Espaço aberto: NÃO EXISTE MÚSICA “VELHA”

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Sim, eu sei: parece coisa de velho, né, falar esse tipo de coisa?

Não é. Até porque as melhores coisas que eu ouvi na década de 70, permanecem comigo até hoje. Idem das décadas de 80, 90, etc. E eu ainda ouço coisas da década de 60. E da década de 30! De mil oitocentos e trinta! 1830! rs…

A gente ‘recebe’ constantemente, orelha adentro – e olhos adentro – uma série de ideias e de padrões de atitude esquisitos. E tenta assimilar isso, fica ruminando a questão, até chegar à conclusão de que não possam ser válidas.

E uma dessas ideias – muito mal pensada e implementada aliás – é de que música boa fica velha. Porque se for ‘boa’ mesmo, ela não fica, não. E ouço esse tipo de coisa sendo proferida, recentemente, também por gente que reclamou da música que é tocada nas feiras de áudio no exterior.

Aqui vale um panorama geral, para se situar melhor. Pós-pandemia, as feiras de áudio, em boa parte do mundo, estão voltando em peso – talvez para dessatisfação dos Profetas do Fim do Áudio, ou para os que achavam que o cenário, o mercado de áudio, iria mudar totalmente, mas não apresentaram solução para quem queria usufruir de lojas físicas, e de feiras, para se ter um apanhado geral e ter contato com os profissionais da área, fabricantes, distribuidores, etc.

Coisas baratas podem ser compradas online – mas equipamentos e acessórios de áudio, que são caros, não. O fato é que lojas e showrooms estão retornando, e feiras grandes já retornaram, com a Axpona sendo a maior (em expositores e público) nos EUA, e a High End Munich, na Alemanha, sendo a maior da Europa – e, diga-se de passagem, maior que a maior feira americana.

E sim, em ambas feiras o público jovem está crescendo, e o público feminino também. O que é ótimo!

E a maioria dos jovens querem ouvir a música deles, a música que eles gostam, se esquecendo que a maior parte dela tem baixa qualidade sonora, infelizmente. E não se faz comida boa com ingredientes ruins. E os mais antigos (não somos velhos, somos ‘clássicos’ rs…) querem ouvir sua música, que é, no geral, muito mais bem gravada.

Muitos jovens, então, perdem por não aprenderem sobre uma enormidade de música maravilhosa que veio antes deles, numa necessidade incontível de serem presos ao presente, o qual é frequentemente efêmero e descartável, como é a música do mainstream, comercial, descolada, e de gêneros de nunca primaram por qualidade. E perdem porque não percebem que a maioria de sua música é incrivelmente inapropriada para a avaliação de equipamentos e setups de áudio – pois não se faz comida boa com ingredientes ruins. O pior é que, para quase qualquer gênero musical que os jovens gostam, existem exemplos melhores em música de melhor qualidade e até, geralmente, mais ‘antiga’. Mas lá foi um deles, reclamar que a feira de Munique não “tocava nada que ele conhecia” e, portanto, ele não “conseguiu conexão emocional” com nenhum equipamento, e não os pode avaliar. Isso acho que foi o maior exemplo que eu já vi de inflexibilidade e falta de compreensão e entendimento sobre uma coisa e sua finalidade – e de pleno uso de um tipo estranho de arrogância e egocentrismo.

E a maioria do povo ‘clássico’, perde por não entender que, de moderno, novo, diferente do tradicional, fora do mainstream, fora do que é popular e efêmero, fora de música de consumo, existe sempre muito mais por e para onde expandir suas coleções de discos, aprofundar seus conhecimentos, e criar novas playlists em serviços de streaming.

Em resumo: o pessoal mais novo precisa aprender mais sobre música e entender a necessidade de qualidade sonora para a apresentação e avaliação de equipamentos, e o pessoal mais clássico precisa saber selecionar melhor o que vai demonstrar, para poder agradar e interessar ambos públicos em suas salas em feiras, showrooms e revendas.

E está rolando isso? Não.

Na Axpona, o público mais velho reclamou de que a música usada era, em sua maioria, barulhenta, desagradável e tocada em volumes muito altos, atrapalhando a apreciação dos equipamentos por eles. E, em Munique, um cenário muito mais conservador, houveram reclamações, principalmente por jovens, chegando a dizer que música clássica e jazz antigo deveriam ser proibidos em feiras.

Tirando o fato de que esses poucos jovens foram intransigentes – e ignorantes – claro que é uma obscenidade achar que algum tipo de música seria ou será proibida em uma feira ou onde quer que seja.

O que é preciso haver é um aprendizado e uma adaptação de ambas partes. Aliás, do público jovem, do público ‘clássico’, e também da maioria esmagadora dos expositores, fabricantes e demonstradores, que não estão sabendo a quem agradar, como agradar e, às vezes, porque agradar.

Tudo se resolve com a expansão de horizontes culturais, de muitos dos envolvidos. E com o entendimento do quê? Sim, caro leitor: de que não se faz comida boa com ingredientes ruins.

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