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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

E já estamos no quesito Dinâmica, uau! Como o ano está voando!

Antes de entrar no tema, quero mais uma vez agradecer a todos os leitores que têm nos dado um feedback, de como estão fazendo uso dessas informações para o ajuste de seus sistemas e o quanto os exemplos indicados estão sendo úteis.

Agradeço muito, pois uma coisa é passar todo esse conhecimento de forma presencial, podendo tirar dúvidas de imediato, e outra coisa é escrever e ficar aguardando que vocês se manifestem, para saber se estamos sendo assertivos ou não.

Já disse, e reitero, que tinha muitas dúvidas se iria funcionar apresentar dessa maneira a Metodologia para nossos novos leitores. Temia que, além de ser pouco prático, poderia ficar cansativo para aqueles que nunca puderam ouvir os quesitos da Metodologia em um Sistema de Referência.

No entanto, pelo número de perguntas e elogios que temos recebido, estou surpreso que tantos novos leitores estejam fazendo uso dessas informações.

O que sempre enfatizei, ao final de cada ciclo dos Cursos de Percepção Auditiva, com cada nova turma, é que o conhecimento prático apresentado e exercitado seria de enorme valia pelo resto de sua jornada na busca do sistema correto, e que com essa ‘bússola’ os riscos de erros ou ‘equívocos momentâneos’, seriam muito reduzidos.

Pois todos nós sabemos o quanto os audiófilos podem agir de maneira impulsiva, e colocar tudo já resolvido pelo ‘ralo’.
Quem nunca presenciou sistemas que estavam bem ajustados, de um amigo ou seu mesmo, e que desandou após fazermos uma compra ou uma troca por impulso?

Levante a mão quem já vivenciou essa realidade.

Temos duas maneiras de abordar o quesito Dinâmica na alta-fidelidade. O modo mais utilizado, que diz respeito à intensidade em que um som é reproduzido em um sistema hi-end, ou da maneira correta, que trata das variações Dinâmicas que ocorrem na música, escritas ‘intencionalmente’ para criar diferentes sensações emocionais no ouvinte.

E quando um compositor trabalha as progressões harmônicas, e a melodia, junto com variações Dinâmicas, essa tríade de intenções é que dá significado a obra e às sensações que podem causar no ouvinte tristeza, tensão, alegria, êxtase, etc.

O problema é que a indústria eletrônica de áudio hi-end, por um longo período de anos, teve verdadeira ‘fixação’ por tentar reproduzir a Dinâmica real de um fortíssimo de uma orquestra sinfônica na casa do audiófilo, e para isso começou a produzir amplificadores cada vez mais potentes (chegando a concorrer com unidades usadas em PA) e caixas e subs cada vez maiores!

Não pensem que essa fixação passou – ela na verdade só perdeu um pouco de ímpeto, já que as casas são cada vez menores, e o custo para ter essas caixas e amplificadores se tornou muito oneroso, o que fez com que o número de audiófilos com poder aquisitivo e sala, para ir por esse caminho, se limitasse atualmente.

Então é preciso deixar claro que, quando tratamos do quesito Dinâmica em nossa Metodologia, estamos falando não só da intensidade da reprodução de um tiro de canhão na Abertura 1812 de Tchaikovsky – pois um sistema de PA com certeza reproduzirá com muito maior intensidade esse tiro, do que qualquer caixa hi-end, por maior e mais cara que seja!

O que nos interessa é a qualidade na reprodução dessa Dinâmica, e não de sua intensidade.

Estamos buscando observar como é a Dinâmica, e suas escalas crescentes e decrescentes, no produto testado, e se ele consegue reproduzir essas escalas de forma audível, e com conforto auditivo.

Para isso, é preciso entender a terminologia usada para variações Dinâmicas na própria música.

Vamos a elas:

A notação musical das variações Dinâmicas é de origem italiana, OK? Quando o compositor deseja uma dinâmica sutil ou fraca, ele escreve na partitura: ‘Molto Pianíssimo’, ou a sigla ‘ppp’. Essa passagem é tão sutil, que exigirá do ouvinte total concentração, e torcer, em uma apresentação ao vivo, que não exista conversa paralela, tosse ou ruído de celular. Na reprodução em nossa sala de audição, quando estamos sozinhos, exigirá que nosso sistema tenha um ruído de fundo muito baixo, para que este ruído de fundo não concorra com a música, e que o ruído do ambiente também não interfira nesse sinal.

Estamos, em termos de reprodução eletrônica, falando da qualidade da microdinâmica do produto testado.

A segunda possibilidade que o compositor utiliza, é de aumentar essa intensidade, ainda de forma bem sutil, colocando em cima do trecho a ser executado dois ‘pp’ – que o músico interpreta tocando suavemente, porém mais alto que o ‘ppp’. Aqui a porca começa a torcer o rabo. Pois é bastante comum o primeiro ‘ppp’, ser muito pouco ouvido, por vários motivos: alto ruído na sala de audição, somado ao alto ruído da própria eletrônica. Fazendo com que a maioria dos audiófilos só perceba a microdinâmica a partir do ‘pp’, e não do ‘ppp’.

Quando estamos avaliando um equipamento em nossa sala, em que o ruído de fundo com a porta e janela acústica fechada, é de apenas 35dB, e colocamos o exemplo no volume correto da gravação, e só conseguimos ouvir a música a partir do ‘pp’ e não do primeiro ‘ppp’, esse produto já perdeu ponto na reprodução de microdinâmica.

Quando nos cursos apresentamos os exemplos, e eles observam como funciona a Metodologia, é que a ficha cai que nada na avaliação dos quesitos é subjetivo. Pelo contrário, o critério de observação utilizado pode ser repetido infinitamente e o resultado será sempre o mesmo. Porém existem questões a serem levadas a sério, para que essa repetição ocorra ‘ad infinitum’.

Os objetivistas irão rogar todas as pragas apocalípticas, até a minha quinta geração!

Se o produto em teste, na verdade, estiver alinhado no momento da audição com um ‘elo fraco’, ele obviamente será prejudicado, e geralmente o maior prejuízo deste elo fraco aparece aonde?

”Fala logo, Andrette! Não faz mistério, homem!!”

Na Dinâmica, e no equilíbrio tonal!

E, para deixar os objetivistas ainda mais ensandecidos, um cabo de força ou de interconexão pode fazer com que um equipamento eletrônico de alto nível, não consiga reproduzir o primeiro ‘ppp’!

Uma vez citei em um teste de um cabo de força, que minha filha e uma amiga estavam em minha sala brincando no chão, e elas perceberam o detalhe das primeiras seis notas do piano de uma gravação do Egberto Gismonti ao vivo, e quando eu coloquei o cabo emborrachado original, elas viram que essas primeiras seis notas ficaram difíceis de ouvir.
Um ‘formador de opinião’ e sua trupe, caíram matando como se eu estivesse usando minha filha, que na época tinha sete ou oito anos, para ‘inventar’ observações inexistentes em cabos de força. Pessoas que se intitulam ‘especialistas’ em áudio, com larga vivência no meio, e que são incapazes de ouvir o que um elo fraco pode fazer na microdinâmica de um bom sistema.

Contei tudo isso, para lembrar a todos vocês que, para avaliar a dinâmica do seu sistema, além de músicas que possuam grande variações de intensidade, é preciso realizar uma análise do ruído da sala (se quando você escuta seu sistema, o ruído na sala for maior que 50 dB, você terá dificuldade para avaliar com segurança a microdinâmica) pois você só irá começar a ouvir a música a partir de um único ‘p’ (‘Piano’). Aí, é preciso detectar se a eletrônica e os cabos também têm limitações na reprodução do ‘ppp’ e do ‘pp’, ou se realmente o alto ruído ambiente é que está mascarando a microdinâmica.

E, por último, se cercar de gravações com excelente qualidade artística e técnica, claro!

O ‘p’ na partitura significa ‘suave’, mas com uma intensidade que já ouvimos sem nenhum esforço adicional.

E aí crescemos na escala de intensidade para o ‘Mezzo Piano’, que já é um começo de escala crescente, e que na partitura será apresentado como ‘mp’.

Aqui, meu amigo, qualquer bom equipamento mid-fi já tem a obrigação de apresentar toda essa variação Dinâmica. Pode o equilíbrio tonal não ser o mais correto, mas em termos de intensidade, tudo já será audível.

O próximo degrau é o ‘Mezzo Forte’ ou ‘mf’ – a sensação é de maior peso, graças à força exigida para o músico tocar com maior deslocamento de ar, em instrumentos percussivos ou cordas soltas de um contrabaixo.

Aí passamos para a fronteira da macrodinâmica, com o ‘Forte’ – ‘f’ – que efetivamente exigirá maior peso na nota ou acorde. Depois o ‘Fortíssimo’ – ‘ff’- em que não só o peso da digitação no instrumento é mais intenso, como também deixa claro a diferença de digitação do instrumento entre um estudante e um músico virtuoso.

Lembra quando contei a história da apresentação da minha querida amiga Jane Duboc, na Sala São Paulo, e eu estava com dificuldade de ouvir todas as notas do piano? E quando ela convidou o Egberto Gismonti para dar uma ‘palhinha’, a sensação que tive é que havia trocado de instrumento e não de instrumentista? Pois tenha certeza, meu amigo, que o fortíssimo de um virtuose sempre será mais impetuoso e preciso que de um estudante. Pois o estudante ainda está atento muito mais a não errar a execução, do que dominar integralmente seu instrumento. Pelo fato que o domínio do instrumento só virá com a longos e longos anos de aperfeiçoamento (se você ainda duvida que o mesmo processo ocorra com os nossos sentidos, está na hora de rever essa sua opinião).

E um sistema Estado da Arte, muito mais que te ‘matar de susto’ com o tiro de canhão da Abertura 1812, precisa é te mostrar a diferença entre o ‘ff’ de um bom e esforçado músico, do ‘ff’ de um virtuose no auge de sua carreira.

E aí temos o ‘Molto Fortissímo’ – ‘fff’ – indicando na partitura a maior força possível que o instrumento possa executar aquele momento musical.

Os ‘gran finales’ das obras sinfônicas, que nos fazem ao vivo reter o coração na boca e a respiração suspensa, antes dos aplausos ovacionados, em uma belíssima apresentação, são esses ‘fff’.

Pois bem, meu amigo, minha pergunta que sempre faço aos que buscam o ‘Molto Fortíssimo’ – ‘fff’ – em suas salas: “Quantas obras musicais você escuta que possui essa macrodinâmica?”

“Por quanto tempo o sistema terá que reproduzi-la?”

“E termos essa capacidade, em um sistemas, de colocar mais de 100 dB em um grande final, por alguns segundos, é garantia que teremos Quantidade e Qualidade simultaneamente?”

A resposta é não, meu amigo. Na verdade, muitos dos setups hi-end que reproduzem esse ‘fff’, não são bons em muitos outros quesitos da Metodologia.

O erro mais comum é no corpo harmônico em que, por exemplo, vozes ficam com o tamanho de uma boca de hipopótamo!

Vivi tempo suficiente para ouvir verdadeiras aberrações de sistemas que buscaram esse ‘fff’ por míseros segundos, e que no restante da obra eram desprovidos de qualidade na microdinâmica, ou até mesmo na passagem entre o ‘Pianíssimo’ e o ‘Mezzo Forte’, pulando degraus como quem está com muita pressa de seguir em frente!

Sendo que grande parte das obras escolhidas, para mostrar o ‘fff’ final, nos seus quatro movimentos o compositor intencionalmente trabalhou a Dinâmica entre o ‘Piano’ e o ‘Mezzo Forte’ de maneira gradativa e intencional, para ir preparando o ouvinte para o final apoteótico!

Felizmente escrevo aqui faz um bom tempo, que alguns fabricantes de equipamentos perceberam a tempo esse erro e estão corrigindo a rota, oferecendo a melhor micro e macro possíveis, com um prazeroso detalhe: folga e naturalidade.
Eu me satisfaço em ouvir os tiros de canhão reproduzidos sem clipar, ou danificar meus falantes, e sem dar saltos de susto pelo deslocamento de ar.

Afinal, os tiros estão acompanhados da orquestra, e eu não quero perder nenhum detalhe da obra para ouvir apenas tiros. O mesmo ocorre nos últimos doze compassos do Quarto Movimento da Nona Sinfonia de Beethoven, em que não quero que o coral cubra o resto da orquestra. Pois se escuto essa obra ao vivo (como já tive a oportunidade de ouvir por quatro vezes), ouço o todo com folga, e sem nenhuma parte da orquestra no ‘fff’ final se sobrepor e abafar o resto da orquestra.

Gosto muito da definição de um querido amigo, que diz que existem sistemas que são ‘obcecados’, em todo ‘fff’, em fazer ‘cair um cofre de uma tonelada’ na sua frente. Existe mesmo, já escutei dois desses sistemas, e sai no meio da apresentação, pois tenho que preservar minha audição ao máximo!

Outros que tem como referência shows em grandes estádios, querem trazer para sua sala essa Dinâmica, nesse caso fica ainda mais complicado, pois estamos falando de shows com níveis de mais de 104 dB todo o tempo. Isso, meu amigo é ficar completamente surdo em pouquíssimos anos, acredite!

Uma boa macrodinâmica em um sistema hi-end Estado da Arte, pressões sonoras ‘fff’ serão muito bem apresentadas entre 84 e 95 dB – o que, além de seguro, é extremamente prazeroso e passará com precisão toda a intencionalidade emocional que o compositor imaginou. Obviamente estou falando desse ‘fff’ reproduzido nesses sistemas Estado da Arte em que predomina a naturalidade com folga.

Esse é o grande desafio dos genuínos sistemas hi-end superlativos, de ponta, atuais.

Estamos sempre lembrando você que o que buscamos é Qualidade, não Quantidade.

Pois, se for Quantidade que você deseja, meu amigo, monte um bom sistema de PA em sua sala, e será muito mais barato e eficaz, acredite (e também bastante eficaz para uma perda de audição bem rápida).

Não irei dar muitos exemplos para esse quesito, pois existem centenas de excelentes gravações e todo audiófilo tem as suas preferidas para impressionar visitantes leigos e amigos audiófilos.

Mas tenho um exemplo perfeito para avaliação de micro e macrodinâmica, que uso desde o ano 2000 para fechar a nota de todos os produtos por nós testados.

O Bolero de Ravel, do selo Reference Recordings, com a Orquestra de Minnesota e o maestro Eiji Oue. Se você quer avaliar seu sistema com essa gravação, siga em frente. Só não vale ficar com o controle na mão baixando e aumentando o volume, para acompanhar os crescendos de intensidade.

OUÇA EIJI OUE, MINNESOTA ORCHESTRA – BOLERO! ORCHESTRAL FIREWORKS, NO TIDAL.

É preciso ser honesto consigo, e com o sistema, e definir o volume do ‘ppp’, e deixar o controle remoto no outro cômodo, ou pedir para alguém cuidar e não te devolver até a obra acabar. Lembre-se, se para ouvir ‘da capo’, desde o ‘ppp’ da primeira nota, se você tiver que já abrir o volume demasiadamente, o ‘fff’ nos acordes finais irá clipar! Se, já de cara, você perceber que o ‘ppp’ é inaudível, comece detectando onde se encontra o problema!

Eu sempre quero que todos passem na prova final. O objetivo é esse, ver nossos leitores ajustando seus sistemas e vivendo felizes com eles. Porém toda busca conta com obstáculos, ninguém acerta de primeira.

Todos os percalços são essenciais para irmos ganhando experiência e conhecimento.

Mês que vem falaremos do tão pouco levado em consideração, o Corpo Harmônico, e que quando escutamos em todo o seu esplendor em um setup analógico, ficamos nos perguntando que diabos tem de errado o digital?

Aguentem firme, que essa série está chegando aos seus capítulos finais.

Até lá, façam o dever de casa e compartilhem conosco os resultados, pois sei que junto com soundstage, Dinâmica é muito valorizado. Pena que para muitos, apenas a Dinâmica Quantitativa, e não a Qualitativa!

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