Fernando Andrette
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Por mais que nos quase 30 anos da revista tenha tido amplificadores, prés de linha e phono, e até DACs, valvulados, inúmeros leitores encasquetaram que não gosto dessa topologia.
Vai saber a razão!
É tão recorrente, que mesmo agora no Workshop uns dois ou três participantes me perguntaram o que acho desta topologia e eu educadamente respondi: sentem e ouçam nosso Nagra TUBE DAC que estou usando nos quatro setups, rs…
Da Air Tight eu tive o ‘pequeno notável’, o ATM-1S (leia teste na edição 190), e os monoblocos ATM-3 de 100 Watts que usei no Hi-End Show de 2014.
Muitos que estiveram lá irão lembrar dele tocando com a Exquisite Midi da Kharma, em uma sala de 120 m.
Eu sou um grande fã das válvulas EL34, ainda que muitos audiófilos a considerem uma válvula de ‘menor performance’ frente às KT, e principalmente às 300B e às 211.
Felizmente não carrego esse ‘preconceito’, pois sei que nas mãos de um bom projetista as EL34 podem e soam divinas.
Mas hoje iremos falar das válvulas 211, e não de EL34.
Minha relação com as 211 foi muito mais esporádica do que com as EL34, mas reconheço que seu grau de refinamento é considerável, e em uma topologia de alta performance, soam divinas.
Eu ouvi uma única vez o ATM-211 original, e fiquei muito impressionado com a velocidade, precisão e a reprodução do invólucro harmônico deste amplificador. Ainda que as caixas com as quais estava casado o ATM-211, não estavam à altura do amplificador. Isso foi em 2008.
Então, quando o Fábio Storelli da German Audio me perguntou se gostaria de receber os monoblocos ATM-2211 junto com as caixas Stenheim Alumine Five SX (leia teste na edição 317) – eu jamais poderia ter dito não.
E foi uma das experiências mais auditivamente gratificantes que tive nos últimos cinco anos. E creio que os que tiveram a sorte de ouvir esse setup no nosso último Workshop, certamente entenderão minha afirmação.
Na comemoração de aniversário, em 2020 se não me engano, a Air Tight resolveu lançar o ATM 2211. Porém com inúmeras alterações no projeto, como não utilizar feedback Negativo no secundário do transformador de saída, preferindo aplicar uma grande quantidade de NFB da placa de saída da válvula 211 no primeiro estágio – e essa escolha se deu ao fazerem na fábrica as primeiras audições com o protótipo e perceberem que as mudanças sonoras não foram apenas ‘cosméticas’, e sim muito efetivas.
Com um aumento inclusive de potência de 28 Watts para 32 Watts, que para muitos não familiarizados com topologias single-ended pode parecer pouco, mas resulta em melhorias sonoras significativas (descreverei mais adiante essas melhorias).
O ATM-2211 utiliza o método de polarização fixa, e ignição DC para o filamento. Ele utiliza três transformadores de potência independentes para alta e baixa tensão, não existentes no modelo anterior. Além disso, a bobina de indução, que pode ser considerada o coração de um amplificador valvulado, é feita por camadas que dispensam a bobina tradicional e são especialmente projetadas para suportar a alta tensão do 2211.
Esta bobina de indução é feita à mão por artesãos japoneses, peça por peça, sendo responsável (segundo o fabricante) por criar um palco sonoro inteiramente 3D, além de excelente dinâmica de baixa frequência.
Para o transformador de saída, fabricado pela Hashimoto Electric Co LTD, é feito sob medida para a Air Tight para um maior controle rigoroso na resposta de graves.
O chassi, como em todo produto Air Tight, é feito de maneira a controlar ressonância mecânica – e para isso utiliza um sub chassi espesso de cobre puro, suspenso do chassi principal para suportar a placa de amplificação principal e a seção de fonte de alimentação, no qual o capacitor é colocado.
O painel frontal espesso foi usinado a partir de um bloco de alumínio.
Os terminais de alto falantes são WBT e têm as opções para saída alta de 8 ohms e baixa de 4 ohms. São duas entradas para RCA e XLR selecionáveis com uma chave ao lado das entradas.
Quando o aparelho é ligado, um relé temporizador integrado é ativado e a tensão da placa é aplicada com um defasamento de alguns segundos. Isso contribui para a proteção da válvula e para maior vida útil dela.
O ajuste de bias é simples, e um medidor na base ao lado da válvula facilitará o ajuste.
Depois que instalamos nas prateleiras os monoblocos, fizemos o ajuste de bias e, nas cinco semanas em que estivemos com eles, não precisamos mais fazer nenhum ajuste fino.
O ligar e desligar é absolutamente preciso e silencioso.
E nenhuma foto faz jus a ver ao vivo esse amplificador.
As 8 camadas de tinta automotiva aplicadas aos três transformadores à medida que a luz ambiente bate neles, cria um efeito visual incrível.
E nos dá uma ideia exata do grau de requinte na construção desses monoblocos! É um show, literalmente, visual e auditivo!
Para o teste utilizamos basicamente nosso Sistema de Referência, exceto as caixas, que em 95% do tempo foram utilizadas a Stenheim Alumine Five SX – por questões óbvias de sensibilidade e sinergia.
E nos últimos três dias, por curiosidade, ligamos a Audiovector Trapeze (leia Teste 2 nesta edição), justamente para ver o quanto a chave de amortecimento existente na caixa realmente é eficaz!
E foi bastante eficaz, fazendo esse setup tocar lindamente, ainda que somente em volumes muito controlados.
Então, meu amigo, toda a avaliação feita deste monobloco foi o casamento com a caixa suíça, OK?
Procurei que nem doido alguém que me informasse o tempo mínimo de queima das válvulas 211. E nem nos fóruns de aficionados valvuleiros lá fora, alguém me deu uma pista do tempo de queima dessas válvulas.
Então segui meu feeling, e fui ouvindo por 50 horas as mesmas 5 faixas de gravações nossas, para poder ver quando elas estariam estabilizadas, sem alterações sonoras.
A questão é que desde o primeiro momento é tão cativante e sedutor, que a todo momento precisava relembrar de ficar atento a mudanças, para poder saber se já haviam estabilizado ou não.
O que quero dizer com isso? Que o feliz comprador dessa beleza, não irá precisar perder seu tempo, e poderá desfrutar desde o primeiro minuto das suas qualidades sônicas. Ou seja, aos que detestam período de queima, podem deletar da mente essa fase (ouvi gritos ensurdecedores de comemoração, ou foi apenas minha mente imaginando a reação de todos vocês?).
Ele somente necessitará de 30 minutos sempre que for ligado, para atingir a temperatura ideal mínima – e aí, meu amigo… embriague-se com tamanha beleza!
O que mais me chamou a atenção no 2211, foi que ele não é eufônico no sentido ortodoxo dos single-ended – jamais!
Ele se enquadra nos single-ended modernos, com excelente transparência, impetuosidade, realismo e, acima de tudo, naturalidade.
Tudo parece soar com mais naturalidade. A ponto de você começar a achar que em outros amplificadores não são tão naturais assim! Vozes e instrumentos acústicos serão a melhor maneira de você perceber o que estou tentando descrever.
Hoje temos exímios amplificadores, de todas as topologias, que tiram de letra a apresentação fidedigna de vozes.
Capazes de nos levar a relaxar, e nosso cérebro achar que tudo está devidamente apresentado, ali à nossa frente, sem nenhum porém…
E aí você se mete a ouvir as mesmas vozes neste 2211 e aí, meu amigo, você arrumou um grande ponto de interrogação para debulhar durante dias.
Eu gosto de ver o semblante de audiófilos ‘experientes’ tentando decifrar esse enigma sonoro. E as conclusões vão do ultra-subjetivo, até a tentativa de encaixar qualquer coisa da física quântica que faça algum sentido (pelo menos para quem está tentando descrever o resultado, é claro).
Pela nossa Metodologia a diferença não está no equilíbrio tonal, e sim na apresentação das texturas. Toda topologia bem ajustada valvulada possui uma reprodução do invólucro harmônico mais ‘adequada’ ao que nosso cérebro entende por voz mais realista e natural.
Você já ouviu sua própria voz gravada em diferentes microfones? Se um dia tiver essa oportunidade, faça essa experiência.
E se puder ouvir a sua voz gravada em um pré de microfone valvulado de alto nível, você irá se surpreender como ela está muito mais próxima do que escutamos no nosso cérebro, e na ressonância na nossa caixa torácica.
Não é obviamente igual, mas o estranhamento de ouvirmos nossa voz gravada em um bom microfone passando por um pré valvulado, é menos chocante.
Por que isso ocorre? Pela riqueza na apresentação do invólucro harmônico. Que é justamente a capacidade de envolver ou cobrir o sinal elétrico, deixando-o mais ‘palatável’, nos dando uma sensação que ao nosso cérebro agrada e convence, por isso que definimos como mais ‘natural’.
Ou você se convence que não é seu sistema auditivo que escolhe, aprende e memoriza, e sim seu cérebro que interpreta e define, ou você jamais entenderá a importância da percepção auditiva para você realmente fazer escolhas mais assertivas na hora de montar seu setup hi-end, e ampliar seu prazer em ouvir sua música.
E o invólucro harmônico em nossa Metodologia faz parte do quesito texturas e não equilíbrio tonal.
E tentar entender o motivo da voz em uma topologia single-ended, avaliando o equilíbrio tonal, será um desperdício de tempo e totalmente infrutífero.
Então, voltando à avaliação do 2211, seu equilíbrio tonal é tão correto quanto todos os amplificadores por nós avaliados Estado da Arte Superlativos! Ou seja, acima de 100 pontos.
Seus graves são impressionantes, com excelente energia e deslocamento de ar, e ligados às Stenheim Five, jamais tivemos dificuldade alguma em ouvir graves incisivos e precisos como em nossos monoblocos de referência.
A região média possui transparência na medida certa, com um toque de calor que é inerente a excelentes valvulados (e lembrando que o pré de linha utilizado nos testes, também é valvulado).
Ou seja, a região média, em qualquer gênero musical, se tornou um deleite ouvir e apreciar. E os agudos, com absoluta extensão e decaimento suave, e convincente.
A ponto de nos permitir em gravações com excelente ambiência, ouvir por exemplo o rebatimento de instrumentos de percussão nas três paredes à volta da orquestra!
Isso meu amigo, é para amplificadores e sistemas acima de 105 pontos em nossa Metodologia, acreditem!
O que o fabricante cita na descrição do requinte do seu transformador, que permite uma imagem 3D mais impactante, é fato. Em nossa sala, as Stenheim afastadas mais de 2m da parede às costas da caixa e 1.20m das paredes laterais, proporcionaram um palco em termos de profundidade, largura e altura, magnífico – para reprodução de grandes orquestras e big bands! Como todos os solistas devidamente focados e recortados entre as caixas. E todos os planos dos naipes da orquestra devidamente delineados, e sem jamais, na macro-dinâmica, se tornarem bidimensionais (quem assistiu nosso Workshop sabe exatamente o que estou aqui descrevendo).
Tudo ocupando seu devido lugar, como foi brilhantemente captado e mixado!
E chegamos finalmente no quesito que, neste ATM-2211, faz toda a diferença em relação a todos os grandes powers por nós já testados: Textura. Aqui, meu amigo, acho quase impossível qualquer power transistorizado ombrear com este single-ended.
Neste quesito, ele é simplesmente a referência das referências. Fico imaginando o que deve ser então o 3211, o top de linha da Air Tight!
Quer ficar simplesmente atônito enquanto escuta vozes e instrumentos acústicos? Então sente e ouça o 2211, devidamente ajustado. Garanto que será uma audição inesquecível! Daquelas de ir direto para seu hipocampo, e seu cérebro buscar ouvir novamente pelo resto dos seus dias.
E não falo de grandes ‘revelações sonoras’ ou qualquer tipo de pirotecnia auditiva. Falo de sutilezas, que seu cérebro vive tentando lhe dizer, que são essas as mais importantes, pois nos convencem que a busca terminou, que é hora de apenas se sentar e apreciar, como fazemos em uma apresentação ao vivo que nos arrebata e nos faz perder a sensação de tempo e espaço!
Se você já teve a felicidade de viver ao vivo um momento assim, sabe exatamente o que estou lhe descrevendo. E se você nunca teve essa oportunidade, está na hora de ter, meu amigo.
Pois a vida é feita desses detalhes, e não do acúmulo de obrigações e desafios que nós mesmos nos impomos para sermos vistos e respeitados.
O 2211 tem essa ‘magia’ de nos permitir apenas estar ali, junto com o acontecimento musical. E te dizer isso, é muito mais eficaz que tentar lhe explicar racionalmente as diferenças da reprodução do invólucro harmônico mais rico ou mais pobre. Entende?
Mas não pense que seja uma questão de subjetividade, pelo fato de objetivamente não poder ser mensurado e explicado. Se trata do nosso cérebro nos guiando, afinal ele tem milhares de anos de evolução, uma bagagem sensorial muito mais complexa e treinada do que é nosso sistema auditivo – que teimamos em achar ser suficiente para apreciar a riqueza sonora que o mundo nos proporciona diariamente.
E, voltando aos outros quesitos de nossa Metodologia, repito: nenhuma diferença em relação a todos os powers testados com mais de 105 pontos.
Transientes precisos como um metrônomo, com a capacidade de nos fazer apreciar todas nossas gravações como se os músicos, dentro de suas limitações, nos ofereceram seu melhor.
Micro-dinâmica surpreendente, com todos os mais ínfimos detalhes para nossa apreciação. E a macro-dinâmica, será importante apenas que a caixa possua sensibilidade suficiente para ajudar no trabalho pesado, coisa com a qual a Audiovector Trapeze não pode ser obviamente solidária, com sua sensibilidade mais limitada que a Stenheim.
Na nossa sala, com essa dupla 2211 com Alumine Five, toquei de Abertura 1812 de Tchaikovsky e seus tiros de canhão, e a Sinfonia Fantástica de Berlioz, sem sequer fazer a dupla suar frio!
Ou seja, seus 32 Watts, para essa caixa, em uma sala de 50m, foi mais que suficiente.
O mesmo aconteceu com o corpo harmônico e a organicidade. Não teve um senão… Todos os exemplos que usamos para fechar a nota destes quesitos, foram magistralmente reproduzidos.
CONCLUSÃO
Como definir friamente o 2211? Como o melhor single-ended que já ouvimos e testamos até o momento. Isso parece até óbvio demais.
E como defini-lo musicalmente? Aí complica, meu amigo, pois somente audiófilos com uma consistente e contínua referência de reprodução de música não amplificada, poderão entender o grau de requinte deste amplificador.
Os que não possuem essa referência para entender sua magnitude, poderão no máximo apreciar, e se tiverem uma percepção auditiva já em processo de ampliação, começar a buscar observar o quesito textura com maior afinco e interesse. Pois irão perceber que esse 2211 lhes deu novas referências ‘inéditas’ sobre características deste quesito. E que, junto com equilíbrio tonal e musicalidade (o oitavo quesito de nossa Metodologia), é o que nossos cérebros mais ‘clamam’ por aprendermos a ajustar!
Diria que essa é a tríade em que o 2211 mais se baseia. E se foi consciente ou não essa busca dos projetistas envolvidos neste projeto, de alcançar essa performance, o que posso dizer é que eles acertaram na mosca!
Mesmo se tiverem mirado no elefante, rs.
Nos corredores do Workshop, alguns leitores vieram me perguntar como poderia definir a sonoridade do 2211. A todos eu respondi que, para mim, sua melhor definição é “não analise, apenas ouça”! E estendo isso a todos que leram na íntegra esse teste.
Se tiverem a oportunidade de ouvir o 2211, entrem com a mente vazia e certamente sairão com ela repleta de memórias agradáveis de longo prazo!
Acreditem ou não, só os produtos Estado da Arte Superlativos têm a capacidade de nos proporcionar esses momentos únicos!
PONTOS POSITIVOS
Sua naturalidade é desconcertante.
PONTOS NEGATIVOS
Precisa de caixas com pelo menos 92dB de sensibilidade, e no mesmo nível de performance.
ESPECIFICAÇÕES
Tipo | Amplificador de potência monobloco triodo single-ended |
Válvulas por canal | 1x 12AX7, 1x 12BH7, 1x 211 |
Potência de saída | 32W (THD <5%) |
Impedância de entrada | 100kΩ (RCA / XLR) |
Entradas | 1x RCA, 1x XLR |
Sensibilidade de entrada | 500mV (32W) |
Resposta de frequência | 20Hz ~ 20kHz (-1dB) @3.5W |
Consumo | 250VA |
Dimensões (L x A x P) | 400 × 225 x 350 |
Peso | 25.5kg |
AMPLIFICADOR MONOBLOCO AIR TIGHT ATM-2211 | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 13,0 | |||
Soundstage | 13,0 | |||
Textura | 15,0 | |||
Transientes | 13,0 | |||
Dinâmica | 12,0 | |||
Corpo Harmônico | 13,0 | |||
Organicidade | 13,0 | |||
Musicalidade | 14,0 | |||
Total | 106,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
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