Editorial: EXTINÇÃO OUTRANSFORMAÇÃO?
março 6, 2025
Espaço Aberto: GRAVAÇÕES (IN)SUGERÍVEIS
abril 6, 2025

Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Uma nova seção mensal – trazendo disparates ditos sobre áudio e audiofilia!

patacoada (substantivo feminino)

  • dito ou ação ilógica; disparate, tolice.
  • gracejo desabusado.

Em cartaz, este mês, os seguintes gracejos desabusados:

“SE VOCÊ NÃO USA CABOS GROSSOS, NÃO QUERO GRAVAR NO SEU ESTÚDIO”

Mais uma de pessoal de pro-áudio… Vejam, o recurso do tolo é o escárnio: se você não entende algo, antes de sair sendo desgradável e ofensivo, sendo tolo, por que não procurar entender? Será que uma infinidade de audiófilos estão errados e essa pessoa estava certa? Ou será que ainda acham que, se não compreenderem imediatamente o pensamento dos outros, eu estou certo e esses outros, errados?

Cansei de ver esse tipo de coisa vinda de pessoal de vintage e pessoal de pro-áudio: os audiófilos só podem ser todos loucos e/ou mal intencionados!

E, claro, o escárnio contra aquilo que uma pessoa não entende – e nem tenta entender – continua nos comentários na Internet, chamando o cabo grosso de engraçado, de parecer uma cobra que acabou de jantar, e dizer que não existe interferência elétrica que precise de tanta blindagem (como se fosse só blindagem).

Um soltou um sarcasmo dizendo que se você não usar um cabo dessa grossura, sua mixagem não obterá a atenção comercial devida – bom, esse obviamente não tem nenhuma preocupação com Qualidade Sonora para a música que faz, e talvez nem precise ter, mas podia entender que muita gente quer ter essa preocupação. Ele ainda arremedou que nenhuma música de sucesso jamais precisou de um cabo desses para ter sido uma música de sucesso. Olha, existem um bocado de álbuns que ganharam ainda mais destaque que o normal por terem sido bem gravados – mas isso no fundo me deixa um pouco triste sobre a desconexão notória entre o mundo da música popular e a ideia de Qualidade Sonora…

Mas a ‘plantação de cerejinha em cima de um bolo do tamanho da Antártida’, ficou por conta de um que disse que não consegue imaginar como alguém pode ser tão estúpido de achar que um cabo grosso assim seria melhor, ou que valeria um preço maior que o dos cabos baratos de prateleira. Esse realmente me lembrou pessoas que queimam livros, pessoas que destroem cultura…

Além de poder ser em boa parte uma blindagem, a grossura dos cabos pode ser também amortecimento mecânico. E, claro, o principal fator: em geral o fiozinho fino não dá bons graves e corpo harmônico – então muitos fabricantes já optaram, há anos e anos, por fazerem cabos com boa grossura. Simples.

“É MAIS IMPORTANTE QUE UMA CAIXA TENHA BOAS MEDIÇÕES OU QUE TOQUE BEM?”

Pergunta feita em um fórum de áudio, que pode desmembrar em mais aspectos do que se espera. Mas a primeira resposta a se dar para este seria: ambos!

A segunda, a que eu daria, seria: tocar bem é mais importante que tudo – simplesmente porque medições não sabem dizer a totalidade da Qualidade Sonora resultante de uma caixa acústica. Porém algumas medições podem ser indicativas de problemas ou de limitações. O fato é que dezenas de fabricantes de caixas acústicas já disseram que o estágio final, de ajuste fino da sonoridade das caixas, é feito com testes auditivos e não com medições – estas últimas são uma ferramenta para o estágio inicial de desenvolvimento do produto.

Julgar um equipamento de som pelas medições – ou mesmo pelas especificações – é como dizer se uma comida é boa ou não lendo a receita!

Aí, nos comentários, aparece um fã de Teste Cego, que diz que “já foi provado” que as pessoas nesses testes escolhem sempre as caixas com boas medições – o que é um pensamento simplista. Lembrei do teste que o Danny Richie da GR Research fez: pegou um par de caixas bookshelf baratas e bem fraquinhas, manteve o divisor de frequência original, mas fez um divisor idêntico usando componentes e fiação de alta qualidade. E, em um demo, em uma audição, era possível alternar entre um divisor e outro com rapidez e facilidade através de um par de chaves. O resultado? O divisor com melhores componentes tinha uma Qualidade Sonora bastante superior! E ambos divisores tinham as mesmas medições! Vejam bem: as mesmas medições!

Esse teste do Danny, é um dos momentos mais importantes da história do áudio, na minha opinião. Deveria ser ensinado constantemente.

Então, a teoria desse fã de Teste Cego aí, vai água abaixo nas Cataratas do Iguaçú!

UM PRODUTOR MUSICAL DECLAROU QUE NÃO OUVE DIFERENÇAS ENTRE DEFINIÇÃO DE CD E ALTA RESOLUÇÃO

Detalhe: é um produtor que vive aplicando várias tecnologias novas em áudio, e que também é responsável por várias remasterizações de discos nas últimas décadas.

Sempre sou lembrado da desconexão que existe entre o pro-áudio e a audiofilia. O pro-áudio detesta o despojamento tecnológico da audiofilia, e detesta um foco em detalhes e questões que chamam de farsas, de enganações, como cabos e afins. Mas pouquíssimos vão lá querer entender, e menos ainda vão lá na audiofilia melhorar a qualidade sonora de suas gravações e mixagens.

Do outro lado, a audiofilia detesta que alguém que lide com música tenha tanto descaso por Qualidade Sonora em uma adoração tecnológica sem perceber se tais tecnologias estão distorcendo ou estragando a dita qualidade. E isso também com desdém para princípios audiófilos, e declarado gosto pela mais profunda alteração possível da sonoridade dos instrumentos durante a captação, mixagem e masterização – o que ajuda muito o resultado final da maioria das gravações a ser sofrível.

Felizmente existem cada vez mais engenheiros de gravação e estúdios preocupados com uma real Qualidade Sonora.
O tal produtor poderia fazer mixagens muito melhores, e perceber melhor as diferenças que os formatos digitais em alta resolução trazem, especialmente, para o estágio de captação, gravação e mixagem, se tivesse interesse em melhores cabos, melhores sistemas de monitoramento, etc, em filosofias e princípios que a audiofilia traz.

Antes que apareça um defensor do estágio atual da tecnologia e setups do meio do pro-áudio, em detrimento do mesmo no meio da audiofilia, basta pegar uma longa série de gravações feitas por profissionais, estúdios e selos que são audiófilos ou que têm preocupações e compreensão audiófila, e ver a diferença – a qual é mais marcante que um luminoso de cassino de Las Vegas.

“Se você quiser três opiniões distintas, pergunte para dois audiófilos!” – Frase do Ano. Vou pôr isso em uma camiseta.

E que maio nos traga ainda mais Patacoadas Divertidas!

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