Discos do Mês: DOIS JAZZ & UM BLUES
dezembro 15, 2019
Opinião: AMPLIANDO NOSSA PERCEPÇÃO DE EQUILÍBRIO TONAL PARA DOIS INSTRUMENTOS
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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Todo audiófilo e melômano teve ou sonhou ter um toca-discos Thorens em algum momento de sua jornada. Talvez muitos não saibam, mas a Thorens é a mais antiga empresa de áudio do mundo, com mais de 130 anos de existência, dando início à sua bela trajetória criando caixas musicais no fim do século 19!

Em 2009, para comemorar seus 125 anos de existência, foi lançado o TD 550, buscando dar à tão significativa data um toca-discos que mostrasse ao mundo o motivo de ser uma das empresas de áudio mais amadas do planeta.

O TD 550 mantém a filosofia da empresa na construção de seus mais emblemáticos produtos, de ser plataformas montadas em cima de molas, mas introduziu ao TD 550 uma série de novas tecnologias, como a base que suspende o braço utilizar a fibra de carbono.

Ele exala beleza e robustez, por todos os lados. Sua placa frontal de metal é toda polida, com discretos botões para ligar e determinar a velocidade. No centro, o logotipo Thorens em azul permite que o usuário ajuste o brilho. Nas costas do TD 550, temos os parafusos para ajuste de velocidade, e as saídas RCA e XLR.

Se o usuário escolher o braço original, o cabo que vem do braço Thorens TP 125 SE já estará ligado aos terminais. Agora, caso você opte pelo uso de outro braço (como foi o nosso caso, para o teste), as coisas se complicam um pouco, pois será preciso um certo manejo e paciência para escolher a saída que deseja. No nosso caso, como o pré de phono da Boulder só possui entrada XLR, optamos por ligar o cabo do braço SME Series V no terminal XLR do Thorens. Mas o André Maltese teve que fazer relativo esforço e se munir de paciência para resolver esta etapa da montagem do braço no TD 550.

O braço que acompanha o TD 550, se o cliente quiser, é fabricado pela empresa Suíça Da Vinci com especificações dos engenheiros da Thorens. E ainda que pareça um braço ‘minimalista’, é feito com enorme esmero e conhecimento. Como o produto enviado para
teste veio sem braço, aos interessados sugiro uma visita ao próprio site da Thorens (www.thorens.com). Seu braço pesando quase 6,5 Kg é feito de alumínio e fornece uma combinação de alto isolamento de massa e suspensão para que o braço possa trilhar o sulco com enorme precisão e conforto.

O acionamento do motor é feito por uma unidade síncrona AC de funcionamento com controle eletrônico de velocidade, totalmente silencioso. Os botões de sensor de toque controlam a função e a seleção de velocidade, e o display LED pode ser ajustado ao gosto do freguês.

A Thorens disponibiliza diversas opções de braços, além do seu próprio braço, como: Rega, SME, Ortofon, e inclui modelos de 9 e 12 polegadas. A montagem do braço é feita através de uma placa suspensa de fibra de carbono de alta densidade.

Os ajustes com o braço escolhido são bem fáceis, já que a altura do subchassis e o nível da plataforma giratória já vem pré ajustada de fábrica.

A Thorens disponibiliza os seguintes acabamentos: folheado de madeira escura Massakar (este foi o acabamento enviado para teste. Nenhuma foto faz jus a beleza deste toca-discos ao vivo!). Ou ainda piano preto brilhante ou cromo polido.

Meu primeiro Thorens, TD 160, comprei em 1980 e fiquei com ele por 8 anos, e depois dei um salto para o TD 124 e, posteriormente, para o TD 125 MKII, ao qual ficou comigo de 1989 a 1997. Comprei este último na Raul Duarte diretamente com o Sr. Cassiano, pai das meninas, e me lembro até hoje de carregar aquele toca-discos na mão por toda a Rua Sete de Abril, até a Avenida Ipiranga, na busca de um táxi que demorou quase 40 minutos! Este veio com um braço SME 3009, estava impecável (tinha sido de um audiófilo muito cuidadoso e que possuía um acervo de mais de 8.000 discos só de música clássica). Foram inúmeras cápsulas utilizadas neste setup: Shure, Denon, Grado, Audio Technica e até uma AudioQuest. Era sem dúvida o elo forte de meu sistema por quase uma década. E realmente tive com este equipamento uma relação de admiração intensa por tantos anos de bons serviços prestados.

De lá para cá, meus contatos com toca-discos Thorens foram bem esporádicos, e quando o Fernando Kawabe me perguntou se queria testar o TD 550, minha resposta teve um misto de interesse e interrogação! Interesse pelo fato de poder rever uma marca tão lendária e que fez parte por muitos e muitos anos de minha vida de melômano. E interrogação por tentar descobrir em que estágio hoje se encontra a Thorens em um mercado tão competitivo e que evoluiu tanto.

Novos materiais, novas ligas, nova maneira de atacar os problemas inerentes ao contato de leitura por atrito, enfim um novo mundo de soluções que novamente colocaram o analógico no topo das referências audiófilas.

O Thorens TD 550 chegou no final de novembro, e foi imediatamente colocado para teste. Mais uma vez, contei com a ajuda inestimável do amigo André Maltese, que passou uma tarde montando, regulando e apreciando o TD 550 em nossa Sala de Testes. Foi uma tarde, diria, de enormes surpresas!

Quando, nas rodas de audiófilos, escuto posições tão antagônicas referentes a melhor forma de atacar o problema do atrito do braço/cápsula no disco, sempre me lembro de uma frase de ouro do meu pai: “ A melhor maneira é sempre aquela que diminui o ruído de fundo, todas as outras estão erradas” – e com esta frase meu pai ganhava adeptos de ambos os lados, os que defendiam as plataformas com mola e os que tinham toca-discos com braços super pesados e dimensionados e ligas de metais rígidos. Ou seja, as duas escolas possuem exemplos consistentes.

Então, o que realmente importa é o conhecimento e a escolha do setup para se extrair o melhor de cada topologia.

Eu já convivi e testei exemplos de ambas as escolas com excelentes resultados, e se minha experiência serve de algum alento para você leitor, eu afirmo: ambas as soluções estão corretas. Desde, é claro, a escolhida atenda às suas expectativas e, como escrevi acima, o setup (braço, cápsula e TD sejam sinérgicos).

No entanto, minhas observações me ajudam a afirmar que os toca-discos suspensos por molas costumam ser mais ‘condescendentes’ com gravações tecnicamente mais limitadas. E quando se percebe esta característica e o usuário trabalha nesta direção na escolha do braço/cápsula, os benefícios de se extrair maior musicalidade daquelas gravações sofríveis é audível!

Sabendo dessas características inerentes a todos os TD da Thorens, minha opção, com o consenso também do Maltese, foi de começar as audições com a cápsula Transfiguration Proteus com o braço SME Series V, cabos de braço Quintessence da Sunrise Lab e cabos de interconexão também Quintessence, depois Sax Soul Ágata II e, por fim, o Zenith 2 da Dynamique Audio (todos XLR). Posteriormente, utilizamos a cápsula Soundsmith Hyperion 2 com o mesmo braço SME Series V.

O que mais aprecio na cápsula Proteus é sua capacidade de extrair o sumo, mas sem jogar nenhum tipo de luz adicional ao que está no disco. Suas texturas são quentes, precisas, seu equilíbrio tonal perfeito, o que permite que as melhores qualidades do analógico (timbre, corpo e conforto auditivo) se sobressaiam sempre. É o tipo de cápsula que os que buscam a musicalidade plena irão imediatamente apreciar sua assinatura sônica. Arrisco dizer que foi a melhor performance possível este casamento Thorens TD-550, braço SME Series V e cápsula Transfiguration Proteus. A música brotava na nossa sala com enorme descongestionamento e leveza, ainda que estivéssemos a reproduzir gravações complexas e com enorme variação dinâmica. Vozes e pequenos grupos ganham uma presença e uma materialização do acontecimento musical que nos leva a esticar as audições muito além do que fazemos em nosso dia a dia.

A velocidade cirurgicamente precisa, permite que o acompanhamento de tempo e ritmo seja absoluto e o silêncio de fundo do TD 550 o coloca no mesmo patamar de toca-discos com o dobro do seu preço.

Era hora de saber o quanto o TD 550 ainda tinha a oferecer com a nossa cápsula de referência, a Hyperion 2. Ganhamos detalhamento e maior inteligibilidade na microdinâmica, mas perdemos aquela magia do relaxamento e conforto tão interessante da Proteus.

Discos limitados tecnicamente tiveram suas ‘vísceras’ expostas à luz do dia (é o preço que se paga, por maior detalhamento e transparência). Mas ficou claro para nós que o TD 550 possui garrafas para vender, às dúzias! E que se o usuário desejar, ele pode subir de patamar em seus upgrades, que o Thorens garante esta resolução!

Queria muito ter à mão um braço de 12 polegadas para levar o Thorens ao seu limite, pois li em alguns fóruns internacionais que o TD 550 se beneficia muito de um braço de 12 polegadas (e qual toca-discos de alto nível não se beneficiaria, me pergunto…).

Mas a grana está tão curta e o dólar tão nas alturas, que este upgrade terá que ser mais uma vez adiado. Mas ainda hei de conseguir instalar um segundo braço em meu Acoustic Signature Storm, e poder desfrutar de um braço de 12 polegadas e poder tirar esta dúvida para vocês leitores (dúvida que também é minha de longa data).

Voltando ao TD 550, este é um toca-discos que recoloca a Thorens em seu devido lugar na história dos grandes toca-discos hi-end. Posição que ocupou por três décadas (dos anos 60 aos anos 80). Se você sempre foi um amante da marca, não hesite em ouvir o TD 550, pois ele é absolutamente fantástico!

Quando estava finalizando este teste (final de janeiro), veio a notícia que ele foi descontinuado pela Thorens. Ficou a dúvida: aborto o teste, ou publicamos? Passei semanas pensando a respeito. E decidi por publicar, afinal o distribuidor ainda têm este modelo para venda e está tentando com a Thorens ver se consegue mais algum.

Confesso que se tratasse de uma empresa sem o longo histórico da Thorens e da qualidade de seus produtos feitos para durar por décadas, teria desistido de publicar. Mas como o produto é excepcional e foi desenvolvido para comemorar os 125 anos da empresa (comemorados em 2009), creio que muito em breve este modelo seja uma peça de colecionadores, que virá a ser extremamente valorizada e disputada no mercado.

Eu mesmo, se tivesse condições financeiras, não teria dúvida em garantir esta preciosidade! Se você busca o Toca-Discos Definitivo, com todos os atributos aqui descritos, não titubeie, pois agora ele passa a ser peça de colecionador.
Um toca-discos que, na minha opinião, jamais deveria sair de linha, pois ele presta com enorme justiça o legado da Thorens em seus 135 anos de vida!


Pontos positivos

Belamente construído e feito para durar por um século.

Pontos negativos

Os novos donos da Thorens (agora alemães) acabam de decretar o fim de sua produção.


Obs.: Nota feita com a média das duas cápsulas utilizadas (Transfiguration Proteus, e Soundsmith Hyperion 2, com braço SME Series V).
ESPECIFICAÇÕES
Sistema de tração Por correia (belt-drive)
Motor AC síncrono
Velocidades33-1/3 rpm / 45 rpm
Seleção de velocidadeEletronicamente
Prato12” / 6.2 kg (alumínio cromado)
Fonte de alimentaçãoExterna
Dimensões (L x A x P)532 x 183 x 421 mm
Peso 22 kg

TOCA-DISCOS THORENS TD 550
Equilíbrio Tonal 13,0
Soundstage 12,0
Textura 13,0
Transientes 13,0
Dinâmica 11,0
Corpo Harmônico 12,0
Organicidade 12,0
Musicalidade 13,0
Total 99,0
VOCAL
ROCK, POP
JAZZ, BLUES
MÚSICA DE CÂMARA
SINFÔNICA
Teste 2: TOCA-DISCOS THORENS TD 550



KW HiFi
(48) 3236.3385
US$ 17.000
(sem o braço)

2 Comments

  1. Evando Rogério LEITE de Oliveira disse:

    Simplesmente espetacular, porém ao alcance de poucos.

  2. Evando Rogério LEITE de Oliveira disse:

    Magnífico, porém ao alcance de poucos.

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