Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
Passei janeiro escutando mais de 100 gravações, em diversos setups, dos mais simplórios à nossa Referência, para ir selecionando os discos e faixas que usarei em nossa Sala em todos os sistemas que serão demonstrados no Workshop.
O critério foi unicamente ser uma gravação que coloque realmente à prova todos os sistemas, mostrando suas virtudes e limitações.
Sei que muitos audiófilos evitam ‘expor’ seus sistemas a essas ‘provas’ conclusivas, pois ficarão em situação delicada consigo mesmos, então saem pela tangente de culpar a gravação e jamais o seu setup!
O que posso dizer a todos vocês que utilizam ainda desse expediente, é que agindo assim jamais descobrirão os elos fracos e as limitações de seus sistemas e, portanto, continuarão sem saber que decisão tomar para a correção dessa rota, que nos leva sempre a um beco sem saída.
Outra questão que é sempre jogada para debaixo do tapete, é que músicas devemos utilizar para avaliação de sistemas.
Atualmente os eventos internacionais estão abarrotados de músicas que não nos permitem sequer avaliar a qualidade sonora de um rádio de pilha, o que dirá então usar esses exemplos para demonstrar um equipamento hi-end!
Você já observou a quantidade de gravações utilizadas nesses eventos, em que as cantoras e cantores parecem que estão em uma catedral?
Sabem a razão de se colocar tanta reverberação nas vozes?
E tem ideia do que esse exagero de reverberação digital, ocasiona de brilho nos agudos?
Nada contra se você curte essas novas cantoras(es) – a questão é: são os melhores exemplos para se demonstrar caixas acústicas? Ou DACs, ou Streamer?
Ou as versões de grandes clássicos de Paul Simon ou Joni Mitchell em versões ‘audiófilas’ de qualidade artística duvidosa?
Vamos separar o ‘joio do trigo’, OK?
Todos têm o direito de ouvir o que quiserem. Agora, usar qualquer gravação para escolha ou ajuste de sistemas hi-end, é como um cirurgião só ter em mãos para uma cirurgia de emergência, um facão.
Obviamente não vai dar certo, concorda?
O que posso garantir a todos vocês que ainda me leem, é que se usarmos as ferramentas certas, ou seja gravações que coloquem em avaliação criteriosa e precisa um equipamento ou um setup todo, e ele passar com méritos e folga suficiente, ele estará apto a tocar a música que você gosta com muito maior inteligibilidade e conforto auditivo.
Então, se você não é louco de rasgar nota de cem dólares, não pire ou perca a paciência se as músicas corretas para demonstrar um sistema, não são suas músicas preferidas.
O Workshop vai justamente lhe mostrar o que você precisa fazer para não gastar nunca mais o que você deseja ou pode.
Bastando ter em mãos as gravações adequadas para análise de: Equilíbrio Tonal, Textura, Soundstage, Transientes, Dinâmica, Corpo Harmônico, Organicidade e Musicalidade.
Ao final da seleção dos 100 discos que preparei para essa missão, eu já defini seis dos discos que passarão por todos os sistemas apresentados – exceto no setup das Jams noturnas, que aí será uma outra seleção de CDs e LPs.
Aos que querem tirar o máximo proveito deste Workshop, sugiro já irem ouvindo esses seis discos selecionados em seus sistemas, e memorizando cada detalhe, para que possam no evento perceber como os sistemas reproduzem essas gravações.
Não pensem que facilitei aos sistemas montados para tocar ’bonitinho’. Pelo contrário, todos os sistemas serão colocados à prova ‘extrema’, e talvez alguns tenham dificuldade em passar na prova, ou talvez não.
O importante é que vocês escutem esses discos e as faixas escolhidas nos seus sistemas nas suas casas.
Essa é a principal Lição de Casa.
Vamos lá, eu ainda não compartilharei qual disco será usado para qual quesito, espero que muitos de vocês descubram (principalmente os que utilizam a Metodologia corretamente).
O que garanto a vocês é que todas as gravações escolhidas são de alto nível artístico e técnico, e podem avaliar sistemas até Estado da Arte Superlativo (com mais de 100 pontos).
1) Wynton Marsalis – Standard Time, Vol 4: Marsalis Plays Monk (Columbia, 1999)
A maior parte das gravações de Marsalis são soberbas também tecnicamente.
Esse disco faz jus a essa regra.
Arranjos primorosos executados com enorme virtuosidade por esse octeto.
Essa gravação, e a faixa 14 que apresentarei no Workshop, podem perfeitamente avaliar vários quesitos como: Equilíbrio Tonal, Textura (sim, por que não podemos avaliar texturas utilizando metais/sopro?) Soundstage e Organicidade.
Mas só direi no evento o quesito na qual a usaremos, ok?
Ouça em volumes no seu sistema que você não tenha que baixar o volume quando entrarem os solos, principalmente do primeiro saxofone no canal direito. Se, ao começar esse solo, você tiver que diminuir o volume, abaixe para o solo ficar confortável e comece de novo.
Se algum dos solos de instrumentos de sopro ficarem agressivos ou muito brilhantes, seu sistema tem problema no Equilíbrio Tonal nas altas!
Venha ao Workshop e irei mostrar em todos os sistemas, como essa faixa soa.
2) Franz Liszt – Complete Piano Music Vol. 1 – Arnaldo Cohen (Naxos, 1997)
Claro que não existe instrumento mais complexo e completo para se avaliar Equilíbrio Tonal, Transientes, Macro e Micro-dinâmica, e Corpo Harmônico, que uma excepcional gravação de piano solo, tocada por um virtuose do nível do pianista Arnaldo Cohen.
Adoro essa gravação de 1996 – feita na sala St George’s Hall, em Bristol, e com uma captação exemplar do instrumento dentro da sala.
Muitos leitores se queixam que pouquíssimas gravações de piano solo permitem ouvir o feltro das teclas antes do ressoar do martelo nas cordas.
Essa é uma característica importante para avaliarmos textura, mas será que escolhi esse disco para percebermos em detalhe esse quesito?
Se você não for ao Workshop, jamais saberá!
Mas você pode perfeitamente já ir se familiarizando com as faixas 3, 7 e os quatro minutos iniciais da faixa 8, e ver se no seu sistema é possível escutar o feltro sem esforço nenhum!
3) Doug MacLeod – Unmarked Road (AudioQuest, 1997)
Acho que todo audiófilo leitor da revista, com mais de 40 anos, conhece esse disco.
Felizmente é uma gravação audiófila com qualidade artística também.
E a faixa que escolhi foi a 9, por ter muitas nuances ’sutis’, tanto na voz de Doug como no seu violão de corda de aço. Aqui já dei uma tremenda dica: ou será usado para avaliação de Dinâmica ou de Corpo Harmônico.
Ao ouvir no seu sistema, uma dica: cuidado com o volume, pois nos fortíssimos da voz de Doug, pode endurecer se o volume programado estiver errado, já que tudo começa quase que sussurrando!
Como essa faixa tocará no sistema mais simples, nos medianos e nos top?
Existe diferença audível?
Perceberei claramente essas diferenças, ou será provado o que os objetivistas tanto defendem, que se dois amplificadores não tocam igual, um está com defeito?
Se você não estiver lá, não saberá nunca quem tem razão!
4) Chick Corea – The Ultimate Adventure (Concord, 2005)
Quando fiz uma resenha no lançamento desse lindo disco, em 2006, achei que iria acertar em cheio, pois imaginei que ele agradaria a jovens e mais velhos.
E o que recebi de feedback, foi uma enxurrada de críticas, pois na maioria dos sistemas o disco soava ‘estranho’. Muitos até achavam que ele sofria de excesso de ‘digitalite’!
Será que 18 anos depois de seu lançamento, é assim que os novos sistemas o reproduzem?
Será que nada evoluiu a ponto de mostrar a beleza artística e técnica dessa gravação?
Aqui meu amigo, não vou nem adiantar a faixa que usarei no evento.
Então memorize o disco inteiro e descubra uma das melhores gravações de Chick Corea no século 21!
Só adianto que a faixa escolhida irá exigir muito de todos os sistemas.
5) Itzhak Perlman – John Williams – Cinema Serenade (Sony. 1997)
Esse é outro daqueles discos, que se você estiver numa ilha deserta só com ele e um sistema hi-end, ele pode com precisão fazer uma radiografia completa do sistema.
Além de ser um disco que pode literalmente levar-lhe as lágrimas!
Não vou adiantar a faixa também, pois quero que você o ouça na íntegra.
Fará bem aos seus ouvidos, e ao seu coração!
A faixa escolhida que apresentarei, é uma digna representante de destruidora da reputação de inúmeros sistemas audiófilos, levando leitores – os que toparam o desafio ao ouvir a faixa que utilizarei – a recomeçar seu sistema do zero, novamente!
Veja que responsabilidade, meu amigo.
Uma dica: em nenhuma faixa desse disco o violino de Perlman pode ser estridente ou duro e brilhante. Nenhuma! Fui claro?
6) Camargo Guarnieri – Symphonies 2 & 3 – OSESP, John Neschling (BIS, 2002)
Eu estava lá quando essa gravação ocorreu em 2001, graças ao meu querido amigo César Miranda, violinista da OSESP, que me colocou na sala São Paulo vazia para acompanhar de diversos lugares a gravação.
Ainda estão minuciosamente gravado em meu hipocampo os metais e tímpanos soando no primeiro movimento da Sinfonia no.2 – Uirapuru, que com a sala São Paulo vazia, permitiu ouvir os rebatimentos nas paredes até o decaimento total dos acordes dos metais.
Lindo, suntuoso e arrepiante!
Quantos sistemas ditos hi-end reproduzem com fidelidade, pelo menos parcial, esse primeiro movimento?
O seu sistema é digno de ser chamado de hi-end?
Faça o teste, meu amigo, e veja como seu sistema se comporta ao ouvir o primeiro movimento chamado de Enérgico!
Bem meus amigos, falta eu selecionar apenas duas gravações que serão usadas no Workshop. Uma certamente será uma cantora com voz potente de verdade, que dispensa ‘reverb de catedral de igreja’.
Estou entre as três gravações finalistas.
E a última gravação está entre uma big band e um sexteto de jazz.
Pretendo apresentar ambas na Edição de Abril, para todos que forem ao evento estarem totalmente familiarizados com as músicas que irei apresentar em todos os sistemas.
Para os que não leram ainda a seção Eventos, sugiro que o façam, para saberem os sistemas escolhidos para o nosso primeiro Workshop Hi-End.
Boa sorte, e que seus sistemas passem pelo desafio.
Se não passarem, o Workshop será ainda mais essencial para ajustar a rota e descobrir soluções.
Até o mês que vêm!