempre desejamos de um sistema genuinamente hi-end. Com várias vantagens: custam menos que um pré e power, precisam de menos cabos, ocupam menos espaço e tem uma compatibilidade e sinergia com uma enorme quantidade de excelentes caixas hi-end!
Não dar atenção a essa ‘realidade’ é um erro imperdoável – acreditem em mim!
Saber que posso ter um sistema hi-end superlativo ao alcance do meu sonho é o que irá manter a audiofilia viva. E esse sonho é realizável com a geração atual de integrados.
E o Atoll IN400SE é um dos expoentes dessa nova safra!
Nota: 99,0 | |
AVMAG #307 Aura comercial@aura-av.com.br (51) 982810012 R$ 65.860 |
AMPLIFICADOR INTEGRADO SOULNOTE A-2
Fernando Andrette
Vou dar um breve apanhado da história da Soulnote, para os que não leram o teste do pré de phono E-2, que publicamos na edição 308.
Lá eu descrevi em detalhes a filosofia do projetista e diretor técnico, sr Kato, e sugiro a todos que gostam de saber detalhes das pessoas por trás de excelentes projetos, que leiam na íntegra o teste.
Fundada em 2004 pelo ex-engenheiro/diretor da Marantz Norinaga Nakasawa, a Soulnote é uma marca japonesa que vem se estabelecendo na linha de frente de produtos de áudio hi-end. Desde sua fundação, ela sempre visou oferecer ao mercado três séries distintas com níveis de performance bem estabelecidos, mantendo o mesmo ‘DNA Sonoro’ para todos os seus produtos.
A série 1 é considerada a linha de entrada, a série 2 é a linha intermediária – mas com inúmeras características de conceito e performance herdadas da série 3, a top de linha.
O que é inegável é o primor de construção e de qualidade final das três séries.
O integrado A-2 é uma topologia duplo mono totalmente balanceada, e oferece seis entradas de linha, sendo três balanceadas e três RCA. São 100 Watts em 8 ohms e 200 Watts em 4 ohms. O estágio de saída é classe AB com um revés em classe A (sem, no entanto, o fabricante especificar o quanto o A-2 opera em classe A).
O fabricante enaltece o uso de um transformador de 600 VA com um consumo de 125 Watts ocioso – e 355 Watts em potência máxima.
Alerto que, pelo grau de aquecimento do A-2, em volumes razoáveis, ele seja colocado em local bem ventilado.
Seguindo o fabricante, o Feedback Negativo é zero, e como expliquei detalhadamente no teste do E-2, Hideki Kato acredita que Feedback Negativo não traz nenhum benefício em termos de performance. E a qualidade de som que ele busca para os seus produtos é uma reprodução precisa da forma de onda original no domínio do tempo, e esse conceito é impossível de ser medido.
Então o sr Kato insiste, com sua equipe de engenheiros, que o ajuste fino seja feito estritamente com testes de escuta. Pois só assim se chegará ao objetivo final.
O irônico desse conceito – que deve causar ‘urticária’ nos objetivistas ortodoxos – é que as medições do A-2 são excelentes. Com uma distorção muito baixa de apenas 0.03% e uma largura de banda de 3 Hz a 240 kHz.
E esse resultado sem o uso de circuitos servo DC de corrente, pois para o sr Kato o uso desses circuitos estraga a qualidade final do som. Outro conceito do qual ele não abre mão é do uso de resistores fixos em vez de potenciômetro para o volume, pois para ele os resistores mantêm uma precisão muito maior entre o canal esquerdo e direito, principalmente em volumes mais baixos.
E, por fim, mas não menos interessante, é o cuidado que a Soulnote tem com a questão de vibração mecânica, fazendo uso de spikes para um melhor desempenho sonoro, o que exige, na hora de colocar o integrado na prateleira, uma enorme paciência para não danificar a base com spikes tão afiados, e a ajuda de uma segunda pessoa para fixar as moedas protetoras para os spikes.
E o estranhamento que certamente todos terão, em um primeiro contato com os produtos deste fabricante, é a tampa superior solta e desacoplada do gabinete. Você, como eu, deve supor que em volumes altos, essa tampa irá vibrar e gerar ruído. Mas não se preocupe, pois isso não ocorrerá.
Falando em gabinete, todo ele é feito de alumínio de 1.5 cm de espessura com listas, que segundo o fabricante são necessárias para o resultado sonoro final.
Já ‘escaldado’ pela performance impressionante do pré de phono E-2, não criei nenhuma expectativa do que iria ouvir. Segui o ritual de ligá-lo no nosso Sistema de Referência, e extrair as primeiras impressões apenas com as gravações da Cavi Records, e as que lançamos pela gravadora Movieplay.
Minha única dúvida foi se ele daria conta de empurrar as Estelon X Diamond MkII, já que é uma caixa exigente e devoradora de Watts. E ao ouvir as primeiras faixas do Genuinamente Brasileiro Vol. 2, esse receio se dissipou completamente, pois a autoridade com que o A-2 conduziu a Estelon foi impressionante.
O fabricante fala em queima, mas não estabelece quanto. Então segui a regra utilizada no E-2, e deixei em repeat em companhia das caixas Yamaha por 100 horas, ouvi novamente os mesmos discos e achei que mais 100 horas não lhe fariam mal.
O que posso adiantar é que, mesmo zerado, será um prazer acompanhar sua evolução no processo de amaciamento. Pois não haverá nenhum desconforto sonoro. Ainda que fique nítido que as pontas têm pequenos ajustes a serem feitos na extensão de ambos os lados.
Mas absolutamente nada que impeça de sentar-se e ouvir com admiração o desenrolar desse processo.
Trata-se de um grau de refinamento exemplar, com muita transparência, vivacidade, autoridade e finesse. A música flui com tamanha desenvoltura que o ouvinte de imediato é seduzido a parar o que esteja fazendo para ouvir como a música se desenrola à sua frente.
Não há esforço a mais do que esteja exigido na partitura, o domínio de tempo é assustador, permitindo que os transientes sejam detalhadamente ouvidos e entendidos.
A dinâmica é admirável para um integrado em sua faixa de preço, com uma macro exemplar em termos de energia, resolução e impacto.
Essa é a radiografia conclusiva que compartilho com todos vocês. Porém, obter esse grau de performance não é tarefa das mais fáceis, e o Soulnote a obteve graças a capacidade de seu projetista pensar ‘fora da caixinha’, o que contraria a todos os objetivistas que afirmam que não há nada de novo nas topologias de amplificadores classe A ou classe AB, e que se dois amplificadores com especificações idênticas soarem diferentes um deles está com defeito.
Acho essa última afirmação de uma petulância sem igual!
Pois esquecem e não admitem, os que pensam assim, que a capacidade humana de criar, recriar, ousar e arriscar é infinita. Possibilitando resultados que vão do sutil ao mais explícito.
E o A-2, assim como o Norma IPA-140 testado recentemente, ou o Sunrise Lab V8 Aniversário, serem integrados que romperam a barreira dos 100 pontos em nossa Metodologia, terem pontuações muito semelhantes nos oito quesito, e possuírem assinaturas sônicas tão distintas.
Esse é o encanto desse hobby: os melhores produtos terem a ‘personalidade’ de seus criadores. E ouvirmos essas diferenças é o que nos permite saber o grau de percepção auditiva que temos.
Assim como o musicista, ao ouvir dois virtuoses tocarem a mesma obra, consegue reconhecer as sutis diferenças interpretativas, o audiófilo com seu ouvido treinado por longos anos ouvindo música não-amplificada, consegue perceber as nuances existentes entre setups bem ajustados e corretos.
O A-2 não soa igual os dois integrados citados, porém suas semelhanças com ambos são bastante evidentes – mas no que difere, o faz ser único. Assim como é o projetista de cada um desses três integrados.
Antes que achem que fumei algo ilícito, vamos aos exemplos práticos.
Ouvindo Passarim, faixa 7 do nosso Genuinamente vol. 2, em uma gravação primorosa do Mehmari em piano solo, os três integrados em termos de corpo harmônico são muito semelhantes, assim como o foco do instrumento entre as caixas. Em nossa sala, além do piano ser reproduzido muito próximo do seu tamanho real, você ‘vê’ as mãos direita e esquerda, podendo até apontar onde a mão se encontra no teclado.
Quando eu mostro essa faixa para explicar os quesitos corpo harmônico e organicidade, os que não tiveram essa experiência de ‘ver’ o que se ouve, entendem imediatamente esse efeito psicoacústico.
Se avaliarmos os três excelentes integrados por essa gravação, nesses dois quesitos, será impossível apontar diferenças audíveis.
Mas, e se quisermos avaliar diferenças de equilíbrio tonal, já que o Mehmari explorou magistralmente o instrumento e todas as oitavas?
Também você só irá observar diferenças muito pontuais, tipo: o V8 parece ter uma sustentação mais evidente da mão esquerda nas primeiras duas oitavas (as mais graves), porém o Norma, na região média do piano, parece ter maior transparência, e o A-2 nas duas últimas oitavas da mão direita, parece ter mais decaimento.
Mas em termos de equilíbrio tonal os três passam com louvor absoluto!
E as texturas, Andrette?
Sim, aqui as assinaturas sônicas de cada um tomam direções sutilmente distintas.
E no caso específico do integrado em teste, elas são apresentadas como se a paleta de cores dos instrumentos fosse com um pouco mais de luz.
Não a ponto de extrapolar o real, mas com uma vivacidade luminosa que, em determinadas gravações, faz do A-2 um integrado imbatível. E isso ocorreu no Genuinamente vol. 1 – faixa 4 – Uma Valsa e dois Amores, um duo de violão e violino, em que a última oitava do violino foi impecavelmente explorada e, para passar do ponto, basta um vacilo.
E mesmo que o integrado tenha uma boa nota de equilíbrio tonal, para executar essa faixa ele precisa muito mais do que o correto, pois essas notas agudas precisam soar com enorme respiro, decaimento suave, e não podem perder o brilho característico do instrumento.
Essa faixa, ao longo dos anos, gerou reclamações virulentas até. Pois realmente quis explorar o limite da capacidade de captação fidedigna (foram mais de duas horas até eu achar a altura ideal do microfone acima do violino para captar a exuberante sonoridade daquele lindo instrumento).
Resultado: em um sistema com excelente equilíbrio tonal, os agudos não irão endurecer ou ficar excessivamente brilhantes e desconfortáveis.
O A-2 levou ao limite do correto essa apresentação, e a qualidade da textura do violão e do violino foi exemplar!
Diria que nesse exemplo o A-2 foi um passo à frente dos outros dois.
O que importa com esses dois exemplos que dei, é que em produtos acima de 100 pontos o ouvinte terá a possibilidade de escolher com total segurança a assinatura sônica que mais lhe ‘toca’, sem riscos de estar fazendo uma escolha errada.
É isso que tentamos há muitos anos escrever mensalmente a respeito das vantagens de se buscar produtos Estado da Arte, e ter a capacidade de juntar as peças na formação de um sistema digno de todo nosso empenho financeiro e expectativas na busca do sistema dos sonhos.
E a boa notícia é que os integrados têm feito esse papel com enorme maestria e competência. Permitindo se pular muitas etapas em upgrades e custos excessivos.
Quem me lê há muitos anos, sabe da minha frase recorrente: ‘menos é mais’. E não vejo peça que se encaixe mais literalmente nesse conceito que um excelente integrado Estado da Arte.
Muitos me perguntaram no Workshop se escolher um integrado, simplifica a busca e diminui os riscos de erro?
Evidente que sim!
Pois definindo a assinatura sônica que você mais deseja no integrado e na caixa acústica, você simplesmente resolveu 80% da equação.
Então, meu amigo, se você ainda tem um pé atrás com integrados, está na hora de você rever essa convicção! Pois esses componentes evoluíram tanto, que não olhar atentamente para eles é um erro grosseiro.
O Soulnote A-2 tem todos os requisitos que um setup Estado da Arte necessita: Equilíbrio tonal excepcional, um soundstage capaz de lhe dar uma imagem sonora 3D com planos, foco, recorte e ambiência de nível superlativo!
Texturas imensamente detalhistas e com um grau de intencionalidade absurdo! Transientes que facilitarão o acompanhamento sem nenhum esforço de tempo e ritmo! Dinâmica, tanto macro quanto micro, que colocam dezenas de prés e powers em apuros! Corpo harmônico referencial!
E materialização física do acontecimento musical, mesmo de gravações medianas (como uma coletânea da Sade que minha filha adora). Em gravações tecnicamente bem-feitas, prepare-se meu amigo, pois os músicos estarão mesmo na sua sala (como no CD Anhelo do tenor José Cura).
CONCLUSÃO
Nesses últimos dois anos desfilaram nas páginas da revista excelentes amplificadores integrados – e mostramos 5 no nosso Workshop, e certamente mostraremos de cinco a seis na próxima edição do evento em abril do próximo ano (leia seção Eventos na edição 310).
Pois me tornei um defensor e admirador nato dessa opção para a realidade dos audiófilos no mundo. Pois os espaços são cada vez menores, os custos dos ultras-hi-end cada vez mais proibitivos para nós ‘mortais’ e, felizmente, os fabricantes ‘sensatos’ entenderam que existe uma legião de amantes da música que também merecem ser atendidos.
A concorrência é sempre salutar, e termos integrados do nível do Soulnote agora no Brasil, é uma excelente notícia, pois ele irá se juntar a outros já estabelecidos aqui.
Quem ganha somos todos nós, ao termos opções tão significativas que nos permitem continuar sonhando na busca do sistema definitivo para ouvir nossa música diariamente.
O A-2 consegue um grau de inteligibilidade com um conforto auditivo impressionante.
Se isso é tudo que você deseja para o seu sistema, venha escutá-lo no nosso próximo Workshop – ou se você não consegue esperar até abril, peça uma demonstração para o distribuidor.
As chances de você se convencer é extremamente alta, acredite!
Nota: 103,0 | |
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AMPLIFICADOR INTEGRADO NORMA AUDIO REVO IPA-140
Fernando Andrette
A Norma Audio está entre aquelas marcas que sempre escrevo que entram no meu ‘radar’ pessoal, e de tempos em tempos busco informações atualizadas para saber se continua atuando timidamente no mercado, ou se começou a ganhar a notoriedade e atenção merecidas.
São inúmeros os detalhes que despertam meu interesse por uma marca, mas dificilmente alguma consegue ter mais que um ou dois diferenciais interessantes, e quando ocorre de ter mais que três, eu realmente redobro minha atenção.
A Norma pertence a este seleto grupo, que possui muitas qualidades que prezo muito.
E quais são essas virtudes? A essencial é descobrir que o projetista pensa, planeja e executa suas ideias fora de todas as obviedades ortodoxas. A segunda é que todos seus projetos só são alterados quando realmente algo significativo em sua performance foi descoberto e comprovado.
Terceiro, o design de seus produtos são todos ‘atemporais’ e seu acabamento é simples, limpo, mas de extremo bom gosto e com construção impecável!
E, quarto e o mais importante: Enrico Rossi seu engenheiro e fundador é um projetista focado na busca da Neutralidade acima de qualquer outra qualidade sonora.
Os leitores que me acompanham sabem que essa palavra soa como Música aos meus ouvidos, e fico feliz em saber que essa corrente que chamo de Terceira Via, continua ganhando adeptos.
Fundada em 1987, em Cremona, seu primeiro amplificador foi o NS-123. Segundo o próprio Enrico Rossi, seu lançamento despertou o interesse de seus conterrâneos audiófilos, e o permitiu ganhar respeito dentro da Itália.
Tanto que, em 1991, a Norma Audio chamou a atenção da Opal Eletronics, um fabricante Europeu de dispositivos eletrônicos de medição, e juntos começaram uma parceria para descobrir e entender como equipamentos de áudio podem degradar o som, e o que é necessário para evitar esse risco.
Foram sete anos de inúmeras pesquisas e testes, até Rossi construir um conjunto de regras e orientações gerais, para evitar erros que ele chama de recorrentes, na fábrica de amplificadores e fontes analógicas e digitais.
Enrico Rossi produz diversos vídeos em que ele aborda inúmeros temas técnicos, e descreve suas experiências de maneira que até um leigo possa acompanhar seu raciocínio, e seus erros e acertos na busca dessa tão almejada Neutralidade.
Ele, a todos que o questionam sobre o que é Fidelidade, responde: “O som deve ser natural, dinâmico e suscinto”. E lembra que só um ouvido rigorosamente treinado, com anos de audição de música não amplificada, permitirá que você possa distinguir o certo do errado (fico feliz que um engenheiro de áudio defenda com tanta determinação os mesmos princípios de nossa linha editorial).
E, em vários de seus vídeos, ele nos conta que frequenta semanalmente concertos de música clássica, desde a sua mais tenra infância.
E com esse treinamento referencial, ele consegue entender como diferentes amplificadores soam e como seus parâmetros se traduzem no que escutamos através dos falantes.
Ele também nos fala de seus anos dedicados a analisar o ‘caráter’ do som de um determinado amplificador, e fazer correlações entre o que ouvia e media, para entender como o amplificador é afetado pela distorção ou fase.
A etapa seguinte de seus estudos pessoais, foi investigar diferentes topologias de circuitos, qualidade dos componentes, projetos mecânicos e a estrutura e concepção da fonte de alimentação, e como isso afeta uns ao outros, e como eles podem ser combinados para uma melhor performance sonora.
Aí ele passou para a avaliação prática, construindo diversos protótipos, para descobrir que para um amplificador ser capaz de fornecer corrente instantaneamente, é necessária uma fonte de alimentação muito mais eficiente do que se acredita ser o ideal, e que para alcançar um nível de performance neutro e convincente, também é essencial uma resposta de frequência ampla, muito além dos limites da audição humana.
Nos amplificadores da Norma, a resposta de frequência começa em 0.1 Hz e vai até 2 MHz, em -3dB. Isso no circuito analógico, não em um circuito digital!
Tenho certeza que nossos leitores ‘tarados’ por especificações técnicas, estão coçando a mão com vontade de berrar, que inúmeros fabricantes de áudio atuais extrapolam a banda de resposta para muito além da audição humana, dimensionam fontes para uma resposta instantânea de corrente, e basicamente tudo que o engenheiro Rossi aprendeu e aplica em seus projetos. Ok!
Eu, ao ler diversos posts e artigos da Norma, também cheguei a essa mesma conclusão. Ele não está sozinho nessa estrada. Outros também a utilizam.
Mas aí eu volto a pergunta a vocês, que levantaram essa questão: todos que trilham essa estrada tem o mesmo resultado sonoro? O caminho de todos que escolheram essa topologia, busca a Neutralidade acima de outras benesses sonoras?
Se vocês aceitam a resposta de alguém que testou, nos últimos 32 anos (contando com a Audio News) mais de 2000 equipamentos, afirmo que aqui no Brasil muitas poucas marcas, do passado e do presente, chegaram perto da Neutralidade.
As duas correntes predominantes em termos de sonoridade são: a ultra transparência, que nos joga no colo de uma performance analítica, ou a eufônica, que nos joga para a outra ponta, para um som que muitos chamam de quente e ‘musical’ – ainda que todos vocês saibam que na nossa linha editorial, essa eufonia não tem nada a ver com a musicalidade que fecha o quesito de nossa Metodologia.
Assim, nenhuma dessas duas correntes predominantes chega perto da Neutralidade aqui descrita pelo engenheiro Rossi, como a assinatura sônica dos produtos da Norma.
Sigamos. O Revo IPA-140 é um amplificador classe AB, e a única informação que conseguimos com o fabricante é que a versão atual é a quinta desde seu lançamento na virada do século.
O IPA-140 debita 140 Watts em 8 ohms, e dobra de potência em 4 ohms, utilizando seis transistores MOSFET por canal.
Como disse na apresentação do produto, seu gabinete é muito limpo, mas bastante bonito, feito de alumínio escovado, na opção prata ou preto. Os dissipadores ficam escondidos pelo design curvilíneo da tampa e da base. Tanto os dissipadores como a tampa de trás das conexões, são sempre pretas.
Na frente temos um enorme botão no centro do painel prateado, do lado direito um pequeno botão que é um interruptor de modo de espera e um seletor das entradas. E do lado esquerdo fica o sensor de infravermelho do controle remoto. Seu circuito é todo dual-mono, com dois transformadores, um para cada canal, e um peso final de 25 kg!
No painel traseiro, temos a entrada de força IEC, 4 entradas RCA e uma XLR. E, nas pontas, os terminais de caixa.
Caso o usuário deseje o pré de phono opcional (MM e MC) da Norma, a entrada 1 RCA será dedicada a essa fonte. E, para os que desejarem o DAC também opcional, existe uma entrada USB tipo B. A placa DAC é um módulo baseado no chip AKM 4391.
O modelo enviado para teste veio sem o pré de phono ou o DAC.
Seu controle remoto é único para operar toda a linha de produtos Norma. Em alumínio bem construído, o único inconveniente (para um homem de 66 anos) é enxergar os diminutos números das entradas e letras de volume, mute, CD, Amp, Pré, etc. Mas uma coisa que adorei nesse controle, e que não vi em nenhum dos produtos testados nesses 32 anos, foi que existem dois modos de controlar o volume: o rápido e o step by step.
Achei além de muito bem sacado e bastante útil, para pessoas como eu que buscam sempre ouvir as gravações no volume limite mixado em cada disco.
E em controles que o volume é rápido, esse ajuste fino é impossível!
No Norma consegui esse requinte, e o estou usando em todas as gravações. Aumento pela opção rápida, depois faço o ajuste como minha filha batizou de ‘manobra sonora’ (gostei do termo!), até chegar no volume estipulado pelo engenheiro de gravação.
Outro mimo, que o fabricante envia junto com o equipamento, é um kit de fusíveis de reposição. De cabeça só me lembro da dCS fazer isso em seus produtos. Nagra e darTZeel, os equipamentos mais ‘realistas’ em termos de valores, não me lembro de terem essa preocupação para aqueles domingos ou madrugadas, véspera de feriados prolongados, em que o fusível queima e não temos em casa nenhum de reposição! (quem já passou por esse perrengue, levante a mão).
Antes de falar como esse italiano soa, e se seu projetista realmente tem algo diferente a oferecer em termos de performance, preciso entrar novamente em um terreno espinhoso, que é a Neutralidade.
Se quiserem se aprofundar no tema, da maneira abordada por nós, sugiro a leitura dos testes dos cabos da Dynamique Audio, modelo Apex, e das eletrônicas Nagra, entre os mais recentes e frescos em minha memória e, provavelmente, na de muitos de vocês que também leram esses testes.
De forma ‘rasa’ ou ‘telegráfica’, a primeira definição que nos vem à mente quando falamos de Neutralidade certamente seja o ponto intermediário entre o frio e o quente, ou entre o transparente e o musical. Podemos até aceitar que a Neutralidade, geograficamente, se situe no meio de ambos, mas a Neutralidade que esses fabricantes estão buscando de maneira cada vez mais eficaz e audível, é interferir o mínimo possível no que está na gravação. Buscando estar ‘ausente’ de apresentar sua ‘versão sonora’ daquela gravação!
Claro que inúmeros objetivistas acharão isso um objetivo inatingível, mas se esses se derem o direito de ouvirem o que esses fabricantes conseguiram até o momento, talvez alguns percebam que existem qualidades nesse caminho, e consequências positivas em termos de conforto auditivo e maior inteligibilidade do todo.
E aí chegamos no ponto central do objetivo dessa Neutralidade: não é tornar as gravações sem vida, como muitos leitores já nos questionaram, pois na cabeça dos audiófilos o que os move é encontrar o sistema ideal a seu gosto musical, e acredito que nenhum escolheu a Neutralidade como objetivo final.
Mas se esses mesmos audiófilos se derem o direito de ouvir suas gravações em um setup predominantemente ajustado para o Neutro, eles talvez entendam essa correlação maior da inteligibilidade do todo do acontecimento musical, com ausência de fadiga auditiva.
Pois a Neutralidade almejada por esses fabricantes é, na verdade, um equilíbrio maior entre todas as nuances existentes na reprodução eletrônica da música.
E se traduzirmos isso para os oito quesitos da nossa Metodologia, seria o equipamento que atingiu a mesma pontuação em todos eles.
Não imagino uma legião de audiófilos abraçando essa Terceira Via sonora da noite para o dia. Mas percebo nitidamente que audiófilos com maior experiência, e que possuem uma bagagem musical referencial da música ao vivo não amplificada, possuem maior facilidade em entender e ouvir as vantagens de um sistema mais neutro em sua assinatura sônica.
Agora vamos, finalmente, falar das qualidades sonoras do Norma.
Começarei pela conclusão: é o integrado mais neutro que analisamos nesses 28 anos da revista!
Sua apresentação da música é simplesmente o retrato sonoro mais fidedigno possível do que os músicos e o engenheiro de gravação alcançaram. Você ouvirá nuances que sequer são percebidas por outros excelentes integrados.
Não se trata apenas de recuperar micro-detalhes, mas de erros e acertos das gravações, do posicionamento dos microfones à escolha dos mesmos, da qualidade dos músicos e de seus instrumentos, e principalmente da qualidade final das mixagens e masterizações.
Pelo amor dos meus filhos, Andrette, traduz o que você escreveu!!!!!!!
Ok, vamos aos exemplos didáticos: só irá valer para os leitores que tiverem ainda as mídias físicas, pois no streamer tudo é mais pobre em termos de holografia sonora 3D, mas se quiserem tentar, boa sorte!
Ouça a faixa 22 do disco Love dos Beatles – While My Guitar Gently Weeps, do George Harrison. Não foi apenas uma remixagem dessa faixa, fizeram um lindo arranjo de cordas para o disco, que no original não existe. Na maioria dos integrados de alto nível, o naipe de cordas soa como um quarteto de cordas, o corpo é magro e o naipes soa uníssono, é difícil de acompanhar os violinos, violas, etc. E a sensação é que a orquestra tocou em uma sala de gravação pequena.
No Norma, existe muito mais ar, e a ambiência é mais próxima do espaço físico real do estúdio, e as cordas não estão confinadas somente dentro do canal esquerdo. E o som no todo não soa tão bidimensional como em todos os outros integrados.
Mas a gravação não tem grande profundidade, com apenas o George Harrison no centro um pouco mais recuado.
Aí você escuta o nosso Volume 15 do CDs encartado na Musician Magazine, faixa 7 – o terceiro movimento da oitava de Shostakovich, e o palco à sua frente no Norma é pleno, com largura para além das caixas, profundidade com todos os planos bem definidos, focados e recortados, e se escuta até o rebatimento nas paredes laterais dos instrumentos de sopro no centro da orquestra.
É um resultado que emociona, nos transmite realismo, conforto auditivo, materialização física da orquestra, não na nossa sala mas sim nos levando para a sala de gravação.
Ouça essa mesma faixa em outros excelentes integrados, e alguma coisa desse hiper refinamento se perde.
Claro que os excelentes integrados podem, pelas suas ‘virtudes’, dar ênfase a características que apreciamos, como por exemplo maior impacto dinâmico nos tímpanos, ou mais dramaticidade no rasgo dos naipes dos metais, ou ênfase na caixa, mas ter essa organização do acontecimento musical, sem desviar nossa atenção do todo, essa qualidade meu amigo é mérito das eletrônicas mais neutras, somente!
Espero ter explicado didaticamente essa questão.
O Norma é o tipo de amplificação que irá se beneficiar de 200 horas de queima, mas seu grau de prazer auditivo é instantâneo, você poderá apreciar seus discos desde o primeiro play! Nada de aguardar por dias os agudos se tornarem estendidos, os graves se firmarem e os médios se encaixarem, perdendo frontalidade.
Seu equilíbrio tonal é correto desde o primeiro segundo, e o que 200 horas aprimoram é apenas para deixá-lo ainda mais refinado, para apreciarmos ainda mais a ambiência nas altas e o deslocamento de ar nos graves.
Os médios são os que menos se alteram com a queima, mas tem um leve recuo depois do aparelho plenamente amaciado.
Seu soundstage é primoroso. Aliás, o Engenheiro Rossi tem diversos vídeos tratando de sua busca incansável por uma apresentação genuína 3D.
Acho que dentro das limitações das gravações multipista a partir dos anos 70, o que sua eletrônica alcançou é impressionante – e deveria ser referência para todos. Principalmente engenheiros de gravação, que deveriam ouvir seus trabalhos e ver como estão comprimindo excessivamente e deixando o som cada vez mais bidimensional (será esse o motivo de tentarem emplacar a qualquer custo o Dolby Atmos, o áudio 3D?).
Como diz o engenheiro Rossi, tudo é uma questão de aprimorar sua audição e ter referências do acontecimento musical real!
Ele nos mostra sem firulas ou marketing barato, o caminho das pedras para se ter em casa uma reprodução 3D holográfica – desde que a gravação tenha essa qualidade obviamente.
Nas semanas de teste do Norma, ouvi uma centena de gravações de todos os gêneros musicais e períodos. E vendo como a música a partir dos anos 70 foi ficando cada vez mais bidimensional. Com inúmeras gravações soando como se só tivessem largura e altura ou, se tiver voz, o cantor(a) está ao centro, levemente recuado(a), com os instrumentos à volta, soando todos no mesmo espaço e dentro das caixas.
Resultado, gravações comprimidas e sem nenhum arejamento, dão maior fadiga auditiva e desinteresse em ouvir novamente, principalmente em sistemas ultra transparentes.
Mas o Norma faz algum milagre com essas gravações, Andrette?
Claro que não, mas leia atentamente o que descrevi no exemplo da gravação do disco Love dos Beatles, e você entenderá que qualquer ‘respiro’ ou um foco e recorte mais correto, tornam qualquer gravação mais palatável!
Isso se traduz na nossa metodologia por ……… Folga!
Essa qualidade o Norma tem para ensinar a todos os concorrentes como fazer bem feito!
E isso, consequentemente, resgata grande parte dos nossos discos tão queridos e jogados às traças por muitos e muitos anos (principalmente depois que você iniciou sua jornada em busca de um sistema hi-end).
E chegamos ao quesito Textura!
O leigo, ou o audiófilo que preza e possui um sistema voltado para o quente eufônico, irá certamente achar as texturas ‘estranhas’ em uma eletrônica neutra. Mas à medida que você ouvir suas gravações preferidas, que conhece detalhadamente, irá perceber algumas nuances muito relevantes para o todo.
Pegue uma primorosa gravação de quarteto de cordas, como a do Hagen Quartet tocando o Adagio e Fuga de Mozart (faixa 6 e 7) e você perceberá que o perfeito equilíbrio tonal e o exuberante soundstage, com enorme espaço e imagem sonora holográfica, que nos mostram a posição exata de cada instrumento no espaço de gravação, e seu recorte cirúrgico, nos permite concentramos no quarteto à nossa frente como em uma apresentação ao vivo.
E observar a riqueza da paleta de cores dos dois violinos, da viola e do cello. E apreciar o virtuosismo do quarteto, qualidade dos instrumentos, escolha e posicionamento correto dos microfones, e a riqueza de detalhes e complexidade da escrita de Mozart.
É um deleite aos nossos ouvidos, e à nossa essência!
Esse grau de apresentação de texturas, meu amigo, só é possível quando os quesitos todos estão alinhados e atuando no mesmo nível!
E aí temos o quarto elemento dessa cadeia de acertos: a resposta de transientes. Ela precisa ser absolutamente correta em tempo, ritmo e andamento! E um excelente exemplo é o CD Eight Plus, do The Ron Carter Nonet. Que tão orgulhosamente lançamos, ainda no Clube do Áudio em 1997, em parceria com a gravadora Movieplay.
É uma gravação minha de referência, e esteve presente em todos os nossos Cursos de Percepção Auditiva, justamente para mostrar a simbiose entre textura e transientes.
Pois intencionalidade sem uma correta resposta de transientes, não existe. E esse disco tem várias faixas para provar essa correlação entre esses quesitos.
A faixa que uso é a sete – El Rompe Cabeza. Ron Carter, para esse trabalho gravado no Japão para o selo JVC, teve como formação o próprio tocando Piccolo Bass em todas as faixas, o pianista Stephen Scott, o baixista Leon Maleson, o baterista Lewis Nash, o percussionista Steve Kroon e quatro celistas: Kermit Moore, Chase Morrison, Carol Bluck e Rachel Steuermann.
Essa é daquelas gravações, meu amigo, que não faz sistema de refém. Ou o sistema passa pelo teste ou padece! Tenho histórias interessantes sobre essa gravação: desde um leitor que nos devolveu o disco, dizendo se tratar de uma gravação ‘inaudível’, até um leitor que deu o CD para sua empregada doméstica de tão ruim que achou.
Eu contava essas histórias, claro, após mostrar em diversos sistemas usados nos cursos, como era uma gravação crítica e exigente com sistemas pobres em resposta de transientes, soundstage e equilíbrio tonal. Pois essa faixa 7 exige demais desses quesitos.
Porém, se o sistema estiver à altura do desafio, meu amigo, é de ouvir calado e suspirando ao final!
Quem não conhece ambas faixas, fica incrédulo quando eu digo que elas podem soar sofríveis! Pois no sistema certo, soam divinas!
Como pode, todos perguntam?
Simples, basta as pessoas serem humildes e aceitarem que o problema não são as gravações, e sim seu sistema que está torto! Quantos audiófilos têm a coragem de assumir que erraram, quando podem simplesmente jogar a culpa na gravação?
O Norma reproduz esse disco do Ron Carter impecavelmente, com uma apresentação de transientes na marcação da caixa de bateria, os staccatos dos quatro cellos e o solo do Ron Carter de maneira que você não perde uma nota sequer!
E para avaliar a dinâmica, recorri às nossas gravações sinfônicas mais usadas: Sagração da Primavera de Stravinsky, Sinfonia Fantástica de Berlioz, e coloquei uma gravação que adoro, mas fazia tempo que não ouvia – Copland – The Music Of America – faixa 1 – Fanfare for the Common Man, que também usei no Workshop.
Meu amigo, velocidade, corpo, deslocamento de ar da percussão, são de enorme impacto e correção. Não é um cofre de uma tonelada caindo no meio das suas pernas, mas é preciso e impactante, como está escrito na partitura.
E nos outros dois exemplos, idem.
Quanto à micro, sua neutralidade é a base para que ouçamos desde as nuances mais ínfimas, as mais explícitas.
Sua apresentação de corpo harmônico é uma das mais interessantes de qualquer excelente integrado que testamos nos últimos anos. Não é melhor apenas que do Sunrise Lab V8 Aniversário (que ainda nesse quesito é nossa referência), mas para gravações digitais é altamente convincente, e faz com que nosso cérebro não fique nos atormentando se aquele corpo não poderia ser maior.
E como já cantei a bola, nas gravações bem feitas no Village Vanguard, em Nova York, do pianista Bill Evans e do octeto do Wynton Marsalis, fui literalmente transportado para lá.
E materializei à minha frente o tenor José Cura, Louis Armstrong, Ella, Sinatra e Milton Nascimento.
CONCLUSÃO
Quando vimos a lista de novos integrados que estão chegando ao mercado, e seus históricos internacionais com excelentes testes, sabíamos que essa nova leva teria todas as condições de avançar ainda mais acima do limite de 100 pontos, entrando no Estado da Arte Superlativo.
E era apenas uma questão de tempo sabermos quem iria subir um degrau acima do maravilhoso V8 Aniversário da Sunrise Lab, detentor desse podium por mais de dois anos!
Essa nova referência é inegavelmente o Norma Audio Revo IPA-140. Um integrado tão refinado que não deixou muito espaço para nenhuma dúvida de sua merecida pontuação.
Trata-se de um aparelho tão surpreendente em termos de preço, performance e construção, que fica até difícil sustentar que ainda haja espaço para prés e powers com pontuação inferior ou semelhante, mas que custam provavelmente muito mais que o Norma.
Se querem que eu o defina em uma palavra, a única que me vem à mente é: Exuberante!
Se você deseja ter um sistema Estado da Arte Minimalista, e dentro da nossa realidade, faça como eu e adquira o Norma Revo IPA- 140, nossa nova referência em integrados do mercado!
Nota: 104,0 | |
AVMAG #306 KW Hi Fi fernando@kwwifi.com.br (11) 95442.0855 (48) 3236.3385 R$ 52.900 |
AMPLIFICADOR INTEGRADO SOULNOTE A-3
Fernando Andrette
Lançado em outubro de 2023, o integrado top de linha da Soulnote, o A-3, é literalmente o esforço de engenharia de colocar em um único gabinete o pré de linha P-3 e o power estéreo M-3.
Se conseguiram êxito integral, só saberei no dia que também testar esses dois modelos em nossa sala. Mas, segundo o fabricante, o objetivo foi integralmente alcançado!
Não vou novamente falar da filosofia dessa empresa, pois já abordei tanto no texto do pré de phono o E-2 (leia teste na edição 308), como no texto do integrado A-2 (leia teste na edição 310).
Então, tentarei descrever de forma sucinta as topologias extraídas do Pré P-3 e do Power M-3, para a fabricação do A-3. Segundo o comunicado à imprensa no lançamento do produto, os diferenciais mais importantes para sua incrível performance estão na tecnologia de separação de canais duplo-mono, como a existente tanto no P-3 quanto no M-3.
“Ao separar os sinais de controle do seletor de volume, circuito de proteção e outros relés, além dos capacitores, transformadores e componentes indutivos, conseguimos uma amplitude significativa do campo sonoro tridimensional, levando os amplificadores integrados a uma nova fronteira”.
“Outro diferencial foi na configuração de acionamento do transistor TO3 (tipo Metal CAN), para garantir o fornecimento de corrente perfeito até a extremidade inferior, sem a flutuação em altas correntes (hfe), dando a música uma expressividade profunda quanto um groove emocionante”.
“O estágio de saída usa um único circuito SEPP push pull com um transistor bipolar TO3 o mesmo utilizado no M-3. Ele consegue reproduzir a música sem desfoque com tempo correto de frequência das ultrabaixas às super altas”.
“Uma placa de cobre leve e compacta é usada como dissipador. Esse dissipador de calor também serve como uma barramento para fornecer energia ao par de transistor TO3, sendo que os terminais dos transistores penetram na barra e são montados diretamente na placa. Isso elimina fiação e ajuda a superar a instabilidade causada pelo componente de indutância, ao mesmo tempo que evita a degradação da qualidade do som causada pela isolação”.
“Para a amplificação de tensão, um circuito tipo R de estágio único de alto ganho para terra é utilizado. Resistores naked foil são usados na operação do amplificador”.
“O volume de comutação de resistor é o mais simples possível e permite uma precisão cirúrgica, e os relés utilizados são personalizados RSR também de resistores naked foil, para uma performance da mais alta qualidade”.
“O duplo transformador de potência toroidal tem 700 VA, e são usados exclusivamente para a amplificação de potência. E mais um terceiro transformador apenas para o sistema de controle. Os dois transformadores de potência são montados verticalmente para que as linhas do campo magnético fiquem paralelas à placa.
“Para o capacitor retificador, é usado um capacitor foil de filtragem de pequena capacitância, de alta tensão de resistência especificamente selecionado, apenas 470uF. Para os diodos retificadores, são usados diodos SIC com corrente de partida aprimorada”.
“A estrutura do gabinete assim como os terminais de conexão de entradas, tampa superior e inferior são todos não fixados. Sendo que o bloco que sustenta o pré e o power, possui uma estrutura deslizante lateral de três pontos com base de titânio.”
Eu reproduzi as principais características do projeto, para que o leitor possa entender um pouco de onde virá o incrível resultado sonoro deste amplificador.
O A-3, segundo a Soulnote, é classificado em 120 Watts em 4 ohms, o que sugere que tenha 60 Watts em 8 ohms. A resposta de frequência vai de 2 Hz a 200 kHz (mais ou menos 3dB), enquanto a distorção harmônica é de 0.27% (1 Watt / 8 ohms) e a relação sinal ruído é de 110 dB.
Ao ver as fotos do A-3 aberto, duas coisas me chamaram atenção: a limpeza na construção das placas e a quantidade de capacitores por canal: 96 no total!
Em termos de conectividade, as opções são: três entradas XLR e três RCA. Sendo uma entrada by-pass de volume. Os bornes de caixa são de qualidade premium, e aceitam plugue banana, forquilha e desencapado.
No painel frontal, o A-3 tem, ao centro, uma pequena janela para indicar entrada e volume, pequenos LEDs que mostram o status de Bypass e Record Out. Um pequeno botão de mute, um interruptor on/off, e dois botões maiores: o da esquerda de entradas, e o da direita de volume.
O acabamento é deslumbrante, e seus 31 kg mostram sua solidez e nível de construção!
Para o teste utilizamos as seguintes caixas: BlueKey Acoustics Model 1 (leia teste na edição 311), Wharfedale Aura 2, Yamaha NS-5000 e Estelon X Diamond Mk2. Cabos: Dynamique Apex de caixa e interconexão. Fonte digital: Nagra TUBE DAC, Streamer Nagra e Transport CD Nagra. Fonte analógica: Origin Live Sovereign Mk4, braço Enterprise Mk3, e cápsula ZYX Ultimate Astro G, com pré de phono Soulnote E-2.
O A-3 veio com 25 horas de amaciamento, e tive a companhia do amigo Heber para a colocação do ‘peso pesado’ no rack. Ligamos nas Estelon e ficamos nos olhando, pasmos de onde vinha tanto refinamento, naturalidade e prazer auditivo!
Receber produtos com este nível de performance assim que é ligado, é um enorme problema! Pois irá exigir semanas para sabermos o seu ‘teto’.
Muitos de vocês devem supor que seja o contrário, produtos superlativos que já saem apresentando seus ‘pergaminhos’ é o máximo! Sendo que a realidade é justamente o oposto, pois para não cometermos nenhum tipo de injustiça com sua pontuação final, precisamos redobrar os cuidados e a quantidade de produtos que iremos usar para ouvi-lo, para saber seu graus de compatibilidade com diversas caixas e eletrônicos, e buscar seu ‘ponto fraco’ – se o tiver.
Outra questão importante foi saber o que alteraria com 100 horas de amaciamento, e se haveria ainda melhoras significativas. E elas apareceram, tanto com 100 horas, como até o amaciamento final com 180 horas. A partir daí, o A-3 se estabilizou completamente e não teve mais nenhuma alteração em sua performance.
Seu equilíbrio tonal é um misto de surpresas agradáveis e inúmeros espantos!
Pois quando você acha que os integrados acima de 100 pontos já atingiram um nível mais do que satisfatório, vem um novo integrado para mostrar que o ‘buraco é ainda mais fundo’!
Esse é o A-3, com seu equilíbrio tonal pleno, que consegue lhe fazer abrir um enorme sorriso com sua apresentação na fundação de graves, como ampliar sua percepção auditiva dos médios, que parecem mais precisos e comunicativos – ou seria melhor ‘expressivos’? E uma reprodução de agudos ultra refinada e extensa.
Sabe quando se muda de padrão de referência? O A-3 é esse exemplo!
Tudo feito com precisão, que parece que todas as caixas usadas se beneficiaram desse incrível equilíbrio tonal.
Se você voltar alguns parágrafos, na descrição do fabricante sobre características resultantes da topologia escolhida, você lerá que a amplitude do soundstage passou para uma nova fronteira.
E eles não mentiram, amigo leitor. A imagem 3D do Soulnote A-3 é realmente uma referência a ser estudada por todos os outros fabricantes que almejam integrados de padrão superlativo.
Os planos são absolutamente retratados como foram gravados e mixados. O foco e recorte dos solistas e vozes principais, chegam a ser assustadores pelo grau de precisão cirúrgica. Mostrando detalhes dos cantores se afastando e se aproximando do microfone, nos levando a ‘ver’ o que estamos ouvindo!
E se você, como eu, sabe da importância da reprodução de ambiência, para nosso cérebro fazer a relação exata do tamanho de sala, número de músicos existentes naquela gravação e sentir a respiração do ambiente, fica difícil ouvir depois essas gravações em outro integrado.
As texturas não são apenas apresentadas em detalhes, elas nos são expostas como se estivéssemos novamente vendo o que estamos ouvindo. O efeito que isso causa ao nosso cérebro é impactante, pois ele se convence que aquilo que nos está sendo mostrado é o mais próximo possível da realidade da reprodução eletrônica nos dias de hoje.
Por isso que dou risada quando vejo defensores de equipamentos vintage, falarem com a boca cheia que nada se fez de novo em termos de amplificação nos últimos 30 anos!
Eles precisam ouvir com atenção qualquer um dos integrados dessa nova safra com mais de 100 pontos, para caírem na real.
Descrever o grau de intencionalidade deste integrado é até difícil, pois você realmente irá ouvir com total clareza as diferenças de um músico esforçado para um virtuose, assim como a qualidade dos instrumentos e microfones.
O projetista, Kato San, bate muito na questão de tempo da música, e coloca esse quesito como essencial para que nosso cérebro relaxe plenamente e se entregue ao que está ouvindo.
Poderia dizer que no A-3 nada se perde e tudo é recriado integralmente como foi captado.
Sua autoridade em mostrar tempos e alterações de andamento é outra excelente referência para todos os seus concorrentes diretos, ou que aspiram desenvolver um integrado deste nível.
O que mais me surpreendeu na reprodução da macro-dinâmica é que não há esforço ou suor e sangue. Tudo é feito à medida que a música exige, nunca mostrando ‘os dentes’ antes do momento exigido. Isso é reconfortante, pois é assim também em uma apresentação ao vivo, vem os fortíssimos e você só se dá conta quando estão realmente ocorrendo.
E a micro, meu amigo, pelo seu grau de silêncio de fundo e transparência, nada lhe passará incólume. Se está na gravação, prepare-se para ouvir.
Sua reprodução de corpo harmônico o levará a nunca mais duvidar da importância deste quesito para levar seu cérebro (se possui a referência do instrumento tocado ao vivo) a acreditar que está frente a frente com o instrumento real, e não a um ‘arremedo’ do instrumento reproduzido como uma pizza brotinho.
Some todas as qualidades de todos esses quesitos, e imagine como será a apresentação de organicidade pelo A-3. Consegue imaginar?
Espero que ele esteja no Workshop para todos vocês poderem conhecê-lo, e constatarem tudo que aqui compartilhei.
Os músicos estão literalmente na sua sala – nas gravações excelentes. E, em algumas, você é que será transportado para a sala de gravação.
CONCLUSÃO
Pelo teste do amplificador integrado Soulnote A-2, foi possível ter um vislumbre do que poderia ser o A-3. Mas, por mais que tivesse me preparado, o impacto foi muito maior.
Pois o A-3 pertence a um outro estágio de performance, que nenhum integrado avaliado até aqui apresentou.
Ele está muito mais próximo de um pré e power de nível superlativo do que dos integrados. Isso o coloca em uma situação privilegiada em relação aos concorrentes diretos, que pelo seu preço não devem ser muitos.
Se você tem bala para um integrado deste nível, e está pensando a muito tempo em ‘simplificar’ seu sistema, mantendo o mais alto nível de performance, sugiro uma audição do Soulnote A-3.
Você pode, a partir dessa audição, ter a certeza de que já é possível adquirir um integrado Estado da Arte acima de 105 pontos!
O único cuidado será com o casamento com a caixa, e o tamanho da sala. Pois caixas de baixa sensibilidade e famintas por Watts, não serão o par ideal para ele.
Tendo esse cuidado, não vejo como não ser seduzido por esse belo amplificador integrado!
Nota: 106,0 | |
AVMAG #312 Ferrari Technologies heberlsouza@gmail.com (11) 9947.11477 info@ferraritechnologies.com.br (11) 98369.3001 R$ 195.000 |
AMPLIFICADOR GOLD NOTE PA-1175 MKII
Fernando Andrette
Nossos leitores assíduos sabem que a empresa Italiana Gold Note é frequentadora desta publicação, com inúmeros testes já publicados, como dos prés de phono PH-1000 e PH-10, do pré de linha DS-10 em um excelente pacote que ainda inclui streamer e DAC, e o integrado IS-1000.
Todos com uma excepcional relação custo/performance e um design moderno e sóbrio.
Da linha de eletrônicos, faltava-nos testar o power estéreo top de linha, o modelo PA-1175 MkII, com um gabinete idêntico ao do pré de phono PH-1000, porém muito mais pesado que este.
Segundo o fabricante, o PA-1175 MkII não é apenas mais um amplificador de potência estéreo, e sim o modelo que substituiu o premiado amplificador Demidoff Signature Anniversary.
Com uma nova topologia, ele utiliza a tecnologia BTL (Bridge-Tied-Load) para que se assim o usuário desejar, passar a funcionar como um power em ‘bridge’, mono, dobrando sua potência para 520 Watts por canal. Em estéreo, ele dá 200 Watts em 8 ohms.
Outro interessante diferencial (também existente no IS-1000), é o interruptor de Damping Factor, que configura o power em 250DF ou 25DF, para casar-se com qualquer tipo de falante. Em 250DF, ele garante um maior controle para caixas mais difíceis de ‘domar’, enquanto em 25DF atua mais como um amplificador de baixa potência, ideal para acionar caixas de alta sensibilidade.
Como toda a linha premium da Gold Note, o gabinete é todo de alumínio escovado, disponível em três acabamentos: prata, preto e dourado.
Ele pesa 22 kg, e é interessante que seja desembalado muito próximo de onde será colocado, ou se precisar ser transportado, que tenha a ajuda de uma segunda pessoa.
Trata-se de um Classe A/B com 80.000uF de capacitância na fonte de alimentação, dando-lhe folga para variações dinâmicas intensas.
Voltando ao transformador, este possui um núcleo espiral cortado para reduzir todo tipo de vibração mecânica, o que é essencial para salas silenciosas como a nossa de Teste.
Como, ao final, utilizamos um par em mono para sentirmos as diferenças sonoras e dinâmicas entre o estéreo e mono, pudemos realmente constatar o silêncio de seus transformadores, mesmo após dias e muitas horas de uso.
Seria muito bom se muitos dos concorrentes avaliassem a ‘técnica’ empregada pela Gold Note para seus transformadores serem tão silenciosos.
No painel frontal temos apenas dois pequenos botões do lado esquerdo. O da ponta para ligar e desligar o aparelho, e ao seu lado para definir o fator de amortecimento desejado para casar-se melhor com as caixas.
Já no painel traseiro, temos os excelentes bornes de ligação para as caixas, a tomada IEC, botão para ligar o power, entradas RCA e XLR, e um pequeno interruptor que possibilita converter o power de estéreo para mono. Dois LEDs vermelhos irão indicar se está em estéreo ou mono.
Para a ligação em mono, o manual felizmente dá todas as dicas para você não errar. Então não acione apenas a chave para mono, pois você precisará refazer a conexão nos bornes da caixa para os pinos positivos, em ponte, para que a saída esteja em fase.
Para o teste utilizamos os prés de linha Nagra Classic e o Audiopax Reference (leia teste na edição 311). As fontes foram: Streamer Nagra e Innuos ZENmini Mk3, com os DACs Nagra TUBE DAC e Ferrum Audio Wandla (leia teste na edição 310). Fontes analógicas: prés de phono PH-1000 da Gold Note, E-2 da Soulnote (leia teste 2 na edição 308), e Lehmann Audio Black Cube II (leia teste na edição de março de 2025). Toca-discos: Reloop Turn X (leia teste na edição de março de 2025), e o nosso setup de referência com Origin Live Sovereign Mk4 com braço Enterprise Mk3 de 12 polegadas, e cápsula ZYX Ultimate Astro. Caixas acústicas: Wharfedale Aura 2, Marten Oscar Trio (leia teste 1 na edição 313), Yamaha NS-5000, e Estelon X Diamond Mk2.
O teste inicialmente foi feito apenas com uma unidade, em estéreo.
O fabricante fala em 200 horas de amaciamento para você realmente desfrutar de sua qualidade sonora. Antes desse tempo, li vários testemunhos que acharam o som ‘contido’ ou tímido.
Confesso que não tive essa impressão, e talvez muitos não tenham feito uso do fator de amortecimento para ajustar o casamento com a caixa.
O que posso dizer a vocês é que o amaciamento será importante para soltar as amarras que seguram o amplificador, nas duas pontas.
O grave parece engessado e falta arejamento nos agudos. Mas nada que te impeça de passar o período de queima ouvindo-o. Para tanto, será preciso se sentar, escolher algumas faixas e ver em qual das duas opções de fator de amortecimento sua caixa soa mais coesa com o power.
Felizmente, aqui, das quatro caixas utilizadas, todas ficaram melhores e mais à vontade com 250, e não 25. Assim como o integrado IS-1000, e o pré de phono que tão bem conheço, o PA-1175 MkII está muito mais para uma assinatura sônica neutra do que eufônica ou ultra transparente.
E tenho absoluta certeza de que, para os que ainda não se acostumaram com essa ‘terceira via’, a sensação é de quem aprecia um som mais ‘quente’ ou que seja ultra transparente, irá estranhar essa assinatura sônica, até entender as vantagens da neutralidade.
E constatei isso tanto em fóruns, como em um dos testes que li desse power que dizem que sua sonoridade é certa, mas contida, ou muito ‘comportada’.
Confesso que ri com essas conclusões, pois ao mesmo tempo que o audiófilo usou o termo ‘comportado’, logo depois ele se contradisse, ao afirmar que sua macro-dinâmica possuía excelente folga. Ora, uma apresentação ‘comportada’ dificilmente terá muita folga em picos dinâmicos, concorda?
Mas, enfim, isso são conclusões geralmente de quem ou não tem experiência suficiente, ou falta-lhe método e referência. Só que essas opiniões ficam registradas por anos em fóruns e podem levar inúmeros leitores a conclusões equivocadas.
Continuemos…com duzentas horas, os graves irão ganhar corpo e mais peso, e os agudos ar e melhor extensão.
Com todas as fontes utilizadas, e com qualquer um dos dois prés de linha, o Gold Note se casou muito bem. Assim como com as caixas – exceto a Estelon, que é uma caixa mais ‘gulosa’ que o power em estéreo penou para tocar (o problema foi integralmente resolvido quando ligado em mono – aí foi ‘mamão com mel’!
Seu equilíbrio tonal é muito correto, médios muito bem definidos, com um grau de inteligibilidade excelente. Graves também corretos, limpos, com excelente recorte e velocidade, e agudos sem nenhum excesso de brilho ou dureza.
Não esperaria nada menos que isso de um Gold Note, pois mesmo na série mais simples, essas qualidades já estão presentes em termos de equilíbrio tonal.
O soundstage é impecável, tanto em termos de planos, como de largura, profundidade e altura, e de recorte e foco.
As texturas estarão lá, basta que as fontes e o pré de linha estejam no mesmo nível que o power. É excelente a apresentação da paleta de cores dos instrumentos, e há uma boa intencionalidade.
Os transientes, em todos os eletrônicos Gold Note que avaliei, são padrão hi-end. Você não terá a menor dificuldade em acompanhar tempo, ritmo e variação de andamento.
A macro-dinâmica é correta, e a micro idem, mas se você quiser mais impetuosidade, transforme-o em mono e terá toda ‘volúpia’ que desejar.
O corpo harmônico é nível Referência, e a materialização física do acontecimento musical à sua frente só dependerá da qualidade de gravação. Tendo-a, os músicos irão, todas as noites, tocar exclusivamente para você.
CONCLUSÃO
A Gold Note vem conquistando seu espaço e reconhecimento, sem fazer alarde ou dar passos maiores que as pernas.
Suas armas são: preço, acabamento, design e, claro, performance.
Como já escrevi na conclusão de outros produtos deste fabricante, o que surpreende o ouvinte é o quanto ele é correto sem possuir em sua performance arestas ou pontas soltas.
Ele é justo no pacote que entrega ao consumidor, e cumpre com o que apresenta. Seus produtos são robustos, muito compatíveis com produtos de outros fabricantes graças ao seu alto grau de neutralidade.
E se o audiófilo desejar, a Gold Note pode oferecer um sistema completo da fonte digital ou analógica até as caixas acústicas, o que irá garantir sua assinatura sônica neutra em todas as etapas da cadeia.
Se você busca um power com uma assinatura sônica mais neutra para o seu sistema, você deve ouvir o PA-1175 MkII.
Ele pode ser aquele elo que você procura entre suas fontes e suas caixas.
E se você desejar maior folga dinâmica, e tiver salas maiores e caixas também mais exigentes, um segundo PA-1175 MkII resolverá o problema, com a vantagem de custar muito menos que inúmeros powers estéreo da concorrência.
AMPLIFICADOR GOLD NOTE PA-1175 MKII (EM ESTÉREO) | Nota: 98,0 |
AMPLIFICADOR GOLD NOTE PA-1175 MKII (EM MONO – BRIDGE) | Nota: 100,0 |
AVMAG #313 German Áudio comercial@germanaudio.com.br (+1) 619 2436615 R$ 82.655 (unidade) |
CAIXAS ACÚSTICAS REGA AYA
Fernando Andrette
Quando eu estava na revista Audio News, realizamos o evento Audio Show e, em seu segundo ano, conheci a caixa da Rega Ela Mk2 Xel, lançada em 1992 – se não me engano.
E fiquei impressionado como aquela pequena coluna de duas vias tinha um grau de sedução para vozes e instrumentos acústicos, impossível de não notar e não se encantar.
Tanto que, ao testá-la, acabei ficando com o par para o meu segundo sistema (que ficava em uma sala menor) por quase uma década!
Então, ao contrário de muitos audiófilos que tiveram seu primeiro contato com os toca-discos deste fabricante inglês, eu comecei a conhecer a fundo a ‘filosofia’ de Roy Gandy pelos seus sonofletores, inicialmente.
Então, ao saber do lançamento das caixas Aya, com seu gabinete exótico de concreto e vidro, tive curiosidade, e a certeza de que deveria testá-la.
Nas fotos parecem maiores do que são ao vivo. Com apenas 87cm de altura, e apenas 14 kg, ela será muito fácil de instalar e ajustar em qualquer sala, e garanto você irá agradecer essa facilidade de manuseio, pois elas são bastante exigentes com o posicionamento.
A escolha de concreto para a construção de gabinete não é nada comum, e o uso de fibra de vidro para dar mais rigidez ao gabinete, menos ainda.
A Rega diz que optou por essa escolha pelo fato de conseguir o mesmo resultado em termos de performance que com MDF, que é muito mais caro. E em termos de design, este gabinete permite variações de formatos que seriam impossíveis no MDF.
Apenas o painel frontal é feito de MDF, com um invólucro de vinil que imita o alumínio escovado e dá um efeito visual interessante quando se joga luz em cima da caixa.
Os pés, que dão a sustentação, são feitos de metal, mas diria para ainda assim terem cuidados com crianças pequenas e animais de estimação de grande porte. Quanto às crianças, um outro detalhe: a Aya não tem tela de proteção para os falantes, então será um convite e tanto para dedinhos curiosos.
A Rega optou por uma topologia de duas vias e meia, com um tweeter ZRR desenvolvido pelo fabricante, um falante de médio-grave de 5 polegadas e um woofer de 7 polegadas. Ambos com cone de papel tratado – usado em todos os seus falantes desde 1990.
O pórtico de graves fica abaixo do falante de 7 polegadas, e não existe a possibilidade de bicablagem na Aya.
Segundo o fabricante, sua sensibilidade é de 89dB, e sua impedância nominal de 6 ohms. Ou seja, é uma caixa compatível com qualquer amplificador de no mínimo 50 Watts, para salas de até 16m².
O fabricante não fornece dados sobre sua resposta de frequência, então tivemos que descobrir ouvindo.
Para o teste, utilizamos os integrados Rega Elex Mk4 (leia teste na edição 311), Norma Audio Revo IPA-140, e Soulnote A-3 (leia teste na edição 312). Fontes digitais: Streamers Nagra Innuos ZENmini Mk3, e DAC Wandla da Ferrum Audio (leia teste na edição 310). Os cabos de caixa foram o Virtual Reality Trançado.
A primeira dica importante: você vai precisar de paciência para o amaciamento, que será longo e gradativo. A Aya, quando instalada, será uma decepção quase que mortal! Pois os graves estão travados e os agudos engessados. Só tem médio!
Mostrar em um Show Room a Aya sem amaciar será um tiro no pé. Imagine, então, convidar os amigos audiófilos para escutá-la com dez horas de queima?
Será munição para falarem mal de sua escolha por anos!
Mas ela não soará assim para sempre. Dê o tempo certo, e ela irá florescer e mostrar que o investimento valeu a pena.
Segunda dica: se gostas de ouvir em volumes altos, e seu gosto musical está mais para Thrash Metal, esqueça-a, pois ela não foi projetada nem para tocar em nível de PA e muito menos tocar Thrash Metal.
Mas, se sua coleção de discos está mais para obras acústicas, vozes, pop e rock bem gravados, trios, quartetos, quintetos, jazz, blues e MPB, então ela pode ser uma sonora surpresa para você.
Terceira dica: no posicionamento elas precisam, apesar de seu tamanho, serem instaladas simetricamente na sala e, no mínimo, com 2.5m entre elas e 50cm das paredes laterais, e 80cm das paredes às costas.
Quarta dica: ela se sentirá à vontade em salas de 10 a 16m², com um amplificador de no mínimo 50 Watts e uma fonte digital ou analógica de bom nível, pois depois de amaciada, ela irá te surpreender com seu grau de detalhamento e musicalidade.
Quinta dica: esqueça as primeiras 100 horas, pois ela irá melhorar muito pouco e fará os ansiosos quererem jogá-las pela janela.
Mas, se acredita em amaciamento, não fará tamanha besteira e irá esperar as 180 horas mínimas para descobrir que seus graves irão desabrochar e seu agudo sairá da profunda hibernação de fábrica.
Sexta dica: enquanto espera a transformação de Patinho Feio em Cisne, você pode ir ajustando o posicionamento ideal delas na sua sala, mas deixando o ajuste fino apenas para quando ela estiver totalmente amaciada.
E quanto tempo esse processo leva, Andrette? Aqui foram 250 horas, e até 320 horas ainda ocorreram ajustes pontuais (no encaixe do médio-alto com o tweeter).
Se você for capaz de domar sua ansiedade, e se lembrar que a caixa custou menos de 15 mil reais e tem uma assinatura sônica muito convincente e sedutora, você passará de um ouvinte frustrado, para um ouvinte realizado!
Seu equilíbrio tonal depois de amaciado tem graves com peso, articulados, velozes e convincentes. Sua região média é seu ponto forte. Possui um grau de naturalidade e presença muito intenso, e os agudos, se não são a última palavra em extensão, cumprem bem com o seu papel de não soarem sujos ou brilhantes.
Se isso para uma caixa de menos de 15 mil reais é o que você procura, você achou o par perfeito para sua sala, gosto musical e eletrônica.
Seu soundstage, quando bem posicionada, possui excelente largura, boa profundidade, mas a altura será mais para uma book do que uma coluna. Mas existem maneiras de se contornar a altura, com menos toe-in, deixando-as quase paralelas com as paredes laterais, e no máximo 15 graus voltados para o ponto de audição – aí a altura será um pouco melhor.
Texturas, assim como no equilíbrio tonal, serão fáceis de notar, principalmente a paleta de cor dos instrumentos.
Os transientes são precisos e com ótimo ritmo e andamento, nenhum complicador em termos de inteligibilidade, mesmo em gravações difíceis com enorme variação de velocidade e andamento.
A dinâmica será obviamente melhor que de uma book, porém com limitações de tamanho dos falantes e do gabinete. Mas nada que impeça de ouvir com gosto os crescendos, desde que em volumes corretos.
Já a microdinâmica é bem apresentada, porém sem aquele grau de transparência que tantos apreciam.
Fiquei surpreso com a apresentação do corpo harmônico de instrumentos como órgão de tubo, tuba, piano e contrabaixo. As pequeninas são valentes ao mostrar o tamanho desses instrumentos!
Colocar os músicos à nossa frente, dependerá mais da qualidade das gravações e da eletrônica. Se estiver presente essa qualidade, a Aya será capaz de apresentar a música como se estivesse ali à nossa frente.
CONCLUSÃO
Hoje o leitor encontra excelentes opções de caixas bookshelf e de colunas até 15 mil reais no mercado.
Então o melhor a fazer antes de sair comprando, é ouvir com calma e com seus discos de referência. Munido de paciência, garanto que haverá uma opção que atenda ao seu gosto e bolso.
O que a Rega Aya tem de diferenciado em relação à concorrência?
Sua assinatura sônica está mais para o eufônico que o neutro ou transparente, sua compatibilidade com amplificadores a partir de 50 Watts, e sua facilidade e equilíbrio para tocar tanto em volumes reduzidos quanto em volumes certos e seguros.
Com a eletrônica certa, será um deleite escutar música na Aya.
Tenha a paciência para esperar seu amaciamento integral, e te garanto que ela poderá te surpreender!
Nota: 83,0 | |
AVMAG #312 Alpha Áudio e Vídeo bianca@alphaav.com.br (11) 3255.9353 R$ 14.900 |
CAIXAS ACÚSTICAS MOFI SOURCEPOINT 8
Christian Pruks
O projetista inglês – radicado nos Estados Unidos – Andrew Jones, é uma espécie de superstar da área de áudio. Como sua fama só aumenta, logo ele vai estar pedindo toalhas de 36 cores diferentes e um milhar de M&Ms de uma cor só, para participar de Hi-End Shows mundo afora… rs…
Brincadeiras à parte, seu trabalho projetando caixas é muito coerente e constante em sua evolução e qualidade. E aqui na revista, ao longo dos anos já publicamos testes de várias caixas projetadas por ele – desde uma torre da Pioneer (ainda não apareceu no mercado uma substituta para essa torre em termos de correção pelo preço), passando por vários modelos de várias linhas da Elac e, agora, as caixas MoFi.
Muitos dos modelos que testamos dele, estão entre nossas caixas preferidas em suas categorias – e, em uma época ou outra, as usamos e indicamos como ‘best buy’.
E as SourcePoint 8 são, com certeza, um bocado ‘best buy’!
Reitero o que disse o Fernando Andrette no teste da SourcePoint 10, sobre o quanto a assinatura sônica, o tipo e a capacidade da caixa acústica, fazem dela o primeiro elo que tem que ser escolhido na montagem de um sistema de áudio – afinal a caixa ‘fala’ com a sala, então é preciso que as duas se entendam, para dizer o mais básico. A avaliação correta de todas as opções do mercado que estiverem dentro do orçamento do audiófilo melômano, pode significar a diferença entre um sistema que arrebatará o usuário, ou não!
A Mobile Fidelity é uma empresa que começou em 1977, nas mãos do engenheiro Brad Miller, a fazer a remasterização e a prensagem especial de ‘versões’ audiófilas de numerosas gravações em vinil – a partir de fitas master (originais ou não) muito bem tratadas. Depois, alguns desses remasters também saíram em CD e SACD. Em 1999, a Mobile Fidelity estava mal das pernas, e acabou sendo comprada por Jim Davis, proprietário da Music Direct – um dos maiores varejistas de equipamentos de áudio, discos e acessórios para o mercado de alta-fidelidade.
A Music Direct, na forma da MoFi, de uns anos para cá abriu seu ramo de eletrônicos, desenvolvendo toca-discos (sob a tutela de Allen Perkins da Spiral Groove), cápsulas (com a Audio Technica), prés de phono e, agora, as caixas acústicas sob o comando do Andrew Jones – já chegando no terceiro modelo da linha SourcePoint.
As caixas MoFi SourcePoint 8 são grandes bookshelfs de duas vias, com um woofer de 8 polegadas com cone de papel e borda de tecido – conhecida como “borda seca”. O tweeter de domo de tecido de 1.25 polegada é montado no centro do cone do woofer, de maneira chamada de concêntrica, ou coaxial. O falante todo, cone, bobinas, magnetos leves de neodímio, gabinete com excelente travamento, o belo acabamento, a frente multifacetada para melhor reflexividade e dispersão, tudo isso é fruto dos melhores e mais construtivos pensamentos do Andrew Jones – e, de tudo que eu ouvi que ele desenvolveu até hoje, é a caixa mais bem bolada e com o melhor resultado sonoro.
Sua sensibilidade é um pouco baixa, com 87dB, mas sua curva de impedância é bem alta (nominal de 8 ohms, com mínimo de 6), o que faz dela uma caixa bastante fácil de tocar. O tweeter domo cortado bem baixo (1.6kHz) deixa bem limpa e correta a área bastante crítica dos 2 aos 4kHz – onde normalmente fica o corte do tweeter.
Um dos problemas comuns de se fazer o woofer concêntrico com o tweeter, é que o movimento excessivo do cone atrapalha um bocado os agudos, já que o cone serve de guia de ondas para o tweeter. Jones chegou no melhor compromisso desse problema, partindo para woofers maiores com ‘borda seca’, que resultam em bons graves com menor excursão do cone – aliás, em uma sala de tamanho normal, fazer o woofer delas mexer, dá um trabalho considerável…rs.
Talvez esse woofer maior e com menos movimento, resulte nos seus ditos 47Hz apenas de resposta de frequência de graves – mas, não só Jones geralmente é conservador nas especificações de suas caixas, como aqui no meu sistema, eu consegui medir manifestações significativas de graves começando em 35Hz (claro que resposta ‘em sala’ sempre dá mais graves) ouvindo música eletrônica, órgão de tubos e outras gravações de percussão.
E, em quase todas as gravações, tive resposta extremamente satisfatória em 40Hz. Esses resultados são bons até para muitas caixas tipo torre que têm no mercado, e muito boas para quase todos os estilos musicais.
Uma coisa que foi interessante, à título de comparação, foi que ouvi as SourcePoint 8 no mesmo ambiente e sistema onde uso as torres Elac Debut 2.0 F5.2 – cujo gabinete tem o mesmo volume que as SourcePoint: 42 litros. As Elac usam 3 woofers de 5 polegadas em cada uma, e as MoFi têm um woofer só de 8 polegadas. O fato é que a Elac tem um pouquinho (pouco mesmo) a mais de extensão de graves – que se nota apenas dependendo do instrumento que se ouve, e as MoFi tem bastante mais corpo e peso nos graves.
Projetos bem diferentes, sendo que a MoFi também é uma caixa que está em um nível de referência bastante mais alto. Ela até ganhou o prêmio da EISA – Expert Imaging and Sound Association – de melhor caixa bookshelf 2023-2024.
Uma coisa que eu descobri mexendo na SourcePoint 10 – e que acontece igualmente na 8 – é que não existe um consenso na Internet, e entre numerosos reviewers, sobre qual o melhor toe-in (angulação das caixas em direção ao ouvinte) para esses modelos. Uns dizem que é para por uma enormidade de toe-in, apontando os tweeters, retinho, para a sua cara – o que resulta no larguíssimo palco da Orquestra Sinfônica de Chicago ficar parecendo que os músicos estão todos na sacada de um apartamento.
A questão é a seguinte: a resposta de frequência mais pura que uma caixa pode prover é medida reto, de frente, no eixo. Quanto mais se desvia para a esquerda ou direita, mais direcionalidade o tweeter perde, diminuindo sua intensidade e até criando problemas de fase entre tweeter e mid-woofer, em algumas caixas.
Acontece que isso é uma situação especial, em um ambiente especial, durante medições. A situação em uma sala real em um sistema real, difere de numerosas maneiras. Caixas de melhor qualidade trazem menos perda na direcionalidade ao se afastar do eixo, e a acústica da sala muda bastante essa resposta também, além do amplificador usado também trazer resultados diferentes: eu já tive que mudar toe-in e até mudar posição das caixas, ainda que pouco, por causa da troca de um amplificador.
Outras correntes dizem que você deve deixar as SourcePoints retas, viradas para frente, com zero de toe-in – uma posição que serve para muito poucas caixas, e que nas MoFi vai ser boa ou ruim de acordo com a acústica do local onde elas forem ser usadas, e de acordo com o tamanho do local.
A angulação de toe-in que eu acabei usando nas MoFi 8, em uma sala de menores dimensões, foi pequena: um meio termo entre deixar as caixas retas e o ângulo um pouco maior usado para a maioria das caixas – até porque, a dispersão das MoFi é ótima!
A posição das caixas vai variar de sala para sala – mas o guia básico diz: afaste as ‘8’ das paredes ao fundo em pelo menos uns 60 a 80 cm, para começar os ajustes. E aqui, elas ficaram uns 10 centímetros mais para frente do que as Elacs estavam, pelo menos.
E não ponha as MoFi perto do canto, e nem perto da parede lateral – uns 45cm pelo menos de recuo lateral.
SISTEMA
A sala que foi usada no teste é uma sala normal de uma casa, com 4 por 5 metros de dimensão. O equilíbrio acústico dela se dá por ela ter uma boa quantidade de móveis, não deixando nuas muitas superfícies lisas e reflexivas, e com cortinas e estofados ajudando. Assim como a irregularidade das superfícies das estantes e de seus conteúdos, causam um pouco de difusão, o que ajuda. Falo isso, porque é o que a maioria das pessoas têm disponível, então tem que ser o melhor aproveitado possível.
O sistema usado no teste foi composto do amplificador integrado – com DAC e streamer internos – Gold Note IS-1000, com caixas acústicas torre Elac Debut 2.0 F5.2, e toca-discos MoFi Studiodeck +M (com várias cápsulas) ligado no pré de phono do Gold Note. O cabo de força é o Transparent Audio PowerLink MM, e os cabos de caixa são Virtual Reality Trançado, de cobre.
AMACIAMENTO
Para os que, como eu, não curtem os longos períodos de amaciamento de caixas acústicas – principalmente aqueles que trabalham durante o dia e só têm poucas horas à noite para ouvir música, saibam que depois das primeiras 50 horas, não é tortura nenhuma sentar e ouvir as MoFi 8. Porém, somente entre 150 e 200 horas é que você será pego totalmente desprevenido pelo palco largo e por texturas quase ‘tácteis’, de deixar boquiaberto.
ASSINATURA SÔNICA
A assinatura das SourcePoint 8 é ‘+1’ (muito perto do Neutro), em nossa recém-criada escala, que poderá ser encontrada, a partir desta edição, no final de todos os testes, perto das notas da Metodologia. Vale lembrar que, na escala, o ponto central (zero) é de Neutralidade Tonal, e quaisquer pontos para a direita representam algo cada vez mais transparente e revelador, e quaisquer pontos para a esquerda são algo mais eufônico, quente e menos focado em detalhamento, menos transparente.
São caixas acústicas com um bocado de folga e refinamento – mas com um som bastante energético também, principalmente em altos volumes. O resultado disso é que, se você tratar elas com um amplificador bem doce e equilibrado, elas serão uma seda – mas se você puser conteúdo mais ‘nervoso’, e com um amplificador mais para o transparente, elas ‘revelarão’ esse conteúdo, afinal são caixas Estado da Arte de 93 pontos!! Me lembram um pouco um princípio antigo da informática (hoje chamada de ‘Tecnologia da Informação’) que é o GIGO – Garbage In, Garbage Out – que, trocando em miúdos para a audiofilia é: se puser algo que grita ou é analítico, vai gritar e ser analítica (o pessoal que gosta de testar e avaliar sistemas com música mal gravada, deveria estudar um pouco esse princípio GIGO.
As MoFi 8 não são caixas que arredondam e nem que mascaram.
Em testes que li sobre as 8, eu percebi que alguns diziam que ela tinha uma sonoridade nervosa, e outros diziam que tinha uma sonoridade suave… Como conviver com essa diferença de informações – por parte de ‘profissionais’ – e conseguir bons resultados com isso? Aí eu me toquei: um ouviu com um sistema mais analítico, e música provavelmente mais ‘reveladora’ e brilhante, e quase com certeza em volumes mais altos. E o outro, ouviu com uma amplificação mais equilibrada, mais musical – e quase com certeza em volumes que não procuravam intimidade com vizinhos… GIGO em ação.
COMO TOCAM
As SourcePoint 10 enfrentam salas maiores (de tamanho intermediário e até um pouco grandes) sem problemas. Mas as 8 são um caso muito interessante: elas são para salas pequenas normais de apartamentos, ou quartos de tamanho médio, onde elas literalmente tocam como (ou até melhor) que pequenas torres! Elas parecem torres que foram disfarçadas de books! E seguem (junto com as SourcePoint 10, e com outras ‘books’ de woofer grande atualmente no mercado) a minha teoria pessoal que precisa de woofer grande para ter aquele corpo harmônico que lembra a comida da vovó…rs…
As 8 usam o mesmo tipo de projeto e tipo de falantes que as SourcePoint 10 – inclusive, o tweeter é o mesmo, somente alterando-se o gabinete ser menor e o woofer ser de 8 polegadas em vez de 10 polegadas.
Mas é simplesmente uma versão menor? Na verdade, Jones usou bem a cabeça, e fez uma atenuação perfeita no tweeter, fazendo com que a 8 seja uma caixa muito equilibrada, que dá um som grande, poderoso e musical dentro de uma sala de menor tamanho – com facilidade e sem problema algum. Ou seja, é a perfeita ‘versão menor’ de uma caixa acústica excelente. Espera-se, portanto, que a recém lançada torre da mesma linha, a 888, seja um dos mais tremendos custo-benefícios do mercado para salas de grandes dimensões.
Porque, amigos, a SourcePoint 8 é um tremendo custo-benefício.
Como se pode ver no teste da SourcePoint 10, as notas entre as duas caixas são quase iguais – e isso é porque o projeto preservou todos os aspectos Qualitativos, entre um modelo e outro, que é algo que nem sempre ocorre dentro uma linha de caixas acústicas.
As diferenças, então? As 8 tem um corpo harmônico ligeiramente menor – afinal, trata-se de um woofer que tem duas polegadas a menos! E isso, como resultado, é uma Organicidade, uma materialização física do acontecimento musical, à sua frente, um pouco menos realista que na SourcePoint 10. Nossa! Mas tem mesmo essa diferença? Se você ouvir a 8 sem ter ouvido a 10, não vai sentir falta dessa diferença de Organicidade. Assim como não sentirá falta do Corpo Harmônico – contanto que você esteja utilizando-a em um ambiente, uma sala, de tamanho condizente com a proposta da caixa.
Equilíbrio Tonal – Quando você tem Equilíbrio Tonal, Texturas e Transientes com mesma nota – e alta, ainda por cima – superar isso é muito difícil de mensurar, porque soa tão bem que é necessário uma análise muito longa e profunda para se achar pontos fracos, e muitas vezes esses são uma questão de gosto pessoal. Por exemplo, em caixas concêntricas com falante grande, até agora o som era ‘encaixotado’ nos médios e agudos, e sem ar em cima, sem extensão, quase sempre – e nenhum desses problemas as SourcePoint têm! Mas, se você procura uma caixa com aquele agudo tremendamente aberto e hiper-detalhado, onde você ouve o aparelho digestivo do baixista funcionando, e ainda dá palpite no tempero do jantar dele, as MoFi não vão te agradar, pois elas trafegam do lado mais natural do som. Ou seja, no meio de uma boa música, você não está mais prestando atenção técnica nos detalhes sonoros, está apenas curtindo a música.
Palco – Com o correto posicionamento das caixas – e isso inclui o melhor toe-in – logo cedo no uso das 8 você percebe que a ampla dispersão de agudos e médios delas é impressionante, mantendo excelente equilíbrio tonal mesmo quando se vai afastando do eixo. Eu já tinha percebido isso nas MoFi 10 em uma sala grande, no Workshop em abril último, em São Paulo, quando posicionamos elas com uma grande abertura entre as caixas (digna de uma torre média para grande), e com o toe-in milimetricamente ajustado.
O resultado? Dava para ouvir o palco com clareza e coerência mesmo estando muito mais perto de uma caixa do que da outra. E lembrem-se: a MoFi 8 tem o mesmo estilo de grande dispersão. Um reviewer, acho, disse que essas caixas parecem feitas para que o sweet-spot, o ponto ideal de audição, seja largo o suficiente para ser curtido por duas pessoas ao mesmo tempo – e, olha, acho que é daí para mais!
Mas, além de tudo isso sobre o palco, quando termina o amaciamento você será surpreso por coisas acontecendo, por exemplo, atrás e para a esquerda da caixa esquerda! Com dimensão e corpo plenos! Fantasmagórico!
Texturas – Vários instrumentos, como um violino em uma gravação, eu nunca ouvi com tanta clareza e naturalidade, em nenhum sistema meu (seja de uso constante, ou próprio). Intencionalidades e texturas que quase dão para ‘tocar’ com os dedos, são comuns aqui. Tanto que depois de um tempo, você não ‘procura’ mais esse tipo de informação – a música simplesmente flui. Me ocorreu que isso é o verdadeiro “como era a intenção do artista”, e não nenhuma maravilha tecnológica que iria buscar o que estaria originalmente nas fitas máster, e outras conversas audiófilas de botequim…
Transientes – Se, em uma caixa com falante grande concêntrico e som cheio e voltado para a musicalidade, você espera algum tipo de letargia ou ‘embolamento’ dos transientes, não podia estar mais enganado: as MoFi 8 têm velocidade e ataque naturais com ‘leveza’ e sem passar impressão nenhuma de esforço.
Dinâmica – Em nenhum momento, com nenhum tipo de música – nem com órgão de tubos, nem música eletrônica, nem grandes orquestras – eu consegui fazer o som dessas caixas embolar ou as macro-dinâmicas endurecerem.
Claro que eu não ouço em volume de P.A. de show, e nem tenho ganas de mover a mobília do vizinho, mas mesmo em volumes ainda permitidos pela decência pública – que geralmente são maiores do que o que eu ouço normalmente – elas se comportaram de maneira exemplar, sem ter frequências sobrepondo outras, e sem perder a inteligibilidade dos detalhes e nuances, ou seja, com excelente micro-dinâmica. E foi com a junção da micro-dinâmica com as texturas e os transientes corretos, que me deram alguns ‘sustos’, como aparecerem com intensa clareza alguns instrumentos que estavam ‘perdidos’ dentro de algumas gravações (vide experiência com o Palco, acima).
Corpo Harmônico – Caixas bookshelf têm menos corpo porque são menores e com woofers menores. Como diz o Fernando: “é uma questão de leis da física” – apesar de que eu acho que o corpo conseguido com essas caixas seria considerado ‘ficção científica’ 15 anos atrás…rs. É o meu corpo harmônico preferido de todas as caixas que tive em mãos – e, por isso, têm meu médio-grave preferido!
Musicalidade – Quando você tem todos os quesitos com notas muito próximas (ou iguais, como raramente ocorre) você tem uma Musicalidade superior, pois todos os quesitos da nossa Metodologia representam aspectos inerentes à sonoridade da música real, dos instrumentos reais.
Organicidade – Com esse equilíbrio tonal e corpo, com a apresentação sonora dessas caixas sendo de grandes dimensões, você se sente mais próximo da música – e isso, no meu manual, diz ótima organicidade.
Você deve estar se perguntando: “Essa caixa não tem defeitos, não?”. Veja, apesar dela ser o ponto culminante da carreira de um dos melhores projetistas de caixas acústicas do mundo hoje, e ser de um custo-benefício fora do comum, ela não vai ter a clareza e detalhamento de uma caixa de 110 pontos Estado da Arte Superlativo! E, também, como eu disse, ela não é para quem quer ouvir a hiper-realidade do hiper-detalhamento. Nem vai ter a extensão de graves de uma torre média ou grande, nem dar socos no seu estômago ou fazer vibrar a barra da sua calça.
Mas, o que ela faz, que é bom para a maioria dos gêneros musicais e ouvintes interessados em musicalidade e boa organicidade, ela faz de maneira sensacional! Como disse o Fernando no teste das SourcePoint 10, as qualidades da caixa, até alguns anos atrás, eram descritas como recursos só existentes em caixas acima de 100 mil reais!
CONCLUSÃO
As MoFi SourcePoint 8 são caixas bookshelf para ambientes pequenos quase médios (ideal de 12 a 20 e poucos m2), que tocam como torres, com corpo, dinâmica e tamanho da apresentação dignos de uma caixa torre.
Digamos que você tem uma sala dessas, uma sala normal de um apartamento, um quarto de tamanho decente, uma sala de TV/som, um escritório ou edícula – qualquer ambiente normal onde a maioria das pessoas iria montar um sistema de som de alta-qualidade com uma relação custo-benefício alta. Um ambiente onde uma caixa bookshelf normal seria insatisfatória para muitos. Eu acho que você deve pensar seriamente que as SourcePoint 8 são uma das melhores opções para você.
Além delas suprirem tudo o que você procura, são caixas que tem uma etiqueta de preço insuperável por sua pontuação, ou seja, por seu nível de Qualidade Sonora! E sua compatibilidade com amplificadores bem equilibrados (de -2 até +1 na escala da Assinatura Sônica), é enorme.
Hoje, as Mobile Fidelity SourcePoint 8 são minhas Caixas de Referência – pois além de serem corretíssimas, equilibradas, transparentes na medida certa, elas são o que eu procuro em um par de caixas: alta musicalidade, texturas fenomenais, e um som cheio, ‘grande’.
Meus parabéns ao Andrew Jones!
Nota: 93,0 | |
AVMAG #308 German Audio comercial@germanaudio.com.br (+1) 619 2436615 R$ 25.650 |
CAIXAS ACÚSTICAS DYNAUDIO CONTOUR 30I
Fernando Andrette
Tive tantas caixas Dynaudio em minha vida que de cabeça não conseguiria enumerá-las corretamente.
Foram duas décadas de convivência, que se iniciou quando ainda estava na revista Audio News em 1994, e testei para a revista uma Contour 1.8 – também de duas vias e meia, como a nova Contour 30i. E fiquei tão impressionado com algumas de suas qualidades que vendi minha B&W Matrix 802 para poder ficar com a Contour.
Quando iniciei a publicação da revista Clube do Áudio, já estava com uma Contour 2.8 de três vias, uma caixa muito exigente com seus pares, tanto que esse upgrade me forçou a melhorar minha eletrônica e toda a cabeação do sistema.
Em 1998 dei outro salto, para a Confidence 5, seguida em 2002 para a Confidence 4, até em 2008 ir para o estágio final, dentro dos modelos desse fabricante: a Evidence Temptation (o modelo Master sempre esteve muito além de minhas possibilidades).
Se não estiver enganado, desde a Audience 10, capa de nossa edição número 1 do Clube do Áudio, testei pessoalmente pelo menos uns 22 modelos, e a revista certamente publicou mais de 30 testes com produtos Dynaudio.
Então, foi uma bela surpresa quando recebi o convite de seu novo distribuidor no Brasil, a Chiave, para testar a nova Contour 30i.
Eu ouvi, e testamos a Contour 20 e a Contour 60. E pessoalmente fiquei com a impressão que ambas haviam se distanciado da assinatura sônica tão familiar a mim dos últimos 20 anos da Dynaudio.
Assim como também já havia notado essa mudança de rumo com a bookshelf comemorativa de 40 anos.
Pessoalmente, as mudanças não me agradaram, mas talvez o departamento de marketing da empresa tenha detectado que havia ‘lacunas’ que deveriam ser aperfeiçoadas.
Então, foi com um misto de curiosidade e receio que recebemos a Contour 30i, no seu palete de madeira, ultra protegida para viagens continentais, e tratamos de colocá-la imediatamente em amaciamento.
Pois havia solicitado à Chiave que, se a caixa me agradasse, teria total interesse em utilizá-la em nosso Workshop Hi-end Audio Show, no final de abril, em São Paulo.
Das minhas anotações do teste com as Contour 60, e fotos da própria Contour 30, externamente não houveram mudanças no gabinete. Aos mais atentos, a única diferença significativa externa está na base dos pés do gabinete, que agora em vez de quatro pernas separadas, são apenas duas em formato U alongado, que se fixam na base do gabinete, dando uma sensação de maior estabilidade, principalmente em salas com carpetes ou tapetes grossos.
Gostei dessa alteração.
No entanto, dentro da Contour 30i, tudo é novo. Começando pelo novo tweeter Esotar 2i, com a patenteada cúpula Hexis – à princípio utilizado apenas na série Confidence – que funciona como um difusor atrás da membrana de tecido. Seu desenho lembra uma concha esférica, que segue o contorno da cúpula e contém caminhos que parecem um labirinto, parecidos com as covinhas de uma bola de golfe. E, atrás da carcaça do tweeter, há uma câmara de amortecimento com o objetivo de melhorar a drenagem de ar na parte traseira, diminuindo a compressão e permitindo uma definição ainda mais limpa e precisa na resposta dos agudos.
Os dois woofers também tiveram mudanças significativas com uma nova aranha, um novo colar de tecido dobrado para manter a bobina centralizada. Essa nova aranha é feita de Nomex, um plástico ultra leve, porém muito resistente. Segundo o fabricante, essa nova aranha permite uma passagem mais livre do som e muito menor compressão.
O crossover também é novo, com o desenvolvimento de um filtro mais simples. Com isso, foi redesenhado e recalculado integralmente, para o uso de menos componentes e de melhor qualidade.
Por último, foi feito um estudo para melhorar o material de amortecimento, e todos os reforços internos do gabinete foram redesenhados.
Para o teste utilizamos os seguintes integrados: Primare i35, Sunrise Lab V8 Edição de Aniversário, Arcam SA30, powers Gold Note PA-10 e Nagra HD. As fontes foram: CS/SACD Player Arcam CDS50, transporte Primare DD35, transporte Nagra, e conversores Merason DAC 1 Mk2 e Nagra TUBE DAC. Cabos de caixa: Supra Snow e Dynamique Apex.
Fizemos a primeira audição para as observações iniciais, com os discos: Genuinamente Brasileiro volumes 1 e 2, SACDs André Geraissati – Canto das Águas, e André Mehmari – Lachrimae, e CD Timbres.
E colocamos a Contour 30i para 150 horas de amaciamento.
A boa notícia é que a Dynaudio já sai soando muito bem, além de correta e sem buracos ou vales em sua resposta, no período de amaciamento.
O que permite que o usuário possa tranquilamente acompanhar sua evolução sem stress ou dúvidas se fez a escolha certa.
Com 150 horas, a caixa ganha maior extensão nas duas pontas e um palco mais bem focado e recortado. As bordas se tornam muito mais inteligíveis. Então já pode estabelecer a partir das 150 horas o melhor posicionamento para elas na sala de audição.
Como toda Dynaudio, esqueça ângulos (toe-in) muito voltados para o ponto de audição, pois elas não são adeptas desse formato. Preferem ângulos de até 15 graus para o ponto ideal do ouvinte, em um triângulo equilátero o mais correto possível.
Então, a primeira dica é: avalie bem antes de determinar a distância entre as caixas, se a sala permite essa mesma distância até o ponto ideal do ouvinte.
Essa distância entre caixas e onde você se senta é que determinará a distância entre elas.
Toda Dynaudio necessita de respiro entre elas e as paredes. Não estou falando de um metro entre as caixas e as paredes, mas a distância entre a parede às costas das caixas é mais primordial que a distância das caixas em relação às paredes laterais.
Como nossa sala já foi projetada para todo tipo de caixa, aqui as Contour ficaram a 1,86 m da parede as costas e 1m das paredes laterais, permitindo 4m de distância entre elas e os mesmos 4 m em relação ao ponto de escuta ideal.
Em uma sala tão ampla, as Contour 30i se sentiram à vontade e puderam mostrar todo o seu pedigree e sua capacidade em materializar o acontecimento musical à nossa frente.
Sempre apreciei nas caixas desse fabricante, justamente a facilidade em que elas têm em recriar o ambiente musical da gravação e como o fazem sem esforço ou coloração.
Ouvi por duas décadas de leitores que não gostam da assinatura sônica desses sonofletores dinamarqueses, que para eles toda Dynaudio sempre soa seca e sem calor suficiente para seduzi-los. E por diversas vezes, nos nossos Cursos de Percepção Auditiva, ouvi desses mesmos críticos, que a maneira em que a apresentamos, elas não se comportaram dessa maneira.
Essa é uma longa história, que talvez nem interesse aos novos leitores, mas assim como um excelente instrumento musical, não irá soar todo o seu potencial nas mãos de um estudante, o mesmo ocorre com caixas acústicas. Elas precisam ser compreendidas e casadas com seus pares – não é apenas uma questão de escolha pelo valor de cada componente do sistema.
Eu sempre deixei, no final do Curso, depois de responder às dúvidas dos participantes, eles escolheram por maioria a música que mais os impressionou durante o Curso.
Por diversas vezes, o pedido foi a faixa 11 do CD Live In Paris da Diana Krall – em que ela faz ao piano e voz uma linda interpretação de A Case Of You de Joni Mitchell.
As eletrônicas utilizadas foram as mais diversas, e a caixa foi por muito tempo a Dynaudio Evidence Temptation. E até hoje tem leitores que participaram dos Cursos e que me relatam que aquela apresentação foi de um realismo emocionante!
Tudo sempre vai depender do casamento entre a eletrônica, sala, elétrica e a caixa.
Tentarei novamente repetir no Workshop Hi-end Audio Show, essa tese que o casamento correto fará caixas ‘corretas’ soarem todo o seu potencial (que eu esteja inspirado e consiga passar a todos que forem no Workshop, os cuidados que todos temos que ter).
A Contour 30i, se saiu muito bem com todos os amplificadores que utilizei no teste – algo surpreendente, pois as gerações anteriores tinham como ‘limitação’ seu baixo grau de compatibilidade com válvulas e amplificadores de baixa potência, e com baixo fator de amortecimento.
Acho que esse redesenho do crossover minimizou essa limitação consideravelmente.
Mas uma coisa é tocar bem com todos os amplificadores que eu tinha à mão, outra é extrair da caixa seu último sumo! E aí o buraco é sempre ‘mais embaixo’, amigo leitor.
Ela realmente ‘desabrochou’ com os integrados Primare i35 e o V8 aniversário. E quando tiramos o CD Player Arcam e passamos a utilizar os transportes Primare ou Nagra com o DAC Merason DAC 1 Mk2 – aí pudemos ter um panorama completo de suas virtudes.
Seu equilíbrio tonal é excelente, e arrisco dizer que o salto do novo tweeter Esotar 2i foi monumental. A extensão e decaimento desse novo tweeter está no mesmo patamar de qualquer tweeter ultra hi-end. Velocidade, corpo, ausência de brilho ou dureza, fazem desse Esotar 2i uma referência absoluta.
A região média é padrão Dynaudio, enorme transparência com um senso de organização do acontecimento musical, deixando o ouvinte à vontade para longas audições sem nenhum resquício de fadiga auditiva.
Uma característica que incomodava muitos dos que não gostavam da assinatura das caixas Dynaudio, era que em volumes altos , elas tendiam a ficar cansativas e até duras. Ainda que eu concorde em parte com essa observação, por ter tido por anos modelos Dynaudio, sempre tive claro para mim que quando esse resultado ocorria, o casamento com a eletrônica não havia sido a melhor escolha, bastando para corrigir essa limitação, buscar uma eletrônica mais compatível com audições em volumes mais altos.
Essa questão a Dynaudio resolveu, pois ficou claro que seu silêncio de fundo se deve a menor distorção dos novos falantes e do novo crossover. Pois no Nagra HD, ouvi muitas vezes a 80 dB com picos de 98 dB e não escutei nenhum resquício de dureza ou frontalização.
Repetindo essas mesmas faixas também no V8 Aniversário, sem nenhuma limitação.
E os graves dessa caixa, para uma coluna de duas vias e meia, são simplesmente impressionantes. Têm peso, energia, total inteligibilidade e, o mais importante: velocidade. Escutei vários discos do baixista Jaco Pastorius, e bons tributos a ele, e a Contour 30i se comportou como ‘gente grande’ na reprodução dos graves!
Seu soundstage, em termos de um palco 3D, dependerá, como escrevi, da caixa poder respirar na sala. Se tiver as condições ideais, a profundidade será tão boa quanto a largura (algo raro, pois a maioria das caixas de preço intermediário, possuem maior largura que profundidade). E sua altura também é bastante convincente (nada de cantores em pé com menos de 1,50 m, ou solos de violino em que o violinista parece estar tocando sentado e não em pé.
Com um tweeter tão refinado e correto, a reprodução de ambiências das salas de gravação são referenciais!
As texturas, com tanto acerto no equilíbrio tonal, só poderiam consequentemente também serem exemplares. Ouvindo a última gravação do grupo The Nash Ensemble pelo selo Hyperion, com obras de Tchaikovsky, para sexteto de cordas, é imperativo que o sistema e principalmente as caixas organizem os instrumentos entre elas, de forma a se ouvir o todo, mas que cada voz não seja mascarada ou atropelada pela variação dinâmica imposta o tempo todo.
Esse é um dos meus mais sublimes exemplos para textura, neste ano.
Já ouvi dezenas de vezes essa gravação, e me surpreende como as texturas podem facilmente ser ‘banalizadas’ quando todos os instrumentos tocam em variações dinâmicas sutis.
Sem uma reprodução precisa das texturas, na intencionalidade da execução da obra e na paleta de timbres, essa música soaria confusa e pouco sedutora.
Porém, quando a reprodução de textura é perfeita, essa é uma das gravações mais interessantes para se avaliar esse quesito. Eu recomendo, amigo leitor, aos não familiarizados com música clássica, basta usar a faixa 1. Se, no seu sistema, soar confuso, difícil de acompanhar todos os seis instrumentos, não culpe a gravação por favor. Ela só está mostrando que seu setup ou sua caixa não são bons o suficiente nesse quesito, tão essencial para a inteligibilidade, e em tornar um sistema sedutor e confortante.
A Contour 30i passou com méritos nesse exemplo e em todos os exemplos que usamos para fechar a nota desse quesito.
Nunca ouvi uma Dynaudio na vida ser ruim na reprodução de transientes, e não foi desta vez que falhou em ser absolutamente precisa na marcação de tempo e ritmo. Não tem como não se deliciar com os tempos apresentados pela Contour 30i!
A dinâmica, principalmente a macro, se beneficiou demais com o menor índice de distorção dos novos falantes. Esse, junto com a qualidade do novo tweeter, são os maiores méritos dessa nova geração.
As variações dinâmicas são realmente apresentadas com autoridade. Ela não se intimida com nenhum gênero musical, e muito menos com volumes dentro do estabelecido pela gravação mixada.
E sua micro dinâmica é excelente, como em todas as gerações anteriores da Dynaudio. O corpo harmônico também é exemplar, e mostra que mesmo uma coluna slim, bem dimensionada, não terá dificuldade em reproduzir os tamanhos corretos dos instrumentos captados nas gravações, e não perdidos na mixagem ou masterização.
E para materializar o acontecimento musical, basta acertar a mão na escolha da gravação, para que os músicos estejam a três metros de sua cadeira, em todos os dias de sua convivência com essa caixa.
CONCLUSÃO
A Dynaudio conseguiu ‘resgatar’ um antigo e sincero admirador da marca. Se as novas Confidence também resgataram o DNA original desse fabricante dinamarquês, suponho que vão ser um caso sério para a concorrência.
Pois essa Contour 30i certamente, em sua faixa de preço, já será um problema para os concorrentes diretos.
Tudo na Contour 30i é bastante equilibrado, não deixando lacunas mal resolvidas ou situações em que, para soar corretamente, exigem eletrônica muito acima do preço da caixa.
Como escrevi, a maior crítica a essa marca era a baixa compatibilidade, e até isso essa nova geração sanou.
Se o amigo deseja uma caixa de alto nível para um espaço de até 35 metros, já possui uma eletrônica de alto nível e correta, sugiro uma audição cuidadosa da Dynaudio Contour 30i.
Ela pode te surpreender, como me surpreendeu.
Quer uma excelente oportunidade para ouví-la?
Venha até nossa sala no Workshop Hi-End Audio Show, no final de abril, em São Paulo. Estarei apresentando-a com três excelentes amplificadores integrados!
Só ela, já te garanto que vale o ingresso do evento!
Nota: 95,0 | |
AVMAG #305 Chiave chiave@chiave.com.br (48) 3025.4790 / (11) 2373.3187 R$ 120.000 |
CAIXAS ACÚSTICAS BLUEKEY ACOUSTICS MODEL 1
Fernando Andrette
O Francisco, CEO da Bluekey Acoustics, foi um assíduo frequentador de nossas turmas do Curso de Percepção Auditiva, chegando a fazer o ciclo completo, antes de se mudar para o Canadá e lá fazer uma sólida carreira no mercado financeiro.
Mas como todo audiófilo ’picado pelo hobby’, nunca deixou de desejar produzir suas próprias caixas acústicas, e ao se aposentar do mercado financeiro, iniciou essa nova jornada primeiro no Canadá e, agora que retornou definitivamente ao Brasil, resolveu estabelecer a Bluekey aqui e exportar para o Canadá essa sua nova geração de caixas (que espero que não fique apenas na Model 1).
Ouvi ainda um dos primeiros protótipos da Model 1, e fiquei muito surpreso com seu potencial, detalhes técnicos e o seu cuidado com pormenores, como um acabamento de primeiro mundo.
Nessa rápida audição, ele me lembrou o quanto os Cursos de Percepção Auditiva o ajudaram a estabelecer um ‘norte’ para suas ideias, e buscou aplicar todos os quesitos da Metodologia no desenvolvimento da caixa.
É reconfortante saber que muitos de nossos leitores acreditam e utilizam a Metodologia tanto no ajuste de seus sistemas, como em alguns casos também no desenvolvimento de produtos.
Do protótipo que escutei, pontuei o que achava que poderia ainda ser aprimorado, mas reiterei que ele precisaria ajustar sem perder o que havia alcançado, pois já estava em um alto nível!
Ele, além de muito disciplinado, mostra ter muita determinação em buscar o que julga ser importante para o aprimoramento do produto final.
E só ouvi o produto acabado horas antes da abertura do nosso Workshop deste ano, e gostei do que ouvi, principalmente por ser em uma sala muito distinta da nossa Sala de Referência.
Mas o Francisco, mesmo com a excelente repercussão que teve no evento, não se deu por convencido, e ainda realizou mais uma mudança, escolhendo por um tweeter de neodímio na caixa enviada para teste.
Posso assegurar que sua escolha não poderia ter sido mais assertiva, e com resultados audíveis muito superiores aos que ouvi no Workshop.
Eu apelidei a Model 1 de ‘big book’, pois realmente suas dimensões são ‘significativas’. Lembra esteticamente as caixas dos anos 70, que eram colocadas nos cantos da sala. Mas a comparação acaba aí, pois a Model 1 não tem nada do som vintage das caixas dos anos setenta, em que os graves eram letárgicos, com baixa resolução e ultra coloridos.
A Model 1 da Bluekey utiliza um potente woofer de 15 polegadas com resposta a partir de 35 Hz, que responde até 1.9 kHz, quando o tweeter de compressão com um diafragma de 1.7 polegadas passa a responder até 21 kHz.
O tweeter com imã de neodímio é uma corneta Estado da Arte, que produz uma resposta plana dos médios aos agudos.
A Model 1 possui dois crossovers montados em placas separadas e afixados em paredes opostas do gabinete, com o objetivo de obter a máxima separação entre os sinais. Ambos os crossovers são montados a mão e soldados ponto a ponto, e todos os componentes são adquiridos na América do Norte e Europa.
Montados com dois pórticos frontais, o usuário pode até deixar as caixas mais perto da parede atrás delas.
O gabinete inteiramente feito no Brasil, é produzido com placas de MDF de 18 mm com juntas de 45 graus para dar máxima rigidez e vedação total. O painel frontal tem espessura de 36 mm para suportar o peso dos drives e controlar integralmente as vibrações do gabinete.
O acabamento pode ser escolhido pelo cliente, com um valor adicional. E a Model 1 possui um acabamento padrão nogueira canadense.
Segundo o fabricante, essas são as especificações técnicas: modelo Bass-Reflex com dois pórticos frontais, caixa de duas vias, woofer de cone de papelão de 15 polegadas e bobina de 100mm. Driver de compressão com diafragma de 1.7 polegadas (44 mm), com polímero de Ketone e bobina de neodímio, em uma corneta de diretividade constante com assimetria horizontal. O fabricante indica amplificadores com mínimo de 10 a um máximo de 300 Watts RMS (porém tenho algumas observações a fazer mais adiante, em minhas avaliações). A resposta de frequência é de 40 Hz a 21 kHz (em +-3 dB) e de 35 Hz a 21 kHz (em +-6 dB). Impedância nominal de 8 ohms (mínimo de 7 ohms a 140 Hz), sensibilidade de 94 dB (2,83V@1m), frequência de crossover: 1.9 kHz. Terminal de caixa único banhado a ouro para plugue banana e spade. Dimensões: 88(A) (1.10m com pedestal e spike) x 50(L) x 34(P) em cm. Peso: 40 Kg cada sem pedestal.
Para o teste utilizamos os seguintes integrados: Fezz Audio Titania (leia teste na edição 308), Soulnote A-3 (leia teste na edição de dezembro de 2024), e Norma IPA-140 (leia teste edição 306). Pré de linha Audiopax Reference (leia Teste 1 na edição 311), powers Nagra HD, DAC Wandla da Ferrum Audio (leia teste na edição 309), e Nagra TUBE DAC. Streamer: Innuos ZENmini Mk3, e Nagra Streamer (leia teste edição Melhores do Ano em Janeiro/Fevereiro de 2025). Setup Analógico: toca-discos Origin Live Sovereign Mk4, braço Enterprise Mk3, pré de phono Soulnote E-2. Cabos de caixa: Virtual Reality Trançado, e Dynamique Audio modelo Apex.
O Francisco nos fez a gentileza de enviar as caixas integralmente amaciadas, o que possibilitou fazermos juntos uma breve audição, ligadas ao integrado Soulnote A-3, com o streamer da Nagra ligado ao TUBE DAC, e acalmá-lo pois o homem estava ansioso para ver como o projeto finalizado iria soar na nossa Sala de Referência.
Saiu tranquilo e feliz com o que ouviu, e certo de que fez a lição de casa com louvor!
É uma bela caixa, amigo leitor, e portanto exigente com seus pares, caso o comprador queira extrair todo seu potencial.
Antes de descrever minha avaliação, farei dois adendos que julgo serem importantes.
Esqueça powers de 10 Watts, para mover adequadamente esses drives com competência e refinamento será preciso bem mais que 10 Watts! Para uma sala padrão acima de 16m (o mínimo que essa caixa exige), diria que pelo menos 50 Watts em 8 ohms serão necessários.
Para que a caixa tenha folga nas passagens macro-dinâmicas e o equilíbrio tonal não seja prejudicado nas audições na madrugada ao pé do ouvido.
Entenderam o recado?
Elas tocam divinamente em pianíssimo, com um equilíbrio tonal correto, e você ouvirá os graves presentes, uma região média e agudos com excelente inteligibilidade, mas precisam de Watts de reserva para essa beleza acontecer.
Aqui os melhores resultados foram com o integrado Norma, com seus 140 Watts em 8 ohms, e os Nagras com seus 250 Watts em 8 ohms. Aí, meu amigo, consegui tanto na macro quanto na micro extrair o sumo do sumo!
Seus graves são muito interessantes, pois possuem definição, corpo, peso, energia, deslocamento de ar e o mais importante: velocidade.
Se você gosta de grave batendo no peito, ou escorrendo pelo chão até você sentir no encosto da poltrona o deslocamento de ar, você veio ao lugar certo!
Mas, como disse, nenhuma semelhança com os ‘armários’ encostados nos cantos nas salas dos anos setenta, em que o bumbo batia, você ia ao banheiro, voltava e ele ainda estava soando, rs.
Aqui os graves terão autoridade e controle. Se você entende que caixas hi-end atuais proporcionam esse grau de ‘fidelidade’, ótimo!
Me surpreendi como o Francisco conseguiu ajustar esse woofer para responder até 1.9 kHz com esse grau de inteligibilidade, e equilíbrio, sem colorir a alta ou perder velocidade. Um mérito e tanto, pois costumo ouvir esse grau de ‘encaixe’ na passagem para o tweeter, em 1.9 kHz, em woofers de 8 polegadas e não de 15 polegadas.
E aí vem a melhor surpresa, a corneta não soa como a esmagadora maioria das cornetas, que são anasaladas. Vozes, instrumentos de sopro (madeiras) soam muito naturais e com seus timbres absolutamente preservados.
Você não nota a passagem de um falante para o outro, pois é feita de maneira muito correta (outro grande mérito do projetista).
A região média soa com enorme inteligibilidade e excelente equilíbrio tonal. Zero de fadiga auditiva, mesmo em volumes de gravações corretos e por longos períodos de audição.
E os agudos também não soam como a maioria das cornetas, com excesso de brilho ou dureza.
Ouvi exemplos críticos, como: piccolo na última oitava, órgão de tubo, pianos solo, trompete com surdina, sax soprano, e inúmeros pratos de condução. E não escutei nada passando do ponto ou incomodando nas altas frequências.
Aí você deve imaginar o seguinte: talvez o projetista tenha feito um corte acentuado, nas altas, para dar esse conforto auditivo. E minha resposta: se ele tivesse optado por essa escolha, sua caixa não teria esse decaimento tão suave, que nos permite ouvir em detalhes as ambiências de qualquer gravação.
Outra característica, quando o projetista faz essa escolha de atenuar o brilho nas altas, é o escurecimento da última oitava de todos esses instrumentos citados. E isso também não ocorre nas Model 1.
Acho que o mérito dessa correção passa pelas escolhas feitas nos componentes do crossover de alta, cabos e, claro, da própria corneta com imã de neodímio.
Pois essas trocas pontuais feitas no protótipo que ouvi é que deram esse salto final, não tenho dúvidas disso!
O soundstage será um ponto crítico no posicionamento dessas caixas. Então, meu amigo, pense que pelo seu tamanho elas precisarão de respiro entre elas e as paredes. Pois aqui, foi uma briga de dois dias para se atingir o ponto de ajuste fino ideal entre foco, recorte e profundidade.
Você não terá 100% desses três quesitos, se sua sala não tiver respiro para as caixas. Então minhas dicas são: pelo menos 1m da parede às costas das caixas, mínimo de 2.80m entre elas, e pelo menos 60 cm das paredes laterais.
Aqui, para extrairmos o sumo integral, elas ficaram a 1.80m da parede às costas e 1m das paredes laterais, voltadas para o ponto ideal de audição, e 4 metros de tweeter à tweeter.
Aí consegui um palco primoroso!
Elas não gostam de toe-in acentuado, então faça essa angulação para o ponto ideal com calma. Use vozes para esse ajuste. Quando a voz estiver focada perfeitamente ao centro entre as caixas, soando para trás delas (sempre), aí você achou o ângulo de toe-in correto.
Aí é ouvir gravações que tenham profundidade para ver o que se consegue extrair, sem perder o foco já alcançado.
Dá trabalho? Muito, mas o resultado é muito gratificante!
As texturas são impecáveis! Tanto em termos de apresentação de paletas de cores dos instrumentos, como da qualidade e da técnica dos músicos e do engenheiro de gravação.
Você ficará surpreso com o grau de informação que a Model 1 extrai em termos de informações para você.
Os transientes são de caixas Estado da Arte, precisos em tempo, andamento e ritmo!
Você irá se entusiasmar em ouvir um Dire Straits, por exemplo, e sentir a pulsação rítmica penetrando em sua pele, nervos e ossos!
A dinâmica, como já cantei a bola, dependerá do amplificador ter ou não fôlego e folga para entregar a encomenda. Se tiver, a Model 1 responderá com folga o que recebeu.
E sua micro-dinâmica é excelente, graças ao seu grau de transparência e silêncio de fundo.
Se queres saber o tamanho de um bumbo, ouça a Model 1. De um contrabaixo acústico, idem!
Como diz nosso querido colaborador Christian Pruks: “Nada como um bom e bem projetado falante de 15 polegadas!”
Realmente, a Model 1 em termos de corpo harmônico tem muito o que ensinar – à muita caixa torre slim com dois ou três woofers de 6 polegadas – o que é um corpo harmônico de um contrabaixo, quando bem gravado.
Foi um deleite ouvir todos os exemplos utilizados para fechar a nota neste quesito, só para se apreciar com a qualidade da reprodução desses instrumentos!
Organicidade, aqui novamente o resultado dependerá mais da qualidade de gravação, do que da caixa em si. Mas se a gravação estiver à altura deste quesito, sim, você terá o acontecimento musical materializado à sua frente!
CONCLUSÃO
É tão gratificante, em uma mesma edição, poder compartilhar nossas impressões de dois produtos nacionais tão expressivos e significativos para a mudança de patamar dos produtos hi-end produzidos no País.
Como escrevi no editorial desta edição, não tenho dúvidas que estamos vivendo o ‘apogeu’ de produtos hi-end Made in Brazil!
E que venham muitos mais no próximo Workshop, e que possamos compartilhar com todos vocês essas descobertas tão importantes para o nosso mercado.
A Model 1 da Bluekey Acoustics é uma caixa admirável, e que pode perfeitamente atender desde o audiófilo iniciante até o mais rodado, que deseja uma caixa que tenha qualidade, requinte e refinamento suficientes para um sistema definitivo.
Espero que todos que lerem esse teste, visitem o espaço da Bluekey no próximo Workshop e descubram o quanto essa caixa é encantadora e surpreendente!
Nota: 95,0 | |
AVMAG #311 Bluekey Acoustics bka@bluekeyacoustics.com (11) 99652.9993 R$ 42.000 |
CAIXAS ACÚSTICAS AUDIO SOLUTIONS FIGARO S2
Fernando Andrette
A Audio Solutions foi fundada em 2011 na Lituânia, pelo renomado engenheiro Gediminas Gaidelis, após anos fabricando caixas acústicas para o mercado do Leste Europeu com o nome GPS. Sua paixão pela música, marcenaria e eletrônica o levou, aos 16 anos de idade, a fabricar caixas para os amigos e para uso da família.
A empresa tem sua sede em Vilnius, e todas as unidades fabricadas utilizam falantes SEAS e Scanspeak, e componentes fabricados na União Europeia.
A linha Fígaro foi lançada em 2018, e revista em 2023. O modelo em teste, o S2, é a menor coluna de chão, com apenas 95cm de altura, largura de apenas 23cm e profundidade de 40cm. Utiliza 4 falantes, dois de 6 polegadas para os graves, uma terceira unidade também de 6 polegadas para os médios e um tweeter de domo de 19mm. O gabinete estreita ainda mais na parte traseira, e possui dois pórticos e os terminais de conexão.
Ao retirar o produto da embalagem de papelão, não tem como não admirar seus detalhes e acabamento, com um friso dourado nas paredes laterais de cima para baixo.
Mas o que de mais interessante esse gabinete esconde aos olhos, é que o princípio de construção é o mesmo utilizado na série acima, a Virtuoso. A Audio Solutions utiliza o princípio de dissipação de energia sonora em calor, com uma engenhosa transferência de energia do gabinete interno para a área externa. Todo esse processo é para não existir internamente pontos de ressonância que possam ‘colorir’ a sonoridade do sonofletor.
O mesmo cuidado a Audio Solutions tem no desenvolvimento do crossover de suas caixas, com a utilização de um sofisticado software para simular com enorme precisão a interação do driver, gabinete e crossover em condições de uso de volumes reduzidos até volumes extremos.
Para o projetista Gediminas, embora tudo comece com modelos matemáticos, isso é apenas o pontapé inicial de um projeto de alto nível. Segundo eles, para cada protótipo, inicialmente 30 tipos diferentes de crossovers foram desenvolvidos e testados à exaustão (objetivamente e subjetivamente).
E depois de escolhidas duas ou três das melhores opções, os modelos são ouvidos para tentar encontrar limitações e fadiga auditiva, por semanas, até que tudo esteja dentro do padrão estabelecido pela Audio Solutions.
Com tantos anos de experiência, Gediminas trabalha com alguns princípios estabelecidos pela prática auditiva, como evitar pontos de corte no crossover na faixa de frequência onde o ouvido humano é mais crítico e é mais perceptível entre 1000 e 2000 Hertz – e para fugir desse ‘obstáculo’, a caixa Figaro S2, estabeleceu que o ideal seria cortes em 400 Hz e 4000 Hz. Possibilitando a escolha de falantes com um diâmetro menor para o tweeter, reduzindo ressonâncias indesejáveis. A Audio Solutions utiliza uma ‘placa’ de ondas batizada de Mini-Horn, em vez de um guia de ondas convencional. As vantagens segundo o fabricante é que quanto mais alto o tweeter toca, mais amortecimento e pressão de ar na área frontal ele obtém, mantendo as altas frequências extensas e naturais.
Ainda segundo o fabricante, o Mini-Horn adiciona uma outra vantagem ao projeto, ao melhorar a sensibilidade e a eficiência do tweeter.
A nova série Figaro utiliza falantes com cones de papel ER de alta rigidez, para manter uma sonoridade equilibrada. Outro diferencial da empresa é sua enorme opção de cores do gabinete que o usuário pode escolher, possibilitando realmente caixas personalizadas.
Os terminais de caixas são WBT Nextgen com biamplificação. Seu peso é de 31kg, sensibilidade de 91dB, impedância de 4 ohms e resposta de frequência de 35 Hz a 25 kHz. O fabricante indica pelo menos 120 horas de amaciamento.
O modelo enviado veio com quase 100 horas, o que facilitou muito nossa vida, pois ela chegou logo após o nosso Workshop de abril último, e estávamos com a Yamaha NS-5000 (leia teste na edição 309) em queima final, e a Rega AYA (teste na edição de dezembro de 2024) zerada, necessitando também de 100 horas de burn-in.
Utilizamos os seguintes equipamentos. Amplificadores integrados: Fezz Audio Titania (leia teste edição 308), Norma Revo IPA-140 (leia teste na edição 306) e Soulnote A-2 (leia Teste 1 na edição 310). DACs: Ferrum Wandla (leia Teste 3 na edição 310) e Nagra TUBE DAC. Prés de linha: Audiopax Reference (leia teste edição de outubro próximo) e o Nagra Classic. Powers: Nagra HD. Pré de phono: Soulnote E-2 (leia teste edição 308). Cabos de caixa: Virtual Reality Trançado, e Dynamique Audio Apex.
Com sua amigável sensibilidade, pudemos iniciar a avaliação com o integrado valvulado da Fezz, e observar o quanto a Figaro S2 se adapta à assinatura sônica distinta de todas as eletrônicas utilizadas. Com esse integrado, tivemos uma sonoridade muito agradável, com graves com menor extensão, mas muito bem articulados, com corpo e velocidade. Os médios soaram naturais e com enorme conforto auditivo, tanto em exemplos vocais, como com instrumentos de cordas e metais. E os agudos, ainda que com menor extensão, tiveram um decaimento suave e agradável.
Mas a Figaro S2 tem mais ‘garrafas para vender’, e subiu de patamar com os integrados Norma e Soulnote, como se fosse um exímio ‘camaleão’. Diria que a Figaro gosta de maior potência, se sentindo assim mais ‘confortável’ para apresentar todos seus atributos sonoros.
Muitos, ao ouvirem essa pequena coluna, irão se surpreender como elas soam com enorme autoridade, não escolhendo estilo musical. O grave realmente desce e não se intimida, apresentando energia, deslocamento de ar, velocidade e precisão. Ainda que estivessem em uma sala de 50 metros!
Sua região média é exuberante, com alto grau de inteligibilidade e enorme conforto auditivo. E os agudos ganharam muito mais extensão com os dois integrados transistorizados, e um decaimento muito mais suave.
A vantagem de pequenas colunas slim, é que quando corretamente posicionadas e em salas acusticamente tratadas, elas somem. A Figaro é mais exigente com a distância entre elas do que a distância das paredes. Para se ter uma melhor resposta de planos, foco e recorte, valerá a pena se perder um tempo buscando extrair o melhor soundstage possível – pois ela tem um 3D lindo!
Aqui em nossa sala, para a materialização física do acontecimento musical entre as caixas, a distância ideal entre elas foi de 3.80m. Com 1.90m da parede atrás das caixas, e 1.50m das paredes laterais.
Para música clássica, essa abertura foi magnífica! Pois os naipes da orquestra soaram com respiro e o foco e recorte dos instrumentos solos foram ‘cirúrgicos’. Os planos são apresentados com precisão tanto em largura, quanto em profundidade.
Já a altura do palco dependerá do posicionamento correto do toe-in. Feche muito para o ponto de audição, e o palco tenderá a ser mais baixo, diminua um pouco e a altura subirá levemente. Por isso, minha recomendação é que se perca tempo determinando a melhor posição das Figaro S2 na sala, pois valerá a pena!
Com um equilíbrio tonal tão bom, consequentemente as texturas também serão de alto nível. Com uma eletrônica condizente nesse quesito, o ouvinte poderá desfrutar de texturas exuberantes! Tanto em termos de paleta de cores, como de intencionalidades.
Ao mostrar a Figaro S2 para um amigo músico, ele fez a seguinte observação, ao ouvir duas gravações de piano solo: “como essa coluna é ligeira como um lambari”. Achei a analogia pertinente com sua apresentação de transientes. Pois sua apresentação de tempo e ritmo são realmente de primeira! Você não tem a menor dificuldade em acompanhar mudanças de tempo, e as apresentações soam sempre precisas e com enorme convicção!
Zero de letargia ou daquela sensação de que algo ficou impreciso ou estranho.
Na dinâmica, a macro é um caso a ser estudado, de como essa pequena coluna consegue ser tão audaciosa. Falo de variações dinâmicas complexas, com enormes tempos de duração e que, no volume correto, não se dobram as exigências, mantendo-se firmes. E as microdinâmicas, com essa desenvoltura, são puro deleite. Ouvir gravações repletas de pianíssimos, e ainda na calada da noite, nessa Figaro S2, é um verdadeiro deleite.
Se a macro-dinâmica me surpreendeu, fiquei coçando a cabeça ainda mais com a apresentação do corpo harmônico dessa pequena coluna. Os naipes de contrabaixo em gravações de música clássica, assim como órgão de tubo, soam como a captação foi realizada.
Feche ou vende os olhos do ouvinte, e mostre esses exemplos, e ele irá jurar que está a ouvir colunas de grande porte!
A melhor tradução para a Figaro até aqui seria: ousada! Pois elas sabem seduzir e convencer o ouvinte que entregam muito mais do que os olhos estão mostrando!
A materialização física com gravações tecnicamente exuberantes, e eletrônica a responder, será instantânea! Você ouvirá os músicos à sua frente, ‘presentes’, e em uma audição exclusiva para você.
CONCLUSÃO
Vou torcer para a Figaro S2 estar no nosso próximo Workshop Hi-End Show (leia a Seção Eventos na edição 310), já que o distribuidor dessa excelente caixa já confirmou presença!
Será uma oportunidade de todos os nossos leitores que lá estiverem, de ouvirem esse fabricante lituano que está ganhando notoriedade em todos os continentes.
E espero poder ouvir outros exemplares da Audio Solutions em 2025, pois este fabricante de caixas acústicas sabe muito bem o que está fazendo!
Se você deseja uma coluna de dimensões modestas que toque com autoridade, folga e graciosidade, coloque em sua lista de escuta. Você irá se surpreender com absolutamente tudo: construção, design e principalmente com sua performance convincente e sedutora!
Certamente uma marca que estará em nosso radar daqui em diante!
Nota: 98,0 | |
AVMAG #310 Aura comercial@aura-av.com.br (51) 98281.0012 R$ 92.400 |
CAIXAS ACÚSTICAS YAMAHA NS-5000
Fernando Andrette
Desde 2019 que desejo testar essas caixas, mas veio a pandemia e, ao término da mesma, a Yamaha decidiu passar sua divisão hi-end para a Chiave, o que viabilizou finalmente podermos ouvir a caixa top de linha desse renomado fabricante.
Os que foram ao nosso Workshop em abril, tiveram o gostinho de escutá-las, porém o par exposto estava com menos de 30 horas de amaciamento, o que representa apenas 10% do seu amaciamento integral.
E se você me perguntar se, amaciada integralmente, existem diferenças audíveis, responderei que sim.
Pois as 300 horas fazem uma ‘sonora’ diferença na sua performance final.
Nos anos 80, quando trabalhei no Estúdio Gramophone do meu querido amigo Lucinei, tive por longa data a companhia, como monitor de gravação, de um par de Yamahas NS-1000, e pude conhecer detalhadamente a concepção sônica de monitores dos engenheiros da Yamaha.
As NS-1000 eram reconhecidamente monitores muito transparentes e com uma capacidade de recriação de um soundstage 3D impressionante para um monitor de 3 vias de grande porte. No entanto, ela foi estigmatizada como um monitor muito “frio ou analítico”, por muitos engenheiros de gravação.
Já naquela época eu percebi que sua sonoridade iria ser a soma da qualidade da mesa de gravação, power e qualidade acústica da sala. Pois eram monitores extremamente exigentes com seus pares.
Mas, se ainda hoje temos milhares de objetivistas e engenheiros de pró-áudio, que não levam essas questões em consideração, imagine como era nos anos oitenta?
Eu observava que, quando ligávamos com um power da própria Yamaha, a NS-1000 se comportava de uma maneira, e com um power Hafler, de outra maneira.
O que para mim, foi o suficiente para confirmar o quanto aquele monitor era transparente realmente!
Poderia dizer que o meu maior interesse em testar as novas NS-5000, era justamente para ter respostas se ela manteria o DNA sonoro de seu antecessor ou se uma nova geração de engenheiros iria ‘reavaliar’ essa sonoridade.
Pois se para o ocidente é difícil ‘rever’ conceitos que se mostraram assertivos, imagine para o oriental com suas planificações e estratégias, muitas vezes escritas para definir a filosofia da empresa por toda sua existência?
Se, para você, números não mentem, saiba caro leitor que foram vendidos mais de 200 mil pares de NS-1000, para todos os continentes.
E, no entanto, dos testes publicados nas revistas hi-end dos anos 80, até a virada do século, de memória só me lembro de dois, extremamente positivos. Sendo que um deles, escrito pelo inglês Chris Thomas, que fechou sua conclusão com a seguinte frase: “O NS-1000 é o melhor alto-falante que já ouvi”.
E me lembro do review do articulista J.Gordon Holt para a Stereophile, que cunhou o termo de neutralidade sonora, para definir suas impressões sobre essa caixa.
No evento, com o pouco contato que tive com a NS-5000 sem o amaciamento adequado pensei: “é um passo além da NS-1000”.
Então, a minha primeira pergunta ao desembalar-las, com meu fiel escudeiro e sobrinho Viner, na nossa sala de teste foi: “após amaciada, será que equipe responsável foi muito além?”
Aqui, à medida que o amaciamento foi avançando, essa primeira impressão do Workshop foi dissolvendo como gelo com o sol a pino! Pois o próprio fabricante faz questão de dizer que a NS-5000 é a melhor caixa que já desenvolveram!
Além de um gabinete ligeiramente maior que o da NS-1000, tudo é absolutamente novo. Em vez de 31 kg, agora pesam 36 kg, sua resposta de frequência foi estendida para 26Hz a 40kHz, sua eficiência é de 88 dB, impedância de 6 ohms e mínimo de 3.5 ohms.
Até mesmo o tweeter de berílio, desenvolvido em 1974 para a primeira versão da NS-1000, na nova NS-5000 foi substituído por Zylon – um material considerado ainda mais forte que berílio e que fibra de carbono. Um material tão rígido e leve que também é utilizado em barcos de corrida.
A Yamaha descobriu as qualidades do Zylon na primeira década deste século, e que eu saiba é a única empresa a utilizar esse material na confecção de falantes. Os três drivers utilizam esse material: tweeter domo de 25 mm, o falante de médios de 75 mm e o woofer de 328 mm.
O gabinete de alto brilho preto é feito de bétula japonesa laminada. Uma madeira que segundo o fabricante é mais dura que MDF, e tem um padrão de grãos mais uniforme.
As caixas NS-5000 são feitas como pares correspondentes (espelhados), o que possibilita que o usuário utilize as caixas com os tweeters virados para dentro ou para fora.
Voltando ao Zylon, esta é uma fibra sintética criada no Japão, que para os cones, depois da fibra trançada por um processo a vapor é misturada com uma liga de monel, para que o cone seja ultra rígido e leve.
E que os resultados em termos de velocidade acústica são tão bons quanto os do berílio e do diamante.
Os cortes no crossover se dão em 750 Hz e 4.5 kHz. E o crossover está fixado em uma placa de circuito impresso de dupla face, com base de cobre de 14 mm. Seus componentes incluem capacitores Mundorf MCap Supreme Evo e resitores M-Resist Supreme.
O gabinete internamente é amortecido por um absorvedor acústico. E um estudo com Análise de Elementos Finitos, com varredura a laser, foi usado para minimizar as ondas estacionárias dentro da caixa.
O defletor frontal tem 29.5 mm de espessura, e os outros cinco lados do gabinete 20 mm.
Os terminais de caixa são excepcionais, e permitem tanto o uso de plugs banana como forquilha. A caixa não permite bi-cablagem.
O duto encontra-se atrás do gabinete em cima – o faz ser de profunda relevância a distância da caixa em relação a parede traseira.
Para o teste, utilizamos os seguintes equipamentos. Amplificadores integrados: Norma Revo IPA-140 (teste na edição 306), Atoll IN400SE (teste na edição 307), Primare I35 (Teste 2 na edição 309), e Soulnote A2 (teste na edição de setembro). Powers: Gold Note PA-1175 em estéreo e mono (teste na edição de novembro de 2024), e os powers Nagra HD. Pré de linha: Nagra Classic. DACs: Merason DAC1 Mk2, Ferrum Wandla (Teste edição setembro de 2024), e Nagra TUBE DAC. Streamer: Innuos ZENmini Mk2. Setup analógico: toca-discos Origin Live Sovereign Mk4 com braço Enterprise Mk3, cápsula ZYX Ultimate Gold, e prés de phono Soulnote E-2 e Gold Note PH-1000. Cabos de caixa: Dynamique Audio Hallo 2 e Apex.
Que me lembre, poucas caixas de nível Estado da Arte tiveram um arsenal tão ‘calibrado’ como as NS-5000 nesta avaliação. Eu não acho que consiga repetir no futuro essa qualidade de eletrônica para um único teste.
Gostaria, mas acho impossível, pois todos esses integrados já estão de volta a suas bases, exceto o Norma que passou a ser nosso integrado de referência.
Quando instalamos as NS-5000, e colocamos nossas gravações da CAVI, ficou evidente que elas precisavam de um longo amaciamento, pois os graves estavam ‘embotados’ e os agudos com excesso de brilho.
Típico de caixas que precisam soltar o grave e encorpar o médio/grave.
Fico imaginando os revisores que não acreditam em amaciamento, tirando conclusões precipitadas e tortas, de caixas como as NS-5000, depois de instalar a caixa e já sair avaliando.
Se você for um futuro comprador dessa belezura, meu amigo, segure sua ansiedade, pois serão precisos pelo menos 300 horas antes de você sair convidando seus amigos audiófilos para escutá-la.
Se você não se conter, irá ouvir muitas críticas, acredite!
Porém, depois de amaciadas, pode chamar até o Papa, se você o tiver em sua lista de audiófilos.
Mas antes de iniciar a avaliação subjetiva, vamos às regras de como extrair todo o seu potencial. A primeira é o pedestal. O ideal é que, sentado, seu ouvido esteja entre o falante de médio e o tweeter, OK?
Segunda regra: são falsas ‘books’, então esqueça salas de menos de 20 metros, e que tenha pouco espaço entre elas e as paredes laterais, e às costas da caixa. Elas precisam respirar para dar seu melhor, em termos de soundstage, ambiência e equilíbrio tonal.
Terceira regra: é essencial, apesar de uma sensibilidade de 88 dB e de não baixar a menos de 3.5 ohms, que ela tenha Watts de qualidade e em doses generosas. E de quanto, Andrette? De pelo menos 100 Watts de amplificação.
Pois as NS-5000 gostam de tocar no volume correto da gravação. Não se intimidam com fortíssimos, desde que sejam entregues – com qualidade e baixa distorção – pelo amplificador.
Então se sua praia é valvulados single-ended, esqueça essa caixa, meu amigo. Mas se você possui eletrônica semelhante ao arsenal que utilizamos no teste, e uma sala adequada, você é um candidato a ouvi-las!
Com 300 horas, finalmente o equilíbrio tonal encaixou. O que significa isso? Que os graves se soltaram, deixando de soar um grave embotado, difuso e sem velocidade, pegada e energia (deslocamento de ar), e o médio-grave encorpou. Possibilitando observar o corpo proporcional dos instrumentos que estão nessa faixa do espectro, como: contrabaixo, cello, percussões, mão esquerda nas primeiras duas oitavas do piano, órgão de tubo etc.
Com isso, os agudos perdem aquele brilho excessivo, possibilitando ouvirmos a última oitava da mão direita do piano sem aquela incômoda sensação de notas vitrificadas, ou violinos que incomodam na oitava mais aguda, e piccolo que fura nossos tímpanos em um fortíssimo!
A única coisa que já é exemplar, assim que tiramos as NS-5000 da embalagem, é que a região média é de uma transparência desconcertante, mesmo para ouvidos experientes e que já ouviram muitas caixas de bom nível de transparência.
Nesse quesito a NS-5000 se destaca da maioria das caixas mais refinadas.
Somos capazes, por exemplo, de ouvir distintos instrumentos como um vibrafone e um piano tocando em uníssono, separar em nossa mente o timbre de cada um dos instrumentos, com zero esforço. Meu amigo, esse é um dos exemplos mais difíceis que existem, pois ainda que o timbre de um vibrafone e um piano sejam muito distintos, os transientes são muito similares, e esse grau de inteligibilidade é só para os exímios em transparência.
Se você gosta de um grave energizado e com excelente deslocamento de ar, as NS-5000 têm essa qualidade. Mas não é só peso e deslocamento, seu woofer também é veloz o suficiente para lhe dar com precisão as micro variações dinâmicas, feitas pelo baterista no bumbo ou o percussionista em um tímpano.
Ela, nesse quesito, soa com uma grande coluna, sem esforço adicional.
E os agudos, depois das 300 horas, terão uma extensão e decaimento no limite do correto, mas sem nunca passar para o lado do brilho ou dureza.
Sua recriação do palco sonoro dependerá exclusivamente do posicionamento correto delas na sala. Nada de deixá-las encostadas em paredes ou em pedestais baixos ou altos demais. A distância mínima de tweeter a tweeter é de pelo menos 2.80 m, das paredes às costas é de 1 m mínimo, e das paredes laterais, pelo menos 0.80 cm.
Quanto à escolha dos tweeters para fora ou para dentro, dependerá da distância em que o ouvinte estará das caixas (o ideal é o mais próximo de um triângulo equilátero), e do quanto de toe-in será possível fazer nas caixas: eu, em nenhuma situação, consegui o melhor das NS-5000 deixando-as paralelas às paredes laterais.
Aqui, o melhor soundstage sempre foi com a variação de 15 a 20 graus apontando para o ponto ideal de audição.
Mas nada de girar muito para o centro, senão você trará todo o palco para a frente das caixas, o que além de errado é fatigante em músicas com numerosos instrumentos.
Agora, se ajustado pacientemente, meu amigo… você terá um palco 3D exuberante! Com planos e mais planos, altura, largura e profundidade e um foco e recorte cirúrgicos!
Como diria meu pai: “Se você tem uma boa transparência, faça usufruto no soundstage”.
Corretíssimo! Se uma caixa possui esse grau de possibilidade com um alto nível de transparência, faça seus amigos audiófilos morderem a língua com tão exuberante apresentação, rs!
As texturas são muito corretas, e com uma facilidade em acompanhar as paletas de cores e as intencionalidades sem nenhum esforço ou a perda de se ouvir o ‘todo’ para se prender aos detalhes.
Se tem algo que os engenheiros da Yamaha podem se orgulhar, é da reprodução de transientes – é simplesmente espetacular esse quesito, seja em gravações solo de piano ou violão, das faixas que usamos para fechar a nota, como também em gravações intrincadas com enormes variações de tempo, como na música hindu.
Já cantei a bola muitas linhas atrás, de que as NS-5000 adoram tocar em volumes corretos da gravação, e soam como colunas grandes sempre que desafiadas.
E na macro-dinâmica, não existe nenhum temor em encarar desafios grandiosos. Você irá se surpreender como essas caixas são atrevidas e destemidas!
E com sua transparência de Referência Estado da Arte, reproduzir micro-dinâmica é um passeio ao ar livre em uma praia deserta.
A reprodução de um piano ou de um contrabaixo, não é nenhum desafio intransponível a essa caixa. Ao contrário, posicionada corretamente você ouvirá e ‘verá’, o piano na sala à sua frente.
E se a gravação for de qualidade, essa materialização será convincente e cativante!
CONCLUSÃO
Dizer que a NS-5000 é a melhor caixa já fabricada pela Yamaha, é redundante e desnecessário.
O que importa é que essa NS-5000 foi muito além da NS-1000 em todos os aspectos, colocando a Yamaha em um novo patamar como construtor de caixas hi-end.
Não li todos os testes que saíram sobre ela desde 2019, mas os quatro ou cinco testes que li foram unânimes em reconhecer suas virtudes a avanços em relação a tudo que a Yamaha fez até hoje!
É uma caixa definitiva para 90% dos audiófilos que desejem uma caixa de alto nível e que almejam uma transparência capaz de ‘decifrarem’ o âmago de cada gravação.
Nada que está na master irá passar despercebido pela NS-5000 (desde que a eletrônica também possua essa virtude, claro).
Se é isso que você deseja como resultado de tantos anos de busca, não conhecer a NS-5000 totalmente amaciada e ligada a um setup digno de suas qualidades, será um erro imperdoável!
Ela é digna de todos os elogios que a mídia especializada vem dedicando a esse projeto!
Nota: 99,0 | |
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CAIXAS ACÚSTICAS AURA DA ESTELON
Fernando Andrette
Acho que posso falar com alguma propriedade sobre a marca de caixas Estelon, afinal tenho como referência em nosso sistema uma X Diamond Mk2 por quase três anos, e fui o responsável pelos testes da Diamond XB Mk2 e da YB.
Então ter a oportunidade de testar o mais novo modelo do projetista Alfred Vassilkov, me pareceu além de pertinente, muito instrutivo, pois sempre tive a curiosidade em saber como uma Estelon de entrada soaria em relação aos outros modelos já existentes.
E que tipo de concessões o Vassilkov teria que fazer para entrar em uma faixa de mercado já bastante consistente, com marcas de enorme renome e aceitação junto ao público audiófilo.
Já escrevi nos três testes publicados de produtos Estelon, que seu projetista tem ideias muito consistentes a respeito de como caixas hi-end devem soar, e o que é preciso fazer para que uma caixa desse nível não se torne ‘refém’ das limitações acústicas de diferentes salas (tratadas ou não).
Tive a oportunidade de ouvir as três caixas testadas tanto em nossa Sala de Referência como em salas sem nenhum tratamento acústico, e ainda que sua performance seja ‘limitada’ pelas imperfeições acústicas, elas não se tornam ‘reféns’ dessas limitações ou perdem suas principais características, que são sua ‘assinatura’.
E quais são essas características?
A mais evidente, pelo design tão peculiar de seu gabinete, certamente é sua apresentação 3D, que a faz ‘sumir’ de nossa frente, possibilitando uma imersão completa no acontecimento musical.
Já ouvi gravações (principalmente analógicas), que nos permitem ‘ver’ tudo que estamos ouvindo à nossa frente, camada por camada, com precisão milimétrica de foco, recorte e planos.
Sua segunda mais vibrante característica é de todos os três modelos testados: a caixa funciona como se fosse um único falante, permitindo um excelente equilíbrio tonal e timbres ultra-realistas.
Para alguns não familiarizados com essa materialização dos instrumentos, o primeiro contato auditivo pode soar estranho, pois o que muitos audiófilos ainda em fase de escolhas dos quesitos que mais lhe agradam, podem achar aquela organização do todo, muita informação para assimilar de uma única vez.
No entanto, a partir do momento que você entende a proposta, garanto que fica difícil voltar atrás.
E sua terceira e mais evidente característica (que observei em grau distintos nas três), é sua apresentação relaxada, mesmo em passagens com múltiplas variações dinâmicas.
Essa característica já levou audiófilos que estiveram em nossa sala, ou ouviram as Estelon na casa de amigos, a achar que falta peso nos graves ou maior energia na macro-dinâmica. Essa é uma questão bastante pertinente a ser discutida, pois para muitos audiófilos o ‘certo’ ao se avaliar a resposta eficiente de graves ou não de uma caixa, é o fato de uma passagem musical ter seus graves bem proeminentes se tornando seu foco central, nos levando a perder o contato com o todo.
Quando, na verdade, uma caixa que nos direciona para apenas ouvir os tiros de canhão da Abertura 1812 de Tchaikovsky, e esquecer de tudo que a orquestra está tocando, essa caixa que possui limitações.
Pois quando uma caixa consegue encaixar todas as informações, sem ‘gritar, ou perder o fôlego’ e faz isso com autoridade e total inteligibilidade do todo, esta é uma caixa correta!
E nenhuma Estelon que testamos até o momento, possui essa característica de enfatizar algo mais que o todo.
Se você considera isso um avanço, você vai gostar das caixas Estelon. Se você prefere a pirotecnia, que te faz pular da cadeira a cada tiro de canhão, e esquecer ou encobrir o que todos os músicos estão tocando junto com os canhões, a Estelon não é sua caixa!
Espero ter sido assertivo em pontuar as três características que mais me chamaram a atenção nessas caixas fabricadas na Estônia. E certamente foram essas três qualidades que, inicialmente, busquei saber se a Aura – a caixa de entrada da Estelon – também carrega em seu DNA sonoro.
Seu design consegue ser ainda mais slim que da YB, porém a Aura é alguns centímetros mais alta que a YB, deixando-a ainda mais evidente no ambiente em que for colocada.
O tweeter de domo da Scan-Speak modelo Illuminator de 1 polegada, possui excelente linearidade. Sua diretividade é muito homogênea e ampla. Seu guia de ondas tem um formato elíptico para uma dispersão uniforme e que casa perfeitamente com os dois falantes de médio de 5 polegadas da Satori com cone de papel tratado, para se obter o máximo de transparência e emissão de som sem nenhum esforço ou distorção audível.
O chassi desses dois falantes de médio é aerodinâmico de alumínio fundido, que oferece ótima linearidade e baixíssima compressão. As bordas dos cones são de borracha de baixo amortecimento para uma resposta de transientes precisa, e seus ímãs de neodímio são otimizados para baixa distorção.
O falante de graves de 10 polegadas está na base da caixa, e trata-se de um woofer da Faital. Possui cone de papel semi-prensado para graves corretos e precisos.
A placa da base da caixa permite que o woofer de disparo para o chão se acople acusticamente à salas com pisos variados, como carpete, madeira ou piso frio. Pensando nas salas com tapetes ou carpetes grossos, a Estelon criou um design da base em que os graves estejam sempre a uma distância adequada, para não serem prejudicados, através de aberturas laterais na placa da base.
No teste do nó dos dedos da mão, o gabinete soa seco como o da nossa X Diamond Mk2, porém não tão seco.
Levando-me a crer que no gabinete tenha sido usado um compósito proprietário com uma outra formulação. O que deu para entender é que, internamente, a geometria possui diversas câmeras para o melhor ajuste acústico.
O que não mudou nesse novo modelo da Estelon é a sensação que, mesmo o ouvinte fora do ponto ideal de audição, o equilíbrio tonal não é alterado.
Segundo o fabricante, a Aura responde de 35Hz a 25kHz, sua impedância nominal é de 4 ohms (mínimo de 2 ohms a 58 Hz), sensibilidade de 90 dB e potência mínima recomendada de 30 Watts – eu diria que deverá ser usado bem mais que 30 watts para se extrair todo o seu belo potencial.
Como essa Aura estará no nosso evento de abril, assim que ela chegou demos total prioridade para seu amaciamento e teste, então ela foi literalmente nosso primeiro teste em nossa sala em 2024!
Iniciamos o amaciamento no dia 16 de janeiro. A princípio usamos o Arcam integrado SA30 para amaciar, através do seu streamer, deixando-a 50 horas, após nosso primeiro contato com ela zerada!
Depois de 250 horas de amaciamento, utilizamos nosso Sistema de Referência, e para ouvir streaming optamos pelo Lina com seu clock externo. O sistema analógico, em vez de nossa cápsula ZXY de referência, usamos a Hana Umami Blue (leia teste na edição 303). Os cabos de caixa foram o Dynamique Apex.
Começo fazendo um lembrete a todos que desejem ouvir em seus sistemas essa caixa: Não se desesperem com as primeiras 150 horas, pois seu equilíbrio tonal irá alterar mais que montanha russa sem freio, rs!
É um martírio quando caixas se comportam desse modo. Pois no momento em que parece que tudo finalmente encaixou, e você se anima, dois a quatro discos depois, uma nova ponta se solta e bate aquela dúvida que todo audiófilo carrega: será que vai melhorar?
Seja persistente e paciente. Pois depois que estabilizar, os médios/graves encaixam nos médios e o agudo recua. Ela, como toda Estelon, parece sumir de nossa frente, nos deixando apenas com a nossa música.
Eu sempre fui fã de caixas com topologia D’Appolito. Por isso tive por tantos anos a Dynaudio Temptation, pois o foco e precisão dessa topologia ainda hoje é um ponto fora da curva!
Desde as 250 horas de queima, algo que nessa Aura me chamou a atenção foi justamente sua capacidade de colocar os contrabaixos da orquestra para mais de um metro para fora do canal direito, e harpas e violinos pelo menos mais de meio metro para fora do canal esquerdo. Eu não consegui esse grau de respiro e foco para fora das caixas com nenhuma outra Estelon testada, ou qualquer outra caixa que me lembre!
É um palco tão aberto, profundo e com a altura dos músicos tocando em pé tão impressionante, que essa qualidade me fez ouvir mais tempo do que era necessário música clássica!
As vozes, quando no centro, é possível observar a diferença de altura da boca, quando dois vocalistas usaram o mesmo microfone em uma gravação ao vivo, e nos solos de gravações de big band em que o solista se levanta, você custa a acreditar que ‘viu’ o que ocorreu!
Eu nunca dei ênfase excessiva a soundstage, pois não acho mais essencial que o equilíbrio tonal, textura, transientes, dinâmica e corpo harmônico. E não é.
Mas que termos todos os outros quesitos em alto grau, juntamente com um soundstage tão exuberante e convidativo, é simplesmente um deleite que dá ao acontecimento musical uma ‘plástica sonora’ muito convidativa.
Nesse aspecto, diria ser a Aura a caixa que mais perfeitamente atingiu esse nível de apresentação do soundstage em nossa sala, de todas as caixas por nós já testadas.
Com 200 horas, finalmente o grave se mostrou solto, possibilitando ouvirmos gravações de órgão de tubo e acompanhar o deslocamento de ar, e sustentação e decaimento do organista, com incrível inteligibilidade.
Percebemos depois de 250 horas de amaciamento, que a Aura é muito mais exigente com a abertura entre elas, do que com a distância delas para as paredes.
Se você quiser ter esse exuberante palco que descrevi, se atenha a uma distância mínima entre elas de pelo menos 2,50m. E de 0,50m a 1m das paredes laterais, e 1 m da parede às costas. Com esses cuidados, você estará garantindo uma imagem sólida entre as caixas, e abertura e respiro suficientes, para os planos laterais e de profundidade.
Sua região média é tão precisa e detalhista quanto qualquer uma das Estelon que testamos. Os timbres são ricos e muito naturais, sem nenhum brilho ou aspereza na passagem dos médios/altos para o tweeter. Para se saber se nessa passagem bastante crítica dos médios para o tweeter tem alguma dureza, ouça instrumentos de sopro como oboé, clarinete ou sax tenor.
Se em uma nota que esteja nessa transição houver em uma nota extensa no fortíssimo, algum desconforto, certamente a passagem está ‘dedurando’ algum problema no projeto da caixa.
Em um bom projeto tipo D’Appolito, essa transição é feita de maneira suave como se fosse um único falante.
Na Aura o conforto auditivo será pleno sem nenhum resquício ou incômodo! Os agudos não são obviamente tão estendidos quanto nas X Diamond e XB, mas bem próximos da YB (que na minha opinião possuía um pouco a mais de respiro e um decaimento mais suave nas altas).
As texturas são divinas nessa caixa. Pois possuem aquele componente de apresentar as sutis nuances técnicas dos instrumentos e dos músicos, deixando a paleta de cores ainda mais intensa e precisa.
Os que apreciam, como eu, observar as ‘intencionalidades’, a caixa Aura será um sonofletor apto a revelar na íntegra essas características.
Os transientes são de uma precisão absoluta – ouvi todos os exemplos para o fechamento de nota deste quesito de uma só jornada, um atrás do outro, e alguns repeti a dose, pois nada engasga ou se perde. Quem conhece Friday Night in San Francisco – faixa 1 lado A do LP, com o Al di Meola e o Paco De Lucia nos violões, sabe bem do que estou falando. Ouça a introdução do Meola no canal direito, e veja quantos sistemas e caixas engolem aquela introdução frenética, deixando de nos mostrar com precisão nota por nota tocada com tamanha virtuosidade.
Já ouvi essa faixa em caixas de muitos mil dólares e eletrônicos de muitos milhares de dólares, que simplesmente somem com notas ou literalmente engasgam sem conseguir apresentar o que o violonista está tocando.
Para uma caixa de 500 dólares, ok ter alguma dificuldade em apresentar esse exemplo, já que é bastante complexo e encardido, mas caixas acima de 5000 dólares diriam ser ultrajante não conseguirem!
Na micro e na macro-dinâmica, ela consegue nos surpreender tanto quanto fez a YB, mais cara que ela.
Como escrevi na introdução deste teste, esqueça fogos de artifício na macro-dinâmica – nenhuma Estelon se dá a esse papel. O que a Aura nos apresenta, como todas as Estelons que avaliamos, é uma macro-dinâmica coerente e que o ouvinte não perderá nenhum detalhe daquela passagem por mais complexa que seja.
O corpo dos instrumentos é tão correto como na YB, porém não tanto como na XB e na X Diamond. Mas nada que desabone ou que faça um contrabaixo soar do tamanho de uma pizza brotinho!
Materializar o acontecimento musical faz parte do DNA de toda Estelon – e a Aura, ainda que sendo a caixa de entrada deste fabricante, não perdeu esse ‘dom’. Você irá se emocionar como os músicos se apresentam na sala, com alturas corretas, espaço delimitado entre eles e planos perfeitamente recortados.
E naquelas gravações primorosas, o ouvinte será transportado para a sala de gravação!
O que mais desejar de uma caixa Estado da Arte?
Essa é uma pergunta importante, e que muitos fabricantes de caixas têm dificuldade em responder. Que essa caixa Estado da Arte não custe a hipoteca da casa, um fígado ou um rim.
Ter todo esse conjunto de qualidades por menos de 20 mil dólares (o preço da Aura nos Estados Unidos), e manter o nível de performance dos modelos mais caros, é tudo que o consumidor deseja de um fabricante competente de caixas hi-end.
A Estelon fez perfeitamente o dever de casa. E creio que irá colher frutos dessa importante iniciativa. Pois a Aura, na minha humilde opinião, coloca em situação ‘delicada’ a YB. O que faz a YB ainda se manter como uma opção válida, é o fato dela ser para salas maiores que as salas ideais para a Aura.
Mas fica aqui nosso alerta, pois a maioria das salas atuais dos audiófilos não passam de 25 metros quadrados, e nessas medidas para mim a Aura é a melhor escolha.
Pode ser que o leitor que comprou a YB, ache a pontuação dada para a Aura estranha (levou um ponto a mais que a YB), no entanto quero lembrar aqui que quando testamos a YB, tínhamos os monoblocos Classic da Nagra. E as Aura foram testadas com os powers linha HD. Creio que a YB nos Nagra HD tivesse um ou dois pontos a mais.
Ainda assim, a Aura ter apenas um ponto a mais ou a menos do que a YB, a faz um produto de relação preço/performance superior.
Nota: 100,0 | |
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CAIXAS ACÚSTICAS MARTEN OSCAR TRIO
Fernando Andrette
Existem dois fabricantes de caixas hi-end suecos que acompanho faz muitos anos: Marten e QLN.
E quando digo acompanho, significa até mesmo fazer esforços para saber a opinião de amigos confiáveis e experientes na arte de separar o ‘joio do trigo’, e até ouvir o que estiver aqui no Brasil, mesmo que sejam modelos fora de linha, para entender o DNA sonoro da empresa.
A boa notícia é que finalmente a Marten está oficialmente no Brasil, e quem sabe em um futuro não tão distante, algum importador se encante também pela QLN.
Acho ser ‘chover no molhado’ falar do primor na construção de caixas acústicas hi-end feitas nos países Escandinavos, pois parece estar no sangue essa paixão pela marcenaria. E a Marten certamente, nesse quesito, se destaca de maneira impressionante. Pois somente quando você as desembala é que se tem a noção dos cuidados com todos os detalhes, do primor da construção, design e escolha minuciosa dos bornes de caixa, acessório de base da caixa e os pés para manter a caixa estabilizada em qualquer tipo de piso.
Caixas com esse requinte de textura no acabamento final do gabinete, em que você passa as mãos e não sente uma ruga ou desnível na superfície, só vi igual nas caixas suíças Boenicke, que também são um primor nesse cuidado com a apresentação final do produto.
E estamos falando da série de entrada da Marten, o que me levou a ficar imaginando o grau de requinte das séries Parker, Mingus e Coltrane.
A Marten Oscar trio é uma coluna de duas vias e meia, que utiliza drivers de cerâmica, uma constante em todos os produtos deste fabricante, já que seu projetista e fundador, Leif Marten Olofsson é um apaixonado por esse tipo de falantes desde que fundou sua empresa em 1998. Para ele, esses drivers possuem uma assinatura sônica quando bem ajustados, muito natural e rica – “estilo eletrostático” diz, com o mesmo grau de resolução sem nenhuma das desvantagens dessa topologia.
Quando ele, finalmente, conseguiu os falantes de grave e médio com as especificações desejadas, lançou sua primeira caixa, a Mingus.
Pelos nomes das séries, não preciso dizer o quanto a família Marten é apaixonada por música e por Jazz.
Mas não pense que procurar os falantes ideais para dar vida às suas caixas acústicas não foi cheio de obstáculos e idas e vindas.
Olofsson mesmo fala dos desafios para projetar caixas acústicas com falantes de cerâmica ultra rígidos e leves – pois sem primeiro resolver os problemas de ressonância que todo falante de cerâmica possui, o resultado seria catastrófico.
Então, ele sempre fala que para chegar ao resultado final, foram anos de tentativas e erros.
Mas, resolvido esse ‘obstáculo’, o resultado é para ele melhor do que qualquer outro material que ele conheça – exceto o diamante, que para os tweeters ele acha que bem trabalhados tem um grau de refinamento ainda maior.
Para o sr. Leif, vencido esse obstáculo, vem a segunda etapa do problema – o gabinete. A Marten usa principalmente laminado de fibra de carbono para as duas séries mais sofisticadas (Mingus e Coltrane) e para as séries Oscar e Parker, utiliza painel de fibras especialmente escolhidos, e os reforços dos gabinetes são meticulosamente desenhados para se obter o melhor resultado possível.
Para tornar a série Oscar mais acessível a um público maior, os falantes de cerâmica foram projetados pelo fabricante e, depois, discutida e viabilizada com o fornecedor as maneiras de baratear o custo sem perder o padrão de qualidade existente nos falantes de cerâmica das séries acima.
O modelo enviado para o teste foi em Nogueira Fosca – lindo de olhar e passar as mãos para sentir as curvas na tampa superior do gabinete.
Os terminais de caixa são WBT Nextgen, e toda a fiação interna é da Jorma Design (outro fabricante escandinavo de cabos). A Oscar Trio utiliza dois falantes de médios-graves de 7 polegadas e um tweeter também de cerâmica de 1 polegada.
O crossover é uma mistura de primeira com segunda ordem, para simplificar o uso de componentes, e melhor se adequar aos drivers.
Ainda que seu tamanho não pareça dominar o ambiente, eu aconselho a ajuda de uma pessoa para desembalar e fixar os pés, e posicioná-las.
Segundo o fabricante, a Oscar trio responde de 27Hz a 20kHz (+- 3 dB), aceita potência nominal de até 250 Watts, possui uma sensibilidade de 89 dB, impedância de 6 ohms (mínima de 3.1 ohms) e corte em 2500Hz.
Ou seja, não é uma caixa devoradora de amplificadores, mas será conveniente um power que esteja à altura do desempenho, pois essa caixa tem inúmeras ‘garrafas para vender’.
Para o teste utilizei três integrados: Norma Revo IPA-140 (nossa referência em integrados), o Soulnote A-3, e o Sunrise Lab V8 Aniversário. Os powers foram o Gold Note PA-1175 MkII (leia Teste 2 na edição 313), e os monoblocos HD da Nagra. Prés de linha: Nagra Classic e Audiopax Reference. Fontes streamer: Innuos ZENmini Mk3 e Nagra Streamer (teste na Edição Melhores do Ano em janeiro), Transporte Nagra e DACs Ferrum Audio Wandla, e Nagra TUBE DAC. Analógico: toca-discos Origin Live Sovereign com braço Origin Live Enterprise Mk3, e cápsula Dynavector Te Kaitora Rua (teste na edição de março de 2025). Pré de phono: Soulnote E-2 (leia teste edição 308).
A Oscar Trio veio com aproximadamente 50 horas de amaciamento, e a excelente notícia é que já sai tocando muito bem.
Feita a primeira audição, apenas com os discos da Cavi Records, voltou para o estaleiro junto com os powers da Gold Note por mais 100 horas!
Ao ouvir novamente em nosso Sistema de Referência, as mesmas músicas dos nossos discos, no mesmo volume e na mesma posição da primeira audição com os nossos cabos de referência (tudo Dynamique Audio Apex), percebemos significativas melhoras na fundação do grave e no deslocamento de ar, médios mais bem encaixados tanto nos médios-graves, possibilitando um aumento considerável no corpo harmônico nessa região, e um encaixe perfeito na passagem em 2500Hz para o tweeter.
A Oscar Trio necessita de espaço à sua volta, se você realmente quiser tirar uma de suas maiores virtudes – uma espacialidade 3D!
Se você é um ‘tarado’ por palco sonoro, cuidado meu amigo, caso você sofra de pressão alta ou taquicardia, pois em uma sala que a deixe ‘respirar’, será um encanto ouvir sua apresentação de planos, recortes, focos, sem restrições em termos de largura, profundidade e, o mais difícil, altura (mesmo ela só tendo 1,07 m).
Como ela consegue? Essa é uma pergunta que o sr. Olofsson já deve ter ouvido inúmeras vezes. Será que tem a ver com o pequeno ângulo do gabinete, que não é reto e sim levemente inclinado para trás?
Eu apostaria que parte da magia está aí, mas isso também tem a ver com alinhamento de fase. Crossover bem construído e dispersão dos falantes tanto em termos verticais quanto horizontais.
Achei que, já que tínhamos todos esses avanços audíveis com 150 horas, antes de começar a avaliação, passei a escutá-la como nossa caixa principal até completar 200 horas, e ver se a queima havia se encerrado.
Nessas cinquenta horas restantes, eu a passei pelos três integrados, e pude perceber sua altíssima compatibilidade com todos, o que me animou a ficar atento e ‘sentir’ que poderia estar ouvindo a primeira caixa abaixo de 130 mil reais a atingir os 100 pontos de nossa Metodologia.
Estarei certo?
Mais à frente saberemos.
Com 200 horas, não escutei mais nenhuma mudança, e iniciei os testes com a escuta das 80 faixas da nossa Metodologia.
Seu equilíbrio tonal é notável, não por exceder em algum detalhe, mas sim por fazer tudo de maneira tão harmoniosa e convincente.
Ouça por exemplo algumas gravações de piano solo, para entender o que estou tentando explicar. Boas gravações deste instrumento são sempre uma casca grossa para qualquer caixa de nível hi-end. Pois o equilíbrio tonal será colocado à prova a todo momento.
E somente as que possuem um equilíbrio tonal corretíssimo, passarão por essa prova de fogo sem se ‘chamuscar’.
Os agudos não podem soar vitrificados, a região média precisa ter inteligibilidade fidedigna ao que foi captado na gravação e decentemente mixado, e os graves precisam, além de peso, decaimento correto, e possuir energia e corpo para soarem “realistas”.
A Marten Oscar Trio fez a lição de casa sem vacilar em nenhum exemplo, e cumpriu à risca soar o mais fidedigna possível ao que estava sendo executado. E todos sabemos o quanto gravações de piano solo são armadilhas perigosas, mesmo para caixas top.
De todas as caixas em sua faixa de preço, até 140 mil reais, testadas nos últimos três anos, foi a que mais me impressionou e me convenceu de que tinha à minha frente uma caixa diferenciada!
Ao ouvir os exemplos de vozes, é que me dei conta do nível de correção da região média da Oscar Trio. Ela consegue mesmo em corais manter a inteligibilidade a um nível de requinte que só ouvi em caixas muito mais caras. As entonações, técnicas vocais e ruídos de boca, são apresentados como foram gravados, o que me levou a já antever o que seria a avaliação de textura dessa caixa.
Os agudos são extensos, limpos, velozes, com ótimo corpo e zero de endurecimento ou brilho.
Como já adiantei alguns parágrafos acima, dê a essa caixa espaço e ela lhe presenteará com um palco sonoro estupendo!
Aqui sua melhor posição, para colocar a Filarmônica de Berlim à minha frente, ou a Osesp, elas ficaram a 1.7m da parede às costas delas, e 1m de distância das paredes laterais.
Achei que 4m entre elas seria muito, e me traria um buraco na imagem entre as caixas. Grande engano, pois elas adoraram essa disposição. Principalmente para grandes grupos orquestrais. Tentei algumas experimentações com nenhum toe-in, deixando-as paralelas às paredes laterais, e não rolou. Então as virei para a posição de escuta apenas 15 graus, e não perdi nada da profundidade e ainda coloquei os contrabaixos da Nona de Beethoven para fora da caixa direita, de tal maneira que era possível ‘ver’ o que os contrabaixos estavam executando!
Primeira dica: sua sala precisa ter pelo menos 20 metros quadrados para extrair esse soundstage incrível que ela proporciona.
Será preciso que sejam posicionadas perfeitamente em um triângulo equilátero, para a construção de uma imagem 3D, e feito isso, meu amigo, pode chamar o amigo audiófilo mais crica com soundstage, que ele sairá babando da sua sala!
E vieram os 8 exemplos de textura! Que massacre meu amigo, que massacre…
Como sempre digo, busque o melhor equilíbrio tonal possível, e o resto irá acontecer. Basta ter paciência, Referência e Metodologia.
Texturas não são apenas nos descrever a paleta de cores dos instrumentos à nossa frente. Texturas também nos mostram o grau de virtuosidade do músico, a qualidade do engenheiro de gravação na escolha e posicionamento correto dos instrumentos, a qualidade da sala de gravação, dos acertos da mixagem e masterização, das texturas, nos falam das intencionalidades e escolhas de uma apresentação musical.
Poucas caixas na faixa de preço da Oscar Trio conseguem esse pacote de intenções ser bem-feito. Ela quebrou de maneira consistente com esse paradigma. E na sua faixa de preço é, para mim, atualmente a referência nesse quesito!
Que venham outras caixas até 130 mil reais, capazes de desbancar a Oscar Trio na apresentação de texturas!
Ouvir nosso disco Timbres com a Oscar Trio, é ‘pêra doce’, pois as diferenças entre os microfones ficam muito evidentes, assim como em outras gravações, a qualidade dos músicos e de seus instrumentos.
Se você, como eu, dá a devida importância para este quesito, não perca a oportunidade de ouvir essa Oscar Trio no nosso próximo Workshop.
Os transientes da Oscar Trio são precisos, seja pela perspectiva de velocidade, andamento ou ritmo. Nada se perde, nada embola, nada fica com aquela sensação de ser uma passagem ‘nebulosa’. Na Oscar Trio temos sempre a sensação que o take que estamos ouvindo foi para valer, em que os músicos deram o seu melhor e se deram por satisfeitos com o resultado.
Muitos dos novos leitores nos perguntam como podem perceber se os transientes de um componente do sistema não são bons? Você precisa, para memorizar essa diferença, ter a possibilidade de ouvir a mesma faixa em dois sistemas – um deles onde os transientes sejam mais corretos e precisos.
O que ocorre quando os transientes não são perfeitos, é uma sensação que a música está se arrastando, algo letárgico, desinteressante. E isso ocasiona em nosso cérebro má vontade em tentar acompanhar o que estamos ouvindo.
Aí coloque essa mesma faixa em um sistema no qual esse problema não existe, e seu cérebro se acende novamente, e seu interesse retorna instantaneamente!
Venha ao nosso Workshop Hi-End Show em abril de 2025, que passarei alguns exemplos de níveis de resposta de transientes em sistemas hi-end.
Na Oscar Trio, transientes não será nunca um problema, a não ser que você a ligue em um amplificador valvulado vintage em que tudo soa letárgico, frouxo e sem vida.
Em uma eletrônica competente, nada de errado ocorrerá!
Falemos de dinâmica: a macro, o terror de caixas bookshelf e pequenas colunas. A Oscar obviamente tem sua limitação física de falantes de 7 polegadas, e as leis da física ainda valem para esse quesito. Então, não pense que será possível ter a macro de PA em sua sala. Nenhuma caixa hi-end existe para competir com PA de show.
No entanto, em volumes seguros, coloque as variações dinâmicas que você adora para mostrar o seu sistema ao cunhado, vizinho ou futuro genro – aqueles exemplos que farão o cara devolver para o copo o que estava bebendo com o susto – que a Oscar Trio cumprirá.
Não falo dos tiros de canhão da Abertura 1812 de Tchaikovsky, mas do helicóptero de Another Brick in the Wall, do Pink Floyd, por exemplo. Ou do Quinto Movimento da Sinfonia Fantástica de Berlioz, que não terá nenhum problema.
Já para a microdinâmica, se prepare, pois você provavelmente ouvirá muita coisa que jamais ouviu antes em nenhuma de suas caixas anteriores.
O corpo harmônico da Oscar Trio é também, como as texturas, um novo referencial nessa faixa de preço: impressionante o tamanho de pianos solo, contrabaixos, harpas e órgãos de tubo, se materializando à nossa frente!
E chegamos ao segundo maior ‘fetiche sonoro’, de 80% dos audiófilos: materializar à nossa frente o acontecimento musical. Com um nível tão alto de equilíbrio tonal, texturas, soundstage e corpo harmônico, é evidente que os músicos lhe farão visitas diárias nas gravações tecnicamente impecáveis!
E com a possibilidade de o dono dessas caixas escolher se desejam trazer os músicos para tocarem em sua sala, ou irem até onde eles gravaram.
Esse privilégio, meu amigo, só acontece para sistemas ou produtos acima de 100 pontos, OK?
Então pode se animar, pois a Marten Oscar Trio definitivamente nos convenceu e quebrou a barreira dos 100 pontos para a sua faixa de preço!
CONCLUSÃO
Acho que ficou claro o quanto apreciei conhecer a Marten Oscar Trio.
Foi uma surpresa? Total!
Pois nutria algumas expectativas por tudo que li esses anos todos sobre os produtos desse fabricante, e ouvi amigos e leitores me dizerem sobre suas impressões sobre a marca.
Mas ela me surpreendeu muito pelo pacote de qualidades que ela entrega.
Tudo é harmonioso em termos sonoros, a ponto de, pôr inúmeras vezes durante o longo teste, querer apenas ouvir como a Oscar Trio apresentava aquele exemplo e esquecer que ela estava em teste – pois são dias para passar e repassar as 80 faixas e para finalizar a nota, pois é preciso ouvir grande parte dessas faixas de todos os quesitos em nossa caixa de referência e, depois, na caixa em teste, e é um trabalho meticuloso e de enorme responsabilidade para não se cometer injustiças.
Esses são os produtos mais traiçoeiros para se avaliar, amigo leitor, pois passam o tempo todo nos ‘seduzindo’ para apenas escutá-las.
E, por outro lado, são os produtos que mais nos surpreendem, pois como sempre afirmo, produtos que carregam o DNA de seu criador, os famosos ‘produtos hi-end autorais’, são os que se destacam na multidão.
E ainda que seja a série de entrada deste fabricante, para mim ficou notório o quanto o projetista se dedicou a fazer um trabalho muito bem-feito.
Produtos assim, merecem ser escutados com muita atenção!
Quem sabe vocês também o achem atraente, convincente e perfeito para os seus sistemas!
Nota: 101,0 | |
AVMAG #313 KW Hi-Fi fernando@kwhifi.com.br (48) 98418.2801 (11) 95442.0855 R$ 125.300 |
CAIXAS ACÚSTICAS ESTELON FORZA
Fernando Andrette
Quando planejei a construção da nossa Sala de Referência, estabeleci prioridades e objetivos.
E o primeiro critério foi o acústico, e que ao contrário de inúmeros projetos que ouvi ou li, em que as salas mais se pareciam com uma câmera anecoica, estabeleci que o tempo de decaimento deste espaço teria que comportar com folga, e privilegiar, a reprodução de música Clássica.
Pois a música Clássica necessita de espaço para ‘respirar’. E realizando esse primeiro desejo, consequentemente esta sala estaria pronta para receber caixas de todos os tamanhos, para poderem mostrar todo o seu potencial.
E nos dezesseis anos que trabalho nela, tivemos uma centena de caixas dos mais variados tamanhos, designs e níveis de performance.
Em que diminutas books com a Harbeth P3ESR XD, ou a Boenicke W5, podem mostrar todo o seu potencial, assim como uma Dynaudio Temptation ou, neste teste, uma Estelon Forza.
O segundo critério que estabeleci foi a largura da sala, que precisaria suportar abertura de caixas com até mais de 5 metros, ou apenas 2.40m, e ainda assim permitir às caixas terem espaço suficiente para um preciso ajuste fino. E, claro, a possibilidade de inúmeras opções de construção de um triângulo equilátero para a posição ideal de audição para cada caixa.
Essa possibilidade me permite, em nossas consultorias, até mesmo recriar um espaço semelhante ao do leitor, para que ele tenha uma ideia próxima de como a caixa irá soar em sua sala. Fiz isso dezenas de vezes, e o resultado apresentado na sala foi muito próximo do espaço do leitor.
Uma vez, para mostrar uma Boenicke W8 que iria para uma sala bem complicada em termos de acústica, com paredes não semelhantes, montei as W8 em nossa sala mostrando o triângulo equilátero mais próximo em que ela iria atuar. E até eu me surpreendi o quanto, ao ser instalada na sala do leitor, o resultado foi tão próximo ao que simulei.
Toda caixa acústica necessita, para apresentar sua melhor performance, de inúmeras coisas: a primeira e mais essencial é poder respirar e não se sentir ‘acuada’ ou sem possibilidades de ajuste fino. A segunda é a construção do triângulo equilátero mais correto e preciso possível, e na sequência uma eletrônica condizente, cabos adequados, elétrica decente e os mínimos cuidados com acústica, para que o equilíbrio tonal não seja prejudicado.
Quem participou do nosso Workshop e assistiu à apresentação de algum dos sistemas apresentados, observou que o tratamento acústico consistiu em cinco painéis estrategicamente colocados na sala, após medições precisas com a sala vazia feitas pelo Guilherme da Hi-Fi Experience, em que analisamos os dados – e como sempre faço, usamos o mínimo para corrigir problemas pontuais. O outro cuidado foi trocar a tomada do hotel por uma tomada dedicada audiófila ‘hospital grade’, fornecida pela Sunrise Lab, e o melhor posicionamento das caixas já que, com mais de 60 pessoas na sala, seria impossível buscar o melhor triângulo equilátero para tantas pessoas.
Porém, quando tudo está correto dentro das possibilidades reais, o resultado é o que todos que foram, escutaram.
Desculpe minha longa explanação sobre a nossa sala, e minha maneira de abordar os problemas de posicionamento de caixas e espaços ideais para que os sonofletores possam ser o centro da atenção.
Agora sim, posso iniciar minha avaliação das caixas Forza da Estelon, em nossa Sala de Referência.
Como conheço bem a assinatura sônica das caixas desse fabricante, afinal esse é o quinto modelo por nós testado, sabia que a Forza certamente precisaria de mais espaço que a minha X Diamond Mk2, que já é bastante ‘espaçosa’ em termos de posicionamento e abertura entre as caixas.
Para o amigo leitor ter uma ideia do quanto ela necessita de respiro, com a X Diamond Mk2 eu extrai o melhor em termos de soundstage com elas abertas 4.4m de tweeter à tweeter, deixando apenas a 1m das paredes laterais, e chegando a 2.2m da parede às costas da caixa. Nessa abertura, eu recrio todos os planos de uma orquestra sinfônica na sala, sem atropelo ou aquela sensação de quando os metais entram rasgando, eles irão pular na frente dos contrabaixos e soar dentro das caixas. Ou que o coro da Nona de Beethoven irá soar bidimensional, se embaralhando com os sopros e parte das violas.
Fora os planos, as ambiências das excelentes gravações são reproduzidas até mesmo com o rebatimento nas paredes laterais das salas de espetáculo, em gravações exemplares como a Histoire du Soldat, feita pelo Prof Johnson para o selo Reference Records.
Então imaginei que a Forza se sentiria absolutamente em casa, com tanto espaço.
E foi exatamente o que ocorreu.
Pude fazer inúmeras experiências de posicionamento com a Forza, e digo que todos aqueles que tiverem uma sala dedicada, que possam ter essa disponibilidade, irão ficar chocados como essa Estelon gosta e necessita de ser criteriosamente posicionada.
Pois feito isso, a imagem sonora 3D que o ouvinte irá extrair é simplesmente excepcional!
Ouça o Segundo Movimento, ainda da Nona de Beethoven, e você irá ficar paralisado o quanto os contrabaixos soam para fora do canal direito, diria ‘visualmente’ ser coisa para além de 1 metro, assim como o coral extremamente ao fundo do palco, e os solistas a frente, com um foco e recorte que fazem nosso cérebro imediatamente afirmar que aquilo é o mais próximo possível de uma apresentação ao vivo.
E afirmo, meu amigo: todas as excelentes gravações que ouvi na Forza, são a ‘recriação’ mais próxima que tive de uma apresentação ao vivo!
Por favor, percebam que utilizei o termo ‘recriação’, ok? E para eu recriar o acontecimento musical, é o ápice do que seja possível no estágio atual da alta fidelidade.
Pois esse estágio já é o suficiente para enganar nosso cérebro e nos fazer apreciar a música na sua totalidade. Seja pelo grau de transparência que a Forza nos propicia, ou pela capacidade de imersão que permite o conjunto de habilidades que essa caixa tem.
Entenda por ‘conjunto de habilidades’, o grau de coerência que essa caixa possui dentro dos nossos oito quesitos da Metodologia.
Por seis semanas, tentei descobrir alguma ‘falha’ nesse grau tão alto de coerência, e o que resultou dessa busca, foi que sua única falha é ser inacessível à esmagadora maioria de nós mortais!
Aqui novamente preciso ser muito bem entendido, para que você leitor não saia dizendo que o Andrette descobriu o sonofletor ‘perfeito’, pois longe de cometer esse deslize, o que estou avaliando estritamente é sobre os oito quesitos da nossa Metodologia. E dentro dela, a Forza é a caixa com a maior coerência que já avaliamos, apenas isso.
O que já é um enorme mérito ao projeto, ao projetista e ao produto final!
Pois todos os oito quesitos soaram de maneira superlativa, sem arestas, ou a possibilidade de algum dos quesitos sobressair.
E ainda que algum audiófilo possa não gostar do seu design, eu irei lembrá-lo que o seu design é responsável por sua impressionante imagem 3D de palco. E se este audiófilo for um sujeito obcecado por soundstage, ele não irá achar nesse quesito nada no momento mais superlativo, ele acredite em mim ou não.
E para conseguir tamanho êxito nesse quesito, suas formas e escolha do material do gabinete, dizem muito do resultado. Sua forma curvilínea é para evitar reflexos com as paredes paralelas, e o posicionamento de cada falante, idem.
Para seu exuberante equilíbrio tonal, além da escolha correta dos falantes, desenho primoroso de um crossover à altura do projeto e da proposta, temos um gabinete pensado para não ter nenhum problema de coloração, e para isso o projetista Alfred Vassilkov desenvolveu um composto com mármore em pó com excelente rigidez, e anti-ressonante.
Isso além de reforços internos e material de amortecimento de alta qualidade e eficiência.
E posso afirmar que pelo resultado em toda caixa Estelon, esses cuidados não são apenas marketing e sim eficiência prática, que resulta no nível de equilíbrio tonal de cada um dos modelos Estelon (pelo menos nos cinco modelos que testei).
Na Forza, ao contrário da X Diamond Mk2, temos dois woofers de 11 polegadas, montados em uma só câmera selada, envolto em paredes curvas, sem paralelismo. E isso, na prática, apresenta um grave estritamente veloz, correto, enérgico e natural!
Irei pontuando cada ideia do projetista, e o resultado alcançado na avaliação, para que você entenda detalhadamente o resultado alcançado, OK?
Assim como o midwoofer também possui sua própria câmera, e também o falante de médios, e o tweeter.
Segundo Vassilkov, o fato do gabinete se estreitar na parte superior tem uma razão de ser. O ponto em que fica o tweeter é mais estreito para justamente eliminar qualquer tipo de difração do gabinete, e causar coloração na resposta dos agudos.
E conseguir contornar esse problema em inúmeros projetos de gabinetes, permite uma ampla diretividade das altas frequências, ainda mais uniforme e natural.
Segundo a Estelon, todos os falantes da Forza são construídos um por um, manualmente, em parceria com a Accuton. Os dois woofers de 11” são de alumínio CELL de membrana rígida, com as bobinas quase do mesmo diâmetro do cone, o midwoofer de 8” também da linha CELL emprega ímã de neodímio, assim como o falante de médio de 7” e o tweeter de 1” de diamante invertido.
O crossover, de quatro vias, é de terceira ordem para os woofers e de segunda ordem para o restante dos falantes. A sensibilidade, segundo o fabricante, é de 88 dB/2,83V/m, impedância de 4 ohms, com mínimo de 2 ohms (em 42 Hz) e resposta de frequência de 25Hz a 60 kHz.
Sendo uma caixa em que os powers Nagras HD se sentiram em casa, até mesmo mais que com as X Diamond Mk2.
Voltemos à avaliação. Seu equilíbrio tonal é tão correto, que o ouvinte não terá a menor dificuldade em observar até mesmo a qualidade do instrumento, do músico e da escolha dos microfones.
No nosso CD Timbres, alguns detalhes que só percebi no momento da gravação, se tornaram tão evidentes que precisei repassar as mesmas faixas na X Diamond Mk2 e depois na Forza, para perceber o quanto o timbre era ainda mais realista!
A região média é de uma enorme transparência, então ouso dizer que será necessária uma escolha muito ‘sensata’ da eletrônica que irá tocar com a Forza. Pois se a eletrônica também tiver uma apresentação ultra-transparente, grande parte da beleza da Forza, na minha opinião, irá passar do ponto.
E os graves, como já escrevi, são os mais corretos e impressionantes que tive o prazer de ouvir. Zero de coloração. Quer ver o quanto o grave da sua eletrônica é bom, ligue-a na Forza e saberá se colore ou seca os graves, instantaneamente!
Tímpanos soam exemplares, assim como contrabaixos, órgão de tubo, etc.
Já falei da imagem 3D e dos planos, foco, recorte e ambiência. Mas preciso reforçar o quanto o posicionamento correto da Forza na sala irá aumentar essa sensação holográfica, que será a base para a materialização física do acontecimento musical (Organicidade). Foi a caixa que mais mostrou as correlações entre cada um dos nossos quesitos, e como eles se inter-relacionam, e seu grau de interdependência.
As texturas, são de tirar o fôlego, com uma riqueza tão ampla de paleta de cores, que observamos até mesmo quando o instrumento é de alto nível, mas o músico não se encontra no mesmo nível dele. E o contrário também: quando o músico é um virtuose e o instrumento não está no mesmo nível. Um grande exemplo é a gravação do disco branco ao vivo do Keith Jarrett – Köln Concert. Acho que todos vocês conhecem a história dessa gravação, em que Keith Jarrett chegou a tentar desistir da apresentação pela limitação do piano, e foi convencido pelo produtor a não quebrar o contrato. E até hoje é seu disco mais vendido e aclamado.
Na Forza, é explícito o quanto Keith Jarrett ‘tirou leite de pedra’ naquela noite.
É um disco que conheço em detalhes, tenho-o prensagem nacional e importada em LP e CD, e jamais tinha escutado as limitações harmônicas do piano dessa gravação tão detalhadamente.
Então se você busca conhecer, nas suas gravações preferidas, todas as intencionalidades, a Forza é a ‘radiografia’ precisa deste quesito! Velocidade, precisão rítmica, andamento, variação de tempo, na Forza, você terá a capacidade de finalmente ouvir esse quesito, sem perder nota por nota. E com um conforto auditivo exuberante!
E se você é um apaixonado por dinâmica, seja a micro ou a macro, se prepare, pois ela irá surpreendê-lo em ambas! Os tímpanos da abertura da Fanfarra ao Homem Comum, de Copland, podem ser assustadoras se você extrapolar o volume (não indico e nem tão pouco é preciso cometer tamanho erro), deixe no volume correto da gravação e sentirá aquela onda de energia atravessando a sala até chegar em você!
Energia, deslocamento de ar, decaimento, velocidade e o tão necessário corpo harmônico, para seu cérebro acreditar que aquele é um tímpano realmente, estão lá, à sua espera!
E com seu grau de transparência, a micro-dinâmica desde a mais micro captada pelos microfones e preservada na mixagem, estará lá ainda que no meio de um complexo número de instrumentos.
Já escrevi que ouvi muitas caixas caras e enormes, feitas para ‘suportarem’ enorme dinâmica e que, no entanto, pecam na hora de reproduzir uma simples voz à capela. Soando enormes, e que fazem nosso cérebro perder o interesse em continuar ouvindo.
A Forza não comete esse erro tão comum em grandes caixas! Tudo soa como foi captado, o que nos permite relaxar e ouvir com prazer desde vozes à capela até instrumentos solo.
Não existe pirotecnia na Forza – ela desconhece esses truques baratos e equivocados, que ainda muitos fabricantes de caixa teimam em alardear como algo sensacional! Tudo é tratado com requinte, harmonia e equilíbrio, e você jamais ouvirá a Forza se esforçar para lhe convencer.
Alimente-a devidamente, e o resultado será sempre primoroso e convincente.
O que mais se pode desejar de uma caixa ultra hi-end?
Agora vou falar de um outro assunto espinhoso, que só comentei em dois ou três artigos meus nas seções Opinião e Espaço Aberto: o nível possível de Organicidade.
Os participantes do nosso Workshop, puderam nos cinco sistemas apresentados – entre 92 e 98 pontos – sentir a materialização física do acontecimento musical à sua frente. Os cantores e cantoras estavam lá, os solistas idem.
Mas, e quando estamos falando de produtos acima de 100 pontos, em que todo o sistema esteja coerentemente ajustado, a Organicidade pode ser diferente?
Pode, e é diferente!
Até 100 pontos, você traz o acontecimento musical para sua sala.
Acima de 100 pontos você é transportado para a sala onde a gravação foi feita.
Essa não é uma pequena diferença, pois nosso cérebro reage de maneira muito distinta em trazer o acontecimento para dentro de nossa sala, e em ser levado para a sala de gravação.
No primeiro caso, nosso cérebro ainda pode ouvir e pensar, ouvir e avaliar, ouvir e perder o foco na audição e devanear.
No segundo caso, meu amigo, você é sugado para dentro do acontecimento musical, com tamanho impacto no seu cérebro, que tudo que você conseguirá avaliar é referente ao que estava ocorrendo na gravação.
Pois você virtualmente ‘está lá’! Somente neste nível de Organicidade, você está ‘vendo’ o que está ouvindo!
Percebe a brutal diferença?
E para você experienciar essa modalidade de imersão, só tendo a possibilidade de ouvir as mesmas gravações em um sistema bem correto, abaixo de 100 pontos, e em um acima de 100 em uma sala como a nossa de Referência.
No segundo caso, quando você ‘vê’ o que está ouvindo, sua mente para de tagarelar e automaticamente foca integralmente na música e nada mais!
E a Estelon Forza, meu amigo, é o sonofletor mais impressionante que já testamos para realizar essa incrível viagem sonora! Foram audições inesquecíveis e que estão armazenadas no meu hipocampo para o resto dessa minha existência!
Jamais a X Diamond Mk2 me possibilitou ‘ver’ o que estou ouvindo com tanta riqueza de detalhes e tão alto grau de realismo sonoro!
CONCLUSÃO
Produtos soberbos necessitam de cuidados extremos, do contrário podem passar despercebidos como pérolas na barriga de ostras.
Para se extrair todo o encanto de uma caixa como a Estelon Forza, é preciso se cercar de equipamentos do mesmo nível, e que possuam o mesmo grau de equilíbrio em todos os quesitos.
É o tipo de caixa que não fará refém. Ou você está preparado para lhe oferecer o que necessita, ou nem perca seu tempo com ela!
Ouvir e testar uma caixa deste nível, muda completamente o referencial de um revisor. Pois nos permite ouvir, na prática, o patamar em que os produtos de nível Superlativo realmente se encontram.
Se você possui cacife para bancar uma caixa deste nível, meu amigo, não cometa o erro de não a ouvir!
Tirando seu preço proibitivo, todo o restante é simplesmente glorioso!
Nota: 120,0 | |
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