Opinião: O MITO DAS MEDIÇÕES NA QUALIDADE SONORA

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novembro 12, 2021
HI-END PELO MUNDO
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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Com o mundo em constante polarização – tudo está dividido, e a maior parte das vezes entre extremistas – algo que vem acontecendo na audiofilia há décadas praticamente virou bairrismo, e quase uma religião para alguns: estou falando dos Objetivistas e dos Subjetivistas.

Antigamente, se você era Objetivista – alguém que acha que medições e especificações são o mais importante e dizem como o equipamento toca – você sabia que equipamentos de som eram para ser ouvidos e que havia uma questão de gosto, para dizer o mínimo (e é o ‘mínimo’ mesmo!), que teria de haver um pequeno fator Subjetivo no processo todo. E, no mínimo, sabia que audições teriam de corroborar aquilo que você mediu. O Objetivista de hoje mal se dá ao trabalho de pensar em ouvir o aparelho, pois ele criou para si mesmo explicações que ele considera definitivas sobre como tem obrigação de tocar aquilo que ele mediu, sempre de acordo com aquilo que ele mediu. Se esse cara de hoje fosse um meteorologista, ele faria as medições e análises dele e diria que o dia está de sol e céu azul, e que o céu cinza que está fora da janela dele, e a chuva que está lavando as paredes da casa dele, são “efeito placebo”! E ainda chama isso de “ciência”!

A pior de todas as ‘características’ – que eu na verdade considero como o pior de todos males – que afligem muitos audiófilos hoje em dia, é o fato dele não ter os ouvidos educados, e não querer ter. É o mesmo que se recusar a querer distinguir (e, portanto, poder apreciar) a qualidade dos vinhos, mas mesmo assim gastar dinheiro comprando vinhos, ir a eventos de vinhos, pertencer a clubes de vinhos, e até amar sua recém construída adega. Em ambos casos, a pessoa parece achar que ter nascido com um par de ouvidos é o suficiente. Não é. Audiofilia dá trabalho, necessita de dedicação e aprendizagem – principalmente dos ouvidos!

Antigamente, se você era Subjetivista, você achava que o que o importante é o resultado sonoro do equipamento, sistema ou acessório. Mas sabia que medições e especificações tinham algo a dizer para você sobre o desenvolvimento e o funcionamento do aparelho. O subjetivista passava a vida inteira ouvindo a maior quantidade de aparelhos e discos que pudesse, aprendendo alguma coisa sempre com cada um deles, entendendo como eles tocavam, lapidando e educando suas sensibilidades auditivas, mantendo-as ‘azeitadas’ com toda a possibilidades de música acústica ao vivo como Referência Absoluta (sim, amigo, a fruta morango é a Referência Absoluta para absolutamente tudo que se refere à morango) – e aí vinha alguém e desdenhava do ‘ouvido de ouro’ como sempre teve gente para desdenhar de quem tinha conhecimento e habilidades e combinava os dois. Vinha gente com teorias estapafúrdias dizendo que a memória auditiva musical é curta (que já foi provado por ciência de verdade que não é). Muito Subjetivista hoje desdenha de medições e especificações.

E a verdade está, como sempre, nem tanto à terra e nem tanto ao mar.

Medições dizem como um equipamento toca, qualitativamente? Em termos de qualidade de som? A resposta é, infelizmente, um categórico: Não!

Então, para que servem especificações e medições?

Especificações te dão uma boa ideia sobre as limitações e características técnicas e físicas de um equipamento – mas nunca vão dizer como ele toca. Servem também, bastante, para desenvolvedores de equipamentos, na fase de projeto. Especificações técnicas de woofers, médios e tweeters, e até de componentes de divisor de frequência, são absolutamente essenciais para o projeto de qualquer caixa acústica – mas o acerto final do som dessa caixa, não será feito através de especificações.

Claro que, especificações informam o audiófilo um bocado sobre um aparelho. Um exemplo fácil seria sobre a sensibilidade de caixas acústicas: algo perto de 85 dB (baixa), em uma sala tendendo a grande, não vai funcionar legal com um amplificador de baixa potência (como algo de 30 W ou menos). É uma questão de bom senso. Outra: uma caixa bookshelf com resposta de frequência de 60 ou 65 Hz à 20 kHz, é algo que não me agradaria, ficaria faltando algo no grave, e eu preferiria uma book que respondesse 40 Hz (e são poucas) – mas o usual em uma book, para soar decente, é 50 Hz no mínimo.

E as Medições?

Igualmente, em caixas acústicas, são muito úteis no projeto e desenvolvimento inicial delas, e também de placas de amplificadores, fontes de alimentação, placas digitais de conversores e players, placas de prés em geral, etc. Mas o acerto final, o acerto fino, a extração da assinatura sônica e da Qualidade Sonora desses todos, só é feito em audições com equipamentos e gravações de Referência.

Medição alguma que eu conheça vai dizer para o usuário final como um aparelho toca, qual sua assinatura sônica e qual o nível de qualidade sonora e refinamento do mesmo.

As melhores informações que obtive recentemente, na discussão sobre Medições, vieram de vídeos que acompanho do projetista da GR Research, Danny Richie. Ele, sobre seu trabalho de upgrade em divisores de frequência, e mesmo de projetos de suas próprias caixas acústicas, saiu defendendo a extensão da utilidade das medições, e a necessidade de audição das caixas na hora de fazer a regulagem, o acerto, a avaliação. E, claro, bateu de frente com os Objetivistas da Internet – que eu tenho a impressão de que vão à um restaurante com um espectrômetro de massa, pedem um hambúrguer, analisam um pedaço dele, e declaram: “o hambúrguer de vocês é delicioso!”… Esses seriam os Objetivistas de Comida: você gosta de strogonoff? “Quem tem que gostar não sou eu, é o laboratório!”.
O fato é que Richie fez alguns vídeos em seu canal no YouTube, defendendo e explicando cabos, e falando de medições e audições de caixas acústicas e diferentes divisores de frequência.

Quanto aos cabos, ele afirma que os tarados por medições levantam alguns dados medidos de um cabo, e a partir daí querem afirmar que o som do cabo é de um jeito por causa dessas medições, o que não é verdade. Outra é que têm a ideia de que não há diferenças de som entre um cabo e outro – e eu digo que nem com um cotonete enfiado em cada ouvido, pessoas podem achar que todos os cabos soam iguais.

E daí sempre vieram os objetivistas deste mundo ‘explicar’ (e já fizeram isso há muito tempo, na verdade) que cabos com as mesmas características elétricas (indutância, capacitância e resistência) soariam iguais, não importa o preço. Acontece que existem nesses cabos diferenças de material, diferenças na qualidade desse material, diferenças de tipo de isolação, no material e massa dos plugues, na área de contato dos plugues, na solda, no peso da capa, e até na topologia dos mesmos. O resultado? Uma série de características sonoras Qualitativas que as medições não mostram. E como podemos saber, nós usuários finais? Ouvindo – que é a prática mais antiga de todas, quando se trata de música e qualidade sonora. E como sei o que ouvir, como sei perceber as diferenças de qualidade? Praticando, aprendendo, se educando.

Voltando ao Danny Richie, o trabalho mais interessante dele sobre medições tem a ver com divisores de frequência. A GR Research tem dois trabalhos principais: modificar divisores de frequência de caixas existentes, para acertá-las e resolver problemas – algo que é feito tendo como base ‘medições’, mas como finalização as ‘audições’, ambos de maneira transparente. E o segundo trabalho é fabricar sua própria linha de caixas acústicas, desde books até torres enormes dipolares, com subwoofers igualmente dipolares.

Uma das coisas em que Richie se apoia, com décadas de experiência, é na qualidade dos componentes, e no fato de que componentes de qualidade superior – alguns até centenas de vezes mais caros que os que usualmente vêm em caixas acústicas de marcas comerciais – trarão qualidade sonora superior. O que aconteceu? Lá veio um objetivista dizer que isso parece que você está pondo um amortecedor melhor no carro achando que ele irá mais rápido! Dá pra ser mais Quantitativo do que isso?!? Dá para demonstrar menos conhecimento de Qualidade do que essa afirmação?!? A resposta, obviamente, é que o amortecedor de maior qualidade fará o carro ir MELHOR, não mais rápido.

Outro fato é que cada marca ou tipo de componente de uma caixa, toca diferente – mas mede da mesma maneira! E aí o acerto final da caixa, ou de um upgrade da mesma, só pode ser feito ouvindo, até a achar a combinação de componentes que dará melhor resultado para aquela caixa, para aqueles falantes. Claro que Richie tem longa experiência com como soa cada tipo e marca de capacitor, por exemplo, e que ele acha o acerto melhor muito mais rápido do que um leigo, e sem ter que experimentar dezenas de tipos e marcas de capacitores, algo trabalhoso e dispendioso.

Enfim, a parte mais interessante dos vídeos dele, para este artigo, para a questão da Medições e de sua relevância, são dois vídeos de um experimento: um explicando o processo e tirando conclusões, e outro com exemplos sonoros bem gravados com microfones de alta qualidade – estes para a apreciação do consumidor final, do audiófilo, e para que ele perceba e tire suas próprias conclusões.
A ideia foi muito simples. Richie pegou um par de caixas bookshelf Behringer passivas, caixas de pro-áudio, que não têm comprometimento audiófilo algum. E a comparação pode ser ouvida entre a caixa original e ela com o divisor de frequência com componentes de alta qualidade. Isso mesmo! Ele apenas trocou os componentes originais do divisor por outros de alta qualidade, sem alterar em nada o projeto do divisor. O detalhe: ambas caixas tem Medições praticamente idênticas! Mas Qualidade Sonora bem diferente!

Isso para mim invalida totalmente a ideia da importância cega das Medições para o usuário final, e sua relevância sobre a questão da Qualidade Sonora – que é o que realmente importa. Mas cada um deve tirar suas próprias conclusões.

Seguem os links para os dois vídeos. Ouçam com bons fones de ouvido ou, se puderem, com o YouTube ligado à seus sistemas de som.

A explicação do teste
Os resultados sonoros

O exemplo A são as caixas originais, e o exemplo B são as caixas com os novos componentes. Mandei isso para um amigo não audiófilo ouvir, com fones de ouvido decentes, e a observação dele foi muito interessante: “No exemplo A, é como se eu estivesse vendo através de um vidro embaçado, sujo. O exemplo B, parece que eu estou vendo através de um vidro transparente e cristalino”.
Bom novembro, e boas audições!

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