Vinil do Mês: ADOLPHE ADAM – GISELLE – KARAJAN (DECCA, 1962)

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Todo mês um LP com boa música & gravação

Gênero: Clássico / Música para Balé

Formatos Interessantes: Vinil Importado

Música para Balé não é um gênero para todos – ainda mais em um mundo onde a apreciação musical pelo gênero clássico, de orquestra e afins, é voltado à obras sinfônicas complexas de um lado, ópera no meio, e música de câmara na outra ponta.

Giselle é um dos balés mais tradicionais do repertório geral, e especialmente do início do período do Romantismo na primeira metade do século 19. Composto pelo francês Adolphe Adam em 1841, Giselle estreou em Paris no mesmo ano, pelas mãos (ou, diria, também pelos pés) do Ballet du Théâtre de l’Académie Royale de Musique, com enorme sucesso.

Capa alternativa

A leitura do maestro austríaco Herbert von Karajan, frente à Orquestra Filarmônica de Viena, é uma interessante e profunda, forte e emocional – e reduzida em seu tempo total – da bastante atmosférica, melódica e apaixonada, e trágica história da camponesa Giselle e do nobre Albrecht. Cenário que não podia ser mais Romântico.

Esse disco foi escolhido para o Vinil do Mês pois é uma surpresa em matéria de qualidade sonora: que é surpreendentemente musical, equilibrada, correta e limpa.

Como sou fã dos trabalhos do regente austríaco Herbert von Karajan, lido há décadas com suas gravações feitas pelo selo alemão Deutsche Grammophon, por quase 4 décadas, com a Orquestra Filarmônica de Berlim. E o problema sempre foi o quanto essas gravações são erráticas – e algumas são literalmente esquisitas. Parte disso, diz a lenda, é porque Karajan interferia profundamente nas técnicas de gravação, muitas vezes em busca de uma sonoridade toda especial para as cordas – tanto que seu interesse tecnológico o levou a dar consultoria na criação (ou, pelo menos, em parte dela) do Compact Disc, o CD, que originalmente era para ter capacidade de 60 minutos de música, estendida a pedido de Karajan para 74 minutos, ostensivamente para caber a Nona Sinfonia de Ludwig van Beethoven na íntegra, em um disco só. Dessa consultoria para o CD – uma colaboração entre a Sony e a Philips – há fotos na mídia de Karajan com o, então, presidente da Sony, Akio Morita, e sua equipe. Tanto que sua gravação de 1981 da Sinfonia Alpina de Richard Strauss, pela DGG, foi um dos primeiros discos que saíram em CD no mundo.

Capa japonesa

O fato é que Karajan gravou 330 discos pela DGG, assim como uma longa série de obras para o selo inglês EMI – a maioria destes últimos com a própria Filarmônica de Berlim. Mas, por um período curto entre as décadas de 50 e 60, ele gravou mais de 30 discos pelo selo inglês Decca, com a Filarmônica de Viena, trazendo uma sonoridade diferente de seu usual – parte por ser uma orquestra diferente (a qual ele dizia ter os melhores sopros e madeiras do mundo) e parte porque lá ele não era o ‘poderoso chefão’ que já moldava o som da orquestra de Berlim.

O resultado? Várias gravações altamente consideradas pelos críticos – e as que são em estéreo (muitas são em mono) estão entre as mais bem gravadas de toda a trajetória desse regente austríaco. E só por isso já merecem ser conferidas!

Karajan com Akio Morita e equipe

O compositor francês Adolphe Charles Adam nasceu em 1803 em Paris, filho de um também compositor, que se opôs à carreira escolhida pelo filho, permitindo apenas que ele estudasse no Conservatório Nacional Superior de Música e Dança de Paris se fosse ter a música como um hobby. Adam estudou órgão, harmônio e tímpano, escrevendo música para casas de vaudeville de Paris, e depois tocando em orquestras. Depois de uma tentativa frustrada de inaugurar seu próprio teatro de ópera, Adam passou a dar aulas de composição no Conservatório de Paris, vindo a falecer em 1856 com apenas 53 anos de idade, deixando uma lista de composições que inclui mais de 50 óperas de vaudevilles, e 14 balés.

Nascido Heribert Ritter von Karajan em Salzburgo, na Áustria, em 1908, foi um dos mais famosos regentes da segunda metade do século 20, época áurea da gravação fonográfica e ímpar em matéria de alcance público mundial da maioria dos artistas, principalmente da música. Foi um personagem controverso de várias maneiras – e ainda é detestado ‘de graça’ por muita gente. Foi um grande maestro? Sem dúvida alguma, um dos maiores de todos os tempos, e até muitos de seus detratores admitem isso. Karajan reinou absoluto frente à Orquestra Filarmônica de Berlim – e com isso moldou absolutamente e irrepreensivelmente sua sonoridade e qualidade instrumental – de 1956, quando sucedeu Wilhelm Furtwängler, até seu falecimento em 1989. Nesse meio tempo, o maestro também regeu extensamente orquestras como a Filarmônica de Viena, o La Scala de Milão, a Orchestre de Paris, entre várias outras.

Giselle encenada pelo The Royal Ballet de Londres

A Orquestra Filarmônica de Viena, fundada em 1842 e ainda em atividade, é uma das mais importantes orquestras do mundo, lideradas por numerosos compositores do primeiro time, assim como local de estreia de várias obras famosas do repertório. Durante o século 20 foi cenário para um extenso repertório de gravações, por vários selos, e foi liderada – como principais ou convidados – por muitos dos grandes nomes da regência, como Erich Leinsdorf, Charles Munch, Bruno Walter, John Barbirolli, Carlo Maria Giulini, Fritz Reiner, Georg Solti, Claudio Abbado, Riccardo Muti, Lorin Maazel, Daniel Barenboim, Valery Gergiev, Leonard Bernstein, Pierre Boulez, Carlos Kleiber, István Kertész e Simon Rattle, entre vários outros.

Para quem é esse disco? Para todos os fãs de música clássica orquestral, música de balé, de grandes orquestras tradicionais como a Filarmônica de Viena, e do grande maestro austríaco Herbert von Karajan. E querem apreciar um disco com excelente qualidade de gravação.

Adolphe Charles Adam

Prensagens boas? Em 1962 saíram algumas prensagens em Mono, mas no mesmo ano – e desde então – todas as prensagens foram em estéreo. Como o objetivo é uma boa prensagem europeia, uma especificamente inglesa, ou mesmo uma americana, essas estão disponíveis nos selos Decca ou London, das décadas de 60 e 70. E a ‘cerejinha do bolo’ é uma prensagem japonesa, London, de 1973. Também existem prensagens da década de 80, claro, mas podem não ser as mais fieis. Não há prensagem moderna, nem em 140g, nem em 180g.

Um outono musical a todos!

Ouça um trecho da obra no YouTube

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