GILBERT KEITH CHESTERTON (ESCRITOR E FILÓSOFO INGLÊS)
Fernando Andrette
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Esse é o conceito central da conhecida “Cerca de Chesterton”, em que o filósofo inglês nos lembra que você nunca deve destruir algo, mudar uma regra ou alterar uma tradição se você não entender por que ela foi criada.
Ele nos lembra que sem compreendermos totalmente o que está acontecendo, as consequências de uma ação precipitada podem acabar muito piores do que aquilo que se pretende reparar.
Conheci esse filósofo Inglês nos anos 80, nas diversas citações do escritor argentino Jorge Luis Borges, que nutria profunda admiração tanto pelo filósofo quanto pelo escritor Chesterton. Lembro da sua descrição de que Chesterton poderia ter sido um Kafka ou um Edgar Allan Poe, mas resolveu ser ele mesmo.
Na sua cerca, Chesterton de maneira objetiva sugere às pessoas imaginarem uma pequena cerca ou portão erguido no meio de um caminho. As pessoas, ao verem aquela construção e não imaginarem sentido a ela, pensam logo em derrubá-la!
Ao que o filósofo pondera: “Se você não vê utilidade nessa obra, não deveria derrubá-la. Por favor, pense antes de fazê-lo! E quando você puder me dizer que vê utilidade nela, posso permitir que você faça isso!”.
A ideia por detrás deste exemplo é perfeita, pois nos sugere que nós só devemos modificar algo, quando estivermos a par do seu propósito – aí sim, seremos capazes de decidir se algo precisa ser modificado. Ele nos lembra que a cerca não cresceu ali, portanto, se foi erguida, alguém tinha um motivo em mente, um objetivo. E até entender esse motivo, não deveríamos julgar se a ideia foi ou não eficaz!
As possibilidades são inúmeras, desde separar animais que pastam e tem comportamentos distintos, como ovelhas (que comem até a raiz da grama) ou vacas (que comem apenas a grama).
Ou apenas para determinar o limite entre lotes de dois vizinhos.
O conceito da Cerca de Chesterton se aplica perfeitamente a inúmeras áreas de atuação humana, do pessoal a coletiva e vemos todos os dias essa ‘cerca’ sendo questionada em segmentos que dependem de avanços tecnológicos para melhorar a vida das próximas gerações.
Mas vamos focar apenas na Audiofilia, que é a essência dessa publicação.
Vejo, assisto e leio diariamente ideias desde as mais brilhantes até as mais insanas serem propostas, como soluções para a ampliação do mercado ou sua total revolução, como por exemplo a ‘enésima’ tentativa de se propor que o estéreo está com seus dias contados e que o futuro é realizarmos uma imersão de 360 graus na música que nos rodeia.
Como se, na música ao vivo, o público ficasse no centro de uma arena e os músicos em volta dessa plateia.
Ou então os que se dizem formadores de opinião e proclamam que não existe certo ou errado, portanto, tudo é absolutamente válido!!
Passando também pelos que defendem uma reforma integral nas seleção das músicas apresentadas nos eventos – pois muitos desses ‘reformadores’ não apreciam as músicas que são utilizadas para mostrar a performance dos equipamentos expostos.
E aí vamos ouvir as músicas sugeridas por eles, e percebemos que o nível de qualidade artístico e técnico é medíocre (para ser educado).
O que é assustador é o fato de que essas pessoas acreditam dominarem o assunto sem sequer questionarem se estão aptos a fazê-lo!
Essa visão de que o mundo precisa se adaptar ao seu gosto ou maneira de pensar e agir, é que gera esse grau de distorções e de confusão, na cabeça de muitos jovens que querem apenas desfrutar de ouvir sua música da melhor maneira que puder, dentro de seu orçamento.
Nada pode ser transformado para melhor se não houver profundo conhecimento e respeito pelo que veio antes e continua funcionando!
Esse é o princípio básico da inteligência.
E quando vejo esses jovens ‘reformadores arrogantes’ gritando a plenos pulmões que é preciso fazer a seu modo, me lembro da piada do piloto em seu primeiro voo prático, que a 17 mil pés de altitude aperta o botão de ejetar por não ter lido as instruções do painel, antes de colocar em prática o que aprendeu no simulador.
O fato é que ninguém nasce sabendo, e se queremos ser realmente bons no que fazemos, será preciso ralar muito e, acima de tudo, ter respeito e humildade pelos que nos ensinaram e vieram antes de nós.
Então, meu amigo, a primeira e mais importante lição que podemos levar para toda nossa vida é: Reforme sem Deformar!
Se não sabe a razão da ‘cerca’ estar ali muito antes de você a conhecer, não aja impulsivamente ou arrogantemente!