Christian Pruks
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Todo mês um LP com boa música & gravação
Gênero: Trilha Sonora
Formatos Interessantes: Vinil Importado
Muitos, como eu, ao gostarem de música clássica, também gostam de trilhas sonoras orquestrais – que são a maioria delas.
Eu, ainda por cima, gosto de várias modalidades de música eletrônica instrumental das antigas, que bebiam na fonte não só da música clássica, como também do rock progressivo – e este que também bebia na fonte da música orquestrada. Todo mundo inspirando todo mundo!
Portanto, para mim, existe um grande leque de trilhas sonoras instrumentais interessantes a serem exploradas.
Neste caso aqui, vamos para o bem tradicional Caçadores da Arca Perdida, Indiana Jones, filme de extremo sucesso, mainstream, com um tema facilmente reconhecível (e até, para ouvido de muitos, bem batido), com o tal do efeito cinemático que o próprio filme tem – Steven Spielberg, e principalmente George Lucas junto com John Williams, quase ‘inventaram’ a trilha de filmes ser praticamente um personagem essencial do mesmo, com Star Wars, por exemplo.
Este disco é uma trilha orquestral, dos bons e velhos tempos, tocada com brilhantismo pela London Symphony Orchestra, e que sobrevive maravilhosamente bem sem o filme acompanhando, principalmente as partes menos conhecidas, menos ‘óbvias’, da trilha – que são a maior parte, aliás.
Na maior parte de seus trabalhos, o ultra prolífico – e igualmente premiado – americano John Williams, nunca fez muito esforço para esconder as influências da música clássica em seus trabalhos. Claro que existem artigos escritos esmiuçando essas influências, mas as mais óbvias para mim sempre foram Stravinsky e Wagner – e, claro, Korngold, que é um ‘caso à parte’, já que foi tanto compositor clássico quanto de trilhas sonoras, quando veio viver nos EUA, fugido a situação política pré Segunda Guerra, na Europa. Tanto que é de Korngold a trilha de As Aventuras de Robin Hood, de 1938, com Errol Flynn – a epítome do ‘capa & espada’. E essa influência de Korngold tanto em Star Wars quanto em Indiana Jones, é inegável!
Alguns, inclusive, chamam essas ‘influências’ de ‘imitação’, mesmo no duro. Eu lembro da famosa frase do publicitário americano William Bernbach, dita na década de 50: “A imitação é a forma mais sincera de elogio” – a qual, obviamente, criou um estigma quase tão ruim quanto a famosa propaganda de cigarro da TV brasileira, onde o jogador de futebol Gérson, da Copa de 1970, dizia que “É preciso levar vantagem em tudo, certo?” – que virou a horrorosa Lei de Gérson.
Ambas frases criaram tanto ideias que isso era ‘permitido’, quanto criaram um ambiente de crítica ferrenha à atitudes, no mínimo, antiéticas.
Mas, John Williams é antiético? Não, não acho que o seja – até porque ele não copia ou plagia a música, e sim agrega o estilo. E não em tudo, não o tempo todo, e não descaradamente. Acabo achando que isso serve, até, para recomendar a qualidade de seu trabalho. E existem muitas e muitas trilhas de Williams que são fenomenais!
John Towner Williams nasceu em 1932 na cidade de Nova York, filho de um baterista de jazz, e começou nos anos 50 como músico de carreira, depois passando a se dedicar à composição.
Após estudar música na Universidade da Califórnia em Los Angeles, estudou composição diretamente com o pianista e compositor italiano Mario Castelnuovo-Tedesco e, em 1955, de volta à Nova York, ingressou nos estudos de piano com a pedagoga Rosina Lhévinne na prestigiosa Juilliard School of Music.
Um de seus primeiros empregos foi ser músico de sessão para o compositor de trilhas Henri Mancini, tendo participado de trilhas como a da série de TV Peter Gunn – e assim acabou permanecendo no negócio, e sendo extremamente bem sucedido no mercado de trilhas sonoras. Hoje em dia suas trilhas têm participação de músicos do mais alto calibre, como o cellista Yo-yo Ma, e são amplas as homenagens ao seu trabalho por grandes orquestras mundo afora.
Como curiosidade, a trilha de Caçadores da Arca Perdida competiu no Oscar, perdendo para Carruagens de Fogo (Vangelis), e ela também foi uma das primeiras a serem gravadas no Studio 1 do famoso Abbey Road – onde também foram gravados a maioria dos filmes de Star Wars, entre muitas outras trilhas e alto calibre, pois é um dos poucos estúdios de alta qualidade, com toda a infraestrutura técnica, onde cabe uma orquestra sinfônica de bom tamanho. Aliás, vale dizer que o trabalho da London Symphony Orchestra com esse estúdio, e com trilhas sonoras, é extenso – vale até um artigo dedicado.
Para quem é esse disco? Para os fãs de trilhas sonoras orquestrais – dá para ouvir do começo ao fim, em bom volume, com alta apreciação. Muitos fãs de música clássica em geral, também apreciam muito a audição de trilhas sonoras de filmes – apesar de muitos não contarem isso para os outros, por não serem consideradas, pelos críticos musicais, como obras de alta qualidade. Eu, particularmente, sempre ouvi, e sempre ouvirei.
Prensagens boas? A ideia aqui é focar-se em prensagens importadas, originais de 1981, porque as nacionais eu não confio, neste caso. Em seu ano de lançamento, a quantidade de prensagens interessantes foi muito grande: EUA, Reino Unido, Europa, Canadá… E, claro, o velho e bom ‘Santo Graal’ das prensagens de vinil: Japão. Depois, nos últimos 15 anos, houveram reedições de alta qualidade pelos selos Concord, Universal e Walt Disney Records – todas em 180 gramas – as quais não tive como aferir a qualidade sonora, mas todos já sabem que confio pouco nessas prensagens atuais.
Um março muito musical a todos!