Christian Pruks
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Uma seção mensal só sobre Toca-Discos de Vinil
Os prés de phono mais sofisticados, que trabalham com cápsulas tipo MC – Moving Coil, ou Bobina Móvel – há décadas vêm com algum tipo de seleção de carga resistiva para uso com essas cápsulas.
Mas, como funciona isso, e como regular o melhor possível para sua cápsula?
Uma cápsula magnética de um toca-discos de vinil funciona como um motor elétrico, mandando um sinal elétrico, uma voltagem para o pré de phono. Este é necessário pois o sinal de uma cápsula MM, por exemplo, é de 3 a 5mV, e o das cápsulas MC é de 10 a 20 menos, oscilando entre 0.20mV e 0.5mV. Mas o sinal que precisa ser enviado da saída do pré de phono para o amplificador, o chamado sinal ‘de linha’, e semelhante ao da saída de um CD, é de 2V – ou seja, 4000 vezes maior!
As bobinas internas das cápsulas MC têm uma impedância, hoje em dia, que é comum ser na faixa de 10 ohms. As cargas selecionáveis nos prés de phono têm valores apropriados de resistência para adequação dessa impedância com seu circuito.
E como essa adequação é feita, é que afeta o desempenho sonoro.
Quanto menor o valor da carga selecionado nos botões do pré de phono, ‘maior’ é a corrente elétrica exigida da cápsula – quando isso acontece, o ‘motor’ da mesma (bobina e magnetos) exige mais fisicamente do cantilever – ou seja, esse tem que trabalhar mais. Isso afeta, entre outras coisas, Dinâmica. Mas, afeta principalmente o Equilíbrio Tonal.
O pré-amplificador de phono (ou um dispositivo de carga externo, como costuma ter dentro de muitos transformadores ‘step-up’) tem um resistor conectado em paralelo à saída da cápsula, influenciando a impedância que a cápsula ‘enxerga’.
A carga resistiva ‘correta’ para cada cápsula afeta a resposta de alta frequência, onde um valor alto geralmente tem som mais fino com menos graves e mais agudos, e conforme vai sendo diminuído, vai se conseguindo um melhor Equilíbrio Tonal e evitando aspereza ou brilho excessivo, e ganhando Corpo Harmônico. Diminuir muito o valor da carga no pré de phono, pode deixar o som abafado – além de ir perdendo Dinâmica e Transientes!
Ou seja, precisa ser atingida a carga ideal, para o melhor compromisso entre essas características.
A cargas resistivas típicas para as cápsulas MC atuais, variam de 100 a 1000 ohms – e é isso que a maioria dos prés de phono hoje estão oferecendo. E isso não chega a preocupar, quando se usa cápsulas mais antigas, porque quase todas usualmente tocavam o seu melhor com 1000 ohms ou menos.
Com os avanços de materiais e técnicas na fabricação de cápsulas, a resposta de agudos das MC tende a ser mais estendida e resolutiva do que antigamente. Entre outras coisas, a menor espessura dos fios de suas bobinas, assim como o número de voltas desses fios para fazer a bobina, trouxeram cápsulas com menor impedância interna, o que tornou necessário o uso de uma carga de valor menor para que ela toque o seu melhor.
O cálculo usual é de usar como carga um valor que seja 10 vezes a impedância interna da cápsula. Se a cápsula tem 10 ohms de impedância interna, então a configuração ficaria em 100 ohms. Se a cápsula tem 30 ohms, então 300 ohms.
Já uma MC de saída alta, por exemplo, foi feita para funcionar com 47kOhms, que é a carga normal para uma MM (Moving Magnet), porque elas têm saídas no mesmo nível de uma MM. Pode-se, também, obter melhores agudos, em detrimento de graves, se for usada com uma MM um valor ainda maior de carga que 47kOhms, mas isso poucos prés de phono fazem.
Voltando às MC de saída baixa, o que normalmente se segue – como ponto de partida – é a recomendação do fabricante. Comece com a impedância de carga recomendada fornecida pelo fabricante, e parta para a experimentação dentro de uma faixa razoável.
Se uma cápsula tem o valor de carga recomendado de 200 ohms, você pode perfeitamente tentar ver como soa com 100 ohms, 300 ohms e até 500 ohms! Mas, lembre-se de fazer essas experimentações depois que a cápsula (e o pré de phono) estiverem amaciados.
O importante é atingir o compromisso entre o Equilíbrio Tonal, Dinâmica e, em menor escala, Transientes e Corpo Harmônico.
Mas, por que essa variação tão grande de valores, se o fabricante já tem a sugestão que considera a certa? Ou se dá para chegar no valor sugerido através do simples cálculo de 10 vezes a impedância interna da cápsula?
Na minha opinião e experiência, é porque cada pré de phono é um, cada qual vai ter diversas características de circuito que afetarão esses fatores. Ou seja, em um pré, 100 ohms será a melhor opção para a cápsula modelo X – e em outro pré (no mesmo sistema), a opção de 300 ohms tocará melhor.
Por isso, a experimentação. Testem cada opção, e divirtam-se!
Existem muitos fãs de prés de phono antigos, valvulados – os quais não costumam trabalhar com cápsulas MC a não ser que tenham transformadores step-up internos, ou usados externamente. Muitos desses transformadores não terão regulagem de carga, e não acho que serão muito problema para cápsulas antigas MC, as quais tinham valores de impedância interna bem mais altos que hoje.
Mas, para cápsulas MC modernas, de alto nível, o valor de carga baixo selecionável é absolutamente necessário para se tirar o melhor resultado.
Bom abril a todos!
E, não se esqueçam: quaisquer dúvidas, entrem em contato: christian@clubedoaudio.com.br.