Espaço aberto: MÚSICA INCOMPREENDIDA OU SIMPLESMENTE RUIM?

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Anos atrás, assisti a apresentação de uma obra para orquestra que era simplesmente lamentável. Tanto que, no final, ouvi uma pessoa, no mesmo auditório, sentado perto, dizer para sua acompanhante: “só estou aplaudindo porque finalmente acabou”.

O meio musical frequentemente tenta te vender a ideia de que não existe ‘música ruim’, e simplesmente ou é uma questão de gosto pessoal, ou uma questão de você que não a compreendeu.

Bom, eu escuto música, me informo, estudo, aprendo, comparo, converso com músicos, busco profundamente entender como aquilo funciona, tanto por parte do compositor quanto por parte do intérprete.

E tem música literalmente ruim, à rodo, dentro de vários meios que vendem sua imagem como ‘haute culture’, ontem, hoje e sempre. E muitos desses justificam suas apresentações musicais – e até discos! – com os chavões tipo “você não compreendeu”, e “é música experimental”.

No meio da música chamada de clássica – ou erudita (detestam esse termo, mas a verdade é que ela interessa mais mesmo a pessoas que têm maior erudição) – existe todo um mundo dedicado à música moderna, e que é chamada de ‘sem regras’.

E por ‘sem regras’ leia-se: ‘qualquer coisa vale’, não há limites, pode-se fazer o que quiser.

E quando qualquer coisa é válida, faz-se ‘qualquer coisa’ com uma enorme frequência! “Ah, mas Christian, você que não compreendeu o que o artista quis dizer, aquilo não teve ‘ressonância com o seu ser’”. Sério?

Vamos fazer uma analogia com literatura. Muitas dessas obras da música incompreendida do vale-tudo, são como um livro com 350 páginas só de consoantes! Não fui eu que não compreendi?! Ninguém compreendeu!

E muitas dessas obras são até compreensíveis, mas realmente ruins. Me lembrou uma amigo que, na juventude, não conseguia decidir o nome de sua banda de rock, e encheu uma caixa de sapato de letras recortadas, jogou para cima, e o que saiu virou um nome da banda – um emaranhado de letras, um pastiche.

Bater no liquidificador, ao mesmo tempo, 20 ingredientes comprados aleatoriamente no supermercado, não é um prato gourmet – não importa quem não compreendeu, e quem fingiu compreender.

Sinto muito: isso não é música, e muito menos isso é arte.

Já ouvi uma justificativa ridícula, anos atrás, quando reclamei desse tipo de música, que dizia que “A Sagração da Primavera, de Stravinsky, também foi incompreendida (e vaiada) em sua estreia no começo do século 20” – e para começar, ela não foi vaiada por todos e nem incompreendida por todos os presentes.

E – ora bolas! – uma coisa é você quebrar com uma estética trazendo algo novo que, obviamente, tem qualidades e complexidade – e outra coisa é você romper com uma estética não trazendo absolutamente estética alguma nova, apenas um pastiche de loucuras e egos, batidos no liquidificador.

A abundância de compositores e festivais para esse ‘Inadmirável Mundo Novo’ sempre me faz pensar sobre que o alimenta, tanto por fora quanto, principalmente, por dentro – de onde vêm o dinheiro, e se esses ‘artistas’ vendem discos, ou são ouvidos nos serviços de streaming. Ou mesmo se suas obras são apresentadas com alguma frequência, ou esquecidas.

Uma justificativa para tais ‘obras’ é que elas, supostamente, ajudam você a enxergar os aspectos modernos da obra de, digamos, Mozart e Beethoven e, também, ajudam você a ver nessas obras ‘modernas’ os aspectos tradicionais dos compositores do passado – e isso é mais papo furado que promessa de campanha em um bar cheio de bêbados.

Outro papo furado justificava que literais barulhos de arranhões no violoncelo, significavam o gelo se rompendo no começo da primavera – e, portanto, era ‘lindo’. Não. Não é.

Outra: o mesmo povo que diz que não são as obras que são ruins, é você que não compreendeu, afirma pouco tempo depois que você não precisa compreender ou se informar, ou aprender, para curtir aquilo. Você ouve sem expectativas. Hahahahahaha!

E, para arrematar, dizem que agora é a hora de experimentar essa ‘música’ no momento em que ela é atual! rs! Esse, antes de defender a ‘música ruim’, devia ter uma escola para aprender a usar o arco & flecha especializada em acertar o próprio pé.

A tal obra de ‘música ruim’, que suscitou o comentário no primeiro parágrafo deste texto, nunca mais soube que foi tocada, nunca saiu em disco até onde eu sei, e nem é procurada para ser ouvida em serviços de streaming – e quem estava lá ouvindo, naquela noite, esperando a obra seguinte (que seria algo pelo menos coerente musicalmente), duvido que ficou contente daquilo ter sido incluído no programa.

E eu?

Eu só estou aplaudindo porque, felizmente, ‘não compreendi’ a versão musical da ‘banana colada na parede com fita adesiva’ como sendo ‘arte’.

Não é.

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