Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
Todo audiófilo e melômano teve ou sonhou ter um toca-discos Thorens em algum momento de sua jornada. Talvez muitos não saibam, mas a Thorens é a mais antiga empresa de áudio do mundo, com mais de 130 anos de existência, dando início à sua bela trajetória criando caixas musicais no fim do século 19!
Em 2009, para comemorar seus 125 anos de existência, foi lançado o TD 550, buscando dar à tão significativa data um toca-discos que mostrasse ao mundo o motivo de ser uma das empresas de áudio mais amadas do planeta.
O TD 550 mantém a filosofia da empresa na construção de seus mais emblemáticos produtos, de ser plataformas montadas em cima de molas, mas introduziu ao TD 550 uma série de novas tecnologias, como a base que suspende o braço utilizar a fibra de carbono.
Ele exala beleza e robustez, por todos os lados. Sua placa frontal de metal é toda polida, com discretos botões para ligar e determinar a velocidade. No centro, o logotipo Thorens em azul permite que o usuário ajuste o brilho. Nas costas do TD 550, temos os parafusos para ajuste de velocidade, e as saídas RCA e XLR.
Se o usuário escolher o braço original, o cabo que vem do braço Thorens TP 125 SE já estará ligado aos terminais. Agora, caso você opte pelo uso de outro braço (como foi o nosso caso, para o teste), as coisas se complicam um pouco, pois será preciso um certo manejo e paciência para escolher a saída que deseja. No nosso caso, como o pré de phono da Boulder só possui entrada XLR, optamos por ligar o cabo do braço SME Series V no terminal XLR do Thorens. Mas o André Maltese teve que fazer relativo esforço e se munir de paciência para resolver esta etapa da montagem do braço no TD 550.
O braço que acompanha o TD 550, se o cliente quiser, é fabricado pela empresa Suíça Da Vinci com especificações dos engenheiros da Thorens. E ainda que pareça um braço ‘minimalista’, é feito com enorme esmero e conhecimento. Como o produto enviado para
teste veio sem braço, aos interessados sugiro uma visita ao próprio site da Thorens (www.thorens.com). Seu braço pesando quase 6,5 Kg é feito de alumínio e fornece uma combinação de alto isolamento de massa e suspensão para que o braço possa trilhar o sulco com enorme precisão e conforto.
O acionamento do motor é feito por uma unidade síncrona AC de funcionamento com controle eletrônico de velocidade, totalmente silencioso. Os botões de sensor de toque controlam a função e a seleção de velocidade, e o display LED pode ser ajustado ao gosto do freguês.
A Thorens disponibiliza diversas opções de braços, além do seu próprio braço, como: Rega, SME, Ortofon, e inclui modelos de 9 e 12 polegadas. A montagem do braço é feita através de uma placa suspensa de fibra de carbono de alta densidade.
Os ajustes com o braço escolhido são bem fáceis, já que a altura do subchassis e o nível da plataforma giratória já vem pré ajustada de fábrica.
A Thorens disponibiliza os seguintes acabamentos: folheado de madeira escura Massakar (este foi o acabamento enviado para teste. Nenhuma foto faz jus a beleza deste toca-discos ao vivo!). Ou ainda piano preto brilhante ou cromo polido.
Meu primeiro Thorens, TD 160, comprei em 1980 e fiquei com ele por 8 anos, e depois dei um salto para o TD 124 e, posteriormente, para o TD 125 MKII, ao qual ficou comigo de 1989 a 1997. Comprei este último na Raul Duarte diretamente com o Sr. Cassiano, pai das meninas, e me lembro até hoje de carregar aquele toca-discos na mão por toda a Rua Sete de Abril, até a Avenida Ipiranga, na busca de um táxi que demorou quase 40 minutos! Este veio com um braço SME 3009, estava impecável (tinha sido de um audiófilo muito cuidadoso e que possuía um acervo de mais de 8.000 discos só de música clássica). Foram inúmeras cápsulas utilizadas neste setup: Shure, Denon, Grado, Audio Technica e até uma AudioQuest. Era sem dúvida o elo forte de meu sistema por quase uma década. E realmente tive com este equipamento uma relação de admiração intensa por tantos anos de bons serviços prestados.
De lá para cá, meus contatos com toca-discos Thorens foram bem esporádicos, e quando o Fernando Kawabe me perguntou se queria testar o TD 550, minha resposta teve um misto de interesse e interrogação! Interesse pelo fato de poder rever uma marca tão lendária e que fez parte por muitos e muitos anos de minha vida de melômano. E interrogação por tentar descobrir em que estágio hoje se encontra a Thorens em um mercado tão competitivo e que evoluiu tanto.
Novos materiais, novas ligas, nova maneira de atacar os problemas inerentes ao contato de leitura por atrito, enfim um novo mundo de soluções que novamente colocaram o analógico no topo das referências audiófilas.
O Thorens TD 550 chegou no final de novembro, e foi imediatamente colocado para teste. Mais uma vez, contei com a ajuda inestimável do amigo André Maltese, que passou uma tarde montando, regulando e apreciando o TD 550 em nossa Sala de Testes. Foi uma tarde, diria, de enormes surpresas!
Quando, nas rodas de audiófilos, escuto posições tão antagônicas referentes a melhor forma de atacar o problema do atrito do braço/cápsula no disco, sempre me lembro de uma frase de ouro do meu pai: “ A melhor maneira é sempre aquela que diminui o ruído de fundo, todas as outras estão erradas” – e com esta frase meu pai ganhava adeptos de ambos os lados, os que defendiam as plataformas com mola e os que tinham toca-discos com braços super pesados e dimensionados e ligas de metais rígidos. Ou seja, as duas escolas possuem exemplos consistentes.
Então, o que realmente importa é o conhecimento e a escolha do setup para se extrair o melhor de cada topologia.
Eu já convivi e testei exemplos de ambas as escolas com excelentes resultados, e se minha experiência serve de algum alento para você leitor, eu afirmo: ambas as soluções estão corretas. Desde, é claro, a escolhida atenda às suas expectativas e, como escrevi acima, o setup (braço, cápsula e TD sejam sinérgicos).
No entanto, minhas observações me ajudam a afirmar que os toca-discos suspensos por molas costumam ser mais ‘condescendentes’ com gravações tecnicamente mais limitadas. E quando se percebe esta característica e o usuário trabalha nesta direção na escolha do braço/cápsula, os benefícios de se extrair maior musicalidade daquelas gravações sofríveis é audível!
Sabendo dessas características inerentes a todos os TD da Thorens, minha opção, com o consenso também do Maltese, foi de começar as audições com a cápsula Transfiguration Proteus com o braço SME Series V, cabos de braço Quintessence da Sunrise Lab e cabos de interconexão também Quintessence, depois Sax Soul Ágata II e, por fim, o Zenith 2 da Dynamique Audio (todos XLR). Posteriormente, utilizamos a cápsula Soundsmith Hyperion 2 com o mesmo braço SME Series V.
O que mais aprecio na cápsula Proteus é sua capacidade de extrair o sumo, mas sem jogar nenhum tipo de luz adicional ao que está no disco. Suas texturas são quentes, precisas, seu equilíbrio tonal perfeito, o que permite que as melhores qualidades do analógico (timbre, corpo e conforto auditivo) se sobressaiam sempre. É o tipo de cápsula que os que buscam a musicalidade plena irão imediatamente apreciar sua assinatura sônica. Arrisco dizer que foi a melhor performance possível este casamento Thorens TD-550, braço SME Series V e cápsula Transfiguration Proteus. A música brotava na nossa sala com enorme descongestionamento e leveza, ainda que estivéssemos a reproduzir gravações complexas e com enorme variação dinâmica. Vozes e pequenos grupos ganham uma presença e uma materialização do acontecimento musical que nos leva a esticar as audições muito além do que fazemos em nosso dia a dia.
A velocidade cirurgicamente precisa, permite que o acompanhamento de tempo e ritmo seja absoluto e o silêncio de fundo do TD 550 o coloca no mesmo patamar de toca-discos com o dobro do seu preço.
Era hora de saber o quanto o TD 550 ainda tinha a oferecer com a nossa cápsula de referência, a Hyperion 2. Ganhamos detalhamento e maior inteligibilidade na microdinâmica, mas perdemos aquela magia do relaxamento e conforto tão interessante da Proteus.
Discos limitados tecnicamente tiveram suas ‘vísceras’ expostas à luz do dia (é o preço que se paga, por maior detalhamento e transparência). Mas ficou claro para nós que o TD 550 possui garrafas para vender, às dúzias! E que se o usuário desejar, ele pode subir de patamar em seus upgrades, que o Thorens garante esta resolução!
Queria muito ter à mão um braço de 12 polegadas para levar o Thorens ao seu limite, pois li em alguns fóruns internacionais que o TD 550 se beneficia muito de um braço de 12 polegadas (e qual toca-discos de alto nível não se beneficiaria, me pergunto…).
Mas a grana está tão curta e o dólar tão nas alturas, que este upgrade terá que ser mais uma vez adiado. Mas ainda hei de conseguir instalar um segundo braço em meu Acoustic Signature Storm, e poder desfrutar de um braço de 12 polegadas e poder tirar esta dúvida para vocês leitores (dúvida que também é minha de longa data).
Voltando ao TD 550, este é um toca-discos que recoloca a Thorens em seu devido lugar na história dos grandes toca-discos hi-end. Posição que ocupou por três décadas (dos anos 60 aos anos 80). Se você sempre foi um amante da marca, não hesite em ouvir o TD 550, pois ele é absolutamente fantástico!
Quando estava finalizando este teste (final de janeiro), veio a notícia que ele foi descontinuado pela Thorens. Ficou a dúvida: aborto o teste, ou publicamos? Passei semanas pensando a respeito. E decidi por publicar, afinal o distribuidor ainda têm este modelo para venda e está tentando com a Thorens ver se consegue mais algum.
Confesso que se tratasse de uma empresa sem o longo histórico da Thorens e da qualidade de seus produtos feitos para durar por décadas, teria desistido de publicar. Mas como o produto é excepcional e foi desenvolvido para comemorar os 125 anos da empresa (comemorados em 2009), creio que muito em breve este modelo seja uma peça de colecionadores, que virá a ser extremamente valorizada e disputada no mercado.
Eu mesmo, se tivesse condições financeiras, não teria dúvida em garantir esta preciosidade! Se você busca o Toca-Discos Definitivo, com todos os atributos aqui descritos, não titubeie, pois agora ele passa a ser peça de colecionador.
Um toca-discos que, na minha opinião, jamais deveria sair de linha, pois ele presta com enorme justiça o legado da Thorens em seus 135 anos de vida!
Belamente construído e feito para durar por um século.
Os novos donos da Thorens (agora alemães) acabam de decretar o fim de sua produção.
Sistema de tração | Por correia (belt-drive) |
Motor | AC síncrono |
Velocidades | 33-1/3 rpm / 45 rpm |
Seleção de velocidade | Eletronicamente |
Prato | 12” / 6.2 kg (alumínio cromado) |
Fonte de alimentação | Externa |
Dimensões (L x A x P) | 532 x 183 x 421 mm |
Peso | 22 kg |
TOCA-DISCOS THORENS TD 550 | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 13,0 | |||
Soundstage | 12,0 | |||
Textura | 13,0 | |||
Transientes | 13,0 | |||
Dinâmica | 11,0 | |||
Corpo Harmônico | 12,0 | |||
Organicidade | 12,0 | |||
Musicalidade | 13,0 | |||
Total | 99,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
KW HiFi
(48) 3236.3385
US$ 17.000
(sem o braço)
2 Comments
Simplesmente espetacular, porém ao alcance de poucos.
Magnífico, porém ao alcance de poucos.