Espaço Aberto: ONDE ESTÁ O ARQUIVO DA UNIVERSAL MUSIC? EM UMA CAVERNA!

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

As três grandes ‘gravadoras’ do mundo hoje são a Warner Music, a Sony Music e o Universal Music Group (UMG) – sendo que esta última é a maior de todas as três, porém apenas com o segundo maior catálogo. O primeiro maior catálogo ainda é o da Sony Music.

Para entender o bestificante tamanho do UMG, ele começou ligado aos estúdios de cinema Universal na década de 30, e como filial americana da gravadora inglesa Decca, a primeira a ser englobada por eles depois. À seguir, ao longo das décadas – resumindo – uma longa série de compras, vendas e absorções, e aberturas de capital à investidores, fez com que a UMG se tornasse o que é hoje: uma gigante da indústria da música, que fatura quase 10 bilhões de dólares por ano, e tem como maiores acionistas um provedor de Internet chinês, um conglomerado europeu de mídia, e dois grupos de investimento. E, nesse caminho, encampam todo o catálogo e fitas master (analógicas e digitais), e fitas multipista pré-mixagem, de selos como MCA Records, Decca, Geffen Records, PolyGram, Philips, Polydor, Deutsche Grammophon, EMI, Virgin, Capitol, Harvest, Hollywood Records, Mercury, Island, Verve, GRP, Impulse, Vertigo – e mais algumas dezenas de nomes e subsidiárias.

E onde estão todas as fitas master, HDs de computador, discos óticos, mídias magnéticas digitais, etc, hoje guardadas?
(Porque, meu amigo, isso tudo aí é mais precioso que ouro e diamantes, lembre-se: o grupo fatura quase 10 bilhões de dólares por ano!).

Estão em uma caverna! Literalmente! Da empresa Iron Mountain Inc, que tem várias unidades nos estados de Nova York e Pensilvânia (entre outros), em minas exauridas de minério de ferro e de calcário, e que é hoje o maior arquivo de dados e documentos, documentos bancários, e de empresas ‘Fortune 500’ – e também de fitas magnéticas de todos os tipos, e discos de vinil, e master digitais. E por aí, vai!

A empresa Iron Mountain Inc, em sua unidade na Pensilvânia, guarda conteúdo para o Bill Gates, documentos como os testamentos da Lady Di, de Charles Dickens e Charles Darwin, documentos para o governo americano – e literalmente milhões de gravações para a Universal Music Group, e para a Sony Music. E para a Warner Music, só que em outro local, em outro estado americano.

Por que guardar tudo em uma caverna super-segura e de acesso limitado, e que é resistente até à armas nucleares?
Em 2008, um incêndio queimou parte do Universal Studios, na Grande Los Angeles, onde sets completos e peças muito especiais de filmes famosos, queimaram até virarem cinzas. Descobriu-se, porém, que inúmeras fitas master e fitas multipista, contendo até material inédito de muitos artistas musicais famosos, também queimaram. Material que pode até ser considerado insubstituível para os artistas! Isso gerou, para dizer o mínimo, um profundo mal estar entre os artistas e a gravadora, que não cuidou direito do acervo que lhe foi confiado. E, no máximo, gerou uma longa série de processos diretos de muitos músicos e bandas contra o UMG, que rolam até hoje. Muitos querem saber quais são as master que sobreviveram, de qual geração são, onde estão, em que estado estão – e até lutam para que suas master saiam das mãos da UMG e fiquem sob sua guarda pessoal.

E é fato que a UMG foi, até agora, muito pouco transparente sobre o que foi perdido ou não no incêndio.

Mas nem tudo está perdido no mundo, porque podem haver várias master de ‘Primeira Geração’ e de ‘Segunda Geração’, em vários escritórios, cofres, acervos, emissoras de rádio, estúdios, etc, mundo afora. Inclusive esse material todo, incluindo documentos e arquivos de cada artista, até o último papel, está sendo continuamente mandado para a Iron Mountain Inc, onde cada coisa é analisada, catalogada e armazenada. Inclusive, pérolas e coisas perdidas estão sendo encontradas, depois de décadas, como a multipista de uma das mais famosas faixas do grupo de rock Kiss, que havia sido dada como perdida, e foi encontrada no final de uma fita de rolo junto com um material de escritório. E agora está arquivada e protegida contra guerras nucleares.

A Iron Mountain Inc pega cada fita de rolo, escaneia a caixa em 3D de maneira que é possível ler todas a anotações da master na tela de seus computadores, indexam todas essas informações, identificam a caixa e armazenam corretamente, e em um local onde, além de estarem em plena segurança, podem ser encontradas em minutos – mesmo havendo milhões delas.

Outro serviço prestado dentro da caverna, é que o local contém um estúdio de digitalização e masterização completo – inclusive para fitas multipista, caso a obra precise ser mixada novamente, ou algum instrumento precise ser retirado ou isolado. A ideia deles é que nenhuma fita, nenhuma master, tenha que sair da caverna, por motivo algum.

Havendo autorização da UMG para uma reedição, vinil ou remasterização em alta-resolução, uma fita master é localizada, aberta, checada e levada para um equipamento especial para ‘desidratação’ – e este é um processo usual para fitas magnéticas antigas, já que o material magnético com que são feitas é higroscópico, absorvendo umidade com o tempo. E isso é o que faz o material magnético ir se soltando da fita e sujando a cabeça do gravador de rolo (como acontecia com as fitas cassete). A fita é levada à um forno especial, seco, com uma temperatura controlada, onde a umidade é removida – em um processo conhecido em estúdios como ‘Tape Baking’ – e pode então ser corretamente reproduzida para sua transferência para digital ou para outra fita analógica.

Fico imaginando se o processo deles é o melhor para a obtenção da melhor leitura, da melhor qualidade sonora a partir daquelas fitas, ou se engenheiros consagrados de masterização, audiófilos, não prefeririam utilizar seus próprios equipamentos e métodos, principalmente seus cabos e conversores analógicos-para-digital.

Não tenho a resposta para essa pergunta, mas imagino que em casos especiais, fitas poderão sair. Por outro lado, as reedições em vinil, e as novas conversões para digital de masters analógicas, da Universal Music Group (e da Sony Music), de um tempo para cá estão sendo feitas pelas proprietárias das masters e das fitas – eles pouco ou nada querem dividir isso com selos menores, de fora. Mas os selos audiófilos acabam, de qualquer maneira, se virando de outros jeitos, pois muitas vezes conseguem obter fitas de Segunda ou Terceira Geração, igualmente boas para masterizar uma prensagem audiófila.

No último mês (agosto de 2023), o especialista americano em discos de vinil, Michael Fremer – sim, o mesmo que agora é articulista da The Absolute Sound – conseguiu fazer uma visita ao acervo de fitas da Iron Mountain Inc, via convite da própria Universal Music Group. O vídeo é longo, mas fascinante, e vale assistir! Segue o link abaixo, publicado em seu canal TrackingAngle, no YouTube.

Boa diversão!

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