AUDIOFONE: TESTE 2 – DAC USB e pré de fones de ouvido Luxman DA-100

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

TESTE ORIGINALMENTE PUBLICADO NA EDIÇÃO 200.

O produto analisado neste capítulo é o DAC e pré de fones de ouvido da tradicional empresa japonesa Luxman, o DA-100. Testar DACs para mim não é um problema, de maneira alguma, apesar de haver uma enorme comunidade de audiófilos que abraçaram o áudio por computador como fonte principal ou, pelo menos, fonte digital principal, daí a tremenda importância do DAC – ou seja, aqui já há uma responsabilidade que eu tiro de letra, já que o meu foco é sempre no resultado sonoro final. Além disso, o DAC DA-100 da Luxman é um pré-amplificador de fones de ouvido, que também é a razão de existência de um grande grupo de audiófilos – um grupo que é, portanto, bastante exigente e amplamente debatedor. Meu “pão com manteiga”, meu áudio pessoal, admito, não é com fones de ouvido. Por força do trabalho, ouço música oito horas por dia (tenham pena de mim!), de segunda a sexta-feira. Minha audição de música “extracurricular” é feita, entretanto, através de fones de ouvido, em geral no iPhone – mas sem neuroses, sem muitos upgrades e sem grandes buscas ou tweaks. Então, se vou avaliar a capacidade sonora de um pré de fones de ouvido, vou me focar no resultado final, comparando sua capacidade de reproduzir música com a de um par de caixas acústicas que, por sua vez, na minha metodologia, é sempre comparada, tem sempre como referência o som da música acústica ao vivo, do som real do instrumento.

A Luxman, então Lux Corporation, foi fundada no Japão em 1925 e começou importando rádios e componentes. Logo a empresa decidiu começar a fabricar seus próprios componentes – primeiro para reduzir custos de importação – e também desenvolver suas próprias tecnologias, criando a marca Luxman. Na década de 1970, a Luxman já era mundialmente conhecida no mercado hi-fi pela qualidade de sua amplificação valvulada. Na década de 1980, quem chefiava a empresa era Atsushi Miura que, vendo que o mercado aderia aos componentes produzidos em massa para o mercado consumer, vendeu a Luxman para a Alpine Electronics e fundou a Air Tight, já conhecida dos leitores, dando continuidade ao segmento valvulado e orientado aos audiófilos. Apesar da reputação perfeccionista e audiófila da Luxman, a Alpine entrou com tudo na guerra pelo mercado consumer, o que quase levou a empresa à falência. A Alpine então vendeu a Luxman em 1994, que voltou a dedicar-se ao mercado de áudio de qualidade e aos amplificadores valvulados. Desde 2009, a Luxman pertence ao grupo chinês International Audio Group (IAG), sediado na Inglaterra, que também é proprietário das marcas Wharfedale, Quad e Mission, entre outras.

O DA-100 é um pequeno – porém pesado (2,3 kg) – equipamento, bem acabado e bem construído, de design sóbrio e operação extremamente simples. Com as conexões usuais em seu painel traseiro, tanto para analógico quanto para digital (inclusive com saídas digitais!), a frente do DA-100 possui um display digital que mostra a frequência de amostragem, que é de até 96 kHz no USB assíncrono e até 192 kHz no óptico e no coaxial, o controle de volume do pré de fones de ouvido, a saída para os ditos fones, o seletor de entrada digital e o seletor dos filtros digitais. O sinal que sai dos RCAs atrás é fixo, ou seja, não varia pelo potenciômetro frontal, o qual só controla mesmo o volume da saída de fones de ouvido. A Luxman diz, no manual, que o circuito do pré de fones de ouvido do DA-100 é o mesmo usado no DA-200, um modelo de DAC acima do DA-100 na linha da empresa.

O DA-100 inclui implementações exclusivas da Luxman, como a fiação interna com blindagem em espiral feita especialmente para a empresa, e utiliza em seu circuito o chip de conversão da Burr-Brown (Texas Instruments), chamado PCM-5102. Aparentemente, alguns aficionados já escreveram na internet que esse chip seria para projetos de baixo custo. Bom, isso não faz sentido para mim, já que os chips de DACs hoje em dia não são caros, seus preços são muito próximos – tanto que existem micro systems que usam o mesmo chip de alguns CD players hi-end. E, depois, a implementação de um chip para outro não difere tanto assim – pelo menos não em custo, design de placa ou uso de componentes exóticos. O segredo está no tempero. Os aficionados de DACs / prés de fones de ouvido dão muito valor a qual chip de conversão é usado, mas a verdade é que a implementação do mesmo, o design do circuito, é muito mais importante que o chip em si.

Para o amaciamento e os principais testes usei o transporte do Luxman D-06 ligado na entrada coaxial do DA-100, utilizando cabos da Sunrise Lab – ou seja, os cabos de interconexão que estavam na saída do DA-100 e na saída do D-06 eram iguais, assim como os cabos de força dos dois aparelhos – para nível de comparação isso é perfeito. Uma questão é que os cabos de força e de interconexão usados no DA-100 durante o teste juntos custam quase o preço do DAC. Bom, já vi bastante gente na internet comentando que nem cogitam usar cabos que custam quase o mesmo que o aparelho. Ok, em geral é difícil gastar toda essa grana, mas a título de teste, como é que saberíamos o potencial do DA-100? Como descobriríamos até onde ele chega? E se, ao colocar um par de cabos que custam quase o que o aparelho custa, obtenho um resultado excelente que, para ser batido, precisaria gastar muito mais em tudo? As pessoas não podem ter esse tipo de preconceito. O fato é que o DA-100 responde bem a cabos de maior qualidade, tirando um resultado sonoro muito bom – o que faz do DA-100 uma boa barganha pelo preço.

Uma idiossincrasia no setup e uso do DA-100 é quanto ao filtro digital selecionável no painel. São duas opções de filtragem digital: FIR, que é a padrão, e IIR, que é a número 2. Acontece que a número 2 é tão melhor que a 1, que dá até dó da 1. Na opção 2, na IIR, a ambiência é bem melhor, com corpo harmônico mais uniforme em todo o espectro e timbre dos médios e médios agudos mais correto e agradável. Até as texturas soam um pouco mais bem definidas.

É a primeira vez que vejo, em um player ou DAC que tenha opção de alterar o filtro digital, um filtro secundário (opção 2) que toca melhor que o filtro padrão do aparelho. Para o teste do “pré de fones de ouvido” Luxman DA-100, utilizei-me de dois fones: um intra-auricular da Shure, que normalmente uso com meu iPhone, e um Philips, razoavelmente antigo, grande – daqueles que cobre a orelha inteira, com almofada – o qual eu um dia, descontente com seus graves soltos e sujos, desequilibrados dos agudos, abri-o e modifiquei a cuba com material acústico, amortecendo contra vibrações a carcaça do transdutor, entre outras coisas. Hoje esse fone permite graves bons, fundos, extensos e bem definidos. Para o teste do DA-100 como DAC, usei os amplificadores integrados darTZeel CTH-8550 e Sunrise Lab V8 MkII, além do CD / SACD / transporte / DAC D-06 da Luxman como transporte e referência de DAC. Demais equipamentos utilizados: caixas acústicas: Evolution Acoustics MMMicroOne; e cabos de força, de interconexão, digital e de caixa: Sunrise Lab linha Reference, Transparent Powerlink MM2 e Kubala-Sosna Elation.

COMO TOCA

A primeira impressão do DA-100 é de um som de médios cheios, bonito, bem detalhado, com corpos bem grandes, principalmente em toda área média e alta, dando um prazer de ouvir que lembra comida feita em casa. Aqui não há impressão de anemia sonora em momento algum – dá gosto e prazer de ficar horas ouvindo sem fadiga de agudos ou digitalite, longe disso. O som é bem “analógico”. A audição passa uma boa impressão rítmica e possui boa dinâmica – isso ficou bem claro quando estava ouvindo uma gravação do selo Naxos da ópera Barbeiro de Sevilha, de Rossini, onde se percebe muito bem as diferenças de intencionalidade interpretativa e da emotividade dos vários cantores – mesmo quando cantando junto, em duetos, com ótima microdinâmica. A ambiência, também no caso da ópera, é bem decente, dando muito boa impressão do palco e do teatro, apesar de que eu gostaria que ele tivesse mais profundidade de palco sonoro. O lado negativo aqui é a falta de ar, de arejamento geral, principalmente nos extremos agudos. Os decaimentos são bons, a duração das notas é decente, e as texturas não são sensacionais, mas são bem agradáveis – somente quando usando o filtro digital opção 2, senão elas desaparecem.

Além do equilíbrio tonal, ao qual me parece faltar um pouco de extensão de graves, diria que o principal pecado do DA-100 é a falta de um pouco de visceralidade e vivacidade ao som, caso queira-se ouvir rock ou música instrumental complexa, percussiva ou sinfônica pesada. Uma das sensações frequentes que tenho ao ouvir música com fones de ouvido é que muita coisa soa muito “na cara”. Claro que, pela própria natureza dos fones de ouvido não se obtém um som afastado de você, mas com o pré de fones de ouvido do DA-100 tive a impressão de que as coisas não estavam tão na minha cara, se apresentando com arejamento e ambiência decentes. Os graves soam bem definidos e com bom ataque, sendo que dá para sentir bom impacto de baterias e percussões, com acertado recorte. O volume de som também é muito bom: já ouvi vários prés de fones de ouvido que, para se obter um bom nível sonoro é preciso abrir o volume até o osso – e esse não é o caso do DA-100, onde há uma folga decente no potenciômetro. Comparado com o que estou acostumado a ouvir em fones de ouvido, o DA-100 me pareceu bem correto.

CONCLUSÃO

Em um sistema que tenha um mau equilíbrio tonal e que não possua uma boa folga, o DA-100 pode chegar a soar abafado e sem vivacidade – não entendam isso como uma crítica! É um fato triste para mim que a maioria das fontes digitais de categoria Ouro ou Diamante de entrada que peguei na mão ao longo dos anos soava com tendência a corpos pequenos – principalmente nos graves e médios graves – e agudos abertos, por vezes estridentes, ou seja, várias características que necessitavam ser domadas. Ora, se você pega uma fonte dessas, doma ela com cabos e acessórios e monta o resto do setup em volta dela, sendo que várias fontes digitais de nova geração (como o DA-100) que soam equilibradas, suaves, limpas e cheias, destoarão completamente nesses sistemas. É como construir uma casa plana em um terreno desnivelado e acabar com ela cheia de móveis com duas pernas mais curtas que as outras: você nunca vai achar móveis nos mesmos moldes quando for fazer seu “upgrade” na decoração. Para sua categoria de preço, o DAC DA-100 da Luxman soa correto, musical, com bonitas texturas, com som cheio e arredondado, muito agradável de ouvir, livre de digitalite, de brilhos excessivos e de “realidades maiores que o rei”. É claro que é preciso mudar o filtro digital para a opção 2 e simplesmente esquecer a existência da opção 1, a padrão. Como conversor digital / analógico ele é ótimo para a reprodução de instrumentos acústicos de jazz e de música de câmara, e para vozes em geral.

ESPECIFICAÇÕES
Entradas digitaisCoaxial & óptica (192 kHz) / USB (96 kHz)
Saídas digitaisCoaxial & óptica
Saída analógicaRCA
Saída para fones de ouvido130 mW (600 Ohms) / 80 mW (32 Ohms) / 40 mW (16 Ohms)
Resposta de frequência2 Hz – 60 kHz (+0, -3 dB)
Distorção harmônica total0,004%
Relação sinal / ruído112 dB
Consumo7 W
Dimensões (L x A x P)149 x 70 x 232 mm
Peso2,3 kg
DAC USB E PRÉ DE FONE DE OUVIDO LUXMAN DA-100
Equilíbrio Tonal 9,75
Soundstage 9,75
Textura 10,0
Transientes 10,5
Dinâmica 10,5
Corpo Harmônico 10,0
Organicidade 10,5
Musicalidade 11,0
Total 82,0
VOCAL
ROCK, POP
JAZZ, BLUES
MÚSICA DE CÂMARA
SINFÔNICA
ESTADODAARTE



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