Música de Graça: CLÁSSICOS COM ESA-PEKKA SALONEN & NDR ELBPHILHARMONIE

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

No YouTube encontra-se muito conteúdo interessante para o melômano, vídeos de música ao vivo com qualidade pelo menos decente de imagem e som – e que nesta coluna sugerimos mensalmente.

E é só ao vivo que você percebe o verdadeiro entrosamento entre os músicos, sua linguagem corporal e suas verdadeiras capacidades!

COMO E ONDE OUVIR

Através de um computador ou smartphone, com bons fones de ouvido – ou mesmo conectando eles ao DAC de nosso sistema de som, fisicamente, por wi-fi, por Chromecast ou por Bluetooth. Uma segunda opção é assistir esse conteúdo em uma TV tipo smart, no aplicativo do YouTube, e conectar a saída ótica de áudio digital dela ao sistema de som, de home-theater ou mesmo à uma soundbar.

PARA QUEM SÃO AS SUGESTÕES DESTE MÊS?

Este mês é estritamente música orquestral, sinfônica, com uma grande orquestra européia, sob a batuta de um dos melhores regentes da geração atual. Vídeos bem feitos, com excelente qualidade sonora, trazendo uma das principais sinfonias do período do Romantismo, uma linda obra do impressionismo musical francês do século XX, e uma obra contemporânea de autoria do próprio maestro!

SOBRE A NDR ELBPHILHARMONIE ORCHESTER

Traduzida como Orquestra Filarmônica da NDR (Norddeutscher Rundfunk) do Elba, sediada em Hamburgo, na Alemanha. NDR é a Rádio e Televisão do Norte da Alemanha, à qual a orquestra é afiliada, mas sua sede é na bela e moderna sala de concertos localizada na península de Grasbrook, no Rio Elba, em Hamburgo.

O complexo Elbphilharmonie, o edifício habitado mais alto da cidade de Hamburgo, com 108 metros de altura, foi inaugurado em 2017, e esteve envolvido em uma série de controvérsias sobre sua construção, que demorou demais – quase 10 anos! – começando com um orçamento de 200 milhões de euros, e terminando com um custo total de 870 milhões!

São 26 andares, contendo uma Sala de Concertos com uma acústica feita por 10.000 micro paineis para difusão de ondas sonoras, uma plateia de 2100 assentos, e um órgão de tubos. Além disso, possui uma Sala de Recitais para 550 pessoas, para apresentações de jazz e orquestra de câmara, e o Kaistudio, para atividades educacionais, com capacidade para 170 pessoas. O complexo também abriga 45 apartamentos de luxo, um hotel, salas de conferência, restaurantes, bares, spa, e um estacionamento.

Outra controvérsia traz reclamações sobre a acústica da Sala de Concertos ser muito viva, fazendo com que cada coisa tocada lá seja milimetricamente ouvida, com clareza, por todos, incluindo qualquer erro da orquestra e “cada tossida e espirro da plateia”. Bom, não é a única sala de concertos assim no mundo, e não só isso tudo pode ser uma boa coisa – ouvir um nível de detalhamento muito grande de maneira natural (in loco) – como também todo mundo que já foi em uma sala de concertos pode atestar que não há espirro ou tosse que ‘deixem de ser ouvidos’, em nenhuma apresentação de orquestras, no mundo.

Hector Berlioz: Symphonie Fantastique | Esa-Pekka Salonen (2022, 57 min)

A Sinfonia Fantástica é uma das grandes e emblemáticas sinfonias do repertório do Romantismo, século 19. É grandiosa, bem instrumentada, dinâmica, densa emocionalmente, e precisa de uma orquestra competente, entrosada, e um regente de mão segura que tenha preparado e ensaiado bem com a orquestra.

E o trabalho de Salonen fala por si mesmo, com fluência, musicalidade e precisão natural – como poderá ser conferido nestes três vídeos.

Com o título completo de “Episódio da Vida de um Artista, Sinfonia Fantástica em Cinco Partes”, a obra foi composta por Berlioz em 1830, com 27 anos de idade, e teve a estreia de uma versão preliminar no Conservatório de Paris, em 5 de dezembro do mesmo ano, com a regência de François-Antoine Habeneck. Depois, em 1845, o compositor revisou a sinfonia para a versão que conhecemos bem hoje.

A Sinfonia Fantástica, que teve como inspiração a paixão de Berlioz pela atriz irlandesa shakespeariana Harriet Smithson, difere da estrutura usual de sinfonia de quatro movimentos, trazendo cinco movimentos cada um com um tema. Segundo Berlioz, são cinco visões que o artista apaixonado tem, sob efeito do ópio com o qual se envenena: Devaneios e paixões, Um baile, Cena Campestre, Marcha para o Cadafalso, e Sonho de uma Noite de Sabá. Os dois últimos movimentos são amplamente reconhecíveis, não só na própria Sinfonia como no repertório sinfônico como um todo.

A performance no vídeo foi gravada ao vivo, na Sala Elbphilharmonie em Hamburgo, na Alemanha, com a Orquestra NDR Elbphilharmonie, em 21 de janeiro de 2022, com a boa engenharia de gravação de Axel Wernecke.

Clique no link para acessar o vídeo completo

Salonen: “Gemini” | Esa-Pekka Salonen | NDR Elbphilharmonie (2022, 28 min)

Quando falo que Esa-Pekka Salonen é da geração ‘atual’ de regentes de orquestra, alguém vai me lembrar que ele “já tem 64 anos de idade!!”… rs…

A verdade é que regente de orquestra é uma profissão longeva. Muitos ficam mais de 10 anos à frente de uma mesma orquestra – e a ideia de se variar de profissionais ocupando esses cargos, em menos anos do que 10, é algo mais moderno, mais atual. O célebre austríaco Herbert von Karajan, por exemplo, ficou na Filarmônica de Berlim da Segunda Grande Guerra até seu falecimento em 1989. O indiano Zubin Mehta está desde 1968 na Filarmônica de Israel. James Levine ficou 41 anos à frente da Metropolitan Opera, de Nova York. É muito comum grandes maestros regerem concertos até idades bem avançadas, beirando e até ultrapassando os 90 anos de idade! Por isso, Esa-Pekka Salonen é um ‘jovem’ da geração atual.

Esa-Pekka Salonen, nascido em 1958, estudou composição e regência na Academia Sibelius, em Helsinque. Apesar de ter começado a carreira se dedicando à composição, regência tornou-se sua principal ocupação após algumas experiências à frente Sinfônica da Rádio Finlandesa, e em um episódio célebre em que teve que substituir emergencialmente Michael Tilson Thomas frente à Orquestra Philharmonia, em Londres. Thomas não se sentiu bem, e Salonen acabou regendo nada menos que a Terceira Sinfonia de Mahler! Sem estudar a obra ou ensaiar a orquestra! Esse episódio catapultou Salonen para o universo da regência, pois ele acabou dirigindo orquestras como a Filarmônica de Los Angeles, a própria Philharmonia, e a Sinfônica de San Francisco, entre outras, assim como vários festivais de música, nas Américas e na Europa.

Como compositor, Salonen tem vários discos e vídeos gravados, além de numerosas apresentações ao vivo – como a estreia de seu Concerto para Cello e Orquestra com ninguém menos que Yo-yo Ma como solista!

Neste vídeo ele rege sua obra Gemini, de 2019, composta da junção das obras Pollux e Castor – dois irmãos da mitologia grega – encomendada à Salonen pela Filarmônica de Los Angeles, com mecenato de Elizabeth e Justus Schlichting (um bem sucedido financista). Esse casal de mecenas já financiou, em pouco mais de uma década, mais de 180 composições musicais!

A performance no vídeo também foi gravada ao vivo, na mesma noite de 21 de janeiro de 2022 – com a mesma orquestra – com a excelente engenharia de gravação de Axel Wernecke.

Clique no link para acessar o vídeo completo

Maurice Ravel: “Ma mère l’oye” mit Esa-Pekka Salonen | NDR (2020, 35 min)

Algumas pessoas falam que a obra de Ravel é um ‘gosto adquirido’. Bom, o que é famoso dele é o Bolero, hipnotizante e genial – mas sua obra de qualidade é bastante mais extensa, assim como sua capacidade de orquestração: os Quadros de uma Exposição, do russo Modest Mussorgsky são originalmente peças para piano solo, e a orquestração que todos já ouvimos, e que é um dos pilares do repertório sinfônico, não foi feita por Mussorgsky, e sim por Maurice Ravel.

Junto com o também francês Claude Debussy, Ravel é considerado um dos principais compositores do Impressionismo Musical – um movimento na música erudita de fins de século 19 e começo do 20, inspirado na filosofia e na estética do Impressionismo na pintura – este especialmente suscitado pela pintura ‘Impression, Sunrise’ do francês Claude Monet.

Ravel e Debussy rejeitavam esse rótulo, mas o fato é que ele lhes serve com absoluta perfeição, e assim serão lembrados para sempre.

O rótulo de Impressionista define perfeitamente Ravel? Não, claro, mas Ravel era sim um inovador musical – que bateu de frente com o conservadorismo da música clássica francesa da época, principalmente em seu período no Conservatório de Paris. Ele acabou criando sua própria sonoridade, com influências do modernismo, do barroco, do jazz e do neoclássico. No final, Maurice Ravel acabou sendo abertamente considerado um dos maiores compositores franceses de todos os tempos.

A suíte sinfônica Ma Mère L’Oye (a Mamãe Ganso), foi uma composição de 1910 para um dueto de pianos, e orquestrada pelo próprio Ravel em 1911. O dueto original seria para os filhos Mimi e Jean, do escultor polonês Cyprian Godebski, e estreou em abril de 1910 pelas mãos das pianistas Jeanne Leleu e Geneviève Durony, na Société Musicale Indépendante, de Paris. Ravel expandiu a orquestração de 5 movimentos, no mesmo ano de 1911, para um balé de 7 movimentos – e essa é a versão aqui apresentada, que estreou em 29 de janeiro de 1912, no Théâtre des Arts, também em Paris.

A performance neste vídeo também foi gravada ao vivo com a mesma orquestra, só que em 20 de outubro de 2020, com orquestra e público reduzido, como necessário no meio da pandemia. A clareza da sala ajuda a boa captação, aqui feita pelo engenheiro de gravação Dominik Blech.

Clique no link para acessar o vídeo completo

E um bom fim de outono a todos!

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