Influência Vintage: CAIXAS ACÚSTICAS SPICA TC-50

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Equipamentos Vintage que fazem parte da história do Áudio

O termo Vintage tem a ver com ‘qualidade’, mais do que ‘ser antigo’. Vem do francês ‘vendange’, safra, sobre uma safra de um vinho que resultou excepcional. ‘Vintage’ quer dizer algo de qualidade excepcional – apesar de ser muito usado para designar apenas algo antigo.

Nesta série de artigos abordamos equipamentos vintage importantes, e que influenciam audiófilos até hoje!

MADE IN USA

Quem achar que o mercado audiófilo, especializado, atual é um nicho, deve ver como ele era em parte da década de 70 e década de 80, quando o mundo inteiro consumia equipamentos de áudio, pois todo mundo ouvia música, mas o que dominava mesmo eram as marcas japonesas – que conseguiam prover equipamentos de qualidade decente por bons preços.

Claro que muitas marcas de áudio hi-end nasceram nesse período, de produção pequena e quase artesanal. Pois ouvintes com discernimento, sempre existiram.

Algumas sobreviveram, passaram por mutações, foram vendidas e englobadas, mas muitas ficaram no passado – basta pegar uma revista de áudio, em papel, americana ou europeia, dessa década, e olhar os anúncios: muitas empresas viveram, e se foram.

Mas, felizmente, algumas são lembradas. Uma dessas, é a americana Spica.

AS CAIXAS ACÚSTICAS SPICA TC-50

Em 1983, uma pequena empresa de caixas acústicas audiófilas, lançou a pequena bookshelf TC-50, que encantou o mercado americano, e especialmente a revista Stereophile, que falou dela (e variações de modelos) em não menos que 8 artigos! Isso sem falar de outros três modelos da marca, que também apareceram nas páginas da revista. Claro que outras mídias também publicaram reviews sobre a TC-50, e suas variações, ao longo dos anos.

A TC-50 é uma book de pequeno volume – enganoso por causa do tamanho grande do baffle frontal em ângulo, uma preocupação com o alinhamento de fase dos falantes. Elas usam um woofer de 6.5 polegadas da francesa Audax de cone de papel em suspensão acústica, com um tweeter de domo de tecido, também Audax, de 1 polegada, cortado em 2kHz. Sua sensibilidade de 84dB, e impedância de 4 ohms, provavelmente demandam amplificadores minimamente vitaminados para dar o seu melhor.

Previsivelmente, a suspensão acústica fazia a caixa responder apenas de 60Hz para cima, chegando a 17kHz nos agudos, mas seu divisor de frequência era não só considerado muito bem projetado, como usava componentes de alto nível, para a época.

Produzida desde 1983 até meados da década de 90, seu preço seria, em valores atualizados, algo entre 1400 e 1600 dólares, ou seja, nada ultra-hi-end (sim, esses já existiam nessa época) mas para um mercado com discernimento – tanto que a exportação da caixa para a Europa, tornou seu preço pouco competitivo.

Traseira

Seus preços no mercado de usados hoje, oscilam entre 300 e 500 dólares, em bom estado – pois ainda são procuradas por aficionados e colecionadores.

Desenhadas pelo americano John Bau, após extensa pesquisa e uso de modelos computadorizados (e ele desenvolvia seus próprios equipamentos de medição e de laboratório), as TC-50 foram seu produto mais vendido. Vários outros modelos foram lançados, incluindo caixas de aspecto ‘normal’, subwoofers e até complexas torres, que continuam a ser lembrados, e até colecionados, por audiófilos, mas nenhuma delas parece ser tão lembrada quanto as pequenas ‘cunhas’.

Divisor de frequência

Bau costumava dizer que as TC-50 soavam como “holografia com dois canais” – um objetivo seu ao projetar caixas que dessem uma ilusão de palco de alto nível.

Um subwoofer ativo opcional, com amplificação desenvolvida pela conhecida PS Audio, foi lançado também, complementando a resposta de frequência de graves da TC-50.

Quase 20.000 pares de TC-50 foram vendidas, em quase 10 anos – até a empresa ser vendida para a Parasound na década de 90, e fechada pouco tempo depois.

MODELOS SEMELHANTES

A primeira caixa de Bau, quando abriu a Spica, foi SC-50, um pequeno monitor que buscava ser correto, para uso em gravações em estúdio. Impulsionado por este, que Bau resolveu dedicar-se em tempo integral à pesquisa e desenvolvimento e, consequente fabricação de caixas acústicas, com as TC-50.

Spica SC-50 – a primeira
Spica TC-60 – a última

A empresa, ao longo dos anos, lançou outros modelos, sendo que o mais próximo – em matéria de projeto – seria outra ‘cunha’: a TC-60 (veja foto).

Houve um modelo que tinha aparência de caixa ‘normal’ e, depois, no final, a bela Angelus, uma sofisticada torre (veja foto).

Spica Angelus em sala

COMO TOCA A SPICA TC-50

Dizia-se, na época, que a TC-50 tinha o melhor palco do mercado em sua categoria de preço (e até bem acima), e é assim que ela é conhecida até hoje por seus admiradores.

Foi, durante muito tempo – junto com a inglesa LS3/5A – considerada como a caixa ideal para audiófilos com pouco espaço e com muito discernimento: não só em qualidade de vozes e instrumentos da área média, como também por causa da fragilidade de seu tweeter, que queimava fácil. Ou seja, nunca foi uma caixa para amantes de rock ou outros gêneros de alto volume sonoro.

SOBRE A SPICA

‘Spica’ é uma estrela da Constelação Virgo, associada com a colheita (e cuja pronúncia soa muito como ‘speaker’ em inglês…rs).

A empresa foi fundada em 1978, em Albuquerque no Novo México, pelo engenheiro americano John Bau, ligado à vários estúdios de gravação, que queria uma caixa pequena ‘correta’, que fosse sua referência e facilmente transportável (SC-50), para monitorar gravações – que é, praticamente, a mesma história/trajetória de David Wilson, fundador da Wilson Audio.

Com o sucesso das pequenas SC-50, feitas artesanalmente, Bau acabou indo parar na gigante feira de áudio CES, em 1979, o que resultou no cadastramento de nada menos que 30 revendas para suas caixas!

Após pouco mais de uma década de sucessos, a Spica começou a perder mercado – e foco – para o home theater, entre outras questões, o que levou à venda da empresa para Richard Schram da Parasound, no começo da década de 90.

A Parasound acabou por extinguir a empresa e a marca Spica, em 1995.

Afastado do mercado de áudio, mas com amigos no mercado de áudio americano, John Bau ainda teve aparições nas redes sociais em 2017, pelo menos. E foram as últimas informações que consegui obter dele.

Bom maio – e não deixem a música parar!

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