Fernando Andrette
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Ser uma pessoa pública traz o ônus de inúmeras críticas, às vezes procedentes, e às vezes não.
Com o tempo, nos acostumamos e, se tivermos a humildade genuína, podemos tirar muitos proveitos das críticas que nos ajudam a aprimorar nosso conhecimento e corrigir rotas.
No entanto, existem críticas que chamam a atenção por serem desprovidas de sentido da maneira que foram arquitetadas e cobradas.
Darei aqui dois exemplos de críticas recorrentes, que nem o tempo foi capaz de amenizá-las.
A primeira é o tão discutido quesito de nossa Metodologia, o Corpo Harmônico. Desde maio de 1999 que escuto de leitores e distribuidores, que usar esse termo na reprodução eletrônica não procede, pois esse termo sequer existe.
Desde o lançamento de nossa Metodologia, estranhei o grau de virulência utilizado pelos que discordam, e tive a ilusão que com o passar dos anos, todos nossos leitores conseguiriam ouvir na prática o que determinamos como palco sonoro na reprodução eletrônica.
Felizmente, a maioria dos nossos leitores já assimilaram o conceito e já sentiram na pele, o desconforto que é para o nosso cérebro ouvir a reprodução de um contrabaixo tocado com arco, soar do tamanho de uma viola ou um violino. Ou um tímpano parecer um contra surdo!
Nosso cérebro, quando provido de Referências Reais da Música ao Vivo não Amplificada, saberá exatamente o corpo que esses instrumentos em sua realidade tem, quando o escutamos a poucos metros de distância.
E ele, portanto, não irá se enganar ao ouvir instrumentos diminutos soando a sua frente, por mais que outros quesitos da Metodologia estejam bem convincentes.
Esse é um dos maiores entraves de caixas book, principalmente das diminutas, pois as leis da física são inexoráveis nesse aspecto.
E a outra crítica ainda mais contumaz, é a que o Fernando Andrette dá ‘exagerada’ ênfase à importância da Música para o nosso equilíbrio, físico, mental e emocional.
Sinto que essa crítica tem uma informação ’subliminar’, tipo: “ele escreve ou defende isso para sublimar o hi-end”.
Começarei por mais uma vez lembrar a todos meus críticos, que adoraria nessa minha existência saber se haveria diferenças no mapeamento do nosso cérebro, ao ouvir música em um simples fone de ouvido ligado a um smartphone, e um fone hi-end de referência ligado a uma bela fonte.
Então, quando escrevo que gostaria muito de realizar esse experimento, estou concluindo que não tenho essa resposta – portanto não tenho como estar sublimando equipamentos hi-end.
O que realmente defendo é que a música, para o homem do ocidente, pode ter o mesmo efeito que a meditação para o homem oriental.
Escrevo a respeito desse assunto desde 1996, e o faço por experimentação pessoal e com amigos que também tiveram esse mesmo interesse. Muito antes de saírem os primeiros artigos referente ao assunto.
Lembro que ao colocar na apostila do primeiro Curso de Percepção Auditiva, sobre a memória de longo prazo ser armazenada no Hipocampo, os estudos preliminares ainda estavam sendo esboçados e estudados por inúmeros neurocientistas em seminários e experimentos universitários.
Hoje a neurociência avançou muito em relação a esse tema, portanto não se trata mais de ‘possibilidades’ a serem estudadas – e sim de fatos consumados.
As aplicações da música atualmente vão muito além de diminuir dores crônicas, manter ativa a mente de pessoas com demência degenerativa, ou no uso para exercícios repetitivos fisioterápicos.
Os mais recentes estudos nos mostram que até para o tratamento de vícios de dependência química, a música pode ser usada de forma eficaz.
E esse estudo está sendo feito nos Estados Unidos pela conselheira de saúde Hilary Curtis, em que a música está sendo usada como medicamento, e estão conseguindo resultados promissores.
Mas, afinal, como é que a música pode proporcionar efeitos tão benéficos?
Para Hilary Curtis, reagimos a música em termos fisiológicos e emocionais, pois o sistema auditivo é um importante porta de entrada para o complexo vago – a parte do nosso cérebro e do sistema nervoso que controla nossa regulação fisiológica e todo o nosso complexo sistema emocional. Com isso a música tem o poder de regular as frequências cardíacas, a digestão e até diminuir nosso estresse.
Em termos químicos, a reação da música em nosso corpo através da ativação do nervo vago em nosso cérebro, libera acetilcolina, um neurotransmissor conhecido por seu efeito calmante, sobre o corpo.
Outra frente de estudos, realizada no Recovery Unplugged nos Estados Unidos, mostrou que a música é um potente aliado nas terapias para redução do estresse crônico, que não consegue ser tratado com eficácia com medicação.
Estudos com grupos de diferentes idades com depressão crônica, relataram uma redução substancial de depressão e pânico, com uma melhor sensação de bem estar.
O campo a ser explorado de benefício da música em nossas vidas, é tão promissor que até mesmo o oriente começa a estudar seus benefícios.
Já existe uma corrente da escola de Yoga que estuda a “cura pelo som”, para as populações das grandes cidades que vivem em um looping de pensamentos hiperativos, e que têm dificuldade para praticar a meditação.
Para essa geração de estressados, antes de se iniciar a prática diária de meditação, é proposto ouvir música, para conseguir o relaxamento necessário.
O objetivo dessa nova técnica é possibilitar que o praticante interrompa a tagarelice crônica mental, através da música, e possa imergir no estado de silêncio de sua mente.
Os adeptos dessa nova técnica relatam alívio da dor, tensão, diminuição do estresse, calma e melhora do foco.
Enquanto novas técnicas são aplicadas, os estudos sobre a terapia sonora ganham verbas governamentais e de empresas privadas, ajudando a mapear com maior precisão como nosso cérebro reage ao ouvir música.
Está provado que a música ajuda na liberação de neurotransmissores, como a dopamina e a serotonina – os hormônios do prazer e bem estar – permitindo aos praticantes uma profunda sensação de relaxamento físico e mental.
Um outro estudo realizado em Estocolmo, em 2022, revelou que as técnicas de musicoterapia e imersões sonoras, reduziram drasticamente a intensidade de dor, raiva, fadiga e medo.
Outro estudo que se iniciou esse ano, na Alemanha, está mapeando o cérebro de 40 voluntários, comparando os efeitos da meditação silenciosa de 30 minutos com a meditação sonora também de 30 minutos. Querem avaliar se, em termos de imagem, ambas as técnicas são semelhantes ou distintas.
Tenho uma enorme curiosidade em ver os resultados, quando saírem, e certamente se tivesse acesso a essa Metodologia que está sendo usada, também iria propor repetir o mesmo procedimento com 40 voluntários orientais.
Para a neurocientista BethAnn Schacht, diretora da Aurora Counseling Associates, “Se a terapia sonora se tornar parte do seu estilo de vida, semelhante a uma alimentação saudável e exercícios – você deverá ver resultados consistentes”.
Para mim, assim como para muitos dos nossos leitores, nada de novo ou surpreendente foi descrito nesses novos artigos.
Pois todos que escutam música de maneira que não seja como ‘pano de fundo’ para dar um ‘tempero’ apenas a sua rotina, mas sim para poderem ter um momento de plena paz e encontro consigo mesmos, já sabem de todos os benefícios que a música pode trazer às nossas vidas.
Mas, aos críticos vorazes, é sempre bom termos o respaldo de áreas que sequer estão interligadas ao nosso hobby, para poder dar a validade que Ouvir Música realmente merece.
E oxalá eu ainda possa ver nessa minha existência, algum neurocientista usar um sistema hi-end bem ajustado, para me responder se o mapa do cérebro – ao ouvir música reproduzida nesse sistema – se iluminará mais próximo de quando ouvimos música ao vivo.
Adoraria participar desse estudo como voluntário!