Heitor Villa-Lobos: nascido no bairro de Laranjeiras, na cidade do Rio de Janeiro, em março de 1887, filho da dona de casa Noêmia Villa-Lobos e do professor Raul Villa-Lobos, um funcionário da Biblioteca Nacional que era músico amador. Começou a aprender música e violoncelo com o pai, aos seis anos de idade. Sua casa era muito musical, recebendo artistas nas noites de sábado que ficavam tocando música até de madrugada, porém sua mãe não queria que ele se tornasse músico, e o jovem Heitor acabou por estudar música e praticar instrumentos escondido. Outra influência forte foi sua tia Fifinha, que lhe tocava o Cravo Bem Temperado de Johann Sebastian Bach – o gosto por Bach depois o faria compor as famosas nove Bachianas Brasileiras. Com a morte do pai deixando problemas financeiros, sua mãe passou a sustentar a família, e Heitor fugiu então de casa, aos 16 anos, para ter a liberdade de tocar com os músicos da noite carioca e os expoentes do choro. Logo passou a tocar, para se sustentar, em pequenas orquestras, em festas e bailes, e em teatros e cinemas. Após viajar pelo Brasil conhecendo o folclore, os instrumentos e as formas musicais regionais – com as quais depois temperaria suas obras – retornou ao Rio de Janeiro, onde foi estudar no Instituto Nacional de Música. Logo abandonou o curso e tornou-se principalmente autodidata. Depois de trabalhar como violoncelista e maestro, estreia como compositor em 1915, com uma série de concertos no Rio de Janeiro. Foi um compositor muito prolífico, chegando a compor, estima-se, perto de mil obras em sua vida. Depois, em 1922, apresentou sua música na famosa Semana de Arte Moderna no Theatro Municipal de São Paulo. Em 1923, passa um ano em Paris promovendo sua música e, depois, em 1927, retorna à capital francesa, onde publicou obras e organizou concertos. Porém, mesmo com a fama adquirida na Europa, as dificuldades financeiras persistiram, e Villa-Lobos retorna ao Brasil onde, como educador, em 1930, começa a trabalhar em um plano de educação musical para a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo e, dois anos depois, no Rio de Janeiro, onde organiza e dirige a Superintendência de Educação Musical e Artística, com o ensino de música nas escolas e a criação do Canto Orfeônico. Depois, com o apoio do presidente Getúlio Vargas, chega a reunir mais de 40 mil estudantes em estádios de futebol em concentrações de Canto Orfeônico. Em 1944, por indicação do amigo maestro Leopold Stokowski, aceita fazer a primeira de várias apresentações de suas obras nos Estados Unidos. Na década de 1940, sua saúde começa a se debilitar, com o aparecimento de uma hérnia e, depois, em 1948, um câncer atacou-lhe a próstata e os rins – porém, Villa-Lobos continuou a compor e promover concertos. Faleceu em 17 de novembro de 1959, aos 71 anos, no Rio de Janeiro, onde está enterrado no Cemitério São João Batista.
LINHA DO TEMPO
1887 – Nasce Heitor Villa-Lobos, no Rio de Janeiro. 1891 – O Carnegie Hall é inaugurado em Nova York. 1905 – Villa-Lobos viaja pelo Nordeste do Brasil, onde tem profundo contato com a música e o folclore brasileiros. 1909 – O compositor russo Igor Stravinsky compõe o balé O Pássaro de Fogo. 1915 – Villa-Lobos estreia como compositor no Rio de Janeiro. 1918 – Falece o compositor francês Claude Debussy, em Paris. Nasce o compositor e maestro Leonard Bernstein, nos EUA. 1922 – Villa-Lobos participa da Semana de Arte Moderna de São Paulo, onde também são apresentadas obras de Claude Debussy e Eric Satie. 1923 – Villa-Lobos viaja para Paris, onde promove apresentações de suas obras. 1930 – Villa-Lobos retorna ao Brasil onde passa a trabalhar na implantação do ensino de música e do Canto Orfeônico no País. 1937 – Pablo Picasso pinta seu famoso quadro Guernica. O compositor alemão Carl Orff compõe Carmina Burana. Falece o compositor norte-americano George Gershwin, em Los Angeles. O compositor russo Dmitri Shostakovich compõe sua Quinta Sinfonia. 1959 – Com a saúde debilitada por um câncer diagnosticado dez anos antes, Villa-Lobos falece no Rio de Janeiro, aos 72 anos.
CURIOSIDADES
De acordo com as últimas normas ortográficas, o nome de pessoas famosas falecidas deve ter a grafia atualizada. O nome ‘Villa’ deveria então ser grafado com um ‘L’ só.
Quando Villa-Lobos tinha seis anos de idade, seu pai Raul começou a dar aulas de música ao filho, que incluíam uma viola adaptada como um minivioloncelo, onde o compositor começou a aprender o instrumento. Depois, aos 11 anos, ainda com o pai, aprendeu também o clarinete. Mais tarde, seu gosto pela música popular brasileira o tornou um virtuose ao violão, ao qual ele se dedicou a aprender escondido da família.
O apelido de família do jovem Villa-Lobos era Tuhú, uma onomatopeia do apito de uma locomotiva de trem.
Após a morte prematura de seu pai, deixando a família com problemas financeiros, a mãe de Villa-Lobos, acostumada a ser dona de casa, passou a engomar as toalhas e os guardanapos da famosa Confeitaria Colombo no Rio de Janeiro, para sustentar seus oito filhos.
Entediado pela música formal, considerada por ele como banal em sua maioria, quando era bem jovem, Villa-Lobos desenvolveu um interesse tanto por Johann Sebastian Bach como por música caipira, duas coisas que ele considerava diferentes e incomuns.
Aos 16 anos Villa-Lobos fugiu de casa, passando a conviver com famosos chorões como Anacleto de Medeiros e Zé do Cavaquinho.
Depois de sua estreia como compositor no Rio de Janeiro em 1915, que recebeu críticas ferrenhas contra as inovações de sua obra, para sobreviver, Villa-Lobos tocava violoncelo em orquestras mambembes de teatros de cinemas do Rio. O grande pianista polonês Arthur Rubinstein, em visita ao Rio, conseguiu encontrar Villa-Lobos tocando no intervalo de filmes mudos no Cine Odeon, mas foi rechaçado pelo compositor, que disse que Rubinstein não iria compreender sua obra. No dia seguinte, porém, Villa-Lobos – apaziguado – foi com outros músicos ao hotel onde estava Rubinstein e tocaram várias de suas composições para ele. Rubinstein acabou sendo um dos maiores divulgadores da obra de Villa-Lobos no mundo.
Em 1919, ao participar de um concerto na Argentina, seu Quarteto de Cordas nº 2 causou um furor que chegou a garantir uma notoriedade mundial a Villa-Lobos.
Durante a Semana de Arte Moderna de 1922, a obra de Villa- Lobos foi vaiada pela plateia do Theatro Municipal de São Paulo, assim como também foi a música de Claude Debussy e de Eric Satie.
Em 1924, Villa-Lobos retornou de seu primeiro período morando em Paris. O poeta Manuel Bandeira saudou-o, dizendo: ‘Villa-Lobos acaba de chegar de Paris. Quem chega de Paris espera-se que chegue cheio de Paris. Entretanto, Villa-Lobos chegou cheio de Villa-Lobos’.
Muito carismático, Villa-Lobos oferecia sua casa como ponto de encontro de artistas e músicos – inclusive para uma famosa feijoada – tanto quando morava no Brasil como quando morou em Paris.
A obra com tempero nacionalista de Villa-Lobos encantou o público francês, mostrando a eles a natureza, a fauna e a flora brasileiras.
Um dos mais famosos episódios da vida de Villa-Lobos ocorreu na França, em 1929, onde ele declarou para a imprensa que havia sido sequestrado por índios canibais no Brasil e só escapou de virar janta por causa de sua música. Uma francesa, então, perguntou-lhe se os brasileiros ainda eram antropófagos, no que ele respondeu não só que sim, mas que também seus pratos preferidos eram criancinhas francesas.
Na década de 1930, Villa-Lobos ajudou na implantação do ensino de música obrigatório no Brasil, desenvolvendo guias práticos e livros para a matéria, centrando no uso do coral e do chamado Canto Orfeônico, que chegou a ter apresentações com mais de 40 mil estudantes cantando em estádios de futebol, chamadas de Exortações Cívicas Villa-Lobos.
Na década de 1930, Villa-Lobos gerou polêmica ao criticar professores de música, emissoras de rádio e o futebol brasileiro.
Quase todas as sinfonias de Villa-Lobos chegaram a ser consideradas como obras sem consistência orquestral.
Quando viajou o Brasil, ainda jovem, Villa-Lobos teve contato com a música caipira, as modas de viola e o choro das ruas do Rio de Janeiro, apaixonando-se pela música brasileira e, depois, incorporando essas linguagens às suas composições – como em seus 14 Choros, entre outras. Diz-se que foi dessas viagens que ele tirou inspiração para o nacionalismo de suas composições, retratando a exuberância da natureza e do povo brasileiro. Porém, alguns estudiosos afirmam que muitos de seus famosos ‘causos’, que teriam sido testemunhados por Villa-Lobos em suas viagens, eram na verdade apropriados por ele de seu cunhado, que havia trabalhado para o Projeto Rondon.
Sempre com a criatividade acesa, Villa-Lobos anotava suas ideias musicais onde estivesse, rabiscando até em guardanapos de restaurantes. Depois transcrevia suas obras, mas não costumava revisá-las.
Villa-Lobos costumava dizer que suas obras são ‘(…) como cartas que escrevi à posteridade, sem esperar resposta’.
Dizia-se que Villa-Lobos conseguia compor, conversar e ouvir rádio ao mesmo tempo, um dom que ele chamava de ‘ouvido profundo’.
Em 1986, Villa-Lobos teve seu rosto impresso nas notas de 500 Cruzados.
Em 1999, Villa-Lobos e a Apoteose Brasileira foi o tema de Carnaval da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel, do Rio de Janeiro.
Villa-Lobos já foi personagem de televisão e cinema em pelo menos três filmes, como em 2000, quando foi interpretado por Antonio Fagundes em Villa-Lobos – Uma Vida de Paixão.
O aniversário de 119 anos de Villa-Lobos, em 5 de março de 2006, virou o Dia da Música Clássica na cidade do Rio de Janeiro, por decreto do então prefeito César Maia. A homenagem foi estendida a todo o Estado do Rio de Janeiro, no ano seguinte, pelo governador Sérgio Cabral.
Em comemoração aos 23 anos da revista, selecionamos essa matéria da edição 198.