Christian Pruks
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Equipamentos Vintage que fazem parte da história do Áudio
O termo Vintage tem a ver com ‘qualidade’, mais do que ‘ser antigo’. Vem do francês ‘vendange’, safra, sobre uma safra de um vinho que resultou excepcional. ‘Vintage’ quer dizer algo de qualidade excepcional – apesar de ser muito usado para designar algo antigo.
Nesta série de artigos abordamos equipamentos vintage importantes, e que influenciam audiófilos até hoje!
MADE BY CANON (SIM, A DAS CÂMERAS & IMPRESSORAS)
Em 1988 começou, na Inglaterra, a Canon Audio Ltd, fruto do empenho de Hiro Negishi, que era o engenheiro que chefiava o Centro de Pesquisas & Desenvolvimento da Canon no Reino Unido. Acontece que Negishi-san também era um audiófilo de carteirinha – e cheio de ideias, sendo uma delas a de fazer caixas acústicas com um sistema de difusão, quase que omnidirecional, para assim obter um palco bastante mais largo, e também um ‘sweetspot’ mais largo que permitisse que mais de uma pessoa usufruísse dele. Era o que ele chamava de Wide Imaging Stereo (WIS) – ou ‘Estéreo de Imagem Larga’ – que seria conseguido através de uma superfície lisa que ele chamava de ‘espelho acústico’.
Assim nasceu a divisão de áudio da empresa – após a aprovação do protótipo pelo Conselho da Canon no Japão – desenvolvendo e fabricando caixas no Reino Unido: a Canon Audio Ltd.
Negishi-san, por não ter nenhuma experiência fabricando produtos de áudio, contratou serviços de alguns personagens bastante famosos do cenário audiófilo britânico, como Dennis Ward (Bowers & Wilkins), Stan Curtis (Cambridge Audio) e Alan Boothroyd (um dos fundadores da Meridian Audio, e designer de produtos).
AS CAIXAS ACÚSTICAS CANON S-30
Lançadas pela empresa em 1994, as S-30 são o terceiro produto desenvolvido por essa subsidiária da Canon. Chamadas por um revisor de ‘Capacetes do Darth Vader’, são caixas acústicas com um falante full-range de 5 polegadas – com um ‘whizzer’ (uma mini corneta de papel) no centro do full-range para aumentar a resposta de alta-frequência. Como é um single-driver, não há divisor de frequência, mas a caixa usa uma ‘equalização’ passiva feita com componentes em paralelo, com o intuito de acertar a curva de resposta de frequência da caixa – pois, além de ser uma característica desse tipo de falante não ter a resposta totalmente (ou suficientemente) plana, ainda o espelho acústico abaixo do woofer, tende a dar uma ênfase grande à área média. Ainda assim, esse tipo de correção é uma prática bastante comum em caixas single-driver.
O gabinete é uma redoma de plástico injetado, bastante rígida, que inclui os duplos dutos bass-reflex traseiros, e é revestida internamente com material de absorção acústica. O falante fica, então, dentro da redoma, mas em uma estrutura interna rígida de alumínio, virado para baixo. E a base da caixa funciona como um refletor cônico, um espelho acústico, que faz a dispersão ‘quase’ omnidirecional – em uma solução semelhante à usada por inúmeros fabricantes, em numerosos projetos, diferenciando-se um pouco, aqui e ali, por formato e por tipo de material refletivo.
É o tal WIS – Wide Imaging Stereo – a ‘menina dos olhos’ de Hiro Negishi, e razão de existir da empresa.
MODELOS SEMELHANTES
A primeira caixa da linha, o primeiro produto Wide Imaging Stereo da Canon Audio, foi a S-50, em 1990, com um full-range de Alnico com ‘whizzer’ para melhora dos agudos, porém sendo um driver caro feito no Reino Unido, o resultado foi o preço alto de pouco menos de 400 libras o par, caro para um par de caixas bookshelf no começo da década de 90. Além do gabinete todo da S-50 ser de zinco fundido. Seu sucesso de vendas foi apenas moderado.
A S-50 também originou a S-70, uma forma em ‘torre’ que nada mais era do que uma S-50 acoplada a um pedestal que era um subwoofer.
A caixa seguinte foi a própria S-30, uma caixa um pouco menor, principalmente no espelho acústico que foi regulado para seu novo driver full-range – desenvolvido e fabricado pela Foster (subsidiária da Fostex) no Japão. Seu gabinete usava menos metal e mais plástico ABS injetado, com com uma estrutura interna em ‘L’ onde se prende o driver, trazendo rigidez. Era bastante mais barata, e mais simples, para atingir um público maior: sua etiqueta de preço é de aproximadamente metade da S-50, trazendo a Canon Audio Ltd para um mercado consumidor maior.
O passo seguinte foi um investimento – com bons resultados – em canal central, caixa satélite e subwoofer, para aproveitar esse mercado, que crescia galopantemente na década de 90.
A S-35 veio, então, como uma evolução da S-30, trazendo um tweeter montado concêntrico no lugar do ‘whizzer’, e o mesmo aconteceu com a S-70, que virava S-75. Esse falante teve que ser desenvolvido de maneira a não infringir as patentes dos falantes concêntricos de outra empresa britânica de áudio: a KEF.
Com disputas fortes sobre patentes, e sem realmente chegar a ‘tomar o mercado de assalto’, em 1996 a empresa-mãe japonesa Canon Inc. fechou a subsidiária de áudio sediada na Inglaterra, acabando de vez com as aventuras de Negishi-san no mundo do áudio hi-fi.
COMO TOCAM AS CANON S-30
Tinham médios bonitos, agudos com extensão deficiente, e graves sem extensão (70Hz em +-2.5dB) mas com médios-graves cheios. A vantagem? Tem o tipo interessante de médio muito coerente que as caixas full-range single-driver costumam oferecer.
O problema sempre foi acertar a resposta do falante full, e extrair extensão dos dois lados – e o equalizador passivo interno primava mais por trazer peso no médio-grave. Mas como o ‘whizzer’ não primava por clareza e refinamento nos agudos, foi daí que o tweeter adicionado na S-35 melhorou muito a resposta de agudos da S-30: passando de 18kHz para 22kHz.
Por causa desse espelho, em caixas omni frequentemente há sujeira e embolamento nos médios e agudos, e um pouco de coloração no timbre devido ao reflexo.
As já citadas dispersão lateral, largura de palco – e, consequentemente, a largura do sweetspot – são, obviamente, o ponto forte dessa caixa.
SOBRE A CANON
Só quem nasceu e se criou em uma caverna que não sabe quem é a empresa japonesa Canon: um muito bem sucedido conglomerado especializado em excelentes máquinas fotográficas, scanners e fotos e documentos, copiadoras e impressoras laser, fotográficas e de documentos – entre várias outras atividades relacionadas. Exceto pela Canon Audio LTD, cujos produtos não tinham relação alguma com a área de atuação da empresa…rs…
Um abril musical a todos nós!