Fernando Andrette
Como já relatei no teste do pré de phono PH-1000, este foi um ano repleto de produtos analógicos, e acredito que daqui para frente será cada vez mais frequente a presença de toca-discos, cápsulas, acessórios, braços e prés de phono.
Mês que vem, ainda teremos o Gold Note PH-10 ‘revisitado’, agora junto com sua fonte externa.
Quando a Mediagear nos disse de seu interesse em testarmos o pré de phono V10 da Hegel, aceitamos prontamente, com um misto de curiosidade e de interesse em ver o patamar com que a Hegel entrega ao mercado seu primeiro pré de phono. Li algumas resenhas e dois testes já publicados lá fora e, pelo visto, a repercussão foi bastante favorável.
Acho que sou um dos revisores de áudio que mais acesso teve aos produtos da Hegel nos últimos cinco anos, pois de cabeça acho que testamos todos os seus integrados, e eu tive o power top de linha, o H30, por mais de três anos, além de testarmos seu pré,
também top de linha, assim como seu DAC. Dessa grande lista só não testamos o CD-Player que, nesta altura, nem sei se ainda continua em linha ou não.
Se me pedissem uma opinião direta sem rodeios sobre os produtos da Hegel, o que me vem à mente com bastante consistência é: produtos com uma assinatura sônica forte e muito bem apresentada. Pois foi exatamente isso que ouvi de todos os seus produtos nos últimos anos: enorme coerência e uma estratégia de mercado muito bem traçada e seguida à risca.
Não se trata de produtos que primam pelo acabamento ‘sublime’ que salta aos olhos, mas possuem recursos e performance que atendem integralmente aos seus consumidores. E digo mais: podem surpreender em termos sonoros aos que não escutam equipamentos de áudio ‘com os olhos’ ou com ‘o quanto custam’.
Outra característica que me chama atenção em seu caráter sônico, é que soam exatamente como foram idealizados, e dificilmente se escuta um setup Hegel com uma sonoridade torta ou com alguma incompatibilidade com caixas acústicas (no caso específico de seus integrados e power).
Agora, o que percebo claramente é que muitos usuários não entendem que eles são exigentes com seus pares de cabos (principalmente de força e caixa), e ‘pecam’ em não extrair dos Hegel todo seu potencial sonoro. Pois se assim o fizessem, se assustariam como sobem de patamar com esses cuidados adicionais. E se o usuário de um Hegel colocar na ponta do lápis o que economizou na eletrônica, e abrir a mão e colocar cabos de melhor qualidade, eu garanto que ele não irá se arrepender. Tenho diversos leitores que seguiram essa cartilha, e estão felizes com o resultado e conseguem provar aos amigos audiófilos que esses cuidados valem muito a pena.
Segundo o fabricante, o V10 foi desenvolvido do zero, já que nunca antes tiveram o interesse de lançar um pré de phono no mercado.
O chassi, ainda que de dimensões reduzidas, foi dividido ao meio em dois compartimentos, separando fisicamente as fontes de alimentação do circuito de amplificação, que é bastante sensível a ruídos de radiofrequência e campos eletromagnéticos. No estágio de entrada foram utilizados transistores JFET discretos de ruído ultra baixo, para as entradas Moving Magnet (MM) e Moving Coil (MC). Como o sinal de MC é ultra baixo, nessa entrada foram utilizados quatro desses transistores conectados em paralelo. As fontes de alimentação de ultra baixo ruído utilizam transistores bipolares discretos para manter o ruído ao mínimo. Segundo a Hegel, o resultado foi uma amplificação extremamente precisa e limpa do sinal que recebe do toca-discos.
Sua fonte externa, de alimentação CA linear, utiliza um transformador E-core de design personalizado, colocado na própria caixa da fonte para eliminar qualquer possibilidade de interferência.
Se o usuário optar por uma cápsula MM, existe a possibilidade de alterar a capacitância entre 100 e 467 pF, e ao usar uma MC, a impedância pode ser definida entre 33 e 550 Ohms, ou fixada em 47 kOhms. Tanto no MM como MC, o ganho pode ser aumentado em 5, 10 ou 12 dB.
Também foi instalado um filtro subsônico para remover o ruído de baixa frequência, e ele se desliga automaticamente depois de um tempo sem receber sinal.
Seus terminais, banhados a ouro, são de boa qualidade, e o V10 dispõe de saídas RCA e balanceada.
Na apresentação do V10 ao mercado, o CEO da Hegel – Bent Holter – disse que o conceito principal era não ‘reinventar a roda’, mas oferecer um pré de phono acima da média dos prés de entrada a um preço moderado, para os fãs da marca e de analógicos.
Em termos de design, o V10 segue o padrão de todos os produtos Hegel: um gabinete sólido, porém simples e discreto, com sua frente ligeiramente convexa, e apenas um interruptor para ligar e desligar ao centro do painel, e um LED discreto em tom acinzentado logo acima do botão.
Na parte traseira temos a entrada do pino da fonte, as entradas RCA MM e MC, as saídas RCA e XLR e, abaixo dos conectores de ambos os lados, os interruptores DIP, numerados de 1 a 10 e que, além de minúsculos (como todos os interruptores DIP), são muito próximos e as letras de cada chave, minúsculas.
O diagrama das chaves está desenhado na tampa debaixo do V10. Então minha sugestão é que, antes de ligar a fonte externa (que também é chatinha pois vem um cabo da fonte que depois de divide em duas pontas para alimentar o canal direito e esquerdo), o usuário veja com atenção o diagrama de ajustes e já monte, antes de ligar, os cabos da fonte e instalar o V10 no rack.
Com os interruptores dip pré-ajustados, é só conectar a entrada desejada para a respectiva cápsula, definir a saída, e ligar o V10.
Utilizamos no teste nosso setup analógico de referência (toca-discos e braço Origin Live) e as cápsulas ZYX Bloon 3, ZYX Ultimate Omega 3 e Hana Red Umami. Ou seja, todas cápsulas MC. Tentei conseguir uma MM, mas desta vez foi impossível. Felizmente as três trabalharam bem com impedância de 300 Ohms, e o maior ganho possível (12 dB).
Como a Hegel não fala em tempo de amaciamento, seguimos a regra de todos os outros produtos deste fabricante e deixamos primeiro 100 horas e, depois, mais 50 horas até perceber que não havia mais alterações.
Desde o momento que foi ligado ao nosso Sistema de Referência, mesmo com o volume aberto do pré de linha Nagra Classic, o silêncio de fundo do Hegel foi excelente. Tive que encostar o ouvido no tweeter de diamante da Estelon XB Diamond MkII (leia Teste 1 nesta edição), para me certificar que o V10 estava realmente conectado ao pré de linha.
Ficou claro, nessa primeira audição, que o caráter sônico tinha algumas características dos produtos da Hegel, mas não todas, pois soou muito mais suave do que estou acostumado a extrair dos integrados e do power H30 – que tão bem conheço.
Seria apenas falta de amaciamento? Foi a pergunta que deixei em aberto no meu caderno de anotações.
O que me chamou muito atenção neste primeiro contato, foi uma suavidade que não está presente em outros produtos da marca, assim que saem da embalagem. Mas, em compensação, o foco e recorte, assim como aquela ‘organização’ do palco entre as caixas, tão comum em toda eletrônica Hegel, já se fez presente.
Ao ouvir gravações dos anos 60, com trios e quartetos de jazz, ficou nítida a facilidade em mostrar as ambiências das salas de gravação, assim como o corpo tão predominante nas gravações deste período.
Antes de encerrar este primeiro contato, escutei duas faixas de um LP da Cassandra Wilson e um lado de um LP do Frank Sinatra, e foi notório como, através dos anos, a captação de vozes foi alterada. Mostrar para um jovem não habituado com vinil, ouvir essas duas vozes e lhe perguntar qual é mais presente e materializada, dará um nó na cabeça dele. A materialização física do Frank Sinatra na sala é imediata, já a Cassandra precisa despistar o cérebro para ele se convencer que ‘quase’ a Cassandra Wilson esteve aqui!
Aí iniciamos o tempo de amaciamento, que precisa ser o tempo todo sentado esperando para virar ou trocar o disco a cada 20 minutos – e neste aspecto o V10 não foi dos mais cruéis, pois a suavidade apresentada em qualquer tipo de gravação permitiu audições de espera de queima sem o incômodo de ficar duro, brilhante ou causar fadiga auditiva. A questão é que fomos nos aproximando das 100 horas, e essa característica de suavidade, não foi sendo alterada. Tanto que, ao colocar gravações que exigiam mais energia e deslocamento de ar, como os discos do grupo Shakti, essa energia não brotou.
Foi aí que me lembrei do teste na Hi-Fi News, em que o revisor também notou essa maior suavidade. Com 150 horas, e sem alteração na suavidade, resolvi mudar de cápsula e defini que a Bloom 3, por ser por natureza uma cápsula mais nervosa, deveria ser o ideal para se tirar essa dúvida. Com certeza houve uma melhora, com os mesmos discos do Shakti ganhando maior deslocamento e energia nas tablas, mas ainda de maneira mais comedida.
Então, a primeira dica que posso dar aos leitores: busquem uma cápsula que tenha como característica um som mais ‘enérgico’, para contrabalançar essa característica que é do V10.
Em termos de equilíbrio tonal, o V10 é muito correto, com ótima extensão em ambas as pontas e uma região média de extrema naturalidade e conforto auditivo.
Sua capacidade de mostrar os detalhes e a microdinâmica certamente é consequência de seu baixíssimo ruído de fundo.
Como já descrevi, em termos de foco, recorte e apresentação de planos ele é uma referência em sua faixa de preço. Os transientes também são corretos, nos permitindo acompanhar sem esforço o tempo e andamento da música em qualquer estilo musical.
O que sua suavidade interfere um pouco é na reprodução de macrodinâmica. Aqui ficou evidente que os crescendo são mais ‘comedidos’ que em outros prés de phono de sua categoria. Eu usei muito como referência de comparação o Gold Note PH-10, que também está sendo reavaliado (e sem sua fonte externa também soa mais suave, e se transforma em outro pré quando alimentado por sua PSU). Ainda assim, o PH-10 possui mais energia e degraus de crescendos mais bem definidos sem a fonte externa.
A apresentação de corpo harmônico do V10 é excelente, assim como a materialização do acontecimento musical (Organicidade) nas excelentes gravações analógicas.
A musicalidade, acredito que parecerá muito mais sedutora ao melômano do que para o audiófilo, e explico. O melômano geralmente deseja que seu pré ‘suavize’ os discos tecnicamente ruins, então neste caso o V10 irá ser uma ferramenta e tanto. Já o audiófilo procura dar aos seus discos bem gravados o ímpeto e a pujança captada na gravação, o que pode frustrar quando o V10 tem essa leve tendência de suavizar.
CONCLUSÃO
É interessante ser testemunha de um fabricante com larga escala em amplificação, e que fez seu nome construindo belos amplificadores ao longo dos anos, se aventurar em um segmento que nunca atuou.
Se tivesse que dar uma nota de zero a dez para essa primeira iniciativa a Hegel, eu daria 7,5 – pelo seu empenho em não fugir da sua filosofia de produtos bem construídos, e voltados ao audiófilo que deseja uma performance de alto nível que caiba em seu bolso.
Acho sinceramente, que as ‘limitações’ desse primeiro projeto são extremamente pontuais, e tenho certeza que em uma versão Mk2, ou em um novo pré de phono mais sofisticado, eles certamente irão estar atentos a tudo que é possível aprimorar.
Ainda que meu conhecimento técnico seja zero, cravaria que um estudo de que uma fonte mais ‘robusta’ pode fazer uma enorme diferença nesta mesma topologia usada no V10, com resultados que deixariam o pré de phono com uma sonoridade mais próxima dos seus integrados H390 e H590.
E também pensaria em pelo menos mais dois ajustes de impedância, para atender a uma mais ampla quantidade de cápsulas MC.
Mas, voltando ao V 10 como ele é neste momento, suas virtudes como silêncio de fundo, equilíbrio tonal, e seu amplo e refinado soundstage, com uma cápsula mais adequada em termos de energia, como é o caso da Bloom 3 da ZYX ou cápsulas semelhantes, já podem dar uma boa amenizada nessa suavidade do V10.
Ou, no caso dos nossos leitores que ‘clamam’ por essa suavidade para poder ouvir seus LPs que estão na prateleira há anos pegando pó, o V10 pode ser essa carta de ‘alforria’ para esses discos.
Nota: 91,5 | |
AVMAG #279 Mediagear (16) 3621.7699 R$ 17.473 |
Fernando Andrette
Quando o Fábio Storelli me perguntou se gostaríamos de testar o novo pré de phono da PS Audio, eu pensei: claro, afinal falam tão bem dele, e a um preço tão competitivo.
E uma semana depois de nossa conversa, recebo uma embalagem de peso razoável, protegendo um pré de phono de boa aparência e proporções, que parecem mais de um pré de linha do que exatamente de um pré de phono.
Desembalado, o que chama a atenção é seu acabamento simples, mas de construção para suportar uma guerra nuclear. Antes de descrever em detalhes os painéis traseiro e frontal do Stellar, gostaria de falar um pouco de quem desenvolveu este produto para a PS Audio. Trata-se do engenheiro Darren Myers, um promissor talento de apenas 30 anos, apaixonado desde a adolescência por vinil.
Myers teve a incumbência de desenvolver um pré sofisticado, com inúmeros recursos, e que tivesse um valor final extremamente competitivo. Interessante lembrar que o primeiro produto da PS Audio, lançado em 1975, também foi um pré de phono.
Para o desafio, Myers utilizou a última geração de semicondutores FET e circuitos analógicos de classe A disponíveis no mercado, para dar ao seu produto um som mais quente, semelhante aos melhores prés de phono de válvula existentes no mercado.
No entanto junto com essa assinatura sônica, a preocupação tanto com o piso de ruído e com a macrodinâmica foram os pontos centrais deste novo projeto.
O que mais me impressionou no Stellar foi sua facilidade de ajustes: tudo via controle remoto, o que é uma enorme novidade em sua faixa de preço, pela comodidade que dá ao ouvinte e pela precisão dos comandos e ajustes. A objeção é que você precisa ter sempre à mão pilhas de reservas para não ficar ‘na mão’, pois o controle remoto é vital!
No Stellar você tem uma gama de recursos, também bastante incomuns na sua faixa de preço, como: a escolha de entradas MM e MC, com três níveis de ganho para MM (44, 50 e 60 dB) e MC (60, 66 e 72 dB) e selecionar no controle remoto a carga mais adequada à sua cápsula como: 60 Ohms, 100 Ohms, 200 Ohms ou 47 kOhms. E se nenhuma dessas opções for a ideal, você pode desativar no controle remoto essas configurações pré estabelecidas e fazer a sua personalizada que varia de 1 Ohm (knobs totalmente fechados para a esquerda) à 1 kOhm (knobs totalmente abertos para a direita). Este par de knobs fica no painel traseiro do Stellar.
Voltando ao controle remoto, você tem à disposição o botão de liga/desliga e o Mute, que acende um LED vermelho no painel, sendo o resto dos leds, azuis para o usuário saber se a entrada ligada é MM ou MC, o ganho e a carga pré selecionada ou a personalizada.
Tudo fácil de decorar em um único dia.
Na parte traseira, temos o cabo de força IEC, o botão de liga/desliga (é interessante o deixar ligado e desligar no controle remoto, para o produto ficar em standby), as entradas MM e MC todas RCA, saídas RCA e XLR, e os knobs para ajuste personalizado e a conexão do terra.
Myers tem uma visão muito ‘pessoal’ de como os prés de phono modernos devem soar, e o que ele evitou. Ele fala, por exemplo, do inconveniente de som superexposto, em que os transientes tendem a acumular muita energia, principalmente nas altas frequências e isso compromete o contraste tonal. Então para evitar este ‘inconveniente’, ele implementou um circuito totalmente discreto que não depende de grandes quantidades de feedback global para reduzir a distorção ou aumentar a largura de banda.
Seus circuitos foram projetados para ser equilibrados tanto no grau de transparência como no equilíbrio tonal correto. Para alcançar este objetivo, Myers projetou um circuito que é acoplado em CC da entrada à saída, e não contém nenhum circuito complementar.
O caminho de sinal curto utiliza MOSFETS e JFETS Toshiba em paralelo, que são diretamente acoplados a amplificadores discretos de baixo feedback e alta largura de banda.
Cada estágio de saída totalmente classe A usa um único dispositivo MOSFET. Com isso, Myers garante ter alcançado seu objetivo de distorção subjetivamente inócua, em comparação com prés de phonos mais ‘sofisticados’.
Quando estávamos amaciando o Stellar, um amigo vendo a facilidade que é comandar o Stellar, me perguntou: E se faltar pilha? Você ainda pode operar o PS Audio, mas aí você terá que recorrer ao manual, pois existem alguns ‘macetes’, como ter que manter o botão de logotipo pressionado por mais de 3 segundos para ativar, por exemplo, a função Mute.
E precisará ler de cabo a rabo as observações de como mudar os comandos. Então a melhor opção é: deixe pilhas de reservas e cuide bem do seu controle remoto, pois ele é o passaporte para dias sublimes de audição.
Li em alguns testes que o Stellar pode sofrer algum tipo de interferência se próximo de alguns outros equipamentos eletrônicos. Em nossa sala, no período de dois meses que esteve em teste, não tivemos nenhum tipo de zumbido ou ruído.
Para isso, seguimos à risca as dicas de distanciamento de cabo de força em relação a outros cabos, fizemos a lição de casa de se certificar que o aterramento estava bem fixado no painel traseiro do Stellar e o deixamos na segunda prateleira do nosso rack analógico, com excelente ventilação. Afinal, o Stellar depois de algumas horas ligado esquenta razoavelmente.
Para o teste, utilizamos os prés de phono Boulder 508 e Luxman EQ-500 (leia teste na edição de abril/2021) como comparação, toca-
discos Acoustic Signature Storm, braço Enterprise da Origin Live de 12 polegadas (leia teste na edição de aniversário em maio/2021), cápsula Hana Umami Red, e cápsula Grado Platinum3. Cabos de força: Sunrise Lab Quintessence, Virtual Reality, e Transparent PowerLink MM2. Cabos de interconexão RCA: Sunrise Lab Quintessence e Virtual Reality. XLR: Dynamique Audio Apex, Sunrise Lab Quintessence e Virtual Reality.
O Stellar é o tipo de produto que você irá se maravilhar de imediato, pois além de todas as suas infinitas possibilidades, é muito bem construído, como já disse algumas linhas acima.
Mas, é preciso paciência com o tempo de amaciamento, pois este será longo. Darei um exemplo: nenhuma cápsula utilizada no teste ficou com o mesmo ajuste inicial. Pois à medida que o amaciamento avança, seu equilíbrio tonal vai cada vez mais refinando e aprumando.
Com a cápsula Hana Umami Red começamos com 1 kOhm e, no final da queima de 300 horas, ela foi ajustada em 500 Ohm. O mesmo com a cápsula Grado. Então, se aceita um conselho importante: nada de chamar os amigos antes do ajuste final de todo o setup analógico. Se seguires à risca esse conselho, o que o Stellar oferece pelo que custa é um verdadeiro assombro!
Não é à toa que todos os revisores que tiveram a oportunidade de testar este pré de phono, ficaram impressionados com sua performance. É redundante dizer todos os meses que o mercado hi-end evoluiu tanto que, agora, todos com paciência em fazer um pé de meia, podem ter num sistema Estado da Arte gastando um décimo do que necessitariam dez anos atrás. Essa mudança é que impulsionará a sobrevida do hi-end no mundo.
Não tenho a menor dúvida. Pois pessoas apaixonadas por música sempre irão existir e com preços mais ‘realistas’ é a porta de entrada para muitos melômanos que achavam o mundo hi-end algo inacessível para eles.
Para muitos, 4 mil dólares em um pré de phono está fora de cogitação, e entendo perfeitamente as críticas que cairão sobre a minha calva cabeça, mas o que estou tentando dizer é que este é um pré que tem qualidades suficientes para ser o pré definitivo por muitos anos, então é o tipo de investimento que precisa ser pensado em longo prazo. E, se diluído em uma década, seu preço se torna irrisório.
Dada esta explicação, vamos aos fatos e observações auditivas que extraímos do Stellar. Em nenhuma hipótese o usuário deste pré de phono se sentirá sem o cinto nas calças, pois ele é compatível com qualquer cápsula existente no mercado – este é um ponto importante, pois sabemos que todo setup analógico de alto nível está sempre realizando upgrades de cápsulas, muito mais do que de braços e toca-discos.
A segunda questão essencial é que sua assinatura sônica o coloca no mesmo nível que muitos prés de phonos custando o dobro.
A terceira observação é que, com seu nível de performance, faremos aquela fatídica pergunta que todo audiófilo intimamente se faz: preciso de mais que isso? A resposta provavelmente será não (desde que você já tenha saído da fase de um compulsivo ‘aparelhófilo’, para a fase de um consciente admirador da música, acima de tudo).
O Stellar diria ser um pré de phono moderno, que abriu mão de um acabamento externo exuberante para focar apenas no que existe debaixo de seu capô. E o resultado tenho certeza agradará à uma grande maioria de ouvintes que deseja ouvir suas gravações de forma correta, mas sem fogos de artifícios ou qualquer pirotecnia, que depois de alguns meses causa enorme estragos em sua coleção de discos ao expurgar grande parte delas por não ter um nível técnico excelente.
Ao contrário, o Stellar é bastante condescendente com gravações tecnicamente limitadas e muito exuberante com gravações boas e excelentes. Então, se você é um audiófilo ‘conciliador’, esta notícia lhe será muito importante.
O projetista realmente cumpriu o que prometeu: um pré de phono tonalmente correto e transparente na medida certa. O que sempre achei de inúmeros prés de phonos que tive, que testei e ouvi, é que a maioria tinha uma assinatura sônica muito relevante, caindo para o lado oposto da neutralidade. Quando isso ocorre, muitos discos fatalmente serão deixados de lado, pois não é possível agregar tudo, não nesta faixa de preço. Então, encontrar prés mais acessíveis com uma assinatura mais próxima da neutralidade é uma notícia animadora. E eles existem – e o Stellar é a prova do que aqui afirmo.
Outra reclamação que escuto frequentemente é que todo setup analógico é muito exigente para se extrair o sumo do sumo. Sim, é verdade, mas hoje temos cápsulas e toca-discos de nível médio para alto, que atendem perfeitamente as necessidades e expectativas de muitos. E, como o, Stellar não custam um caminhão de verdinhas.
Gostei muito do equilíbrio tonal do Stellar, principalmente as duas pontas, onde prés ditos ’intermediários’ geralmente pecam por limitação ou coloração.
A região média possui a transparência na medida certa, não deixando as audições cansativas nunca.
Agora, se o ouvinte gosta de uma ‘coloração’ que torna o som mais ‘palatável’, esqueça o Stellar, pois ele não atende a este requisito.
Ao contrário, ele deixará claro o que todas as gravações têm de melhor e pior, mas o faz com enorme competência e precisão. Aí cabe ao ouvinte dar ao Stellar cápsulas com características que complementem essa ‘qualidade’ (coloquei qualidade entre aspas, pois sei que para muitos este não é um requisito interessante – mas para quem, como eu, preza acima de tudo o melhor equilíbrio tonal possível, é um alento que o Stellar trilhe este caminho).
O soundstage do Stellar é outro ponto alto, pois além de uma enorme folga em termos de planos, tem a qualidade de nos brindar com um foco e recorte de produtos de nível superlativo. Amantes de música clássica irão se deliciar com os planos corretos e o silêncio de fundo, possibilitando um foco, recorte e ambiência maravilhosos!
As texturas ainda continuam sendo o ponto mais alto do analógico, junto com o corpo harmônico. Se o leitor quiser saber o nível de qualidade de textura e corpo harmônico, ele precisa ouvir um setup analógico impecavelmente ajustado – ele terá ideia do nível destes dois quesitos da Metodologia na reprodução eletrônica. Mas, se prepare, pois o amigo certamente ficará uns dias com seu setup digital desligado.
Os transientes são do mesmo nível e precisão em termos de tempo, andamento e ritmo dos mais caros prés de phonos já testados por nós. Aqui o ouvinte fatalmente irá bater o pé no andamento do compasso, sempre!
A macrodinâmica é muito bem resolvida no Stellar, sem ter a mesma energia de nossa referência, o Boulder 508, mas com degraus suficientes para o ouvinte acompanhar os crescendo do forte para o fortíssimo sem cortes repentinos – chamo de cortes repentinos como relapsos auditivos em que temos o início do crescendo e o finale, sendo que o meio parece menos inteligível. Um bom exemplo para este crescendo dinâmico, são tímpanos de orquestra, em que temos um crescendo lento, mas intenso, ou percussões japonesas, com estes exemplos, você perceberá o nível de qualidade de crescendo macrodinâmico de seus sistema. Se embolar o meio, comece por tentar descobrir o elo fraco deste quesito no setup.
Já a micro é de alto nível, graças ao excepcional silêncio de fundo deste pré de phono.
O corpo harmônico é uma questão bem resolvida há décadas no setup analógico, então até prés de entrada bem construídos não têm a menor dificuldade em reproduzir os instrumentos em seu tamanho real. Mas muitos jovens ficam em estado de choque ao ouvir pela primeira vez o tamanho real de um saxofone tenor ou barítono, um piano ou um contrabaixo tocado com arco!
O Stellar, como todos os excelentes prés de phono, graças ao seu silêncio de fundo, nos propicia um corpo harmônico preciso, com o detalhe de um silêncio à sua volta muito realista! Então, descrever a organicidade deste pré é como ‘chover no molhado’!
A materialização do acontecimento musical é plena e nos possibilita ver o que ouvimos de forma quase holográfica.
Posso afirmar que estive a poucos metros de distância de Frank Sinatra, Billie Holiday e de Ella Fitzgerald, como poucas vezes estive antes!
CONCLUSÃO
É difícil imaginar alguém, não se sentindo pleno de que fez a escolha certa ao ouvir este pré de phono (exceto como escrevi os que não abrem mão de uma coloração para ’aquecer’ as gravações).
O Stellar é um excelente pré de phono em todas as direções que olhemos. Claro que você encontrará ‘algo a mais’ em outros prés também Estado da Arte – mas a que preço?
O nosso pré de Referência custa o dobro, e com isso temos maior neutralidade (tão importante para o nosso trabalho), extremos mais refinados e um equilíbrio tonal ainda mais detalhado – mas quantos melômanos e audiófilos estão atrás deste grau de perfeccionismo ou precisam de tanto detalhamento?
Para a esmagadora maioria de nossos leitores que querem apenas achar seu pré de phono Estado da Arte definitivo, que possua compatibilidade com qualquer tipo de cápsula MM e MC do mercado, acho difícil olhar em outra direção. Pois o Stellar foi desenvolvido pensando em atender ao maior número possível de consumidores que querem qualidade, comodidade (pelo controle remoto), performance e custo acessível. E, convenhamos, um pacote com todos esses atributos por este preço, é como moeda rara. É preciso procurar muito para achar.
Se o leitor já possui um sistema Estado da Arte, e deseja dar um toque ‘superlativo’ no seu setup analógico, escute o PS Audio Stellar, e certamente entenderá a razão de tantos testes tão positivos e eloquentes!
Nota: 100,0 | |
AVMAG #271 German Audio contato@germanaudio.com.br R$ 22.990 |
Fernando Andrette
Desde quando li o teste desse pré de phono, escrito pelo saudoso Art Dudley, de 2016, que tive o interesse de ouvir e, se possível testar, o Luxman EQ-500. Foram quase cinco anos de espera até a Alpha Audio & Video conseguir nos emprestá-lo para teste.
Todo revisor de áudio com muitos anos de estrada desenvolve um “feeling” a respeito de determinados produtos. É como se acendesse uma luz na mente para ficarmos alertas. Outras vezes, conseguimos decifrar nas entrelinhas determinadas características descritas pelo revisor que nos mostram o caminho das pedras.
Todo bom produto, possui evidências de seu potencial – já nos excelentes, essas evidências se multiplicam em sua construção, acabamento, topologia e, claro, em sua performance. O Luxman EQ-500 pertence a essa categoria de produtos excelentes e que, por qualquer ângulo de análise, sempre irá se sobressair na multidão.
Prés de phonos existem às centenas no mercado hi-end, desde os minimalistas custando algumas centenas de dólares, aos superlativos na casa de muitos milhares de dólares. Sempre admirei os que conseguem se sobressair na zona intermediária, que eu mentalmente estipulei que começa nos 3 mil dólares e vai até os 10 mil dólares. Nesta faixa a briga é realmente de cachorro grande, e as opções são muitas, o que leva a um esforço enorme para separar os bons e os excelentes.
Nós, em nossos 25 anos de vida, cansamos de apresentar produtos semelhantes na mesma faixa de preço e recursos, em que um é um Diamante e o outro um Estado da Arte. Aí cabe ao leitor confiar em nossa Metodologia e idoneidade, e fazer sua escolha.
Minha experiência diz que prés de phono são muito semelhantes aos prés de linha: são muito importantes para serem negligenciados, pois farão a diferença entre o ótimo e o excelente. E um setup analógico, para que extraia todo seu enorme potencial, precisa que tudo esteja integralmente alinhado e caminhando na mesma direção.
Se você me perguntar o que é mais seguro e mais fácil: montar um setup digital ou um analógico? Sem nenhuma sombra de dúvida um setup digital é muito mais fácil.
Quando leio esses artigos “da moda”, dando dicas de toca-discos baratos para você ouvir vinil, fico sempre me perguntando se quem escreveu realmente fez o que está indicando ao seu leitor, se ele foi realmente lá e escutou aqueles toca-discos de entrada (até 1000 dólares) com suas cápsulas MM (de até 150 dólares), ligado a um pré de phono (até 200 dólares) e realmente se convenceu que o sistema analógico indicado é a maravilha das maravilhas!
Minha pesquisa com os nossos leitores, indica o contrário, que a frustração foi muito maior do que a satisfação. Pois lhes prometeram mundos e fundos, e o que estes setups de entradas analógicos lhes mostraram foi apenas o “final” da fila.
Então se queres realmente montar um sistema de alto nível analógico, prepare-se, pois o investimento é bem mais em cima. Mas eu garanto que, se fizeres a lição de casa, o resultado será pleno! Não estou falando em iniciar essa jornada com um Luxman EQ-500, mas que será preciso ao menos um pré de phono de 82 pontos para cima (Estado da Arte), assim como o toca-discos e a cápsula também neste patamar de nota – e é para isso que serve a Metodologia criada por nós.
Abaixo de 82 pontos você terá um setup analógico decente, mas não capaz de extrair o melhor dos seus discos. E meu amigo, existem LPs que podem nos levar a repensar toda a maneira como sempre ouvimos a alta fidelidade, acredite!
O que estou tentando explicar é que um setup analógico de 90 pontos, por exemplo, afinado e correto, sempre lhe dará mais prazer que um sistema de 90 pontos digital. Este que é o grande barato do analógico: dar muito mais prazer por menos investimento!
Agora imagine o que um sistema analógico de 100 pontos ou mais pode fazer por você?
Já imaginou?
Certamente que não – se você jamais ouviu um setup analógico de 100 pontos correto. No entanto, no dia que ouvir, eu lhe garanto, meu amigo, que sua referência auditiva mudará de patamar instantaneamente!
E o Luxman EQ-500 vai um pouco além desses 100 pontos, fazendo com que ele seja o primeiro pré de phono por nós testado abaixo de 10 mil dólares, que tenha alcançado essa pontuação.
Sua construção segue o padrão desta empresa de áudio com 95 anos de existência, e que encantou gerações e mais gerações de audiófilos e melômanos mundo afora. É impossível olhar um Luxman e não se encantar com seu acabamento e formas, que conseguem o equilíbrio perfeito de produtos que parecem atemporais.
Pois eram perfeitos nos anos setenta e continuam sendo em pleno século 21!
O EQ-500, segundo o fabricante, é o melhor pré de phono já construído pela empresa. Tudo foi pensado e planejado muito antes do primeiro protótipo sair da bancada e ir para avaliação auditiva.
Olhando para ele, muitos pensarão se tratar de um pré de linha, e não um pré de phono, com tantos botões e possibilidades de ajustes. Além dos dois VUs no lado esquerdo do painel. São oito interruptores, com três rotativos e seis chaves de ajustes.
Nas costas temos três entradas, três saídas, três terminais de aterramento, e a tomada IEC. Seu belo gabinete de aço é revestido por uma placa frontal de alumínio, e todo o gabinete é pintado com textura cinza clara (padrão de todos os produtos Luxman).
Olhando internamente a construção, é um primor de uso de espaço e limpeza. São várias repartições blindadas para minimizar a interferência de Rádio Frequência. O maior e mais vistoso espaço é lacrado, e todo envolto em folha de cobre laqueado perfurado, com aberturas de ventilação, e fixadas à tampa por quatro parafusos também de cobre, para a proteção do circuito de áudio.
Na placa principal de áudio temos 19 relés. Eles são utilizados para cuidar das variadas funções de comutação existentes no painel para o ajuste de cápsulas: capacitância e indutância e o tipo de cápsula (MM ou MC).
Em outra repartição, ficam os dois transformadores, cada um para as cápsulas MC de baixa e alta saída, e sua fiação tem apenas uma única bobina primária e secundária. Os capacitores são todos M-Caps, e a maioria dos resistores no circuito são de filme metálico.
Debaixo do gabinete de cobre estão as válvulas de triodo duplo por canal, para ganho e buffer. O ganho adicional para as cápsulas MC é fornecido por esses dois transformadores, que são enrolados em núcleos Permalloy. Então, quando o usuário escolhe o uso de uma cápsula MC, um dos transformadores recebe o sinal e entrega para as válvulas ECC83/12AX7, configuradas em push-pull.
Depois o sinal vai para uma válvula triodo duplo também ECC83/12AU7, configurada como um seguidor de catodo, e em seguida para um transformador de saída proprietário, também enrolado em um núcleo Permalloy.
Quando você conecta o cabo de braço do toca-discos em qualquer das três entradas RCA, o usuário escolhe no botão do painel frontal o tipo de cápsula que está instalada no toca-discos (MC de saída baixa, ou MC de saída alta, ou MM). Ao determinar o tipo de sinal da cápsula, o sinal segue para um dos dois transformadores de entrada, ou direto para o primeiro estágio de ganho (no caso de uma cápsula MM).
Esta chave (MC Low, MC High, MM) também define a impedância de entrada de 2,5 ohms para MC Low, 40 ohms para MC High e, qualquer opção entre 30K a 100K ohms para MM, ajustável também no painel frontal (impedância) que, ao “meio-dia”, crava 47K (o que usei nas duas cápsulas MM que utilizei no teste).
O botão de ganho de 36, 38 ou 40 dB mostra o desempenho quando definido para cápsula MM.
Outro “plus” deste pré de phono, para os amantes de cápsulas MM (o que não é meu caso), é um botão de capacitância que permite selecionar seis opções entre 0 a 300pF.
Outros recursos muito úteis são: uma chave de mono e estéreo, outra para a alternância de fase: para selecionar entre um sinal de saída Normal e um cuja polaridade foi invertida.
Além das chaves Low Cut e High Cut (para filtro de ruído das baixas frequências e as altas, respectivamente), outra para o uso da saída RCA ou XLR, e a última que causa enormes discussões nos fóruns de apaixonados por sistemas analógicos: a chave de
desmagnetização de cápsulas. Esta, ao ser acionada, corta automaticamente o sinal até que acabe a desmagnetização.
Quem tem o EQ-500 diz que este desmagnetizador é muito útil, e outros dizem que não escutam nenhum benefício audível.
No meu caso, apenas em uma cápsula senti ligeira melhora no silêncio de fundo, depois de desmagnetizada. Nas outras cápsulas não ouvi absolutamente nenhuma alteração, nem para melhor nem para pior.
Mas aos donos deste EQ-500, duvido que não sejam tentados de tempos em tempos a darem uma desmagnetizada em suas cápsulas. Afinal, se mal não faz…
O pré de phono chegou lacrado, o que nos levou a uma queima de 120 horas antes de o colocarmos em teste. E esse período de amaciamento eu diria ser fundamental para se ter a ideia do enorme potencial deste Luxman, que começa a nos mostrar todas suas qualidades a partir de 50 horas de amaciamento.
Para o teste utilizamos três toca-discos: Acoustic Signature Storm, Timeless Ceres, e Thorens 418. Cápsulas: Hana Umami Red, Hana EH, Grado Platinum 3, Ortofon 2M Bronze. Cabos de interconexão entre o Luxman e o Nagra Pré Classic: Sunrise Lab Quintessence, Dynamique Audio Zenith 2 (XLR) e Apex (XLR). Cabos de força: Sunrise Lab Quintessence, Transparent Powerlink MM2 e
G5 Reference.
Para fechar a nota do Luxman, tínhamos ainda conosco o PS Audio Stellar (leia teste na edição de março 2021), e o nosso Boulder 508 (já vendido, mas que ainda estava conosco no momento do fechamento da nota).
Ou seja, estamos falando de um pré de phono de 100 pontos (PS Audio), e um de 102 pontos (Boulder 508), ambos Estado da Arte Superlativo. E, no entanto, as diferenças em todos os quesitos do Luxman EQ-500 foram contundentes!
O equilíbrio tonal tem aquele grau de refinamento que primeiro nos prega um susto e, depois, nos faz coçar a cabeça com tamanha retidão, coerência e refinamento. Os agudos possuem maior extensão, delicadeza, naturalidade e corpo, que só havíamos presenciado no CH Precision P1 (que custa 5 vezes mais que o Luxman). A região média é de uma correção tímbrica que nos faz desejar ouvir por horas a fio discos que estão conosco há 20, 30, 40 anos!
Pois você descobre nuances, planos e detalhes que antes nunca foram tão bem definidos (a não ser no P1, que é totalmente um “ponto fora da curva”, e custa um caminhão de “verdinhas”.
Os graves têm algumas nuances que, à princípio, nos confundem, pois não são nem secas nem coloridas. É um meio termo, que demoramos a compreender que se trata da composição da fundamental e dos harmônicos, que faz soar com menos peso que os dois outros prés de estado sólido (Boulder e PS Audio), mas que nos permite ouvir a tensão do couro do bumbo da bateria, ou a afinação do contra surdo.
Mas foi ouvindo a obra para percussão e orquestra de Bartók que me dei conta do grau de precisão e requinte dos graves em nos mostrar o ataque, a definição e extensão do tímpano soando e seu decaimento preciso.
E depois, ao escutar o LP Music From Siesta, de Miles Davis e Marcus Miller, e observar a quantidade de detalhes no sax barítono e como havia mais informação e corpo harmônico.
São graves que primam muito mais pelos detalhes do que pelo impacto e deslocamento de ar.
O soundstage do EQ-500, ainda que não seja melhor que o Boulder 508 em termos de planos, possui a vantagem de possuir um foco e recorte mais preciso. A diferença neste quesito é sutil, mas o suficiente para, em vozes à capela, termos uma imagem mais focada e detalhada do posicionamento exato de cada voz.
As texturas se beneficiam muito do exuberante equilíbrio tonal, com isso os instrumentos acústicos e vozes transbordam em emoção e sedução. É um verdadeiro deleite escutar quartetos de cordas neste Luxman!
Os transientes, assim como os graves, levam algum tempo para se acostumar, pois ainda que precisos ao extremo, tudo neste Luxman soa mais relaxado, ou melhor: com mais folga (como no CH Precision P1).
Com isso, as passagens com variação de ritmos e andamento ficam mais fáceis de acompanhar e entender o que está a acontecer.
A microdinâmica é um dos pontos altos deste pré de phono, pois a quantidade de informação extraída do sulco, assusta e encanta.
Tudo que sobreviveu à prensagem estará ao alcance da audição. Mas não pensem que este grau de apresentação de microdinâmica tire a concentração do todo – pelo contrário, só enobrece o acontecimento musical por inteiro, fazendo o ouvinte guardar em sua memória auditiva o que conseguimos extrair de produtos acima de 103 pontos (mais folga, mais prazer, e nenhuma fadiga auditiva).
A macrodinâmica, novamente levará muitos a se questionarem se não falta mais energia, tão evidente nos melhores prés de estado sólido. Eu diria que depende de como você gosta de ouvir os fortíssimos. Se sua apreciação é pelo susto, seguido da volta à normalidade, o EQ-500 será frustrante neste aspecto.
Mas, se o seu interesse é em chegar ao “ápice” do fortíssimo acompanhando todos os detalhes e não se perdendo nos sustos, você irá amar o EQ-500, creia! Este é o aspecto mais importante que separa os pirotécnicos dos precisos.
Se ainda está atrás do som pirotécnico, recheado de fogos de artifício, que o tira da concentração do acontecimento musical, produtos como este Luxman jamais irão te atender.
Porém, se a fase de mostrar “efeitos sonoros” aos amigos já foi superada, os produtos que primam pela correção, naturalidade e precisão em não perder a autoridade e a rédea do acontecimento musical, será um bálsamo sonoro.
E depois de ouvir essa assinatura sonora, se tens como referência a música não amplificada ao vivo, o senhor estará na porta do paraíso! Pois irá reconhecer que essa folga é uma aliada e não um vilão.
O corpo harmônico dos prés de phono valvulados usualmente é um dos pontos fortes desse tipo de topologia. Aqui no EQ-500, o amante de topologias valvuladas tradicionais se sentirá órfão, pois o Luxman não soa como a “velha guarda” de valvulados vintage. O corpo é o mais correto que a captação e a mixagem mantiveram, e nada mais.
Lembro de ouvir em um Hi-End Show um solo de sax tenor em um setup analógico com um pré valvulado, em que o sax tinha o tamanho de uma estante de 3 metros de largura! E a voz de Billie Holiday, o tamanho da boca de um hipopótamo! E muitos saíram da apresentação extasiados, como se tivessem finalmente constatado como o analógico realmente tem muito mais corpo harmônico que o digital!
Menos, senhores, menos. Também não podemos exagerar, pois nosso cérebro ao ouvir “tamanha” discrepância do gravado para o real, jamais irá se enganar e achar que aquilo é reprodução ao vivo (organicidade).
O Luxman tem a preocupação em não turbinar nada, seja nos graves, macrodinâmica ou corpo harmônico. O que foi prensado nos sulcos será reproduzido, o mais fiel possível.
A materialização física é excelente, mesmo com discos não tão tecnicamente bem gravados, como o US do músico Peter Gabriel. Aqui, novamente, só escutei esse disco mais “materializado” no CH Precision P1!
Quase 50 mil reais em um pré de phono é muito dinheiro. Mas, se pensarmos em tantos prés Estado da Arte Superlativo que custam mais de 100 mil, ou próximo a este valor (sem falar dos que custam lá fora acima de 30 mil dólares), o EQ-500 pela sua performance está ainda na parte de cima dos prés até 10 mil dólares, competindo com prés que custam de duas a três vezes este valor.
O que posso dizer é que ele tem tudo para ser o pré definitivo da esmagadora maioria dos audiófilos que possuem um sistema de 100 a 104 pontos, e se dividirmos seu custo por um período de vida de uma década, esse custo é absolutamente plausível.
Recursos para qualquer tipo de cápsula existente no mercado, possibilidade de uso de mais de um braço ou toca-discos, ajustes perfeitos, construção impecável e um acabamento de encher os olhos. Este é o pré top de linha da Luxman, uma empresa com 95 anos de vida que, por décadas, se mantém no topo da pirâmide.
Se buscas tradição, confiabilidade, e performance estupenda, eis o seu pré de phono!
Nota: 104,0 | |
AVMAG #272 Alpha Áudio e Vídeo (11) 3255.2849 R$ 42.900 |
Fernando Andrette
Este foi o ano em que tivemos o privilégio de testar excelentes prés de phono. E, como o ano ainda não acabou, nesta edição publicamos agora o PH-1000 da Gold Note, em novembro o V10 da Hegel e, na última edição, revisitamos o PH-10 da Gold Note, agora com a sua fonte externa.
O que posso garantir é que todos os nossos leitores, que estão realizando ajustes em seus setups analógicos, certamente acharão excelentes opções no leque de prés de phono testados em 2021. O que só corrobora para mostrar o quanto o mercado analógico está aquecido e como as opções são cada vez melhores.
Como escrevi no Editorial deste mês, não me lembro em nossos 25 anos ter tido duas edições dentro do mesmo ano, dedicadas exclusivamente a produtos analógicos, o que para um ano tão atípico e cheio de dificuldades é mais um exemplo de como a volta do vinil não se trata de uma ‘bolha’ ou modismo passageiro.
E para os que nos acompanham há muitos anos, sabem perfeitamente que sempre defendemos a mídia analógica ainda como a melhor referência existente para se extrair todos os benefícios de um setup high-end.
Meu interesse em testar o PH-1000 da Gold Note foi grande desde que li a respeito do seu lançamento no final do ano passado, e só aumentou depois que testamos o integrado IS-1000 (leia teste na edição 276) e vimos o quanto a linha 1000 deste fabricante é superior a linha 10.
Mas, também tem um segundo motivo: eu gostei muito do PH-10 (leia teste na edição 249), o que só ajudou a aumentar a expectativa na chegada deste pré de phono.
A Gold Note o descreve em seu site como o melhor Phono Stage que já criaram, pois foi projetado para ser inovador em inúmeras frentes, em relação à concorrência. O conceito Gold Note, à medida que vou conhecendo seus produtos, fica cada vez mais claro. Eles buscam seduzir o consumidor oferecendo um pacote de serviços que possibilite ao usuário compor seu sistema com a menor quantidade de equipamentos.
No caso do PH-1000, esta possibilidade também é real, já que existe a opção de uma versão com pré de linha analógico, o que permite que ele seja ligado direto ao power e às caixas, além de um amplificador de fones de ouvido (nas duas versões disponíveis).
Para o teste, o produto enviado foi sem a opção do pré analógico de linha. O fabricante descreve o PH-1000 como uma topologia minimalista, para que o sinal trafegue o mais rápido possível da entrada à saída, feita com componentes premium, e uma ‘incrível’ biblioteca de curvas de equalização (RIAA), com mais de 40 curvas. E, se não bastasse, 4 curvas de equalização personalizadas, ajustáveis manualmente e depois memorizadas, para uso quando o usuário desejar.
Com isso, o consumidor pode tocar qualquer registro analógico gravado nos últimos 80 anos da maneira correta como foi concebida a master.
Eu ouvi excelentes prés de phono nesses meus 30 anos de revista, mas jamais tive à disposição um arsenal tão abrangente de curvas de equalização para extrair de cada LP o melhor de sua performance! Falarei mais adiante em detalhes a respeito deste grande diferencial.
Outra enorme versatilidade são seus 14 níveis de ganho e 12 configurações de carga para MC, além de 7 opções de capacitância para as cápsulas MM – sendo capaz de compatibilizar até mesmo as cápsulas mais exóticas e difíceis existentes.
O mais legal é que você pode fazer todos os ajustes ouvindo seus discos, pois ao definir um novo, ele automaticamente corta o sinal por alguns segundos antes de o liberar com o novo ajuste. Seja de ganho, capacitância, impedância ou na busca da melhor equalização para aquele LP. Segundo o fabricante, todos esses ajustes são feitos integralmente no domínio analógico, ainda que a interface de comando seja digital.
Outra grande sacada é que todo PH-1000 pode ter atualizado seu firmware personalizado, via computador ou Internet.
O PH-1000 oferece 3 entradas independentes, duas RCA e uma XLR, e mais duas entradas (uma RCA e outra XLR), que podem ser usadas para cargas externas ou na opção com pré de linha analógico, para se conectar algum outro equipamento.
O PH-1000 também oferece a opção de ‘alta’ ou ‘baixa’ impedância para o amplificador de fone, modo estéreo ou mono com inversão de fase, e filtro subsônico de Rumble.
As principais curvas de equalização RIAA são: Capitol, Columbia/CBS, Deutsche Grammophon, Decca London USA, Decca London UK, e Decca Mono 78 RPM. Além de Epic, HMV, Mercury, RCA Victor, Philips, Elektra, L’Oiseau-Lyre, Parlophone, ECM, Telarc, etc.
Ao contrário da série 10, a linha 1000 tem dimensões generosas e precisará de espaço no rack para se acomodar. Sua construção é impecável e ainda que tenha um design limpo, não passa despercebido de maneira alguma.
No painel frontal temos, à direita, a sua tela de LCD e, à esquerda, o botão SKC (Single Knob Control) em que o usuário terá todos os comandos à sua disposição. Ainda que o produto venha com o controle remoto ‘universal’ da marca, eu sinceramente já me acostumei tanto em usar o knob, que sequer utilizo o controle.
Seu amplificador de fone de ouvido está entre os melhores que já escutei, e se mostrou à altura de nossa referência, que é o do nosso pré de linha Nagra Classic.
E, por fim, o PH-1000, caso o audiófilo deseje extrair o sumo do sumo, pode ainda acoplá-lo a uma fonte externa (são dois modelos, sendo a mais simples a PSU-1000 ou a mais sofisticada PSU-1250). Ou ainda pode por um estágio de saída à válvula (Tube 1006 ou Tube 1012).
Depois de testar o DS-10 e ver o ‘salto’ que este DAC deu com a fonte externa, e o PH-10 com sua fonte externa dedicada, que descreverei em detalhes na edição de dezembro próximo, fico imaginando o que poderíamos em termos de performance galgar com qualquer uma das fontes externas. Infelizmente, essa resposta deverá ficar para um futuro que espero que seja próximo.
Para o teste, utilizamos o toca-discos Origin Live Sovereign, com cápsula ZYX Ultimate Omega G (leia Teste 2 nesta edição), e cabos Quintessence Aniversário da Sunrise Lab, e Apex da Dynamique Audio. Cabos de força no Gold Note: Transparent Audio Reference G5, Sunrise Lab Quintessence Aniversário, e Transparent PowerLink MM2.
O PH-1000 foi ligado no nosso Sistema de Referência, e as caixas utilizadas foram: Wilson Audio Sasha DAW e Estelon XB Diamond MKII (leia teste edição de novembro próximo).
Ter a incumbência de substituir o pré de phono Classic da Nagra, que conquistou a maior nota já dada na revista para um produto hi-end, não é uma tarefa fácil, e nos fazer voltar a realidade ‘nua e crua’ do dia a dia sem aquela ‘exuberância’ sonora, fez com que os primeiros dias de queima do PH-1000 não fossem dos melhores.
Pois junto com ele chegaram, na mesma semana, a cápsula da ZYX e o clamp da Origin Live (leia Teste 4 nesta edição), o que bagunçou completamente o nosso coreto de referência, pois tudo soou profundamente ‘diferente’ do que estamos acostumados a extrair dos nossos LPs de referência.
Sei, por experiência, que a maioria das cápsulas MC no período de amaciamento costumam preferir cargas de impedância mais altas do que se sentirão à vontade depois de amaciadas. O mesmo ocorre quando você amacia simultaneamente um pré de phono. Ambos parecem necessitar de cargas maiores e ganhos menores. Então, a cada dia, a mesma gravação tende a soar diferente e, muitas vezes, hora faltando algo, hora excedendo algo.
E em analógico não tem como: é preciso sentar e ouvir.
Então, nesses casos assim, recorro ao meu kit de gravações exigentes, como: órgão de tubo, naipe de metais, quartetos de cordas e suporto cada um desses altos e baixos como se fossem crises humanas de humor. São ossos do ofício meu amigo!
O mais bisonho é que a sensação que tinha é que a cápsula seguia em uma direção e o PH-1000 em outra, sem nunca se encontrarem e estabelecerem uma comunicação. E, para deixar tudo ainda mais dramático, foi a cápsula que demorou mais tempo de amaciamento (80 horas). Felizmente quando este período de tortura passou, tudo começou a se encaixar de maneira magistral, permitindo mudar a impedância de 1000 ohms para 470 ohms, e quando o PH-1000 se estabilizou (120 horas) diminuir o ganho de mais 6 dB para 3 dB, e depois para zero dB.
E, quando o PH-1000 se estabilizou em 180 horas, reduzi pela última vez a impedância para 220 ohms e eis que fez-se a luz! Plena, radiante e incandescente!
Separei para o teste 80 LPs (10 para cada quesito). Claro que busquei exemplos da maior quantidade de selos existentes em minha discoteca. Pois minha curiosidade e interesse em ouvir como se comportariam as curvas de equalização do PH-1000, era enorme. Pois as vezes que vi esse recurso em outros excelentes pré de phono, nunca achei tão relevante assim. Exceto no Nagra, nas gravações da Decca principalmente – mas no Nagra tudo soa absolutamente divino, então é a exceção e não a regra.
O primeiro LP escolhido foi do selo Columbia – Blues In Orbit, do Duke Ellington, gravação de 1959 que conheço desde quando deixei de usar fraldas, rs. Dizia meu pai que era só escutar as primeiras notas de Three J’s Blues que eu já começava a bater palmas e balançar na poltrona em que ele me punha enquanto ia para a bancada consertar algo. Então a escolha não poderia ser mais assertiva. Ouvi o lado A todo com o RIAA padrão, e depois troquei para o Columbia. Foi uma das experiências mais gratificantes que experimentei – não espere mudanças radicais pois não é o caso, mas o que muda e o quanto esses detalhes são alterados é o que conta. Melhor foco, melhor arejamento, texturas mais reais e um equilíbrio tonal muito, mas muito mais natural. Repeti o mesmo com o lado B, porém logo depois da segunda faixa mudei para a curva de equalização da Columbia e não comparei mais.
O segundo LP também foi uma gravação que conheço desde muito cedo, e era uma das preferidas do meu pai. Sabia que ele estava de alto astral, assim que ouvia a introdução de Falling In Love With Love, na voz incomparável de Frank Sinatra, gravado pelo selo Capitol. Ouvi apenas essa faixa inicial no RIAA padrão, e depois o LP todo na curva de equalização Capitol. Neste disco as maiores diferenças foram na própria voz do Sinatra, e nos metais, que ficaram mais corretos e perderam um brilho que acredito ser da cópia que tenho (uma versão remasterizada dos anos 80).
À medida que o PH-1000 e a cápsula ZYX foram se encaixando, as audições começaram a varar a madrugada (ainda que tenha que estar rigorosamente em pé todos os dias para levar minha filha à escola, agora que as aulas voltaram a ser presenciais), pois o grau de conforto auditivo foi se tornando cada vez mais prazeroso e convidativo à explorar todas as gravações escolhidas para o teste.
E o difícil foi escutar apenas a faixa escolhida para se avaliar os quesitos da Metodologia.
O terceiro LP para avaliação de transientes escolhido, foi a faixa 1 do lado A de A Handful Of Beauty do grupo Shakti com o John McLaughlin. Quem conhece este disco sabe do peso que são as entradas das tablas, e o duo entre o violão de 12 cordas e o violino. Novamente, usar a curva Columbia tirou um brilho nas altas, encorpou o violino e o violão, e deixou as tablas com um peso e energia contagiantes.
Mas eu queria explorar muito mais este interessante recurso, e lá fui eu ouvir uma gravação Philips. E o LP escolhido só poderia ser Friday Night In San Francisco com o trio de virtuoses do violão: Al Di Meola, Paco de Lucia e o John McLaughlin. Meu amigo, o grande feito aqui da curva de equalização Philips é deixar os transientes ainda mais precisos, o que nos permite acompanhar sem esforço algum cada nota e variação dinâmica executada por esses três virtuoses. E um detalhe me chamou demais a atenção: o grau de intencionalidade e técnica do Paco de Lucia de tocar com as unhas, ao contrário do Meola e do McLaughlin que usam palheta. Na curva Philips este detalhe fica absolutamente mais inteligível e verossímil, nos fazendo ver o que estamos ouvindo!
Antes de me dar por satisfeito, ainda peguei dois LPs do selo RCA Victor, um importado do pianista Bill Evans – Explorations, e um nacional, Cabeça de Nego do João Bosco.
Queria ver se a prensagem nacional se beneficiaria deste recurso do PH-1000. Para minha decepção, não se beneficiou quase nada, ao contrário do Bill Evans que teve melhoras na textura, corpo, transientes e arejamento.
Aí pesquisando as opções de RIAA me deparei com uma opção Neumann que o gráfico que aparece na tela LCD é diferente da padrão RIAA mas não tão distinta. Que em diversas gravações nacionais dos selos Som da Gente, Odeon, Som Livre se mostraram bem interessantes. Elevando ainda mais a versatilidade deste recurso, para quem tem uma infinidade de discos importados e nacionais, como é o meu caso.
Porém, nas prensagens nacionais, do final dos anos 70 em diante, a curva padrão RIAA sempre soou melhor.
O PH-1000, à medida que o teste avançou, foi se mostrando uma ferramenta de trabalho indispensável ao mesmo tempo que sua performance foi ganhando consistência.
Seu equilíbrio tonal é exemplar, pois quando corretamente ajustado para se extrair o melhor do setup braço/cápsula e cabo de braço, o que ouvimos é uma sonoridade exuberante em termos de extensão, correção e naturalidade. E se ele não tem aquele ‘algo a mais’ do Nagra, seu custo é a metade do pré de phono suíço!
E, sem ouvir o Nagra lado a lado, jamais o audiófilo bem rodado achará que falta algo no PH-1000. E arrisco dizer que este ‘fio de cabelo’ que os separa, talvez não exista se o usuário ligar o PH-1000 com sua fonte dedicada externa (espero algum dia poder tirar essa dúvida e compartilhar com todos vocês).
Em termos de soundstage, o PH-1000 é uma referência absoluta, com foco, recorte e arejamento no mesmo patamar que os melhores Estado da Arte que testei, tive e ouvi em eventos. Os solistas são apresentados com aquele silêncio a sua volta, permitindo audições magníficas e com um conforto auditivo pleno.
As texturas foram outro ponto alto do conjunto toca-discos e braço/cápsula, pois tudo convergiu para apresentações ricas em intencionalidade, e apresentação da qualidade dos instrumentos e dos músicos. Foi a segunda melhor apresentação do disco The Köln Concert do pianista Keith Jarrett que já escutei em minha vida, com detalhes e intencionalidades que só havia escutado no Nagra. Claro que, provavelmente, se tivesse a oportunidade de escutar novamente o Nagra com essa cápsula ZYX, a diferença do pré de phono Classic para o restante de seus concorrentes poderia ser ampliada ainda mais.
Porém, com este setup que realizei o teste do PH-1000, posso garantir que dentro de minha realidade é o mais próximo que consegui chegar em termos de musicalidade, naturalidade e precisão do modelo suíço. E adoro esses desafios de buscar soluções mais em conta para tentar me aproximar dos que se encontram no Olimpo, longe da minha realidade.
A capacidade do PH-1000 em nos apresentar o ritmo, andamento e tempo, é simplesmente fabulosa. Já citei dois dos discos quando falei das curvas de RIAA, o Shakti e o Friday Night in San Francisco, mas tiveram mais uma dezena de exemplos em que foi possível observar o quanto os engenheiros da Gold Note se esmeraram para alcançar essa reprodução de transientes. Mesmo com o RIAA padrão!
Falar em dinâmica (principalmente a macro) em analógico é chover no molhado. Pois ainda é de longe a melhor referência hi-end, junto com o gravador de rolo, para se apresentar macrodinâmica. O PH-1000 irá lhe dar grandes sustos meu amigo, principalmente se você não está habituado a ouvir muito analógico. Mas, graças ao seu incrível silêncio de fundo, sua apresentação de microdinâmica é também impecável!
Corpo harmônico, só ouvindo algumas gravações de big bands ou grupos menores, em gravações dos anos 50, 60, 70 dos selos Prestige, Verve, Decca, Blue Note, para se ter noção do tamanho real dos instrumentos de sopro – tudo gravado com apenas três microfones. Depois de escutar essas gravações, você entenderá perfeitamente o que eu quero dizer com ‘pizza brotinho’ ao me referir ao tamanho dos instrumentos reproduzidos digitalmente.
Você tem o desejo de passar o resto de seus dias com seus músicos, cantores/as preferidos em sua sala de audição? A melhor maneira de conquistar essa ‘façanha’ é montar um setup de alto nível analógico com este PH-1000. É um investimento garantido de altíssima performance para o resto de seus dias!
E, por fim, mostrar a musicalidade deste pré de phono é uma das características mais fáceis de se realizar. Basta pedir para o sujeito sentar, escolher um disco que o emocione e baixar a agulha no disco. Assim como convidei vários amigos queridos para escutarem o Nagra, fiz o mesmo com o PH-1000. Todos ficaram maravilhados com sua assinatura sônica e grau de refinamento, e as apresentações sempre fecharam com a diferença das curvas de equalização. Todos, unanimemente, achavam que eu estava mudando a impedância da cápsula e alterando o ganho. Quando descobriram do que se tratava, ficaram ainda mais empolgados. Pois não é todo dia que podemos ter um pré de phono que, além de ter uma alta performance, oferece um recurso tão importante para se extrair o sumo do sumo de cada gravação.
CONCLUSÃO
Este é sem dúvida um pré de phono muito diferenciado que reúne o que há de mais moderno em termos de topologia, com diversos recursos de ajuste e um grau de requinte que não existia nesta faixa de preço.
Sua versatilidade e capacidade de atualizações via internet, o colocam em um degrau à parte. E mesmo que você só esteja interessado na performance, este é um pré que atende a todo audiófilo, do mais exigente ao mais perfeccionista.
Me encantou tanto, e se mostrou uma ferramenta de trabalho tão importante, que não pude abrir mão dele.
Se estou satisfeito? Coloque satisfeito nisso! Me sinto realizado em poder atender a revista e ao melômano que sempre fui.
Nota: 109,0 | |
AVMAG #278 German Áudio contato@germanaudio.com.br R$ 99.792 |
Fernando Andrette
Minha filha tinha apenas cinco anos quando um dia entrou na cozinha, me viu cozinhando, e perguntou: “Como deve ser o cheiro da Lua?”. Achei que ela estava apenas em um momento lúdico que toda criança tem, e respondi que não fazia a menor ideia. Ela aceitou prontamente a resposta, deu de ombros, e voltou para suas bonecas esparramadas no chão da sala.
Eu nem percebi que ali provavelmente estava o início de uma de suas maiores virtudes, que hoje lhe é tão peculiar: um olfato extremamente apurado! Minha filha é capaz, aos 12 anos, de chegar da escola, e da sala reconhecer o que estou cozinhando para o almoço com tamanha precisão que algumas vezes chega a me assustar. Vou dar apenas alguns exemplos: ela sabe pelo cheiro se o feijão cozinhando na panela de pressão é feijão preto, carioca, bolinha ou branco. Sabe dizer se entre as verduras diárias o pai fez: quiabo, brócolis ninja ou o tradicional, cenoura, quiabo, vagem, beterraba, milho, batata, etc. E até se o arroz é o branco ou o integral!
E quando lembro de que nesta mesma idade dela, meu filho já sabia com total segurança o que queria ser e traçava com enorme autoridade o que precisava para chegar aos seus objetivos, percebo que essa determinação em ambos eu também tinha. E por mais que meu pai me incentivasse a dar asas a minha imaginação e senso apurado de audição, eu no meu íntimo era uma criança cheia de dúvidas e mais perguntas do que respostas. E como era difícil arrancar respostas de meu pai, eu trilhei caminhos muito solitários, para montar meu mosaico de dúvidas.
Lembro que uma de minhas primeiras perguntas sem respostas foi ao ouvir que palmas em diferentes setups dos clientes do meu pai, soavam muito diferentes. E fiquei meses antes de me abrir com meu pai, achando que só eu percebia essas grandes diferenças. E eu era tão jovem e inocente que custei a ligar que se as palmas soavam diferentes em cada sistema, a música também deveria sofrer este mesmo efeito. E quando percebi chocado que sim, foi que criei coragem e contei minha descoberta ao meu pai. Claro que suas expressões me indicavam que ele também observava o mesmo, mas ele queria que eu descobrisse sozinho que todo sistema tem uma assinatura sônica, e que esta assinatura irá determinar, como na brincadeira de adivinhação, o quanto está “quente” ou “frio”.
Quando entendi o que meu pai estava me sugerindo, criamos até um código, em que eu perguntava antes de chegarmos à casa do cliente se aquele sistema estava quente ou frio. Ainda ecoa em minha mente as três opções ditas por ele: frioooooo, frio e quente. Ele talvez não tivesse ideia do quanto essa brincadeira me ajudou a treinar minha audição e como foi importante para eu aprimorar o foco de atenção e o ouvir atentamente.
E nunca esqueço a única vez que um sistema que ouvimos estava tão bem ajustado que eu, ao entrar no carro, falei para ele: “que quente este sistema, hein?”. Rimos alguns minutos antes dele dar a partida, e saímos dali.
Minha formação musical é tão eclética que, mesmo para mim, fica difícil entender como ainda o “feeling” é uma ferramenta tão presente e se mostra tão eficaz ainda hoje. Este feeling nunca me abandonou e muitas vezes me ajuda a dar respostas que, no nível da compreensão e do bom senso, ou da experiência, não obtenho. Por exemplo: quantas vezes tive a certeza de determinado resultado, muito antes de fazer a experiência. Recentemente comentei com um amigo que determinada experiência que ele estava pensando em fazer no seu sistema não daria o resultado esperado, pois passaria do ponto. Algo que, depois de dito, eu mesmo me perguntei de onde teria tirado aquela informação se jamais havia escutado este setup tocando junto?
E ainda que sem resposta à minha pergunta, meu amigo duas semanas depois me relatou, em uma longa mensagem, que realmente a experiência havia dado errado, e que tudo havia passado do ponto! Só respondi que o lado positivo é que ele havia economizado uma boa grana, pois o equipamento que ele almejava comprar custa na casa dos 10 mil dólares!
Sempre fiz essas associações de sinergia de equipamentos desde minha infância, pois tinha facilidade de ver os sistemas tortos e logo entendi o motivo deles soarem tortos. E ao meu pai, eu dizia claramente a razão de não dar certo. E à medida que ele foi me escutando e indicando aos seus clientes as soluções, ele percebeu que seu filho tinha um “dom” para ajustar sistemas. Algo que aperfeiçoei na adolescência, para ajudar os amigos e seus pais, até romper com este universo aos 19 anos.
Foram anos afastado, e quando meu pai tentava puxar o assunto, eu sempre me esquivava. O máximo que eu o deixava falar era sobre os falecimentos de seus clientes mais antigos e que ele tinha um grande apreço. Mas falar sobre equipamentos, eu não lhe dava nenhuma chance. Aí o amigo leitor pode se dar conta da sua alegria quando eu lhe disse que estava indo trabalhar na revista Audio News, em 1991!
Me desculpe essa longa introdução antes de entrar no assunto devido – o teste do pré de phono da Nagra – mas se o leitor tiver um pouquinho mais de paciência chegarei lá!
O fato é que, 30 anos depois, trabalhando como revisor crítico de áudio, meu feeling se tornou tão acentuado que consigo prever determinados resultados, muito antes de tal equipamento vir para teste. E por mais que você me julgue “arrogante”, garanto que nunca errei em minhas previsões a respeito de produtos que irão mudar o rumo ou reescrever a história em seu segmento.
Meus críticos certamente acharão que estou falando apenas o óbvio, afinal um fabricante de alto nível de equipamentos de áudio hi-end, que faz com maestria prés de linha, DACs e powers, que dificuldade terá em fazer um excelente pré de phono de alguns milhares de dólares?
E eu tenho que lembrar que não é bem assim. Pois conheço dezenas de excelentes fabricantes de excelentes powers, em que seus prés de linha ou DACs não se encontram no mesmo patamar, e quando estamos falando de prés de phono, o caldo entorna um bocadinho mais. Pois sem a cultura do vinil nas veias, pode ser um excelente produto de bancada, com medições fantásticas, mas sonicamente um produto sem alma!
Cansei de ouvir, testar e abortar prés de phono assim.
E como os excepcionais prés de linha de nível superlativo, o mesmo ocorre com os prés de phono. Os que nos fazem entender o encanto de forma integral do analógico, não existem aos montes. Bons prés de phonos, burocraticamente corretos, sim o consumidor achará muitos a partir de 2.000 dólares. Mas quando buscamos encontrar os que nos farão descobrir o quanto o analógico ainda pode nos oferecer em termos de realismo e emoção, esses contam apenas nos dedos das mãos.
Aí vêm as cruciais perguntas: por que existe essa diferença entre os bons e os excelentes? Isso realmente é audível? Perceberei imediatamente a diferença entre ambos?
Sim meu amigo, não só observará, como verá que a sobrevida do analógico é tão consistente. Pois esqueça essa baboseira de modismos ou vintage. Pois o analógico jamais deixou de existir, como ocorreu com a máquina de escrever ou o filme de máquina fotográfica, ou o tape-deck. E não foi por existirem audiófilos e melômanos cabeça-dura, que se entrincheiraram para não deixar o analógico sucumbir. Ele se manteve vivo, pois ainda é, junto com a fita de rolo analógica, a melhor referência de reprodução de música eletronicamente.
Pois se o CD Player tivesse se sobressaído na questão de fidelidade, o analógico seria peça de museu, como a máquina Olivetti ou o videocassete.
Então, antes de valorizar o audiófilo e o melômano que não arredaram o pé, os méritos são todos da topologia. E o mais incrível: é uma topologia que está ainda em franca evolução, em todas as etapas: materiais usados na construção dos toca-discos, motores, braços e cápsulas. O que também exigiu dos fabricantes de prés de phono, soluções que possam acompanhar todas essas evoluções na maneira de extrair a informação existente nos sulcos do LP.
E ouvir um sistema como este que tivemos a honra de testar nesta Edição de Aniversário (leia também os Testes 2 e 3 nesta edição), só nos prova que a distância entre o analógico e o digital ainda se mantém! E ouso dizer: com a tentativa das gravadoras de matarem o CD para aumentar seus lucros e enfiar goela abaixo o streamer, essa distância vai ser ainda maior nos próximos 5 anos!
Depois de ouvir e testar todos os novos produtos da Nagra, a grande expectativa minha era o novo pré de phono da Nagra da série Classic, lançado no segundo semestre do ano passado. Pois minha dúvida era: será que eles terão a mesma mão e talento para produzir um pré de phono tão superlativo, como são o pré de linha e o power da série Classic?
Ouvi muito rapidamente, há muitos anos, o pré de phono deles VPS, e gostei, mas não achei um ponto fora da curva. Por isso minha dúvida.
O novo pré de phono é valvulado, usando quatro tríodos duplos em uma configuração que a Nagra chama de “proprietária”, pelas soluções utilizadas. As válvulas são Genalex Gold Lion feitas sob rigorosas especificações, com tempo de uso de 5 a 10 mil horas. São 2 válvulas E88CC/6922, uma EC81/B739 e uma ECC83/B759.
Os transformadores toroidais MC são fabricados pela própria Nagra, usando os mesmos núcleos do pré amplificador de linha HD.
Na entrada, o ganho de tensão é fornecido pela válvula B759, passando pela ECC83 com filamento helicoidal para um baixo ruído, seguido por uma válvula ECC81, também com o mesmo tipo de filamento da ECC83. A correção é feita por resistor/ auto /capacitor (RCL).
O estágio de saída utiliza uma E88CC por canal (assim como o pré de linha HD), cujo segundo tríodo está na saída do anodo, com baixa impedância.
Os links de sinal são feitos por capacitores polipropileno com especificações personalizadas, e em pontos estratégicos do sinal são usados capacitores com folhas de cobre Jupiter de 0,0265uF, feitos sob especificações da Nagra.
As trilhas de placa são todas folheadas a ouro de quatro camadas. A fonte de alimentação de comutação PWM de alta velocidade (200 kHz), é dual mono. E o segredo de sua operação silenciosa (segundo o fabricante) está no desacoplamento pela enorme capacidade de capacitores polipropileno em paralelo para impedância CA zero, proporcionando uma resposta de transientes e redução de ruído ao extremo (sobre o silêncio de fundo deste pré, falarei nas observações auditivas).
No painel frontal temos, à direita, o famoso modulômetro utilizado no Nagra II lançado em 1952. Ele exibe o nível de saída, sendo que o 0 dB corresponde a um sinal de 1V/rms. Sendo o canal esquerdo a agulha preta e o direito a agulha vermelha. No outro extremo, temos o famoso botão de controle: off, Mute, Phono 1 (MC) e Phono 2 (MM). Entre o modulômetro e o botão de controle, temos a curva RIAA – que pode ser a normal, Teldec (alemã) ou Columbia LP – botão de estéreo ou mono, e de ganho High ou Low.
Nas costas temos as duas entradas, plug de terra, e saídas RCA e XLR.
Para o ajuste de impedância, o usuário precisará abrir a tampa de cima do aparelho e decidir o jumper ideal para sua cápsula. São cinco opções MC (100, 180, 270, 470 e 1000 Ohms), e uma carga capacitiva de 100 pF. E uma para MM (47 kOhms). Os jumpers para cada impedância vêm em uma caixa à parte, e trocá-los é a coisa mais inteligente e fácil. A placa toda é destacável, e o usuário fará a troca com ela na mão. O jumper é preso por um parafuso que se solta com os dedos. E todos jumpers vêm devidamente sinalizados por números, não existindo o menor risco de erro.
Existe também um ajuste interno para audição do pré em mono (como não tenho nem cápsula mono e muito menos algum LP mono, eu não utilizei este ajuste).
Outra opção é que o Nagra Phono Classic pode tanto ser usado com sua fonte interna, necessitando neste caso apenas de um cabo de força, ou com a fonte externa PSU como utilizamos no pré de linha, também da série Classic. Os que leram o teste do pré de linha, sabem as alterações gigantescas que ele sofreu com o uso da fonte externa.
Será que o mesmo ocorreu com o Phono Classic?
Direi mais à frente, fique sossegado.
Para o teste utilizamos apenas nosso Setup de Referência, com todo o sistema Nagra e as caixas Wilson Audio Sasha DAW. Os cabos de força, quando não ligada a PSU, foram Transparent PowerLink MM2 e o Reference G5. Cabos de interconexão Dynamique Apex XLR e Sunrise Lab Quintessence Aniversário (RCA e XLR).
Ouvi, no total, nas cinco semanas de teste, mais de 150 LPs, alguns completos (lado a & b) e alguns apenas faixas, e o tempo todo ligado aos toca-discos e braço da Origin Live (leia Teste 2 nesta edição) ou ao Timeless Ceres (também com o braço Enterprise 12), e as seguintes cápsulas: Hana Umami Red (leia Teste 3 nesta edição), ZYX Bloom 3 e Grado Platinum Series 3.
Tivemos, nos últimos tempos, a visita de excelentes prés de phono, como o maravilhoso P1 da CH Precision, o Luxman EQ-500, o nosso pré de referência Boulder 508, e o também de excelente relação custo/benefício, PS Audio Stellar. Assim como excelentes toca-discos, como o Acoustic Signature Storm, o Timeless Ceres e, agora, este Origin Live Sovereign. Sem falar de cápsulas excelentes e de nível superlativo, como a SoundSmith Hyperion 2, a Hana Umami Red e a ZYX que acabou de chegar.
Então, nosso nível de referência não pode ser subestimado, e o leitor achar que estamos comparando bijuteria com joia preciosa, pois não é este o caso. Mas o único que pode ser considerado no mesmo nível de refinamento com este Phono Nagra, é o P1 da CH Precision, pois os outros citados pertencem a um outro “campeonato”.
Aqui estamos falando do topo do topo ou, se quiserem, para ser mais enfático, do “Olimpo” do analógico! Pois o que extraímos de cada faixa de cada LP que ouvimos, foi de uma ordem de grandeza tão acima do que estamos acostumados a ouvir, que tentar comparar com qualquer dos prés de phono que já tivemos de referência, será mera perda de tempo.
Me senti novamente com 8 anos de idade, quando percebi as diferenças de palmas em cada sistema dos clientes do meu pai. O disco era sempre o mesmo: Belafonte at the Carnegie Hall, e eu ficava ali no meu canto das salas esperando as palmas só para guardar na memória e depois comparar.
Alguns sistemas eram tão tortos, que as palmas mais se assemelhavam a um efeito sonoro de um papel celofane sendo amassado em frente ao microfone. E quanto melhores eram as palmas, com variações de intensidade, tamanho das mãos e a percepção de que aquilo eram palmas, melhor o sistema tocava. Esta descoberta causou um impacto em mim tão grandioso, que tenho absoluta certeza que a Metodologia ganhou sua versão embrionária inicial naquela fase de minha vida, e ficou hibernando por quase 30 anos!
O mesmo eu posso dizer do Phono Nagra Classic, ao nos apresentar um equilíbrio tonal tão correto e preciso, que ouvir em cápsulas e toca-discos diferentes só enaltece seu grau de neutralidade e fidelidade.
Excelentes prés de phono geralmente se sobressaem por alguns itens que os fazem se diferenciar do lugar comum.
Os superlativos não. Estes se sobressaem justamente por não ter algo pontual a mostrar. Pois tudo está tão na mais perfeita ordem, que o resultado se traduz apenas em um enorme conforto auditivo e uma apresentação musical que difere até mesmo da melhor que você julga já ter escutado. Quando estamos diante deste momento, nos esforçamos para avaliar determinado quesito ou aguardar como aquela passagem irá ser resolvida – e quando percebemos, aquele momento já passou.
Todos nós temos nossos LPs de referência, aqueles que contamos para serem usados somente naquelas situações em que sabemos que estamos tendo a oportunidade única de termos contato com o “inalcançável”, e que precisamos ser assertivos ao máximo. Do tipo: “esperei por este momento por toda a minha vida”. Aí vemos o quanto somos traídos por nossas emoções, a ponto de não conseguirmos escolher o que ouvir. Se isso não aconteceu com você, não se preocupe, pois um dia irá ocorrer.
O contrário também está presente na vida de todo audiófilo: a do sistema que sonhamos em ouvir e, quando de fato ocorre, não é nada do que esperávamos. Mas preste bem atenção neste detalhe, os produtos “notáveis”, aqueles que mudarão para sempre nossa percepção do que é essencial buscar para termos o maior grau de satisfação e prazer, não se parecem em nada com “fogos de artifício”! Lembre-se desta dica para o resto de sua trajetória, amigo leitor.
O correto não se destaca por uma singularidade, ele é correto pela “organização” do todo. É como uma jogada de gênio, que de tão perfeita parece até simples. Se o belo da vida está realmente nos detalhes, o mesmo posso dizer agora dos produtos de áudio “notáveis”.
O André Maltese escutou o pré da Nagra em dois momentos: com a cápsula Hana e com a ZYX. Ele ficou impressionado com a performance do conjunto Origin/Hana com o pré Nagra. Mas sua expressão de “incredulidade” só se transformou em uma frase ao ouvir o Nagra com a ZYX, que é uma cápsula que custa menos de um terço da Hana. Aí ele expressou: “Que pré de phono é esse!?”. E essa manifestação é bem simples de explicar: no primeiro setup tudo é caro, então é obrigação tocar o melhor possível! Com uma cápsula de 7 mil reais, ainda assim, ouvir aquele esplendor de correção, precisão e musicalidade… Aí ele deixou manifestar seu espanto e incredulidade com o que estava ouvindo.
O que este pré de phono exprime é apenas a beleza do sinal que passa por ele. Zero de pirotecnia ou querer reinventar a roda, ou “girar a lâmpada”. Ele só lhe pede coerência e um padrão de qualidade mínimo (como o da cápsula de 1300 dólares da ZYX). Se o sinal tiver um nível mínimo de correção, ele entregará este sinal como nunca ouvi em outro pré de phono, de qualquer topologia ou preço. O mais próximo continua sendo o P1 da CH Precision, sem sombra de dúvida, mas com um detalhe: até aqui, toda descrição feita das maravilhas do Phono Classic, foi com sua fonte interna, pois quando passamos ele para a fonte externa a PSU, meu amigo, aí foi como dobrar a velocidade da luz e sumir no infinito, e além!
Aqui as coisas realmente complicam para qualquer outro phono excepcional, pois tudo se torna ainda mais notável sob qualquer ângulo de avaliação, com um “agravante”: seu silêncio de fundo.
Interessante que, até ouvir ele na fonte externa, era impossível apontar alguma limitação em seu silêncio de fundo. Mas quando trocamos e ouvimos os mesmos discos, no mesmo volume, com os mesmos cabos, é que aquela máxima do “bom ser bom” até aparecer o “ótimo”, se tornou exemplar. Só que neste caso, era o excelente que passou a ser excepcional.
Ainda que tudo ganhe, fiquei com a firme sensação que os mais beneficiados são a microdinâmica (de maneira óbvia, pois quanto mais silêncio, maior facilidade em se ouvir os detalhes), e o palco. Este se torna ainda mais holográfico e 3D. Neste quesito, as obras sinfônicas, em termos de planos, se tornaram espetaculares! E você deve estar se perguntando: mas preciso da fonte externa, se este já é tão correto sem? Realmente não precisa meu amigo. Tanto que dos dois testes que já saíram deste pré de phono, em nem um foi utilizado a fonte externa. Trata-se de um preciosismo, mas que para quem tem um setup todo Nagra, certamente este felizardo irá desejar extrair todo o enorme potencial.
E se ele tiver como sua referência maior o analógico, não acho que ele vá se contentar em não explorar esta faceta adicional, e com resultados tão impressionantes. Eu se tivesse este pré, eu não abriria mão de escutá-lo nas melhores condições possíveis, inclusive em termos de setup: toca-discos, braço, cápsula e cabos.
Mas conseguir ter o Phono Classic já será um feito tão grandioso que não haverá necessidade de subir ainda mais (principalmente para quem não tiver eletrônica Nagra).
Para tentar descrever algumas diferenças que ouvimos neste pré em relação aos outros prés recentes testados, escolhi aqueles discos em que essas diferenças foram mais “explícitas”.
O Keith Jarrett – The Köln Concert, também conhecido como “álbum branco”. Quem tem este disco, principalmente a prensagem nacional, sabe o quanto a última oitava da mão direita soa com excesso de brilho e um som duro (em alguns setups fica pior que ouvir em CD). Os melhores setups analógicos conseguem dar uma amenizada nesse problema, mas deixar agradável, é bem difícil. A não ser que você radicalize e use um pré e cabos com pouca extensão, mas vai comprometer toda a região média-alta, pois não tem milagre.
O Nagra corrige sem se perder nada? Não existe o milagre de transformar o ruim em bom, mas o Nagra, pela primeira vez, nos permitiu ouvir que apesar do piano ser ruim (tanto que o Keith tentou desistir de tocar aquele concerto), ele tem realmente feltro nesta oitava, e poder ouvir esse “detalhe” deixou esta região muito mais audível! O que é um mérito e tanto, pois o disco é primoroso ainda hoje. Sendo o que chamo de obra atemporal. Minha filha quando ouviu desta vez, achou que eu tinha conseguido uma nova gravação importada (ela adora este disco).
Sobre o segundo LP, já escrevi tantas vezes a respeito que não vou me estender. Friday Night In San Francisco (McLaughlin, Di Meola, de Lucia) – Lado 1 faixa 1. Al Di Meola no canal direito e Paco de Lucia no canal esquerdo. Outra gravação difícil tanto em termos de equilíbrio tonal como de transientes e corpo. Excelentes setups reproduzem este disco com boa margem “de segurança”. Mas os detalhes de “intencionalidade” e virtuosidade, só os de nível superlativo oferecem. Pois bem, o Nagra conseguiu ir além ao mostrar um detalhe que nunca antes havia escutado. Muitos leitores que tem este disco, sempre me falam que tem a sensação que o violão do Al Di Meola é melhor que o do Paco, pois parece mais alto e dá a sensação de maior dinâmica. Dependendo do setup que tive nestes últimos 15 anos, muitas vezes tive esta mesma impressão.
E eis que o Nagra nos corrige esta falsa impressão, ao mostrar que a qualidade do violão do Paco de Lucia é tão boa quanto a do Di Meola, e que não há nenhuma diferença de altura nos volumes. As diferenças são das técnicas: uma é dedilhada (Paco) e a outra é palhetada (Di Meola).
Para ter certeza do que estava escutando, ouvi primeiro a versão 33 RPM e depois a 45 RPM, pois ambas foram extraídas de masters distintas. E não há essa diferença de volume.
Aí chegamos a um outro disco, que de tanto ouvir já sonhei com ele como trilha de fundo (não ria, pois é verdade). Waltz For Debby, do Bill Evans Trio, gravado ao vivo no Village Vanguard, em 25 de junho de 1961. É tão bem gravado que, para soar ruim, o setup analógico tem que ser torto de doer. Mas algumas coisas, em setups excelentes, variam e muito, como: corpo dos instrumentos, posição do baterista Paul Motian, e os agudos dos pratos e das duas últimas oitavas da mão direita do piano.
A qualidade dos pratos já foi motivo de longas discussões com meu filho e amigos bateristas. Para eles (os bateristas), os pratos dos anos 60 soavam escuros, com mais corpo do que extensão. Pois bem, mostrei para todos (e tive meu dia de glória, pois nunca tinha concordado), os dois lados do disco, as seis faixas, e deveria ter filmado a cara de todos eles. Não conseguiram acreditar no que ouviram. Um deles até chegou a dizer que não vale, pois se só escutamos em um pré de phono que custa o valor de um carro bom, ele não tem culpa de concluir que os pratos soavam pobres!
A verdade meu amigo: como eram bons os pratos, tanto em corpo como extensão e decaimento! O corpo do contrabaixo do Scott LaFaro é assustador em termos de realismo e tamanho, é estar literalmente a cinco metros do palco. E o mesmo se pode dizer tanto do corpo do piano, como de que o equilíbrio tonal na mão direita não está acentuando para o brilho em excesso.
Outra agradável surpresa: Patricia Barber – Companion. Quantas vezes escutei reclamações de leitores se queixando que o agudo do órgão Hammond B3 é duro e incomoda. Ou que falta peso na faixa Black Magic Woman, mais peso e deslocamento de ar na parte final do solo de bateria e das percussões. Aqui, novamente, em excelentes setups, o prazer de escutar este disco é pleno. Tanto que já mostrei, em diversos Hi-End Shows, em setups muito abaixo do que temos hoje, e era um dos pontos altos da apresentação analógica.
E o Nagra veio mais uma vez para nos mostrar que o Hammond B3, no agudo, não fere nossos tímpanos, que este disco é para se escutar em volume alto (com picos na parte final de quase 100 db) e que se for nele, sua folga é tão gigantesca que a vontade de bater palma e gritar no final com a plateia é genuína!
Veja que estou pontuando detalhes de LPs que estão comigo há décadas, então os conheço soando em dezenas de setups distintos, e que cada setup anterior a chegada do Nagra tinha algum detalhe “pessoal” a acrescentar.
Com o Nagra, todo este panorama é refeito. Pois ele trabalha no todo e não nas partes, ou no que os projetistas de prés de phono acham elementar ser enfatizado. E como todo produto Nagra, a filosofia é: realismo, naturalidade e folga absoluta!
Outra pedreira: Shakti – A Handful Of Beauty. Talvez o disco mais difícil de se conseguir o equilíbrio tonal necessário. Pois quando ajustamos os graves para fazer as tablas terem a energia e deslocamento de ar que a gravação captou, e fazem toda a diferença na “vida” e beleza deste trabalho, borra o extremo agudo, matando os harmônicos do violino. E quando se conserta em cima, as tablas perdem o peso e deslocamento de ar.
Este é um dos discos mais cruéis com cápsulas que já usei, para fechar nota no quesito equilíbrio tonal! É complicado. A solução é um setup analógico perfeito em termos de equilíbrio tonal e muita folga. Do contrário, acompanhar o violão e o violino é um trabalho de concentração quase impossível. O Nagra simplesmente resolve todos os obstáculos simultaneamente, e ainda agrega um componente que estava escondido atrás dos obstáculos: a intencionalidade e a virtuosidade do quarteto.
É de um prazer que não possui adjetivo para expressar, o grau de admiração e contemplação, por ser um dos LPs que mais gosto de escutar, e que por isso sempre relevei todas as dificuldades que qualquer setup apresentava. Pois achava que não haveria solução para esses problemas.
Aí conseguimos (penso eu) explicar o que tem este pré de tão diferente a todos os outros que ouvimos e testamos. O problema está em conseguir desmembrar o complexo, de tal forma que não se torne enfadonho ou perca a integridade. E quando você se dá conta que existe um equipamento capaz de fazer este árduo trabalho, acrescentando e não dividindo, você compreende o grau de magnitude alcançado pelo Phono Classic.
Deste momento em diante, em vez de dar preferência aos discos bem gravados, fiz o caminho inverso, fui buscar os LPs que não abro mão de escutar pelo grau de qualidade artística, mas que sempre lamentei não serem bem gravados.
E um dos primeiros foi o Nó Caipira, do Egberto Gismonti. Cara, como eu gosto deste LP! Ele me diz tanta coisa, foi um momento da minha vida de tomadas de decisões pessoais e profissionais tão importantes que me fala fundo ainda hoje. Pois me faz olhar para trás e ver que as decisões me trouxeram até aqui e por estas decisões sou muito grato a tudo!
Mas ele soa tão duro. Os pratos, o piano as cordas. Sempre pedi um pouco mais de calor e equilíbrio, apenas isso, para poder escutar em volumes mais altos, como as faixa Frevo, Nó Caipira e a maravilhosa Maracatú.
Dizem que quando a oração é forte, você é atendido, rs. Pena que o Milagre durou apenas 5 semanas! Mas valeu cada segundo que convivi com este Nagra, pois como no início da revista, achei forças para esticar os dias até às duas da manhã, ainda que às seis precisasse estar de pé novamente para acordar minha filha para as aulas online.
A folga do Nagra é tão excepcional e sua precisão e fidelidade no equilíbrio tonal, tão corretas, que consegui escutar o Nó Caipira com mais prazer, menor fadiga e o que sempre sonhei: no volume correto da gravação. UAU! É tudo que tenho a dizer!
The Beatles – Love, é possível ouvir com enorme prazer em qualquer sistema analógico decente, então o que o Nagra pode acrescentar a este belo trabalho? Refinamento nas texturas e detalhes nas colagens montadas com tanto esmero, para ligar uma faixa a outra. Meu amigo, escutei detalhes nessas colagens que me deram uma ideia exata do baita trabalho que foi montar essas passagens. Em outros setups, nas colagens eu escuto o tema ou o efeito sonoro principal, mas elas têm camas harmônicas, tem frases de notas de outras músicas que não puderam ser aproveitadas no espetáculo. E as texturas dos arranjos de cordas que foram criadas para o disco Love, são de um cuidado e requinte que parecem ser da master original.
Aqui, novamente o Nagra, sem jogar luz ou chamar a atenção para si, resolve detalhes que em qualquer outro grande pré nos passou despercebido.
Duke Ellington – Blues In Orbit. Quando este disco foi lançado em 2 de dezembro de 1959, eu tinha apenas um ano e dois meses, incompletos. Gosto de pensar como algo tão antigo, quase que da minha idade, pode me ser tão valioso. Este é um disco que desde que me entendo por gente, ouço. E ele já tocou em setups meus sofríveis, e só começou a ter o respeito devido e merecedor quando tive meu Thorens TD 124 com cápsula Stanton 500. Aí que comecei a entender a complexidade e genialidade dos arranjos. É outro disco atemporal! Até meu filho curte.
Mas foi de 2012 para cá que este disco ganhou a importância que merece para a Metodologia, por ajudar a avaliar os quesitos: equilíbrio tonal, corpo e textura. O naipe de metais e os solos de clarinete, trompete e sax, exigem demais do sistema. Em um sistema acima de 95 pontos bem ajustado, é um deleite escutar este disco, mas é acima de 100 pontos, onde você pode ouvir nos volumes certos para uma big band, que o bicho pega.
Aqui se o sistema não estiver um “brinco”, não rola! O Nagra foi alguns quilômetros à frente ao permitir: volume correto, texturas impressionantes e um equilíbrio dos solos de trompete, saxofones e clarinetes, sem agressividade, e um realismo de nos arrepiar os pelos dos braços (e olhe que sou duro para isso ocorrer).
Chegamos no último exemplo que gostaria de compartilhar, antes de minha conclusão final.
We Want Miles, do Miles Davis, gravação ao vivo de uma turnê de 81, com faixas das apresentações em Boston, Nova York e Tóquio. Quem tem este LP sabe da diferença “irritante” da qualidade técnica de cada faixa. Algumas soam até que bem, para uma apresentação ao vivo, mas é impossível manter o mesmo nível em ambientes tão distintos.
Também é um disco como tantos outros, que abstraio a limitação técnica e foco na qualidade artística. Ele exige demais do setup, principalmente da cápsula e do pré de phono – na maioria dos setups o som é magro, a região média é predominante, matando as duas pontas. E como a região média predomina, muitos detalhes de percussão e teclados somem nos solos longos (típicos das formações a partir dos anos 80 do Miles).
Tenho a prensagem nacional, feita pela Bruno Blois em comemoração aos seus 25 anos, uma prensagem inglesa (presente do amigo Tarso – nosso colaborador), e em CD a versão japonesa.
Adivinhem qual escuto mais? O CD, pois até então era a mais equilibrada.
O Nagra, se meu pai estivesse vivo, diria que veio botar ordem no galinheiro, com sua exuberância e sua folga infinita. Ele só não fez milagre com a prensagem nacional, neste caso é ainda melhor ouvir o CD japonês. Mas com a prensagem inglesa, meu amigo, que show! Foi possível ouvir os detalhes (importantes de andamento, contraponto e de cama harmônica), e quantos detalhes!
Ainda tinha tanto para contar, meu amigo!
Mas sei que as novas gerações são avessas a textos longos, e os mais velhos avessos a ler a revista em uma tela de computador, então acho melhor acabar antes que perca os leitores jovens e os de mais idade. E só sobre os de meia idade, rs!
Como sempre escrevo, na armadilha de que este é o “melhor do mundo”, esqueçam que jamais me verão escrever tamanho descalabro! Pois sem ouvir todos, é impossível afirmar isso.
O que posso afirmar, sem o risco de estar cometendo alguma injustiça com todos os que ainda não testamos, é que este Nagra com sua fonte interna já é o mais refinado e correto em termos de timbre e equilíbrio tonal, de todos os prés de phono já testados por nós.
E com a fonte externa, ele ultrapassa ainda mais este tão alto grau de correção.
Ele se coloca em uma situação tão confortável, que se torna a opção mais inteligente e segura para todos que querem o nirvana sonoro, utilizando-o com sua fonte interna.
E para aqueles que desejam extrair o supra sumo de qualquer gravação analógica, e ombrear o LP com as fitas analógicas de rolo, sugiro ele com o uso da fonte PSU externa. Com ela, este pré de phono é simplesmente a maior nota da revista em seus 25 anos de existência!
NAGRA CLASSIC PHONO (com uso da fonte interna) | Nota: 110,0 |
NAGRA CLASSIC PHONO (com uso do classic psu) | Nota: 115,0 |
AVMAG #273 German Áudio contato@germanaudio.com.br Preço sem fonte: R$ 185.600 Fonte externa PSU: R$ 148.800 O conjunto com desconto, saí por: R$ 284.240 |