Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
Desculpe voltar a esse tema sobre o futuro da Audiofilia, mas ele é tão recorrente nas mídias especializadas, que a todo instante sai algum artigo falando a respeito.
O mais recente que recebi foi publicado no último dia 25 de fevereiro no site Headphonesty. Com uma ilustração da morte segurando a foice e o sugestivo título: “6 Razões pelas quais os audiófilos estão em extinção”.
Eu sempre digo que é preciso separar as coisas, pois o segmento hi-end não está mostrando sinais de estar na UTI ou algo assim. Já o audiófilo, aquele consumidor que iniciou sua jornada no final dos anos sessenta (meu caso e de inúmeros dos nossos leitores), certamente estão vivendo seus últimos atos referentes a esse hobby.
É uma questão de estatística pura e simples!
O que eu percebo nos inúmeros eventos espalhados por todos os continentes, é que em alguns países o número de idosos é predominante – como a Inglaterra e a Itália – e na Alemanha, França e países Escandinavos, a participação é mais equilibrada e com a interessante presença de mulheres sozinhas e acompanhadas.
O mesmo em referência aos maiores eventos da Ásia que, tirando as Filipinas e o Japão (predominância forte de idosos), o restante do continente também é bastante eclético, e até em alguns Hi-End Shows o números de jovens supera os idosos.
Acho que vivemos um momento forte de transição de topologias, e de clara intenção de mudança dos fabricantes para atender a esse novo consumidor.
Que me parece muito mais com o perfil do antigo Melômano do que do Audiófilo que predominou nas últimas quatro décadas do século passado.
Esse novo consumidor quer, acima de tudo, praticidade, simplicidade e equipamentos que ocupem cada vez menos espaço e com grande mobilidade.
No entanto, essas mudanças não irão determinar a morte da audiofilia, pois fatalmente uma parte desse novo consumidor ao ter uma estabilidade financeira mais consistente, certamente migrará para sistemas mais sofisticados, seja por pura questão de status ou pela constatação de que melhores sistemas, ampliam seu prazer auditivo.
O fabricante que souber ler corretamente essa profunda mudança que está ocorrendo, terá algumas vantagens. O que mais me chama a atenção é que nesse momento os chineses parecem estar alguns quarteirões à frente do ocidente, oferecendo produtos cada vez melhores com preços realmente tentadores.
E sabemos que vacilar em um mercado tão dinâmico, pode ser fatal!
E aí tenho certeza de que muitos de vocês devem estar fazendo a pergunta crucial: e o atual Ultra Hi-End, irá sobreviver a essas mudanças?
Certamente que sim, mas será empurrado para um nicho cada vez menor, tornando a briga entre os que sabem fazer o Ultra Hi-end, cada vez mais dramática.
E com um número cada vez menor de audiófilos abonados interessados pelo hobby, temo que muitos fabricantes não sobreviverão!
Agora, afirmar que estamos vivendo o início da extinção da audiofilia, me parece forçar demais.
E lembro a todos que assim pensam, que essa conversa do fim da audiofilia e do hi-end não é de agora. Já ouço, leio e acompanho em fóruns há pelo menos duas décadas.
Eu mesmo ouvi de distribuidores, leitores e fabricantes, que esta publicação não sobreviveria por 20 anos, pois era uma publicação elitista para um país pobre!
E ano que vem completaremos 30 anos!
Firmes e Fortes!
E uma última observação importante sobre a renovação do nosso público: no Workshop do ano passado, mais de 50% dos visitantes tinham menos de 40 anos. E muitos vieram com seus jovens filhos e esposas.
Uma renovação que me deixou bastante feliz e otimista sobre o Futuro da Audiofilia nesse país tão musical.