Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br
Faz-se essa indagação, no nosso hobby, há muitos anos: “Música é um acessório para ouvir um equipamento audiófilo? Ou o equipamento tem que servir à música que se ouve e gosta?”.
O ‘certo’ é a segunda opção. Mas, como acontece com a maioria das coisas, há atenuantes de ambos lados. É um ‘Efeito Tostines’ – lembram-se da propaganda? “Biscoito Tostines vende mais porque é mais fresquinho, ou é mais fresquinho porque vende mais?”.
Se você é um audiófilo ponderado, você tem que estar lá no meio dos dois tipos, onde o equipamento é importante porque você gosta de Qualidade Sonora. Mas porque você gosta de Qualidade Sonora, acaba sendo necessário ser um pouco mais seletivo com as gravações que irá ouvir – gostemos ou não. E, felizmente, 95% para mais do que eu gosto de ouvir é, pelo menos, decentemente bem gravado. Tem vários ‘abacaxis’ que eu ouço bem menos, e tenho planos de aprender remasterização para ver se consigo melhorá-los…rs…
Se você é um melômano primeiro, um fã só de música, sem preocupação com Qualidade Sonora – essa é secundária ou inexistente para você – qualquer equipamento ou fone de ouvido serve, e você nem precisa tentar ser audiófilo. Mas, se tiver um ouvido apurado e minimamente bem educado, bem treinado em como os instrumentos reais soam, poderá ser facilmente mordido pelo hobby – muitos fãs de música desde criança, descobrem a audiofilia e são pegos nas garras dela. E muitos músicos, também.
Músicos frequentemente ‘descobrem’ a audiofilia apesar de serem, geralmente, voltados à forma musical e arranjo e técnicas da música que ouvem, e menos para sua verossimilhança em matéria de Qualidade Sonora. Ainda assim, a audiofilia pode abrir horizontes sonoros para muitos músicos – como já vi acontecer várias vezes, e até melhorar muito a qualidade sonora da gravação de suas obras.
Tem também aquele que vai buscar o hobby, os equipamentos, todo o ‘mise en scène’, achando que vai tocar bem gêneros musicais que são notoriamente mal gravados – como a maioria do rock e pop da década de 70 e 80 (alguns dos discos que eu queria muito remasterizar para tornarem bons de ouvir, estão nessa categoria). O que se ouve aqui é, geralmente, uma ‘turbinada’ nas piores características de artificialidade de timbre, compressão excessiva, ausência de corpo harmônico e de palco sonoro dessas gravações – ou seja, uma lente de aumento em cima de uma fotografia bem ruim. Há maneiras que ajudam a tirar melhores resultados aqui, mas nenhuma delas é barata. Muitos destes desistem do hobby ou insistem ouvindo algo pior do que já é.
Quanto aos ‘Equipamentófilos’ – os que têm os equipamentos em primeiro lugar e a música em segundo (ou terceiro, ou quarto) – esses ainda são divididos em dois tipos:
‘Equipamentófilos dos 5 Discos’ – estes são audiófilos que procuram tamanha hiper-resolução, um realismo muito mais realista que a realidade, que adoram sistemas que mostram coisas que a realidade não mostra. Um dos resultados mais frequentes é esses sistemas serem extremamente fatigantes, e tocarem bem apenas alguns poucos discos. Eu abomino esse tipo de sistema, esse tipo de sonoridade… Não é ‘alta fidelidade’ a absolutamente nada.
‘Equipamentófilos da Luzinha, Botão & Recursos Técnicos’ – esses estão no hobby para montarem racks e mais racks, cheios de luzinhas, cabos, botões, recursos, acessórios, muito dinheiro embarcado, som ‘sem pé nem cabeça’, e ouvem apenas alguns segundos das faixas – isso se não ficarem só olhando o sistema ligado, sem ouvir nada, quando estão sozinhos. Estão toda hora perguntando porque o áudio de alta qualidade não adotou o Dolby Atmos, e chamando o hi-end de retrógrado. A resposta para esses é auto-explicativa.
Qual desses tipos é você?
Considerações, retóricas, argumentos, retrancas e bate-bocas, no: christian@clubedoaudio.com.br.
Um bom mês de maio para todos nós!