Christian Pruks
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Todo mês um LP com boa música & gravação
Gênero: Eletrônico / Progressivo / Experimental / Ambient
Formatos Interessantes: Vinil Importado
Quando falam hoje de música eletrônica, pensa-se em algo, em sua maioria, com ritmo de ‘dance music’, o chamado de ‘bate-estaca’. E que também é extremamente ruidoso. Algo que parece demonstrar ao público que fazer música eletrônica é sinônimo de fazer ‘beats’ (batidas, ritmos).
E, esse tipo de eletrônico, é algo do qual desgosto há anos – não me interessa nem um pouco. Mas, hoje, o que é chamado de música eletrônica é extremamente variado em matéria de sub-gêneros.
A maioria dos fãs do rock progressivo, na virada da década de 70 para 80, gostam de alguns expoentes específicos, como Tangerine Dream (da escola alemã da década de 70), e do grego Vangelis e do francês Jean-Michel Jarre – ambos da ‘escola deles mesmos’, com sua criação e sonoridade muito peculiar. Claro que existem vários outros, mas esses são os mais famosos.
Jarre fez seu trabalho mais interessante – para o meu gosto – entre seu disco de estreia Oxygène (1976) e o Revolutions (1988), parte por causa da estética (própria, e muito ‘rock progressivo’), parte por causa do experimentalismo interessante, e pelo uso primordial de sintetizadores analógicos, cuja sonoridade eu curto bem mais que as gerações posteriores de instrumentos.
O experimentalismo de Jarre, seu som próprio – além da sonoridade dos sintetizadores da época – é influenciado pelo jazz, por várias formas de arte e, principalmente, por sua participação no Groupe de Recherches Musicales, pioneiros da ‘musique concrète’, do musicologista, compositor e engenheiro francês Pierre Schaeffer – que trabalhavam muito com a colagem de sons pré-gravados e loops de fita magnética, no fim da década de 60.
Equinoxe é seu segundo disco autoral, e para mim tão experimental quanto o Oxygène, mas um pouco mais maduro musicalmente. E, considerando que depois dele vieram pelo menos quatro ou cinco excelentes discos, nos mais de dez anos seguintes, pode-se dizer que sua maturidade musical não era ‘fogo de palha’.
Depois de 1990, a sonoridade de Jarre – que ainda está na ativa, aliás – mudou bastante, e me parece menos interessante. Mas, vale lembrar que em 1997 ele lançou uma interessante continuação de seu primeiro disco, chamada Oxygène 7–13, e depois Oxygène 3 (2016), e por fim Equinoxe Infinity (2018), sendo que esses três discos seguem um bocado a linha dos originais.
Jean-Michel André Jarre, nasceu em 1948 na cidade de Lyon, no noroeste da França. Sua mãe foi parte da Resistência Francesa durante a Segunda Guerra, sua avó era judia e seu avô um oboísta. Quando Jarre tinha cinco anos, seu pai deixou a família e mudou-se para os EUA, e ele só viu o pai de novo aos 18 anos de idade.
Jarre estudou piano clássico desde a tenra idade, e sua mãe o levou aos clubes de jazz de Paris. Achados de feiras de antiguidades, como um violinofone (um violino amplificado através de uma corneta), despertaram seu interesse pela variedade de instrumentos e de sons. E, depois, a música clássica do século 20, como Stravinsky, tornou-se uma paixão.
Na juventude, participou de várias bandas, onde tocou guitarra, flauta e loops de fita – e logo conheceu seu primeiro sintetizador, o Moog modular, e depois o Synthi AKS e o VCS 3, ambos da EMS. E foi quando montou seu estúdio caseiro, em primeira forma dentro da cozinha de seu apartamento em Paris.
Depois de algumas trilhas, jingles para publicidade, música incidental e para balé – e de compor música e letras para conhecidos artistas franceses – Jarre gravou em casa seu primeiro disco completamente autoral, Oxygène.
E, daí em diante, fez história no cenário mundial. E sua influência no gênero é, até hoje, gigantesca.
CURIOSIDADES
Jean-Michel Jarre é filho do famoso compositor de trilhas sonoras Maurice Jarre (Lawrence da Arábia, Passagem para a Índia, Doutor Jivago, entre outros), que passou ausente ou distante todos os anos formativos do filho.
Durante seu tempo com o experimental Groupe de Recherches Musicales, Jarre também trabalhou no estúdio do ‘pai’ da música eletrônica Karlheinz Stockhausen, em Colônia, na Alemanha.
Assim como o Oxygène (que foi gravado em um rolo Scully de 8 canais), o Equinoxe também foi gravado no estúdio caseiro, no apartamento do músico – porém este com melhorias tecnológicas como célebre gravador de rolo de 16 canais da MCI.
Apesar de não ter tido o mesmo impacto de seu primeiro disco, Equinoxe solidificou bastante a carreira de Jarre, inclusive em seu lado showman – pois para a promoção do disco, ele fez uma apresentação ao vivo na Place de la Concorde, em Paris, durante o Dia da Bastilha de 1979, com grandiosos efeitos de luz e fogos de artifício – que são característicos de seus shows até hoje. Como resultado desse show, ocorreu a venda de 800.000 cópias do disco nos dois meses seguintes.
Para quem é esse disco? Para todos os fãs de música eletrônica raiz, da época do experimentalismo e dos sintetizadores analógicos, assim como para a maioria dos fãs do rock progressivo original da década de 70, e de trabalhos de outros expoentes da música eletrônica da época, como o grego Vangelis.
Prensagens boas? A prensagem nacional não é de todo ruim – mas eu realmente recomendo a busca de uma prensagem francesa, britânica, alemã, americana ou japonesa, das décadas de 70 e 80. Existem prensagens novas de 180 gramas: uma de 2015, uma de 2018, e uma de 2024 – e dessas talvez eu ache interessante a de 2015, mas duvido das outras.
Um junho muito musical a todos!