Vinil do Mês: YES – FRAGILE (ATLANTIC, 1972)

Influência vintage: TOCA-DISCOS DE VINIL EMT 938
abril 6, 2023
Playlists: ADEUS, WAYNE!
abril 6, 2023

Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Todo mês um LP com boa música & gravação

Gênero: Rock Progressivo

Formatos Interessantes: Vinil Importado

Coincidentemente, este mês mais um disco que é ‘Discoteca Básica’. Se rock progressivo for algo que você aprecia, então este é um disco obrigatório. É o melhor do Yes? Não, a obra do grupo é mais extensa e relevante do que eleger apenas um como ‘melhor’, mas é um disco muito bom e mais fácil de ‘digerir’, para quem não está acostumado com as profundas e longas viagens que são algumas obras do Yes.

O Yes foi um dos primeiros grupos de progressivo com os quais eu tive contato, mais de 40 anos atrás (boa, agora me senti um ancião), que ouvia com os meus vizinhos, em uma época onde o aparelho eletrônico mais importante do lar era o aparelho de som, e a absorção de cultura e entretenimento mais importante era a audição de música!

Interessante lembrar, também, que por ser em vinil, a gente ouvia o lado inteiro do disco, sem levantar para pular faixas, porque toca-discos de vinil quase nunca tinha um controle remoto – assim se absorvia e entendia a música muito melhor. E se o primeiro lado agradasse decentemente, virávamos o disco e ouvíamos o outro lado inteirinho. Essa eu acho que é uma das mais interessantes características do vinil – ainda mais interessante do que o tamanho da capa e encartes, e do que a experiência táctil, ambas preferidas de muitos defensores dessa mídia.

Em um cenário onde o Pink Floyd começou muito mais psicodélico do que progressivo, e o Emerson Lake & Palmer veio bem mais tarde, eu sempre digo que as duas bandas mais emblemáticas desse gênero são o Yes e o Genesis – sobre este último, leia-se: período do final da década de 60 até dois terços da década de 70, não o período pop com Phil Collins à frente, do qual eu gosto de muita coisa, mas por outros motivos.

Fragile é o quarto disco de estúdio do Yes, lançado oficialmente bem no final de 1971, sendo o primeiro disco com o tecladista virtuoso Rick Wakeman – para alguns mais famoso até que o próprio Yes – que substituiu Tony Kaye, que estava tendo diferenças criativas com o resto da banda. Essa é, para mim, a melhor formação que o Yes teve até hoje, com Jon Anderson nos vocais, Steve Howe na guitarra, Chris Squire no baixo, Rick Wakeman, e Bill Bruford na bateria.
Anderson depois, além de permanecer durante muito tempo em várias encarnações do próprio Yes, fez vários álbuns na parceria Jon & Vangelis com o célebre expoente da música eletrônica de outras épocas, e fez também alguns discos solo. Squire praticamente sempre permaneceu no Yes, até seu falecimento em 2015. Howe, além de várias colaborações e discos solo, teve as bandas Asia e GTR. Wakeman tem um extensa carreira solo, com trabalhos famosos como o Journey to the Centre of the Earth. E, por fim, o baterista Bruford foi um dos mais presentes em várias formações do grupo inglês de progressivo mais ‘cerebral’ King Crimson, além de ter sido o baterista da primeira turnê do Genesis (sim, do Genesis) quando Phil Collins assumiu os vocais da banda, com a saída de Peter Gabriel. Collins tocava a bateria e fazia os vocais nos discos de estúdio, mas precisava de um bom baterista para os shows ao vivo, e aí veio, por um tempo, Bill Bruford! Claro que Bruford também teve vários trabalhos solo e projetos, ao longo dos anos.

Yes

Tendo como produtor e engenheiro Eddy Offord, que depois trabalhou também com Emerson Lake & Palmer, o disco Fragile foi gravado no estúdio Advision em um gravador de rolo de 16 canais, na região do West End de Londres, e chegou ao sétimo lugar nas paradas britânicas, e o quarto nas paradas americanas – mais bem sucedido que o disco anterior, The Yes Album.

Curiosamente, no mesmo dia em que o empresário do Yes ofereceu o cargo de tecladista da banda para Rick Wakeman, ele havia recebido outro convite: ser tecladista da banda de David Bowie. Wakeman escolheu o Yes simplesmente pela liberdade artística. A presença de Wakeman também trouxe ao Yes sintetizadores mais modernos, como o Mellotron e o Moog – pelos quais Kaye não se interessava e não queria adicionar ao Yes.

Diz a lenda que o empresário deles, Brian Lane, é que surgiu com o nome do disco enquanto falava com alguém da imprensa, e estava olhando as fotos de um show do Yes em Londres, e em todos os cases dos equipamentos de palco estava escrito a palavra “Fragile” (Frágil, em inglês).

Com parte das faixas sendo composições coletivas, e parte trazendo composições individuais, alguns críticos (que procuram ‘pêlo em ovo’ desde que o primeiro homem das cavernas deu um berro) não gostaram dessa estrutura e divisão, e criticaram principalmente as composições individuais do disco. Eu ouço esse disco há mais 40 anos, e nunca vi nenhuma ‘divisão’ ou percebi nada destoando. É fato que o disco sempre foi um sucesso, independente de não terem ‘barbeado o ovo’ de acordo com o que os críticos queriam.

Fragile é a primeira capa do Yes desenhada pelo designer e artista inglês Roger Dean – que criou ele mesmo uma narrativa de “uma criança que sonhou estar em um planeta que estava começando a se desfazer” – e a partir daí nasceu a arte da capa! Dean acabou tornando-se emblemático no mundo do rock, principalmente no progressivo, desenhando um grande número de capas para o Yes, e para artistas como Uriah Heep, Gentle Giant, Asia, Rick Wakeman, Steve Howe, Focus, Thijs Van Leer (da banda Focus), e um grande número de outros.

Para quem é esse disco? Para todos os fãs de rock progressivo, de rock da década de 70, e do Yes – pessoas jovens, ‘antigas’ e ‘intermediárias’ que curtem boa música muito bem tocada!

Eu não recomendo nenhuma prensagem nacional – nenhuma delas é masterizada com nenhum carinho ou consideração…rs… Uma boa prensagem inglesa ou alemã estaria muito boa, assim como o ‘objetivo final’ é uma prensagem japonesa em bom estado. Não experimentei nenhuma das várias edições de Fragile em 180g – mas as versões da Analog Productions e da Mobile Fidelity (Mo-Fi / MFSL) de 2006 devem ser muito boas. As MFSL mais recentes podem ter caído no infame caso dos vinis feitos a partir de master digital, tão noticiado. As versões 180g de 2016 em diante são todas da própria Atlantic Records, e eu não ponho minha mão no fogo sem ouvir.

Ouça um trecho de “Roundabout”, no YouTube

Boas audições outono-musicais à todos!

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